Um peito firme e uma fragrância familiar me fizeram congelar. Levantei o olhar e vi George. Ele tinha o rosto sério e fechado, mas seus olhos estavam tomados por uma angústia intensa enquanto me encarava. Eu não fazia ideia de como ele tinha chegado até ali, mas, ao vê-lo, todo o pavor que estava dentro de mim simplesmente se dissipou. Não me lembrei sequer que havíamos terminado. Minhas mãos agarraram sua camisa com força, como se ele fosse a minha única tábua de salvação. A mão dele segurou firme a minha cintura, e ele perguntou: — Você está machucada? — Não. — Assim que respondi, vozes rudes e xingamentos começaram a ecoar do lado de fora, cada vez mais próximos. No segundo seguinte, George me segurou com força, e, antes que eu pudesse entender, senti meu corpo sendo levantado. Era como se ele estivesse voando comigo nos braços. Tudo o que ouvi foram os sons de socos e chutes, misturados com o impacto de corpos caindo no chão. A cena que parecia coisa de filme de ação
Ele não disse mais nada, mas eu sabia que ele tinha investigado. — Por quê? Por que você não quer me contar? — Eu me exaltei e comecei a bater no encosto do banco dele. Com uma freada brusca, o carro parou. As veias saltadas nas mãos dele, que agarravam o volante com força, ficaram ainda mais evidentes. Quando vi aquilo, meu coração apertou. — Por causa de dinheiro. — Ele finalmente respondeu, e suas palavras me fizeram encarar seu rosto. Mas ele estava de costas para mim, e eu não conseguia enxergar sua expressão. Pensei em Benedita e na doença dela. — Foi para pagar o tratamento de Benedita? George abriu o porta-luvas, pegou um maço de cigarros e um isqueiro. Depois de várias tentativas, conseguiu acender um cigarro. — Carolina, meu pai foi o responsável pela morte dos seus pais. Isso é uma dívida de sangue. Pai paga com a vida, filho paga com a própria. Agora, eu te devo uma vida. Ele não respondeu à minha pergunta. Em vez disso, me deu essa declaração, fria e dire
A sala principal da Mansão Martins estava iluminada como de costume. Diferente de outras vezes, Cátia, ao me ver, não demonstrou a mesma empolgação de sempre. No lugar disso, o que vi em seu rosto foi puro nervosismo. João estava sentado em sua poltrona habitual, imóvel. Desde que ficou gravemente doente, ele havia emagrecido bastante, e seus cabelos brancos estavam mais numerosos do que nunca. Quando ele nos viu entrar, seu semblante permaneceu inalterado. Cátia, claramente desconfortável, levantou-se apressada. — Carol, George, vocês vieram. — Tia, tio. — Cumprimentei-os como sempre fazia, com a mesma formalidade de antes. João fez um gesto indicando que eu me sentasse. Logo, a governanta apareceu trazendo café e alguns petiscos. — Você está machucada? — João foi o primeiro a falar. Eu queria responder que não, mas o ardor nos pulsos me traiu. Os hematomas deixados pelas horas de amarração eram evidentes. Cátia também percebeu. Ela estendeu a mão, num gesto hesita
— Carol, não se exalte. Deixe seu tio terminar de falar. — Disse Cátia, tentando me acalmar. João ajeitou os óculos sobre o nariz e, com a voz calma, disse: — Carol, se eu dissesse que nunca quis a morte do seu pai, você acreditaria? Felipe já tinha deixado tudo claro. Agora ele queria mudar a história? Eu decidi ouvir o que ele tinha a dizer. — Seu pai tinha um talento para negócios que eu nunca tive. Mas ele não queria ser meu sócio, preferia trabalhar sozinho. Eu sabia que, se ele decidisse entrar no mercado, o futuro de Cidade A seria dele. — João fez uma pausa antes de continuar. — As pessoas são egoístas por natureza. E comigo não foi diferente. Além de inveja, comecei a alimentar ressentimento por ele. Para mim, o fato de ele não querer trabalhar comigo era porque ele não me considerava bom o suficiente, porque queria ficar com todo o lucro para si. Enquanto eu ainda estava frustrado com a recusa dele, ele conseguiu fechar o contrato com Felipe. Era um contrato que eu
Se ele não tivesse falado, eu teria esquecido que estava ali.No rosto de George não havia qualquer emoção visível, mas seu olhar era profundo e carregado. Ele estava falando sobre o pai dele.Felipe tinha sido claro: o pai de George foi comprado por ele para agir contra meus pais. E, no caminho até aqui, George também admitiu que o motivo por trás da ação do pai era dinheiro.Com tudo isso, parecia não haver qualquer ligação com João. Então, por que George estava questionando? Minha cabeça estava confusa, como se um furacão tivesse passado por ela, e a dor era insuportável, como se algo estivesse perfurando meu cérebro.Olhei novamente para João. Ele permanecia calmo, quase inabalável. Cátia, por outro lado, estava visivelmente tensa, segurando o braço de João com força.Após alguns segundos de um olhar fixo entre George e João, finalmente João respondeu:— O fato de seu pai ter sido comprado não tem nada a ver comigo.— Tem certeza disso? — A voz de George saiu cortante, quase como u
Mas, naquele momento, eu não conseguia afastá-lo. Eu precisava de uma redenção.Mesmo que fosse apenas por um instante.Meu corpo ficou leve, e George me ergueu nos braços. Tia Cátia nos chamou novamente.— Carol, George, vocês...— Vou levá-la de volta agora. Quanto às decisões dela, deixaremos para depois. — Disse George, e logo me carregou, dando passos largos em direção à saída.Quando ele me colocou no carro, eu segurei seu colarinho, encostando o rosto em seu pescoço, e comecei a chorar, sem conseguir controlar.George não se moveu, deixou-me chorar, permitindo que meu choro, minhas lágrimas e meu nariz escorrendo sujassem sua roupa.Chorei até faltar o ar, e ele me levou ao hospital.Deitada lá, finalmente consegui acalmar minha mente, mas ainda assim, minha cabeça estava um turbilhão de confusão.Eu nem sabia o que fazer, o que viria a seguir?Deveria chamar a polícia e enviar João para a cadeia, vingando meus pais?Mas aquilo não seria vingança, seria apenas garantir que pesso
Assim, a dor que eu sentia diminuiria.Assim, na minha dor haveria uma parte a menos da que ele me deu.Ele não disse nada. Eu o afastei e disse:— Vai embora.Já que estava claro que eu e ele não estávamos destinados a ficar juntos, as palavras e o consolo que ele me oferecia eram apenas um alívio momentâneo.Os olhos de George, profundos e intensos, ficaram ainda mais sombrios. Ele apertou a mandíbula e a garganta se moveu enquanto ele dizia:— Cuide-se.Depois de deixar essas palavras, ele se virou e foi embora. O toque incessante do celular também foi interrompido automaticamente.Fechei os olhos e meus olhos estavam tão inchados que doíam.O celular tocou novamente, como se não fosse parar até que eu atendesse. A contragosto, abri os olhos e peguei o telefone. O nome na tela me fez fechá-los novamente.Era Sebastião.Mas, naquele momento, eu não queria atender. Se a morte dos meus pais tinha raízes em algo que eu mesma causei, então a verdadeira culpa estava em Sebastião.Se não f
O rosto dele também não estava nada bem. Seu cabelo estava bagunçado, e até o queixo estava coberto de barba por fazer.Nunca tinha visto Sebastião assim antes. Pelo jeito, a noite dele também não foi nada fácil.Ele provavelmente já sabia o que o pai dele tinha feito, do contrário, não teria passado a noite inteira me ligando.Embora eu o odiasse e soubesse que ele era a origem de todo o mal, por alguma razão, ao olhar para ele, não senti ódio algum. Pelo contrário, uma calma sem precedentes tomou conta de mim.Talvez eu já estivesse tão exausta de odiar que minha alma se tornou insensível a isso.Ele ficou parado na porta, o que não parecia adequado para uma conversa, então eu disse de forma calma:— Entra, vamos conversar.Sebastião entrou e se sentou no sofá em frente a mim.— Minha mãe me contou tudo... Carol, me desculpe...Eu não disse nada. Eu sabia que ele não tinha vindo até mim apenas para dizer essas palavras.— Carol, eu sei que o "desculpa" não significa mais nada para vo