Mas, naquele momento, eu não conseguia afastá-lo. Eu precisava de uma redenção.Mesmo que fosse apenas por um instante.Meu corpo ficou leve, e George me ergueu nos braços. Tia Cátia nos chamou novamente.— Carol, George, vocês...— Vou levá-la de volta agora. Quanto às decisões dela, deixaremos para depois. — Disse George, e logo me carregou, dando passos largos em direção à saída.Quando ele me colocou no carro, eu segurei seu colarinho, encostando o rosto em seu pescoço, e comecei a chorar, sem conseguir controlar.George não se moveu, deixou-me chorar, permitindo que meu choro, minhas lágrimas e meu nariz escorrendo sujassem sua roupa.Chorei até faltar o ar, e ele me levou ao hospital.Deitada lá, finalmente consegui acalmar minha mente, mas ainda assim, minha cabeça estava um turbilhão de confusão.Eu nem sabia o que fazer, o que viria a seguir?Deveria chamar a polícia e enviar João para a cadeia, vingando meus pais?Mas aquilo não seria vingança, seria apenas garantir que pesso
Assim, a dor que eu sentia diminuiria.Assim, na minha dor haveria uma parte a menos da que ele me deu.Ele não disse nada. Eu o afastei e disse:— Vai embora.Já que estava claro que eu e ele não estávamos destinados a ficar juntos, as palavras e o consolo que ele me oferecia eram apenas um alívio momentâneo.Os olhos de George, profundos e intensos, ficaram ainda mais sombrios. Ele apertou a mandíbula e a garganta se moveu enquanto ele dizia:— Cuide-se.Depois de deixar essas palavras, ele se virou e foi embora. O toque incessante do celular também foi interrompido automaticamente.Fechei os olhos e meus olhos estavam tão inchados que doíam.O celular tocou novamente, como se não fosse parar até que eu atendesse. A contragosto, abri os olhos e peguei o telefone. O nome na tela me fez fechá-los novamente.Era Sebastião.Mas, naquele momento, eu não queria atender. Se a morte dos meus pais tinha raízes em algo que eu mesma causei, então a verdadeira culpa estava em Sebastião.Se não f
O rosto dele também não estava nada bem. Seu cabelo estava bagunçado, e até o queixo estava coberto de barba por fazer.Nunca tinha visto Sebastião assim antes. Pelo jeito, a noite dele também não foi nada fácil.Ele provavelmente já sabia o que o pai dele tinha feito, do contrário, não teria passado a noite inteira me ligando.Embora eu o odiasse e soubesse que ele era a origem de todo o mal, por alguma razão, ao olhar para ele, não senti ódio algum. Pelo contrário, uma calma sem precedentes tomou conta de mim.Talvez eu já estivesse tão exausta de odiar que minha alma se tornou insensível a isso.Ele ficou parado na porta, o que não parecia adequado para uma conversa, então eu disse de forma calma:— Entra, vamos conversar.Sebastião entrou e se sentou no sofá em frente a mim.— Minha mãe me contou tudo... Carol, me desculpe...Eu não disse nada. Eu sabia que ele não tinha vindo até mim apenas para dizer essas palavras.— Carol, eu sei que o "desculpa" não significa mais nada para vo
Duas horas depois, recebi a notícia do acidente de Sebastião. Foi Miguel quem me avisou. — Carolina Pinto, o Tião sofreu um acidente de carro! Ele está sendo socorrido agora… Você pode vir até aqui? — A voz de Miguel era urgente, carregada de preocupação.Minha mão tremeu, e a lembrança da nossa última discussão me atingiu como um raio. O celular escorregou dos meus dedos e caiu no chão com um estrondo.Do outro lado da linha, Miguel ouviu o barulho alto:— Carol?! O que aconteceu? Você está bem?Na cozinha, Luana, que estava preparando o jantar, correu para fora assim que ouviu o som. Seus olhos estavam cheios de preocupação ao me encarar.Miguel continuou, sua voz ansiosa do outro lado da linha:— Carol, não me entenda mal, não estou pedindo para você doar sangue para o Tião, não é isso... é só que... queria que você viesse vê-lo, porque...Ele fez uma pausa antes de completar:— Porque quando ele foi colocado na ambulância, ele estava chamando o seu nome.Luana olhou para o telefon
— Mas por que você fez um pedido para todos os seres? — Eu perguntei, estava confusa.O sorriso de Luana foi desaparecendo lentamente.— Carol, nesses anos eu vi o desespero de tantas mulheres com câncer, vi bebês que nunca tiveram a chance de ver o mundo, presenciei separações e mortes, e cada vez que via algo assim, meu coração doía profundamente. Por isso, eu não quero mais ver essas coisas. Se não precisar mais passar por isso, minha vida será bem mais leve.Luana segurou minha mão e continuou:— Então, eu fiz o pedido para todos, mas, na verdade, também foi por mim mesma.Naquele momento, olhando para Luana, percebi algo diferente nela, como se ela estivesse envolta em uma luz divina.Ela, no entanto, parecia não perceber isso e, com um sorriso gentil, perguntou:— Você ainda quer subir? Se não quiser, pode orar aqui mesmo, o importante é ter o coração puro.Eu hesitei por um instante, mas de repente tomei a decisão.— Eu vou.— Será que seu corpo vai aguentar? Talvez seja melhor
Um dia e uma noite...Parece que, desde que deixei a família Martins, tia Cátia veio até aqui.Ao vê-la ajoelhada no chão, com as costas curvadas e o corpo estendido sobre o tapete, meu coração foi apertado como se uma mão invisível o tivesse agarrado.Astrólogo se aproximou, mas eu permaneci parada, sem conseguir me mover.Após um longo tempo, finalmente me aproximei, me ajoelhei ao lado de tia Cátia e a chamei suavemente:— Tia.O corpo de tia Cátia tremeu, e, com um olhar incrédulo, ela levantou a cabeça lentamente para me ver. Não disse uma palavra, apenas seus lábios tremiam. Logo depois, as lágrimas começaram a cair.Observei seu rosto e percebi que seus cabelos, que antes eram bem cuidados, agora estavam desordenados, em apenas um dia e uma noite, seus cabelos ficaram muito mais brancos.— Carol... — A voz da tia Cátia tremia enquanto ela me chamava, e logo depois, ela me envolveu em um abraço apertado.O abraço de tia Cátia era o mais familiar para mim, sempre foi um refúgio, o
Tia Cátia assentiu com a cabeça e, em seguida, soltou minha mão.— Vou ligar para perguntar. — Disse ela, antes de se afastar para fazer a ligação.Enquanto ela estava no telefone, eu me ajoelhei novamente, unindo as mãos em oração, desejando que todos estivessem em paz e com saúde.A voz de tia Cátia veio até mim, atravessando a oração.— Miguel, não me engane, ele realmente está bem? ... Ok, vou voltar agora. Diga a ele que a mãe foi à igreja e que eu também vi a Carol.Tia Cátia, ao dizer essas palavras, virou-se para me olhar:— Ela... está bem. Não aconteceu nada com ela. Diga ao Tião que Carolina está bem, e que Carol já perdoou os erros da nossa família... Sim, eu entendi...Eu baixei a cabeça, e aquele gesto foi um alívio, um ponto final. Era como se tudo o que me pesava, todas as mágoas, finalmente se dissolvessem.Depois que tia Cátia partiu, eu fiquei ali, ouvindo o Astrólogo recitar suas orações, e só desci a montanha no final da tarde.Luana estava lá para me buscar, com u
Eu virei a cabeça e olhei para a pessoa que tinha aparecido ao meu lado.Ele tinha cabelos ligeiramente ondulados, olhos azuis e um nariz afilado. Era evidente que ele era de descendência mista.Ele disse que nos encontrávamos novamente, mas eu não tinha nenhuma lembrança dele, especialmente porque ele me chamou de "garota do snooker".Claramente, ele me conhecia e sabia que eu jogava snooker.— Hum? — Eu franzi levemente a testa, não compreendendo o que estava acontecendo.— Sou o Bruno, te vi jogando com o Pedro no clube dele. Você estava jogando de uma forma... impressionante! Não, melhor, estava arrasando! — Ele disse, sorrindo e levantando o polegar para mim.Ele esclareceu minhas dúvidas, mas algo ainda não parecia certo. O fato é que eu aprendi a jogar com Sebastião, e os momentos que joguei com Pedro sempre foram com Sebastião presente, nunca com mais ninguém.Se ele fosse uma pessoa como ele dizia ser, eu certamente teria percebido. No entanto, as palavras dele eram muito prec