Eu queria correr atrás dele, queria perguntar e esclarecer tudo.Mas, ao olhar para os recipientes jogados no lixo, perdi a coragem.O que ele descartou não foram apenas as marmitas ou os pratos, mas o que poderiam simbolizar: sua consideração por mim.Se era assim, ir atrás dele ou tentar esclarecer as coisas seria apenas me rebaixar ainda mais.Coloquei os recipientes que haviam sido recuperados de volta sobre a mesa e voltei para a cama. Mas, apesar disso, não consegui mais tocar no que estava à minha frente.A pessoa que havia recolhido os recipientes percebeu que algo estava errado e, com certo cuidado, trouxe-os de volta, deixando-os ao meu lado.— Pode levar de volta. — Falei, sem expressão.— Não, não precisa... — A pessoa hesitou, recolhendo as mãos.— Você os pegou de volta, então são seus agora. Pode comer sem preocupação, está tudo bem. — Disse, tentando encerrar o assunto. Peguei os talheres e, contrariada, comecei a comer o que estava na minha frente de forma quase agress
Prendi o fôlego ao cruzar meu olhar com o dele. Ele também me olhava, sem nenhum desvio, firme como sempre.Toda vez era assim: ele encarava diretamente, sem hesitar, enquanto eu, ao contrário, sempre sentia aquele aperto no peito, como se a culpada da nossa distância fosse eu.— George, você chegou na hora certa! Eu e a Carolina estávamos falando de você. — Edgar soltou, com aquela língua afiada de sempre.— Hum. — George respondeu e ficou ali parado, imóvel, sem dizer mais nada.— Você nem vai perguntar o que estávamos dizendo? — Edgar, como sempre, parecia se divertir com a situação.George permaneceu em silêncio. — Estávamos comentando que você emagreceu... E que você... — Edgar esfregou o nariz e, com um sorriso malicioso, continuou.No meio da frase, Edgar parou de repente e me lançou um olhar cúmplice acompanhado de uma piscada. — Carolina, melhor não contarmos para ele, né?Aquilo me arrancou um sorriso interno. Sem querer, deixei escapar um leve curvar dos lábios.George, no
— George! — Cumprimentei-o com um sorriso, como faria com qualquer outro colega. George não respondeu. Nós nos cruzamos no corredor sem trocar mais do que olhares breves. No entanto, no momento em que passamos um pelo outro, senti que o sorriso no meu rosto estava um pouco cansado. Peguei o carro da empresa e fui até o lugar que Elisa havia mencionado. Quando cheguei, ela ainda não estava lá. Enviei uma mensagem para avisá-la. Elisa respondeu: [Arranje um lugar para sentar e me espere.] Enquanto aguardava, desbloqueei o celular e vi que tinha recebido outra mensagem de Benedita. Subindo a conversa, percebi que todas as mensagens anteriores também eram dela. Um misto de pedidos de desculpa pelo que quase aconteceu comigo e tentativas de defender George. Eu, no entanto, só tinha respondido uma vez. Depois disso, não mandei mais nada. [Carolina, você pode me responder, por favor? Eu estou de castigo. Não posso sair de casa.] Olhei para a mensagem de Benedita por alguns segund
Eu a encarava, mas, por algum motivo, minha visão dela começou a ficar embaçada.Balancei a cabeça, tentando clarear os pensamentos. Estava prestes a dizer algo quando ouvi Elisa falar:— Não foi a esposa dele que sonhou. Foi ele quem disse que queria te ver.— O quê? — Nem terminei de pronunciar essas palavras, e de repente minha visão ficou completamente turva.Logo senti meu corpo sendo segurado, e a voz de Elisa soou perto do meu ouvido.— Você precisa descansar um pouco.Por que eu precisava descansar? Essa pergunta ecoava na minha mente, mas minha boca não conseguia formar palavras.Eu sentia que estava sendo levantada, mas não conseguia abrir os olhos nem reagir de nenhuma forma.Fui colocada em um carro. Para onde me levaram, eu não fazia ideia. Só sei que alguém me deu água, e foi só então que consegui abrir os olhos.A primeira coisa que vi foi um homem alto e desconhecido. Mas eu sabia quem ele era: o segurança de Felipe.Ao lembrar das palavras de Elisa antes de eu perder a
Felipe se inclinou, seu olhar pousou em meu rosto e, em seguida, ele sorriu. Eu não sabia o motivo do sorriso, mas continuei olhando para ele com insistência, deixando claro que não desistiria até obter uma resposta. Finalmente, ele parou de sorrir e disse: — Então vou te deixar morrer sabendo. Foi porque seus pais atrapalharam os negócios de outra pessoa. Na mesma hora, me lembrei do contrato que ele estava prestes a assinar. — Atrapalharam os negócios de outra pessoa, mas não os seus. Por que, então, você teve que tirar a vida dos meus pais? — Perguntei, ainda mais confusa. Felipe riu. — Garotinha, você esqueceu o que eu faço? Esqueceu como eu comecei a ganhar dinheiro? Entendi imediatamente o que ele queria dizer: alguém o pagou para fazer o serviço. — Quem foi? — Perguntei, ansiosa. Em vez de responder diretamente, ele me devolveu outra pergunta: — Quem você acha que foi? Minha mente foi direto para o contrato que causou a morte dos meus pais. No fim, esse c
Felipe riu. — Você é esperta. Espero que na próxima vida nasça em uma boa família. Depois de dizer isso, ele se levantou. Meu corpo inclinou-se bruscamente para frente, e quase caí sobre os sapatos dele. O segurança de Felipe veio imediatamente me segurar, mas ele o impediu e me olhou com um olhar severo. — Agora que já sabe de tudo, o que quer fazer? Quer que eu te poupe? Eu queria que ele me deixasse viver, porque eu não podia morrer! Morrer assim seria um desperdício, uma injustiça. — Eu não acredito no que você disse. A menos que me deixe confrontar João. Pode até ligar para ele, quero ouvir o que ele tem a dizer! — Falei com sinceridade, mas também para ganhar tempo. Eu precisava adiar o inevitável, precisava de tempo para que alguém viesse me salvar. Mas quem viria? Não tinha tempo para pensar nisso. Apenas continuei encarando Felipe, insistente. Dessa vez, ele me ignorou e apenas fez um sinal com os olhos para o segurança. Fui arrastada para fora. Felipe foi
Um peito firme e uma fragrância familiar me fizeram congelar. Levantei o olhar e vi George. Ele tinha o rosto sério e fechado, mas seus olhos estavam tomados por uma angústia intensa enquanto me encarava. Eu não fazia ideia de como ele tinha chegado até ali, mas, ao vê-lo, todo o pavor que estava dentro de mim simplesmente se dissipou. Não me lembrei sequer que havíamos terminado. Minhas mãos agarraram sua camisa com força, como se ele fosse a minha única tábua de salvação. A mão dele segurou firme a minha cintura, e ele perguntou: — Você está machucada? — Não. — Assim que respondi, vozes rudes e xingamentos começaram a ecoar do lado de fora, cada vez mais próximos. No segundo seguinte, George me segurou com força, e, antes que eu pudesse entender, senti meu corpo sendo levantado. Era como se ele estivesse voando comigo nos braços. Tudo o que ouvi foram os sons de socos e chutes, misturados com o impacto de corpos caindo no chão. A cena que parecia coisa de filme de ação
Ele não disse mais nada, mas eu sabia que ele tinha investigado. — Por quê? Por que você não quer me contar? — Eu me exaltei e comecei a bater no encosto do banco dele. Com uma freada brusca, o carro parou. As veias saltadas nas mãos dele, que agarravam o volante com força, ficaram ainda mais evidentes. Quando vi aquilo, meu coração apertou. — Por causa de dinheiro. — Ele finalmente respondeu, e suas palavras me fizeram encarar seu rosto. Mas ele estava de costas para mim, e eu não conseguia enxergar sua expressão. Pensei em Benedita e na doença dela. — Foi para pagar o tratamento de Benedita? George abriu o porta-luvas, pegou um maço de cigarros e um isqueiro. Depois de várias tentativas, conseguiu acender um cigarro. — Carolina, meu pai foi o responsável pela morte dos seus pais. Isso é uma dívida de sangue. Pai paga com a vida, filho paga com a própria. Agora, eu te devo uma vida. Ele não respondeu à minha pergunta. Em vez disso, me deu essa declaração, fria e dire