Estélio, com as mãos pequenas, pegou o pedaço de batata-doce que Esther entregou a ele. Ele não devorou com pressa, mas comeu devagar, mastigando com calma. Enquanto isso, Esther encheu mais um copo com água e colocou perto dele.— Se não for suficiente, fala comigo, tá bom? Eu pego mais pra você. — Esther disse com um tom que mesclava carinho e preocupação.Estélio ergueu os olhos por um breve segundo, balançou a cabeça negativamente e voltou a se concentrar no pedaço de batata-doce. Havia uma espécie de barreira silenciosa nele, uma resistência quase instintiva em se comunicar mais do que o absolutamente necessário.Esther desviou o olhar, dando espaço a ele. Enquanto começava a arrumar os poucos pertences na barraca. De repente, o som cortante de uma corneta ecoou ao longe. Era a convocação para uma reunião. Algo importante estava acontecendo com a tropa.Antes que Esther pudesse reagir, Estélio colocou a batata-doce de lado e se levantou em um movimento rápido e preciso. Ele assum
Esther tinha o hábito de ajudar aqueles em situação de vulnerabilidade. Sempre levava comida para os necessitados e até preparava porções extras para distribuir. Quem trabalhava na cozinha conhecia bem essa generosidade.Estélio apertava a mão de Esther com tanta força que ela sentiu o suor na palma dele.— Diga, você gosta de alguma dessas roupas? — Perguntou ela, segurando duas peças de roupa para ele escolher.Uma era camuflada, a outra era azul-clara. Esther havia pensado em roupas práticas, pois sabia que as brancas ficavam sujas com facilidade em tempos de guerra.Carregar muitas coisas não era uma opção por causa da longa distância a ser percorrida. Por isso, ela planejava deixar algumas dessas roupas com Estélio antes de levá-lo para a embaixada, caso sua identidade fosse confirmada.No entanto, o garoto nem levantou os olhos para as roupas. Seu olhar estava perdido, e havia um tom de temor em seu rosto pálido.Sentindo o desamparo dele, Esther o envolveu em um abraço caloroso.
— Esther. — Uma voz interrompeu os pensamentos de Esther, chamando sua atenção.Ela se virou instintivamente e viu um homem de uniforme militar parado na porta. Era um companheiro de sua equipe.— Me chamou? — Esther indagou, ajustando o tom casual.— Sim, chegou um carregamento significativo de suprimentos de Iurani, e pediram para você assinar a entrega.— Certo, já estou indo.Durante os últimos cinco anos, Iurani nunca deixou de enviar grandes carregamentos de suprimentos, independentemente da localização de Esther. Com o tempo, outros representantes assumiram essa tarefa, já que Bernardo e o Faraó haviam desaparecido das entregas.Mesmo assim, mensalmente, uma quantia expressiva de dinheiro era depositada na conta dela. Os suprimentos facilitavam sua missão de ajudar os mais necessitados. Além de alimentar os soldados, ainda atendiam também à população mais carente, o que fazia com que Esther jamais recusasse o apoio. Ademais, ela não precisava encontrar Bernardo e o Faraó.Esthe
No hotel, tudo estava uma bagunça.Esther Moura acordou com uma dor intensa pelo corpo.Ela massageou a testa, pronta para se levantar, e olhou para a figura alta deitada ao lado dela.Um rosto exageradamente bonito, com traços definidos e olhos profundos.Ele ainda dormia profundamente, sem sinal de despertar.Esther se sentou, o cobertor deslizou, revelando seus ombros brancos e sensuais, marcados por algumas manchas.Ela desceu da cama, e no lençol havia marcas claras de sangue.Ao ver a hora, percebeu que estava quase na hora de ir para o trabalho. Pegou o tailleur que estava jogado no chão e vestiu.As meias-calças estavam rasgadas por ele.Ela as amassou e jogou no lixo, calçando os sapatos de salto alto.Ao mesmo tempo, alguém bateu na porta.Esther já estava vestida e pronta, parecendo novamente a secretária eficiente, pegou sua bolsa e foi em direção à saída.Quem entrou foi uma jovem de aparência pura e inocente.Ela quem tinha chamado.Exatamente o tipo que Marcelo Mendes go
Ao ouvir as suas palavras, Esther ficou surpresa e quase torceu o tornozelo. Perdendo o equilíbrio, ela se apoiou nele. Marcelo sentiu seu corpo inclinar e segurou sua cintura. O calor do toque trouxe de volta as lembranças da noite passada, quando ele a tomou com intensidade.Esther tentou se acalmar e levantou a cabeça para encarar ele. Seus olhos profundos eram sérios, com um misto de questionamento e dúvida, como se estivessem prestes a desvendar seus segredos. O coração de Esther batia acelerado. Ela não ousava sustentar o olhar dele por mais um segundo e, instintivamente, abaixou a cabeça.Quando ele pensou que a mulher que estava com ele ontem era aquela que acabou de ver, ficou furioso. Se soubesse que era ela, o destino dela não seria muito diferente.Mas ela não podia aceitar isso. Se Marcelo soubesse que era ela, será que o casamento deles poderia durar um pouco mais?Ela não teve coragem de olhar nos olhos dele: - Por que está perguntando isso?Apenas ela própria sabi
Ela levantou a cabeça e viu Sofia com um avental, segurando uma concha.Quando viu Esther, seu sorriso vacilou por um instante, mas logo voltou a ser acolhedor: - É uma amiga da tia? Acabei de fazer uma sopa, entre e se sente.Sua postura era tranquila, com uma atitude totalmente de dona da casa.Parecia que Esther era a visitante de longe.De fato, em breve ela seria uma estranha.Esther franziu a testa, se sentindo extremamente desconfortável.Quando se casou com Marcelo, fez um anúncio para toda a cidade. Sofia até enviou uma carta de felicitações. Então não tinha como ela não saber que ela era a esposa do Marcelo.Vendo que Esther não se mexia na porta, Sofia logo se aproximou e segurou sua mão: - Quem vem é sempre bem-vindo. Não seja tímida, entre.Quando ela se aproximou, o ar trouxe um leve aroma de jasmim, o mesmo perfume que Marcelo tinha dado a Esther no aniversário do ano passado, exatamente igual.Esther sentiu a garganta doer e a respiração ficar pesada, como se tivesse
- A Esther parece que não está muito bem hoje, ela não quis vir entregar os documentos, então só eu vim. - Sofia colocou sua mão queimada na frente dele. - Marcelo, você também não precisa culpar a Esther, acho que não foi de propósito, não atrasou nada, né.Os documentos da empresa acabaram indo parar nas mãos erradas, e esta foi a primeira vez que Esther fez algo assim.Marcelo estava com o semblante fechado, mas diante de Sofia ele conteve a raiva, apenas ajustou a gravata e falou num tom neutro: - Não tem problema. - Mudando de assunto, ele continuou. - Já que está aqui, que tal sentar um pouco?Ouvindo ele dizer isso, Sofia se sentiu um pouco animada. Pelo menos ele a aceitava, não a detestava.- Você não ia ter uma reunião? Não vou te atrapalhar?Marcelo então fez uma ligação: - A reunião foi adiada em meia hora.Sofia sorriu de canto, antes de vir, ela estava preocupada se ele guardava rancor por ela ter partido sem avisar, mas as coisas não pareciam tão ruins quanto imaginava
Esther parou de repente, não havia aquela harmonia de casal entre eles, mas sim uma distância mais como de um superior para uma subordinada. - Sr. Marcelo, tem mais alguma ordem? - Ela perguntou.Marcelo se virou para encarar o rosto distante de Esther, com um tom de comando em sua voz. - Se sente.Esther de repente não entendeu o que ele queria fazer.Marcelo se aproximou.Esther o observava se aproximando, e nesse momento, algo parecia diferente, fazendo ela sentir o ar rarefeito. Era puro ervosismo, com uma sensação estranha.Ela não se moveu, mas Marcelo tomou a iniciativa de segurar sua mão.Quando a palma quente dele tocou a dela, foi como se fosse queimada, queria puxar ela para longe, mas Marcelo segurou firmemente, não dando a ela a chance de se soltar, levando ela para o lado e perguntando com a testa franzida: - Você machucou sua mão, e não percebeu?Sua preocupação surpreendeu Esther. - Eu... Está tudo bem.- Sua mão está com bolhas. - Marcelo perguntou. - Por que não