— Como ainda podem acontecer essas barbaridades hoje em dia? Parece que voltamos no tempo! Dá até medo!— As meninas têm que evitar lugares isolados, sabe? Não é só por causa desses casos de assassinato, tem também assédio, sequestro... É melhor se cuidar e ficar longe de perigo! Enquanto ouvia os comentários de todos, Esther sentia um pressentimento ruim se formando. A cidade parecia cada vez mais perigosa, e depois do que aconteceu com Luiz, a tensão só aumentava. O relato do corpo encontrado sem órgãos deixou ela alarmada. “Tráfico de órgãos... Já chegaram a esse ponto?”, pensou com os punhos cerrados. Não havia mais medo em seus olhos, apenas uma profunda indignação.Era inevitável ligar essa situação a um certo grupo clandestino.Assim que terminaram de filmar a cena noturna, Esther se preparou para ir para casa descansar. Melissa se aproximou, preocupada, dando o último aviso:— Esther, cuidado, tá? Evita passar por lugares desertos!Esther agradeceu com um aceno, e foi acompa
Rita não disse nada, mas acompanhou Esther até o apartamento. Assim que entrou, ficou parada na entrada, sentindo o calor acolhedor do ambiente enquanto seus olhos percorriam todos os detalhes.O ar estava impregnado com um aroma leve e agradável, e era impossível não notar o capricho na decoração de cada canto. Ficava claro que Esther valorizava muito seu espaço e adorava manter tudo bem cuidado. Mesmo que fosse um apartamento modesto, estava cheio de pequenos toques que revelavam uma vida feliz e cheia de propósito. “Pessoas assim geralmente são mais otimistas e encaram a vida com coragem.”, pensou Rita, com uma pontinha de inveja.Ao ver Esther preparar chá com um cuidado quase ritual, Rita se sentiu ainda mais deslocada, mas, ao mesmo tempo, fascinada. Esther havia conseguido escapar daquela vida sombria, reconstruindo sua vida com dignidade e delicadeza. Rita sonhava em viver assim, como uma pessoa normal, sem sombras pairando sobre cada decisão.— Sente-se. — Esther disse, ao p
O rosto de Esther estava pálido como nunca.— Não sei exatamente qual de todas você foi, mas uma coisa é certa: conseguir escapar daquele inferno já diz muito sobre você! — Comentou Rita, num tom grave. — Geraldo está determinado a te proteger a qualquer custo... Então você não pode morrer, isso era o maior desejo dele, e eu vou ajudar a garantir isso!Esther, com os punhos cerrados, mantinha um olhar complicado e indecifrável, que logo se transformou em uma frieza cortante.— Você veio até aqui só pra me dizer isso?Rita respirou fundo, tentando se manter calma.— Quero te alertar para ser mais cuidadosa, ainda mais agora que você está grávida. Precisa tomar muito cuidado.— Já terminou? O que vocês acham? Que, com toda essa “bondade”, eu vou me sentir grata? — A voz gelada de Esther pegou Rita de surpresa, que ficou sem palavras por um instante.— É fácil falar bonito, não é? — Continuou Esther, com um riso frio. — Mas não se esqueça de que quem me envenenou foi você. E você acha mes
Rita não conseguia entender por que Esther havia mudado de postura tão repentinamente.Embora Rita nunca tivesse conhecido muito bem Esther, parecia óbvio que ela estava disposta a tentar, a dar um passo em direção à sobrevivência, e, no entanto, se recusou. Em uma situação de risco de vida, qualquer pessoa procuraria salvar a própria pele... Mas não Esther. Ela afastava todos ao seu redor, o que parecia, no mínimo, estranho.A única explicação plausível, que vinha à mente de Rita, era que Esther não queria colocá-los em perigo.Geraldo também pensava sobre isso, olhando para Rita com uma expressão que sugeria que talvez ela tivesse razão. Quando Esther descobriu a verdade sobre ele, ela não reagiu com aversão ou rejeição. Mesmo assim, agora estava afastando todos. Talvez, desde que Luiz arriscou a própria vida por ela, indo a Iurani, Esther estivesse sendo corroída pela culpa, e a última coisa que não queria era envolver ainda mais pessoas.Mesmo assim, Geraldo decidiu respeitar os s
— Como assim não vou me esforçar? Você vai me sustentar? — Esther riu, provocando Diana com um sorriso leve.Diana bateu no peito, cheia de confiança.— Claro que eu te sustento! — Respondeu ela prontamente, com toda a generosidade que tinha por Esther.Esther, surpresa com a resposta decidida, deu uma risada mais solta.— Olha só, ter você ao meu lado é realmente uma sorte! Eu posso comer e beber sem gastar nada... Mas, ainda assim, uma pessoa precisa ter sonhos, né?Diana fez uma pausa e então perguntou, quase com um tom cauteloso:— E você e o Marcelo, ainda não voltaram?Esther hesitou por um segundo antes de responder, sua expressão se tornando um pouco distante.— Não tem volta pra gente. Não mais.A reação de Diana foi de surpresa, o cenho franzido, como se tentasse entender.— Não acredito. Será que dessa vez acabou mesmo?Mesmo sabendo do divórcio, Diana mantinha uma pequena esperança de que, talvez, houvesse uma chance de reconciliação entre eles.— Ah, que bobagem! Já acabou
De repente, alguém entrou no quarto, atravessando a porta com urgência. Seus olhos logo se fixaram em Esther, deitada na cama, imóvel, envolvida pelo ambiente estéril dos exames médicos. Em um impulso, o homem correu até ela e envolveu ela nos braços, a apertando em seu peito. O gesto foi tão rápido e intenso que Esther nem teve tempo de reagir.— Me desculpe... — Sussurrou ele, a voz embargada. Essas simples palavras carregavam uma mistura de sentimentos e arrependimentos.Por um momento, Esther ficou atordoada, seus olhos refletindo surpresa. Sentindo o aperto firme dele, ela finalmente empurrou seu peito, tentando se soltar.— O que você está fazendo?!Marcelo, que abraçava ela, recuou levemente, os olhos ainda úmidos e levemente avermelhados, se demorando em cada detalhe dela, como se precisasse confirmar que estava tudo bem. Esther, ao observá-lo, percebeu o quanto ele havia mudado. O rosto marcado pelo cansaço e uma barba malfeita deixaram ela chocada. Ele parecia outra pessoa,
Marcelo não atendeu a ligação, mas enviou uma mensagem curta antes de colocar o celular no modo silencioso. Após isso, o telefone parou de tocar. O tempo passava devagar, e Esther começou a se sentir cansada. Lutava contra o sono, mas seus olhos se fechavam e a cabeça caía para frente de vez em quando. Marcelo, observando como ela estava exausta e mal conseguia se manter acordada, se sentou ao lado dela e gentilmente apoiou sua cabeça em seu ombro.Esther, sem perceber o que acontecia, se inclinou levemente, encontrando um pouco mais de conforto ao se recostar em Marcelo. Todo o peso do seu corpo, cansado e frágil, foi apoiado nele. Marcelo, então, virou o rosto em sua direção e ficou observando o perfil de Esther enquanto dormia. Aquela era uma paz rara e preciosa, e ele desejava, com todas as forças, que o tempo parasse naquele instante. Seus olhos suavizaram, revelando a ternura que sentia, mesmo com o coração carregado de preocupações.O movimento contínuo de pessoas no corredor
— O quê?! — Esther recuou, chocada. Soltou a mão de Marcelo e deu alguns passos para trás. — Você está falando sério? Como pode me pedir para tirar o bebê? Não vou fazer isso! Não vou!Marcelo encarou ela, os olhos firmes e a expressão severa.— Esther, seu corpo não aguenta uma gravidez agora. Se interromper, o bebê não vai mais drenar suas forças. Assim, você pode ter mais tempo de vida, mais chances. Entenda, você precisa viver para ter uma chance.As palavras dele eram diretas e urgentes. A prioridade de Marcelo era clara: salvar Esther. Ele queria que ela sobrevivesse. Um filho, ele pensava, poderia ser concebido no futuro, em outro momento.Mas Esther não queria ouvir. Desde que ele havia mencionado interromper a gravidez, ela sentia um impulso de se afastar. O desejo de proteger seu bebê crescia dentro dela, sem lógica, apenas instinto. Sem responder, ela se virou e começou a andar, o ignorando completamente.— Esther! — Gritou Marcelo com firmeza, tentando fazê-la parar.Esther