Ao subir para o segundo andar, Esther avistou uma porta entreaberta. Marcelo certamente estava lá dentro.Com um olhar frio e determinado, ela arregaçou as mangas, abriu a porta e anunciou, firme: — Marcelo, para de se esconder e assume as coisas de frente, tá bem? Será que você consegue...?Mas o que ela viu fez as palavras desaparecerem de seus lábios. Parada na porta, Esther encarou a cena com os olhos arregalados.Marcelo estava deitado no chão, cercado por garrafas de bebida vazias, com uma delas ainda na mão, pela metade. Era óbvio que ele havia passado o dia todo bebendo.Esther tinha chegado ali fervendo de raiva, pronta para despejar nele tudo o que estava entalado em seu peito, disposta a atingi-lo sem piedade, a ponto de ferir seu orgulho. Mas ao ver o estado dele, a expressão vazia, o corpo abandonado no chão, o cheiro forte de álcool, sentiu sua fúria murchar. Era uma visão desconcertante de alguém que ela jamais esperaria ver tão devastado.Por um momento, ela só ficou
Não sabia ao certo quanto tempo havia passado desde que Esther tinha se sentado ali, com uma sensação de tristeza se alojando em seu peito. Marcelo, aninhado em seus braços, respirava profundamente, envolto em um sono pesado. Ela queria perguntar, queria respostas, mas sabia que talvez não fossem necessárias. No fundo, já conhecia as respostas, ou pelo menos parte delas.Por fim, Esther se levantou em silêncio, saindo do quarto. Dessa vez, o peso em seu coração era diferente, mais amargo, como se uma dor silenciosa houvesse se enraizado em seu peito.— Senhora. — Chamou Durval, que aguardava ela do lado de fora. Ao notar sua expressão séria, ele se aproximou com um ar preocupado. — Você e o capitão Marcelo... Está tudo bem entre vocês? Não brigaram, né?André, ao lado de Durval, puxou discretamente a manga dele, tentando silenciá-lo. Ao ver a expressão abatida de Esther, André logo percebeu que algo de grave havia acontecido.Esther, no entanto, ergueu o rosto e olhou Durval nos olhos
Assim que Luiz voltou para casa, começou a vasculhar tudo o que pudesse achar sobre a misteriosa organização chamada Neol. Sabia que descobrir alguma pista sobre eles seria sua única chance de conseguir o antídoto que tanto precisava. Ele passou a noite inteira mergulhado em papéis, relatórios e qualquer dado que pudesse ser relevante, mas Neol se mostrava uma organização extremamente evasiva. As poucas informações sugeriam que seus membros eram de diversas etnias e falavam línguas diferentes, o que indicava que atuavam fora do país, em áreas próximas às fronteiras para evitar qualquer represália.Em meio à pilha de papéis e anotações, Luiz foi surpreendido pela porta se abrindo. Sua mãe, Lorena, entrou na sala e, ao ver a bagunça, exclamou com preocupação:— Luiz, o que está acontecendo aqui? Por que você espalhou tanta coisa? Parece que passou um furacão pela casa!— Estou procurando informações. — Respondeu ele de maneira evasiva.— Informações sobre o quê, filho? Você passou a noi
Juliana ficou surpresa com as perguntas de Luiz, e, por um momento, hesitou antes de responder:— Eu já ouvi falar sobre isso, mas por que essa curiosidade toda?— Você sabe se o povo da sua etnia consegue criar antídotos para os venenos que eles mesmos produzem? — Luiz insistiu.Juliana começou a achar essas perguntas um tanto estranhas, mas, mesmo assim, respondeu pacientemente:— Não sei ao certo. Meu pai faz parte dos Iurani, e eu também tenho sangue deles, mas, para ser honesta, não sou tão próxima dessa cultura. Só lembro do que ele me contava que aquele país é bem caótico e vive dividido entre castas, sabe? Tem os de alta casta, que têm mais privilégios, e os de casta baixa, que são bem menos favorecidos.Ela apontou para uma imagem no jornal e continuou:— Esses aqui são da casta baixa. Dá pra ver pela cor da pele e pelas roupas simples. Eles são vistos como inferiores por lá. Já meu pai, ele é de casta alta.Luiz não conhecia muito sobre os Iurani, nem sobre o país deles, que
Marcelo pressionou a mão contra a testa, tentando aliviar a dor que o impedia de focar nas palavras dos outros. Ele não conseguia lembrar exatamente o que havia feito na noite anterior. Tudo parecia um borrão de um sonho. Se Esther realmente havia passado por ali, ele ao menos queria estar sóbrio para vê-la, e, com certeza, não com aquela aparência derrotada.— Saiam, por favor. — Disse Marcelo com a voz rouca.— Sim, senhor! — Responderam os dois, saindo imediatamente.Mas, após apenas alguns minutos, Durval retornou e anunciou da porta:— Capitão Marcelo, a Srta. Sofia chegou.Marcelo, rapidamente, lavou o rosto e trocou de roupa. Ao ouvir a notícia, franziu levemente a testa, tentando esconder o incômodo, e respondeu de maneira fria:— Peça para ela esperar na sala de estar.Enquanto isso, Sofia estava radiante, de ótimo humor. Ela finalmente havia conseguido o papel principal na série Sombras do Passado, um dos projetos mais aguardados da televisão. Era a grande chance para sua car
Sofia mal podia esperar para ver Esther fracassar. Em vez de focar na sua carreira como jornalista, ela havia decidido se aventurar como investidora em uma série que, na opinião de Sofia, estava fadada ao fracasso. Ela tinha certeza de que Esther logo perderia tudo e acabaria sem um centavo. Era isso que ela ansiava, secretamente, ver acontecer.Marcelo continuava em silêncio, mas uma leve sombra de inquietação surgiu em seu olhar. O carro esportivo estava parado na entrada, e os dois se acomodaram no banco traseiro.Sofia se inclinou na direção dele, buscando um pouco de intimidade, mas Marcelo logo cortou o momento:— Você já publicou várias atualizações sobre essa história. E então, quando vai sair o casamento? E quanto tempo até termos o tal antídoto?Sofia sorriu de canto, um sorriso que quase se transformava em uma expressão de triunfo.— Calma, Marcelo. Agora com a série para gravar, meu tempo está curto. Além disso, a Esther não está correndo risco de vida, entende? Vou garant
— Nós temos muitas cenas de luta com efeitos de cabo, não dá pra controlar direito. Sinto muito! — A atriz que flutuava pelo set se desculpou, mas continuava a fazer manobras aéreas como se nada tivesse acontecido.— Vocês estão invadindo o nosso espaço! — Exclamou Eduarda, irritada. — Aqui estamos gravando uma série moderna, não tem sentido algum vocês ficarem voando aqui! Isso não vai causar erro na edição de vocês? Ou os câmeras de vocês já sabem lidar com esse tipo de gafe?— Estamos só na beirada, nem chegamos a invadir o set de vocês. Se a gente se esbarrou, talvez o problema seja que vocês entraram no nosso espaço! — A atriz alçado por cabos respondeu com um tom provocativo.— Você! — Eduarda colocou as mãos na cintura, percebendo o sarcasmo na fala dela. — Isso é pura desculpa esfarrapada!A atriz olhou para ela com desprezo e, baixinho, murmurou:— Uma sériezinha dessas, com orçamento que nem chega aos nossos pés, se achando os donos do estúdio.Eduarda ficou furiosa, mas Nand
A conversa de Eduarda, feita quase de propósito, chegou aos ouvidos de Sofia. Ela percebeu o tom provocativo, mas, sem querer demonstrar derrota para Esther, sorriu e se virou para o grupo:— Marcelo e eu vamos oferecer uma refeição especial para todos. Podem escolher o que quiserem do cardápio, é por nossa conta!— Uau, hoje tem banquete, então! — Comentou um dos atores, e logo todos se mostraram empolgados.— Obrigado, Sofia! E obrigado, Sr. Marcelo! Não é à toa que você será a futura esposa do Sr. Marcelo, já mostra sua generosidade! — Disse um dos membros da equipe, que fazia questão de elogiar o gesto.A vaidade de Sofia foi alimentada com aquele comentário e ela continuou a posar como a anfitriã perfeita, respondendo com entusiasmo:— Sei que todos têm trabalhado muito duro! Alimentados, a gente consegue dar o nosso melhor! Esse também é o desejo meu e do Marcelo. Que a nossa série seja um grande sucesso!— Que seja um sucesso! — Gritaram todos em coro, erguendo copos com refrige