Joaquim finalmente suspirou aliviado, vendo que Natacha havia comido mais da metade da refeição, e então concordou em levá-la ao cemitério. Era a primeira vez em dias que Natacha se arrumava. Ela vestia um casaco preto, que a fazia parecer ainda mais pálida e frágil. O clima lá fora estava sombrio, como se o céu soubesse que dia era aquele e colaborasse, tornando tudo ao redor profundo e cinzento. Joaquim dirigiu até o cemitério. No gramado verde, estava reunida toda a família Nunes, junto com amigos e colegas de trabalho de Gabriel. Somente Natacha permaneceu afastada. Ela não ousava se aproximar deles, temendo estragar aquele cenário formal. Foi apenas quando a família Nunes terminou as homenagens e todos já tinham ido embora, que Natacha deu um passo em direção à lápide, caminhando lentamente. Joaquim não a seguiu. Ele se conteve, ficando onde estava, pois sabia que aquilo tinha começado por sua causa, e ele não tinha coragem de encarar Gabriel. Natacha se ajoelhou diante da
— Eu não vou embora! — Rafaela, com os olhos vermelhos de raiva, olhou furiosa para Enrico. — Eu ainda não vi Natacha morrer com meus próprios olhos, como posso ir embora?Enrico já havia perdido a paciência e respondeu com uma voz pesada:— Srta. Rafaela, eu e os rapazes não podemos mais ajudá-la a fazer esse tipo de coisa maldosa. Mesmo que o patrão estivesse acordado, ele não concordaria com o que estamos fazendo. A senhora deveria se acalmar aqui!Depois de falar, Enrico saiu do quarto de Rafaela.Rafaela gritou furiosa enquanto ele saía:— Volte! Volte aqui agora!"Se até o Enrico não quer mais me ajudar, a quem eu posso recorrer?"...Depois de voltar do cemitério de Gabriel, Natacha continuava em um estado de apatia. Todos os dias, ela ficava meio deitada na cama, sem fazer nada e sem comer.Joaquim, sem saber mais o que fazer, decidiu chamar Rosana, na esperança de que ela pudesse ajudar a convencer Natacha.Quando Natacha viu Rosana, apenas conseguiu dar um leve sorriso e diss
As palavras de Rosana fizeram o coração de Natacha doer, penetrando até as profundezas de sua alma. Na verdade, Natacha entendia muitas dessas verdades, mas era realmente difícil para ela se convencer a viver feliz. Ela pensava no homem que havia traído, que morreu por sua causa. Como poderia encarar a vida daqui para frente com um sorriso no rosto?Embora Rosana tenha falado bastante, só conseguiu arrancar algumas palavras de Natacha, que ainda se sentia completamente abatida, sem ânimo para nada. Ao sair do quarto, Rosana disse friamente a Joaquim: — Deixe que eu fique para cuidar da Natacha. Vá embora. A pessoa que Natacha mais odeia agora é você e Rafaela. No fim das contas, a morte do Dr. Gabriel está ligada a vocês dois.Joaquim franziu o cenho com desagrado ao ouvir que deveria ir embora e respondeu com uma pergunta: — Tem certeza de que Manuel vai deixar você ficar fora por tanto tempo?Ao ouvir o nome de Manuel, o rosto de Rosana ficou visivelmente constrangido. Ela sabi
Cada palavra de Natacha era como uma lâmina afiada, cortando impiedosamente o lugar mais sensível do coração de Joaquim. Seus olhos profundos estavam cheios de dor, e ele deu um sorriso amargo ao dizer: — Não tem problema, não precisa me perdoar. Desde que você fique bem, é o suficiente. Só não odeie Otília e Adriano. Eles cresceram achando que não tinham pai. Agora que finalmente têm, você realmente teria coragem de deixar esses dois sem mãe? O que essas crianças fizeram de errado?Essas palavras despertaram um sentimento de culpa em Natacha. “Essas duas crianças... O que elas realmente fizeram de errado? Apenas o fato de terem o sangue de Joaquim correndo em suas veias?” Apesar desse pensamento, cada vez que Natacha via Joaquim e as crianças, sentia que estava traindo a memória de Gabriel. Foi então que alguém bateu suavemente à porta. Joaquim, achando que era uma enfermeira, foi abrir. Quando viu quem estava lá, ficou surpreso: era Sra. Lopes.— A senhora está aqui? — Joaquim
Sra. Lopes suspirou, se levantando com cansaço, e disse: — O que passou, passou. Quando vi o diário de Gabriel, finalmente consegui deixar de te odiar. Já que meu filho acreditava que você era uma moça digna de ser amada, então você certamente é. — Natacha segurava o diário, sem conseguir dizer uma palavra. Sra. Lopes deu um leve tapinha no ombro de Natacha e falou. — Adeus, Natacha. Ao terminar, Sra. Lopes deixou o quarto. Do lado de fora, Joaquim, preocupado, ouvia a conversa entre elas. A generosidade e dignidade de Sra. Lopes impressionavam a todos. Embora, enquanto Gabriel estava vivo, eles fossem rivais no amor, Joaquim agora sentia um respeito profundo pela família Nunes. Quando Sra. Lopes saiu, os dois se encararam por um longo tempo. Joaquim baixou a cabeça e disse: — Desculpe, tenho muita culpa por tudo isso. Prometo que vou pegar o assassino o mais rápido possível e vingar Dr. Gabriel. Sra. Lopes disse, com um olhar perdido: — A ordem de entrada na vida d
Natacha não contou seu plano a Joaquim. Ela continuava evitando falar com ele, sem querer trocar sequer uma palavra. Felizmente, Joaquim apenas cuidava dos dois filhos e de Natacha em silêncio, sem pressioná-la a conversar.No dia em que Natacha recebeu alta, Sr. Henrique apareceu em seu quarto: — Dra. Susan, ouvi dizer que você vai sair do hospital. — Sr. Henrique sorriu e perguntou: — E quais são seus próximos planos? Natacha sabia que Sr. Henrique tinha um motivo para procurá-la. Havia alguns pacientes aguardando cirurgias que Gabriel deveria realizar. Eram operações complexas, e apenas Gabriel tinha total confiança para realizá-las com sucesso. Agora que Gabriel havia falecido, e sendo Natacha sua aluna, ela sabia que deveria concluir o trabalho que ele não pôde terminar. Com uma voz fria, Natacha respondeu: — Sr. Henrique, volto ao hospital amanhã. O que Dr. Gabriel não conseguiu terminar, eu farei. Sr. Henrique soltou um suspiro de alívio. Após um evento tão trágico
Nesse momento, Joaquim entrou pela porta com Adriano e disse:— Eu não vou te incomodar, só quero ficar um pouco mais perto de você. Assim, eu posso ficar tranquilo.Adriano rapidamente defendeu o pai, se virando para Natacha:— Mamãe, olha como isso é bom! Mesmo com papai por perto, ainda podemos te ver com frequência.Natacha olhou para Joaquim, sem saber o que dizer. Jamais imaginou que ele fosse comprar a casa ao lado. E assim, eles se tornaram vizinhos.A única vantagem era que ambos podiam ver os filhos todos os dias, sem que ninguém ficasse sentindo falta deles.Na hora das refeições, ele sempre pedia a Adriano para levar os pratos que ele preparava até Natacha. Todos os dias, Joaquim fazia algo diferente.Mesmo que Natacha continuasse tratando Joaquim com frieza, ao ver a variedade de pratos que ele fazia diariamente, não conseguia evitar ser tocada por dentro.Ela puxou Adriano de lado e perguntou em segredo ao filho:— Seu pai não precisa trabalhar? A empresa dele não está oc
Natacha respirou fundo, tentando controlar a tensão que sentia. Com uma calma forçada, começou a falar:— Então vamos conversar. Vamos falar sobre quantas maldades você já fez, sobre quantas pessoas você matou!Rafaela sorriu, um sorriso cruel e despreocupado:— Quantas pessoas eu matei? Me deixe pensar! Na verdade, nem foram tantas assim. Uma foi aquele garoto... Eu troquei os medicamentos dele, e daí? Eu fiz isso para salvar o meu filho, que culpa eu tenho? A única coisa que lamento é que o acidente de carro não conseguiu matar você, só matou Gabriel.Natacha ficou chocada. Algo tão cruel e desumano saía da boca de Rafaela como se fosse a coisa mais trivial do mundo. Não havia um traço de arrependimento.“Então, foi verdade... Não foi Joaquim quem trocou os remédios. Por que eu não percebi isso antes?”Natacha balançou a cabeça, furiosa:— Já pensou no que seu filho vai sentir quando descobrir que a mãe dele é esse tipo de pessoa?— Não, ele nunca vai saber de nada! — Rafaela sorriu