Natacha, com os olhos cheios de dor e ressentimento, respondeu friamente: - Não tem nada para explicar. Eu só não quero mais te dever nada. Posso me sustentar sozinha. Você sabe o que fez, ou precisa que eu diga? Não sou surda nem cega. Você dorme com minha irmã no nosso quarto, e os sons todas as noites são claros como o dia. E você ainda quer que eu explique? Você não acha que está passando dos limites?Ela sentiu o coração apertar enquanto falava, cada palavra carregada de mágoa.Joaquim, pego de surpresa pela acusação direta, sentiu o rosto esquentar de vergonha e desconforto. Ele havia usado essa tática para provocá-la, para fazer com que ela sentisse ciúmes e voltasse para ele, mas nunca esperava que a situação fosse se voltar tão contra ele. Seu rosto endureceu, tentando mascarar o desconcerto. - Se eu mandar Daniela embora agora, você estaria disposta a ficar ao meu lado e acabar com essa confusão? - Ele tentou parecer conciliador.Natacha soltou uma risada amarga, sua expres
No dia seguinte, que era um fim de semana, Natacha tinha combinado com Isadora de ir até a loja de chá com leite onde ela trabalhava. Caminhando pelas ruas movimentadas da cidade, Natacha sentia uma mistura de ansiedade e animação. Isadora, sempre prestativa e com um sorriso acolhedor, explicou: - Acontece que uma das garotas que trabalhava na loja vai sair, e a dona precisa de alguém para substituí-la. Então, eu sugeri você. Pagam cento e cinquenta reais por dia, o que é bem razoável. Natacha agradeceu repetidamente, sentindo uma onda de gratidão. No passado, cento e cinquenta reais talvez não fossem suficientes nem para comprar uma camiseta, mas agora, cada centavo contava. Ela precisava ser independente e não podia mais depender do dinheiro da família Gonçalves, muito menos do de Joaquim. Estava determinada a fazer um bom trabalho e mostrar seu valor.Ao chegar na loja, Natacha foi recebida pela dona, uma mulher de quarenta e poucos anos, com um sorriso caloroso que a fez se sen
Naquele momento, Dora, não aguentando mais ouvir as provocações de Daniela, caminhou em direção a ela com uma expressão de frustração. - Você é tão maldosa! Natacha é sua irmã, por que você está fazendo isso com ela? - Questionou, sua voz cheia de desprezo.Daniela, com um olhar sombrio, replicou com raiva: - Se você é tão leal a ela, por que não vai morar com ela naquele armazenamento úmido e frio? Quando Natacha for expulsa desta casa, você vai junto! Sua maldita velha e inútil! Espere e veja, eu não vou perdoar você!Dora, sempre desajeitada com as palavras, não conseguiu encontrar uma resposta adequada. Ela agora também estava preocupada, imaginando que se Daniela realmente se tornasse a dona da casa, perderia seu emprego....No hospital, Natacha ficou parada na porta, observando a cena à sua frente. Rafaela, com um tom manhoso e doce, pediu: - Joaquim, estou tão entediada aqui. O tempo está tão bom hoje, você poderia me levar para passear no jardim?- Mas está frio lá fora. -
Cada palavra que saía da boca de Natacha parecia um golpe na alma de Joaquim, sua expressão cada vez mais sombria à medida que ela falava. Ele a olhava como se visse uma estranha diante de si. Natacha cruzou os braços, mantendo o olhar firme nele, uma mistura de desafio e dor em seus olhos. - Natacha, você realmente disse isso? - Murmurou ele, descrença evidente em cada sílaba. A desilusão se estampava em seu rosto enquanto balançava a cabeça lentamente. - Quando você se transformou assim? Tão fria, tão cruel? Um tremor percorreu o corpo de Natacha, mas ela sustentou sua pose com teimosia, se mantendo firme diante dele. Observando a reação devastadora de Joaquim, ela sentiu como se tivesse atingido seu objetivo. Ela tinha “conseguido”. Ela havia “conseguido” afastar o homem que amava mais do que tudo, empurrando-o para os braços de outra mulher.Joaquim jamais saberia a intensidade da dor que aquelas palavras infligiam a Natacha, a escolha desesperada e forçada que ela havia feito. A
Daniela estava apavorada. Ela tremia sem parar, tentando desesperadamente se justificar. - Sr. Joaquim, eu sei que errei, falei demais, mas não foi de propósito. Por favor, me perdoe! - Sua voz saía entrecortada pelo medo, os olhos arregalados de pavor.Joaquim olhou para ela com uma expressão implacável, seus olhos brilhando de raiva. A intensidade de seu olhar fazia o sangue de Daniela gelar. - Você sabe o que significa procurar a própria morte? - Questionou ele, cada palavra carregada de desprezo. De repente, ele a jogou de lado com força, como se descartasse algo inútil.Daniela caiu pesadamente no chão frio e duro, o impacto ressoando pela sala silenciosa. Chorando e implorando por misericórdia, ela tentava se levantar, mas suas pernas estavam fracas. Joaquim, no entanto, já tinha pegado o celular e estava ligando para o Clube Nuvem. - Enviem alguém para buscar Daniela. Quero que treinem ela devidamente, para que aprenda o seu lugar! - Sua voz era firme e autoritária, sem espa
Natacha olhou fixamente para Joaquim, com um ar frustrado e magoado. - Você diz que está ajudando, mas meu pai continua preso, sem notícias. E você? Você mente para mim, esconde coisas, e passa seu tempo com Rafaela, cuidando dela! - Seus olhos estavam brilhando de raiva e tristeza, a dor em suas palavras perfurando o ar.Suas palavras eram um misto de verdade e manipulação. Ela queria que Joaquim a odiasse e, ao mesmo tempo, não conseguia esconder o ciúme que sentia de Rafaela. Era uma batalha interna que a estava destruindo pouco a pouco.Joaquim soltou uma risada irônico, balançando a cabeça semacreditar. - Eu fui um idiota por tentar ajudar seu pai. De agora em diante, não me peça mais nada. Eu não farei mais nada por ele! - Afirmou, com ressentimento profundo.Ele subiu as escadas com passos pesados, cada movimento transmitindo sua raiva contida, deixando Natacha sozinha com sua dor. Ela voltou para o seu pequeno quarto de armazenamento, se sentando na cama com um ar perdido. F
Natacha disse, hesitante: - Você não entende. Embora isso possa ser verdade, o dinheiro é todo ganho por ele. Eu não contribuí em nada para essa casa. Ela mordeu o lábio, sentindo um nó na garganta. A relação entre ela e Joaquim estava tão desgastada que pedir dinheiro a ele seria uma humilhação insuportável. Ela não queria que Joaquim a desprezasse ainda mais do que já fazia.Isadora balançou a cabeça em desaprovação. - Eu realmente não entendo esses jogos dos ricos. Se eu tivesse suas condições, estaria feliz da vida, sem precisar fazer bicos todos os dias. - Sua risada era leve, mas seu olhar mostrava compreensão e empatia.As duas continuaram conversando enquanto caminhavam, compartilhando suas preocupações e frustrações. No fim, se despediram na estação de metrô, cada uma seguindo seu caminho.Quando Natacha chegou em casa, Dora a recebeu com um sorriso acolhedor e a puxou para a mesa de jantar. - Senhora, venha comer. Eu preparei um banquete com seus pratos favoritos. Você e
Se as coisas continuassem desse jeito, Joaquim provavelmente não suportaria mais e pediria o divórcio.No quarto principal.Joaquim esperou por muito tempo, mas ela não voltou.Muito insatisfeito, ele desceu as escadas, encontrando Dora limpando a sala de estar.- Onde está Natacha? - Joaquim franziu a testa. - Eu não disse que ela não deveria mais morar no depósito?Dora respondeu, constrangida:- A senhora não quer voltar a morar lá. Afinal, depois que o senhor trouxe aquela moça para casa, ela...Joaquim cerrou os punhos, com o rosto rígido de raiva.Natacha, essa mulher ingrata!Ele já tinha dado tantas chances para ela, e ainda assim ela não conseguia perdoá-lo.Ou talvez ela estivesse realmente desiludida com ele, sem nenhuma expectativa?Seria por isso que ela demonstrava essa atitude indiferente?Ele mesmo se sentia um tolo, essa mulher não só era desprovida de gratidão, como ele também tinha testemunhado sua mesquinhez e maldade. Por que ele continuava a dar-lhe a oportunidade