Natacha se agachou na frente de Joaquim, se concentrando intensamente enquanto trocava seu curativo. Cada movimento era cuidadoso e preciso, mas o peso emocional deixava suas mãos trêmulas. Em outras ocasiões, ao cuidar de pacientes comuns, Natacha nunca havia sentido o coração acelerar nem as mãos suarem, mesmo diante dos cortes mais profundos e feridas mais assustadoras. Mas, ao encarar o ferimento de Joaquim, resultado de uma briga para protegê-la, seu coração doía e a tristeza a invadia, dificultando ainda mais sua tarefa.Joaquim notou a inquietação dela e tentou tranquilizá-la. - Apenas me trate como qualquer outro paciente, use essa oportunidade para praticar. - Disse ele, tentando aliviar a tensão. Apesar da dor forte causada pelo álcool na ferida, ele manteve o rosto impassível, para não a preocupar ainda mais.Finalmente, o curativo estava terminado, e Natacha enxugou o suor da testa com um suspiro de alívio. Joaquim não tirava os olhos dela, observando cada detalhe de sua
“Ela ainda tem a coragem de dizer que Joaquim é o irmão dela?”, Laura bufou internamente. Ela não conseguiu segurar sua raiva e gritou: - Então você está usando os recursos do hospital para fins pessoais?Sua voz era alta e afiada, ecoando pelo quarto. Laura estava tão furiosa que nem se importava se Joaquim estava ali ao lado. Afinal, o que ele poderia fazer? Na mente de Laura, não havia chance de Joaquim defender Natacha em público e admitir que ela era sua amante, pois isso arruinaria sua reputação. Homens em situações assim sempre escolhiam proteger a própria imagem.Com essa convicção, Laura se sentiu ainda mais ousada. - Se eu reportar isso ao departamento de ensino, você não vai sair impune! - Ameaçou Laura, com desprezo.Joaquim, finalmente perdendo a paciência, falou com um tom de voz perigoso e desdenhoso: - Você está se achando muito, não é? Estamos falando de um pouco de álcool e duas gazes. Só em doações minhas, esse hospital já recebeu equipamentos que poderiam compra
Natacha estava com medo de que Joaquim percebesse sua insegurança. Ela rapidamente o empurrou para fora, tentando esconder seu nervosismo. - Eu entendi, agora vá embora. - Ela disse às pressas, tentando manter uma expressão calma.Antes de sair, Joaquim tirou algumas notas da carteira e as entregou a ela. - Vá até a recepção e pague as taxas para mim, para que aquela mulher não tenha mais o que falar. - Ele disse com um tom firme, mas com uma preocupação subjacente em seus olhos.Ele saiu do quarto de curativos, deixando Natacha olhando perdida na direção que ele tinha tomado. Seu coração estava um turbilhão de emoções conflitantes. Ela olhou para as notas em sua mão, sabendo que Joaquim estava fazendo isso por consideração a ela. Um homem tão dominador e assertivo, ainda assim, se submetia a certas coisas para evitar que ela sofresse.Naquele momento, a voz aguda e sarcástica de Laura ressoou em seus ouvidos, quebrando o silêncio. - Ora, ele já foi embora e você ainda está aí, aprov
Natacha, com os olhos cheios de dor e ressentimento, respondeu friamente: - Não tem nada para explicar. Eu só não quero mais te dever nada. Posso me sustentar sozinha. Você sabe o que fez, ou precisa que eu diga? Não sou surda nem cega. Você dorme com minha irmã no nosso quarto, e os sons todas as noites são claros como o dia. E você ainda quer que eu explique? Você não acha que está passando dos limites?Ela sentiu o coração apertar enquanto falava, cada palavra carregada de mágoa.Joaquim, pego de surpresa pela acusação direta, sentiu o rosto esquentar de vergonha e desconforto. Ele havia usado essa tática para provocá-la, para fazer com que ela sentisse ciúmes e voltasse para ele, mas nunca esperava que a situação fosse se voltar tão contra ele. Seu rosto endureceu, tentando mascarar o desconcerto. - Se eu mandar Daniela embora agora, você estaria disposta a ficar ao meu lado e acabar com essa confusão? - Ele tentou parecer conciliador.Natacha soltou uma risada amarga, sua expres
No dia seguinte, que era um fim de semana, Natacha tinha combinado com Isadora de ir até a loja de chá com leite onde ela trabalhava. Caminhando pelas ruas movimentadas da cidade, Natacha sentia uma mistura de ansiedade e animação. Isadora, sempre prestativa e com um sorriso acolhedor, explicou: - Acontece que uma das garotas que trabalhava na loja vai sair, e a dona precisa de alguém para substituí-la. Então, eu sugeri você. Pagam cento e cinquenta reais por dia, o que é bem razoável. Natacha agradeceu repetidamente, sentindo uma onda de gratidão. No passado, cento e cinquenta reais talvez não fossem suficientes nem para comprar uma camiseta, mas agora, cada centavo contava. Ela precisava ser independente e não podia mais depender do dinheiro da família Gonçalves, muito menos do de Joaquim. Estava determinada a fazer um bom trabalho e mostrar seu valor.Ao chegar na loja, Natacha foi recebida pela dona, uma mulher de quarenta e poucos anos, com um sorriso caloroso que a fez se sen
Naquele momento, Dora, não aguentando mais ouvir as provocações de Daniela, caminhou em direção a ela com uma expressão de frustração. - Você é tão maldosa! Natacha é sua irmã, por que você está fazendo isso com ela? - Questionou, sua voz cheia de desprezo.Daniela, com um olhar sombrio, replicou com raiva: - Se você é tão leal a ela, por que não vai morar com ela naquele armazenamento úmido e frio? Quando Natacha for expulsa desta casa, você vai junto! Sua maldita velha e inútil! Espere e veja, eu não vou perdoar você!Dora, sempre desajeitada com as palavras, não conseguiu encontrar uma resposta adequada. Ela agora também estava preocupada, imaginando que se Daniela realmente se tornasse a dona da casa, perderia seu emprego....No hospital, Natacha ficou parada na porta, observando a cena à sua frente. Rafaela, com um tom manhoso e doce, pediu: - Joaquim, estou tão entediada aqui. O tempo está tão bom hoje, você poderia me levar para passear no jardim?- Mas está frio lá fora. -
Cada palavra que saía da boca de Natacha parecia um golpe na alma de Joaquim, sua expressão cada vez mais sombria à medida que ela falava. Ele a olhava como se visse uma estranha diante de si. Natacha cruzou os braços, mantendo o olhar firme nele, uma mistura de desafio e dor em seus olhos. - Natacha, você realmente disse isso? - Murmurou ele, descrença evidente em cada sílaba. A desilusão se estampava em seu rosto enquanto balançava a cabeça lentamente. - Quando você se transformou assim? Tão fria, tão cruel? Um tremor percorreu o corpo de Natacha, mas ela sustentou sua pose com teimosia, se mantendo firme diante dele. Observando a reação devastadora de Joaquim, ela sentiu como se tivesse atingido seu objetivo. Ela tinha “conseguido”. Ela havia “conseguido” afastar o homem que amava mais do que tudo, empurrando-o para os braços de outra mulher.Joaquim jamais saberia a intensidade da dor que aquelas palavras infligiam a Natacha, a escolha desesperada e forçada que ela havia feito. A
Daniela estava apavorada. Ela tremia sem parar, tentando desesperadamente se justificar. - Sr. Joaquim, eu sei que errei, falei demais, mas não foi de propósito. Por favor, me perdoe! - Sua voz saía entrecortada pelo medo, os olhos arregalados de pavor.Joaquim olhou para ela com uma expressão implacável, seus olhos brilhando de raiva. A intensidade de seu olhar fazia o sangue de Daniela gelar. - Você sabe o que significa procurar a própria morte? - Questionou ele, cada palavra carregada de desprezo. De repente, ele a jogou de lado com força, como se descartasse algo inútil.Daniela caiu pesadamente no chão frio e duro, o impacto ressoando pela sala silenciosa. Chorando e implorando por misericórdia, ela tentava se levantar, mas suas pernas estavam fracas. Joaquim, no entanto, já tinha pegado o celular e estava ligando para o Clube Nuvem. - Enviem alguém para buscar Daniela. Quero que treinem ela devidamente, para que aprenda o seu lugar! - Sua voz era firme e autoritária, sem espa