O coração de Lorena, mais uma vez, mergulhou no desespero. Ela pensou: "Se ao menos Duarte pudesse entender... Se ele tomasse a iniciativa de me entregar o antídoto, mesmo que fosse apenas porque eu pedi, eu o perdoaria por todas as mentiras." Desde o começo, durante todo o tempo em que estiveram juntos, Lorena sentia que sua jornada ao lado de Duarte havia sido um ciclo interminável de enganos e perdão. "Mas, para perdoar, eu precisaria de pelo menos um motivo, não é?" Ela soltou um riso amargo. Era irônico que, justamente agora, quando queria perdoá-lo, não conseguisse encontrar um único motivo para fazê-lo. — Rena, tem coisas na vida que não vale a pena buscar respostas. — Disse Duarte. — A gente precisa olhar para frente. Por que insistir em lembrar do passado? Lorena admirava a maneira como Duarte conseguia transformar suas mentiras em palavras tão retas e firmes, quase como se fossem verdades inquestionáveis. "Que bom que não o confrontei diretamente sobre isso" pen
Ademir sabia que lá dentro estava Domingos, o paciente mais grave que ele tinha, mas também o que havia resistido por mais tempo. Por isso, Ademir tinha um sentimento especial por Domingos. Afinal, desde que havia voltado ao país e assumido seu caso, já tinha se passado mais de um ano. No entanto, ao encontrar Lorena ali, a expressão fria de Ademir pareceu exibir um leve traço de surpresa. — O que você está fazendo aqui? — Ao passar por Lorena, ele franziu a testa, olhando para ela. Afinal, sempre que Domingos era internado, quem o acompanhava era Joaquim e Natacha, ou então alguns homens desconhecidos, que diziam ser funcionários do pai de Domingos. De qualquer forma, Ademir jamais havia visto os pais do garoto. Por isso, achou estranho. Pela aparência, Lorena parecia ter pouco mais de vinte anos, não era a idade que se esperaria de alguém com um filho daquela idade. Se lembrando da discussão que teve com Ademir no dia anterior, Lorena se arrependeu, mas engoliu o descon
Foi só então que Lorena percebeu que Ademir provavelmente havia entendido errado. Ele achava que ela tinha aberto uma loja de pianos e, por isso, ignorou completamente Domingos. No entanto, Lorena não discutiu. Tinha receio de desagradar o médico responsável pelo tratamento de Domingos e que, por isso, ele não se dedicasse tanto ao caso. Assim, ela apenas assentiu e disse: — Obrigada pelo aviso, Dr. Ademir. Vou conversar com o pai dele. Enquanto ajustava a velocidade do soro de Domingos, Ademir comentou distraidamente: — Que interessante... — O quê? — Lorena não entendeu e olhou para ele, intrigada. Ademir sorriu. — Ontem, a Srta. Lorena ainda parecia alguém difícil de lidar. Hoje, no entanto, está sendo bem educada comigo. Lorena captou a insinuação nas palavras dele. Apertou os dedos levemente, forçando um sorriso um tanto hesitante, e respondeu: — Então, por favor, Dr. Ademir, não leve a sério o que eu disse ontem. O senhor tem razão, eu realmente não tenho o dir
Naiara, diante de Duarte, parecia uma irmãzinha inocente. Ela se aproximou e, com intimidade, enlaçou o braço dele, dizendo: — Eu só queria te dar uma surpresa! E aí, o que achou? Ouvi do Enrico que você voltou para a Cidade Y, então resolvi aparecer de repente. Ficou surpreso? Duarte retirou o braço e, sem se importar muito, acendeu um cigarro: — Surpreso nada, quase morri de susto! — Agora, no coração do Duarte, já não tenho mais espaço nenhum. — Naiara fez uma cara de coitada. Se sentou no sofá e continuou. — Desde que você está com a Lorena, não me mima mais. Antes, você nunca falava assim comigo! Duarte suspirou, se sentindo impotente. Essa irmãzinha lhe dava muita dor de cabeça. Não podia bater, não podia xingar e nem sequer tinha coragem de brigar com ela. Ele soltou um suspiro e disse: — Naiara, você já cresceu. Já tem 25 anos, não pode mais agir como antes. Pelo menos deveria ter um pouco mais de noção. Não estou bravo com você, mas, no fim das contas, você é
— Não! — Duarte recusou sem hesitar, falando com seriedade. — Você já cresceu, não é mais uma criança. Eu sou um homem feito, e agora é tarde da noite. Se ficarmos sozinhos assim, que tipo de situação será essa? Naiara, no entanto, retrucou: — Entre um irmão e uma irmã, qualquer pessoa normal não pensaria nada demais. A menos que essa pessoa seja suja e cheia de desconfianças! Ou será que você tem medo de que a Lorena fique brava? Duarte a repreendeu com um tom frio: — Lorena? Desde quando você a chama assim? Ela é sua cunhada! O coração de Naiara se encheu de ciúmes de Lorena, mas ela não podia demonstrar. Se sentia sufocada de tanta frustração. Ainda assim, naquela noite, Naiara estava determinada a permanecer naquele quarto e não arredou pé: — Não quero saber! De qualquer jeito, eu não tenho coragem de dormir sozinha! Vou dormir com você! Ela fez birra como uma criança. Pelo menos, aos olhos de Duarte, Naiara não passava de uma garotinha manhosa. Duarte não via nel
Lorena só conseguiu armar uma espreguiçadeira e se recostou nela para descansar um pouco. A dor de cabeça não havia diminuído; pelo contrário, seus ossos doíam cada vez mais, como se uma fadiga exaustiva a consumisse por inteiro. Ela levou a mão à testa e sentiu o calor anormal em sua pele. Parecia estar com febre. Soltando um suspiro, murmurou para si mesma: — Que azar! Com dificuldade, Lorena se ergueu e caminhou até o posto de enfermagem. — Com licença, poderia me dar um comprimido para febre? Acho que estou com febre. A enfermeira deu a ela um olhar compreensivo, mas recusou com delicadeza: — Sinto muito, mas este é o setor de internação. Todos os medicamentos daqui são exclusivos para os pacientes hospitalizados. Você pode encontrar uma farmácia em frente ao hospital ou ir ao pronto-socorro para um exame. Lorena sentia o corpo inteiro dolorido e sem forças. Só de pensar em sair para comprar remédio, seu ânimo desmoronava ainda mais. Sem alternativas, agradeceu
Por isso, Lorena explicou: — Não é como você está pensando. Sou a mãe de Domingos, um paciente do seu setor. Ontem eu só estava com febre. O Dr. Ademir achou que eu não tinha onde dormir e, por isso, me deixou passar a noite aqui temporariamente. Após a explicação de Lorena, o jovem médico sorriu ainda mais: — Não precisa se explicar, cunhada! Ouvi dizer que ninguém nunca viu o pai do Domingos! A implicação era clara: Lorena era mãe solo, Ademir era pai solo... Os dois formavam um par perfeito. Foi nesse momento que Ademir entrou na sala dos plantonistas. Ao ver que ainda havia gente ali, ele pareceu um pouco surpreso e, raramente, uma expressão ligeiramente constrangida surgiu em seu rosto. Isso não passou despercebido por seus colegas, que sorriram, se divertindo com a situação. Ademir logo recuperou a compostura e perguntou com naturalidade: — Marco, por que chegou tão cedo hoje? Afinal, ainda eram apenas seis e meia da manhã. Marco sorriu e respondeu: — Minha
Lorena voltou apressada para o quarto de hospital de Domingos, sem nem se dar ao trabalho de medir sua própria temperatura. No entanto, não sabia dizer se era por causa da febre ou por outro motivo, mas seu rosto estava quente. Talvez fosse porque nunca teria imaginado que Ademir, o pai da teimosa Alice, a acolheria por uma noite justamente quando ela mais precisava. Lorena apenas esperava que os colegas de Ademir não entendessem tudo errado e acabassem trazendo problemas para ele. Pela manhã, quando Domingos passou pelos exames de rotina, Ademir apareceu. Depois da noite anterior, Lorena se sentia um tanto constrangida ao encará-lo. Domingos já estava acordado quando Ademir se aproximou e lhe disse que, no futuro, deveria ser um bom filho e cuidar bem da mãe. — Sua mãe teve febre alta ontem à noite e, mesmo assim, ficou aqui para cuidar de você. Quando ela envelhecer, você também vai cuidar dela assim? — Perguntou Ademir. Domingos respondeu com seriedade: — Vou, sim.