Adrie, a fonoaudióloga, chegou cedo. Junto com ela, o enfermeiro Juliê, que só ficaria na primeira semana, depois Jack conseguiria se virar sozinho. Dr. Wallace e eu fomos ao hospital, e mostrei a ele a parte particular; depois, fomos à chamada clínica popular. Era esse departamento que queria que ele cuidasse.Não faltava nada; além do dinheiro da fundação, também recebíamos incentivo do governo e da população abastada. Era tudo simples, mas também contávamos com uma emergência e um centro cirúrgico. A enfermeira-chefe nos recebeu. Era uma excelente pessoa, mais velha, quase setenta anos, mas ainda na ativa e de uma experiência sem igual.— Dr.ᵃ, quanto tempo? A médica está em cirurgia, mas logo que sair virá falar com a senhora.— Vou estar na sala do antigo diretor.— Estou feliz em revê-la. Demorou mais para vir dessa vez.— Uma série de intercorrências, mas estou de volta.— Seja bem-vinda.— Obrigada.Puxei Wallace e fomos ao segundo andar.— Lembra-se quando fui a Los Angeles e
A fisioterapia estava tranquila; já me acostumara com os exercícios, e os músculos pareciam se desenvolver e voltar à vida. A voz ainda saía um pouco enrolada. Na noite anterior à partida do Dr. Wallace, o ouvi conversando com Lily sobre eu mesmo estar travando. A vontade na hora foi me levantar e dizer que eles estavam loucos, mas percebi que há um pouco de verdade nisso.Adorei a conversa de Lily comigo no hospital, inclusive o beijo. Por isso, aceitei vir com ela para Lugano, mas quando a olhava, ainda me ressentia e ficava com medo de soltar a voz, dizer ‘Eu ainda te amo e te perdoo’, sem que o coração também esteja dizendo essas palavras.Deli entrou no quarto com uma bandeja de chá com biscoitos.— Bom dia, senhor. Trouxe o café da manhã.— Bom dia, senhora. Acho que estou muito preguiçoso. A senhora pega a muleta para mim. Vou comer na varanda. Estou perdendo essa vista maravilhosa, já tem dois dias. Só fui lá um dia no fim da tarde.— Lily deve estar chegando também. Ela será
Ainda não havíamos terminado o almoço e me assustei com um pedido de Jack, pois antes ele parecia empolgado.— Lily, não quero sair agora após o almoço. Prefiro dar uma descansada.— Está tudo bem? Não está escondendo nada da sua médica?— Não, só quero ficar aqui.— E o jantar, ainda quer?— Sim, como disse, acho melhor que seja aqui. Sua sugestão foi ótima.Eu ia perguntar mais, porém o gesto dele de se levantar para voltar ao quarto me travou.— Quer ajuda?— Não, obrigado.Segui-o com o olhar até ele entrar no quarto. Não vi que Deli também o observava. Ela chegou com o telefone na mão.— Ligaram do hospital. Precisam falar com você.— Você viu aquela reação, Deli. Não quis sair, mal comeu e voltou para o quarto. Isso tudo depois de me dar um beijo de disparar o coração de qualquer um.— Para mim, isso se chama medo. Acalenta o coração. Dê tempo ao tempo.— Isso para mim me diz que ele não consegue e não conseguirá me perdoar.— Acalme o coração. Escuta sua mãe, por favor.Fiquei
— É ela, só um minuto, senhor.— Oi, Lily. Como estão as coisas por aí? — Ela colocou no viva voz.— Péssimas, acabei de perder um paciente. Uma criança de três anos de idade, Deli. A mãe… entrou em desespero. Dei a notícia, tive que sedar a jovem. E já vou para a terceira cirurgia.— A enfermeira-chefe me disse. Você comeu?— Não vai dar tempo. Tomei um suco agora. O acidente foi muito feio, tem mais pacientes chegando a cada minuto. E não temos médico suficiente.— Lily, liguei para Candance e mandei um avião para ela. Ela deve chegar em pouco tempo. Quando vi a reportagem na televisão, também fiquei transtornada. Mas estou preocupada com você, porque pelo jeito vai varar a noite em cirurgia.— Obrigada por ligar para Candance; ela vai ajudar muito. E sim, vou varar a noite. — Estou indo levar comida para a senhora, e não me diga que não. Logo depois dessa cirurgia, vai comer, nem que eu tenha que amarrá-la. Entendeu?— Ok, não sei quando sairei do centro cirúrgico. Deixe com a enf
Quase pulei de felicidade no pescoço de Candance quando ela entrou no centro cirúrgico. Eu estava na higienização para iniciar a cirurgia.— Chegou bem? Está cansada.— Mesmo se estivesse, lá fora está um caos. Que acidente, hein?— Nossa, nem me fale. Perdi uma criança de três anos. Fiquei arrasada, mas não tinha como salvar.— Jack foi com Deli buscar-me no aeroporto, mas, com a imprensa toda aqui, voltou para casa.— E Deli?— Ficou. As famílias com vítimas fatais estão inconsoláveis. Ela está ajudando com elas.— Jack estava bem?— Quer a sinceridade?— Sim, sempre.— Fisicamente, sim, mas não sei, achei-o meio estranho. Incomodado com algo.— E pelo jeito, com o andar da carruagem aqui, iremos para casa, se tudo correr bem, só amanhã de tarde.— Não quer passar uma mensagem para ele. Acho que talvez ele se sinta melhor.— Estou sem celular aqui dentro do centro cirúrgico, doida, e no almoço de hoje ele ficou super estranho. Íamos sair, eu iria mostrar Lugano para ele, mas do nada
Algumas horas antes…Depois de conversar com o Dr. Wallace, a realidade tomou conta de mim. Eu e Sara, agora Lily, vivíamos em mundos completamente diferentes. Liguei para meu empresário e pedi que ele reservasse, para o mesmo dia, um avião particular. Partir sem despedir seria menos doloroso, e ainda pedi para não falar nada para mamãe ou Jeremy. Depois me acertaria com eles.— Está tudo bem, Jack? — Ele perguntou, preocupado.— Sim, só terminei meu tratamento aqui.Essa tinha sido a desculpa para ele; e família, ninguém sabia que tínhamos combinado de nos conhecer de novo.— O restante, fisioterapia e fono, posso completar aí.— Sua voz está bem melhor mesmo. Consigo entender tudo.— Preciso liberar a doutora Lily para voltar para Cannes. Ela me acompanhou, para me ajudar a fugir da mídia. Aqui foi um lugar muito tranquilo e me deu a paz que eu precisava, depois de tantos atropelos.— Ótimo. E parece ter adivinhado. A imprensa já está no meu encalço. Quer saber onde está o belo ator
A partir daquela noite em Lugano, tornei-me mais introspectiva. Por mensagem, o Dr. Wallace me informou que viria em definitivo em três semanas e que já havia encaminhado Jack para um neurologista amigo. Os exames estavam ótimos; eu não precisava me preocupar.Na verdade, não queria me preocupar mesmo. Decidi tocar minha vida. Não li a carta e nem sabia se um dia iria ler. Candance deixou-me à vontade, mas eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela insistiria para eu falar. E foi exatamente uma semana depois. Primeiro, ela me contou que a relação com Dawson e ela estava meio estremecida. Ela fez a abordagem bem certeira, pois me impus na hora.— Amiga, por favor, seja o que for, se ajeitem. Se for preciso fazer um sacrifício, por exemplo, de ter que ir para os Estados Unidos, vá. A não ser que você fale para mim que não o ama.— Eu o amo, mas está sendo apenas um período. Vou pedir uma folga para a dona do hospital, quem sabe ela me ajuda, e consigo ficar pelo menos dez dias em Nova Y
Fazia quatro meses que eu retornara a Los Angeles. Eu mal podia acreditar que, em poucas horas, estaria iniciando minha primeira leitura de roteiro após um sério acidente de carro e um tumor no cérebro. Era a glória para mim no âmbito profissional. Durante esse período, alterei o número do meu celular, decidindo não me sentir tentado a ligar para Lily ou enviar mensagens. Uma vez tomada a decisão, era seguir em frente e buscar novos caminhos. Se existisse outra vida, talvez nos encontrássemos nela.Quase não saí de casa, mas antigos amigos, ao saberem que eu estava bem, vieram até mim, e o encontro com uma suposta nova companheira aconteceu um mês antes do início da produção do filme, com a mesma atriz que contracenaria comigo. A renomada modelo Anne Loo, estava ingressando no mundo do entretenimento, não sendo apenas um rosto bonito, mas também possuindo o dom da atuação.Não estávamos namorando, deixei isso bem claro. Expliquei que passei por tantas coisas em minha vida nos últimos