A partir daquela noite em Lugano, tornei-me mais introspectiva. Por mensagem, o Dr. Wallace me informou que viria em definitivo em três semanas e que já havia encaminhado Jack para um neurologista amigo. Os exames estavam ótimos; eu não precisava me preocupar.Na verdade, não queria me preocupar mesmo. Decidi tocar minha vida. Não li a carta e nem sabia se um dia iria ler. Candance deixou-me à vontade, mas eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela insistiria para eu falar. E foi exatamente uma semana depois. Primeiro, ela me contou que a relação com Dawson e ela estava meio estremecida. Ela fez a abordagem bem certeira, pois me impus na hora.— Amiga, por favor, seja o que for, se ajeitem. Se for preciso fazer um sacrifício, por exemplo, de ter que ir para os Estados Unidos, vá. A não ser que você fale para mim que não o ama.— Eu o amo, mas está sendo apenas um período. Vou pedir uma folga para a dona do hospital, quem sabe ela me ajuda, e consigo ficar pelo menos dez dias em Nova Y
Fazia quatro meses que eu retornara a Los Angeles. Eu mal podia acreditar que, em poucas horas, estaria iniciando minha primeira leitura de roteiro após um sério acidente de carro e um tumor no cérebro. Era a glória para mim no âmbito profissional. Durante esse período, alterei o número do meu celular, decidindo não me sentir tentado a ligar para Lily ou enviar mensagens. Uma vez tomada a decisão, era seguir em frente e buscar novos caminhos. Se existisse outra vida, talvez nos encontrássemos nela.Quase não saí de casa, mas antigos amigos, ao saberem que eu estava bem, vieram até mim, e o encontro com uma suposta nova companheira aconteceu um mês antes do início da produção do filme, com a mesma atriz que contracenaria comigo. A renomada modelo Anne Loo, estava ingressando no mundo do entretenimento, não sendo apenas um rosto bonito, mas também possuindo o dom da atuação.Não estávamos namorando, deixei isso bem claro. Expliquei que passei por tantas coisas em minha vida nos últimos
Semanas antes…Na sala adjacente do advogado, enquanto esperava, observei outras pessoas relacionadas com o hospital entrarem e saírem do local. Vi a chegada do diretor do hospital e do sobrinho. Sentei-me mais perto da porta, preparando-me para escutar uma conversa que se mostrou bastante dolorosa.— Sentem-se, por favor.— Por que fomos chamados, senhor? — Perguntou o diretor intrigado.— Escutem esta gravação, por favor.O diretor reproduziu a gravação do meu celular para que eles ouvissem. Não pude ver suas reações, mas pelo som da cadeira que foi ao chão quando o ortopedista se levantou, percebi o impacto.— Que absurdo é esse? Isso é ilegal. Quem gravou isso?— A própria vítima, senhor. E ainda não levamos essa gravação para a polícia, que pode até não servir como prova, mas certamente lhe trará grandes problemas.— Você está envolvendo meu nome nessa sujeira, está ficando louco. A Dr.ᵃ Lily é a melhor pessoa que conheço, e o que importa é se ela foi uma atriz ou não. O seu hist
Atualmente…Eu saía do hospital já de noite quando fui abordada por ele. Com xingamentos e tentativas de violência, o antigo médico foi preso em flagrante e no outro dia parti, com medo, para Lugano. Eu precisava do colo de Deli, urgente, e de um lugar mais seguro para estar, pelo menos naquele momento. Era a minha esperança, mas não se concretizou.Deli buscou-me no aeroporto. Dentro do carro, ela ficou me apalpando, procurando ferimentos.— O que aquele crápula fez com você?— Hey, estou bem. O agressor só conseguiu me derrubar no chão. Um médico viu, a polícia chegou bem rápido.— Estou preocupada. Você vai ficar aqui. Não volte a Cannes, por enquanto.— Fique tranquila. Vou ajudar o Dr. Wallace aqui. Desde que ele chegou, não tive tempo de trabalhar com ele.— Tem certeza de que não está machucada?— Sim, os maiores ferimentos foram internos. Ele me xingou, me humilhou. Por sorte, não tinha muitas pessoas por perto, mas doeu. E nunca precisei tanto de Jack naquele momento, mas sei
Carly chegou a Lugano e apenas me enviou uma breve mensagem: ‘Cheguei’. Pela manhã, mamãe e Jeremy, para acabar com minha paz, apareceram em casa para tomar café da manhã comigo. Na verdade, eles só queriam especular se eu já sabia sobre Sara.— Filho, bom dia. Como vai? Já tomou café, está atrasado para o trabalho, ou tem tempo para nós?— O que querem aqui?— Tomar café com meu filho. — Respondeu mamãe.— E o que mais?— Nossa, Jack. Que desconfiança é essa? — Perguntou Jeremy.— Conheço vocês. Desde que voltei de Lugano, há meses, ficam me rondando para saber se estou bem ou se aconteceu alguma coisa. Querem saber se ainda amo a Sara?— Não, só achamos que ela aprontou algo para você, mais uma vez, e você voltou com o rabinho entre as pernas. Mas agora ela está pagando o preço por tudo que fez a você.— Como é, Jeremy? Você está me dizendo isso mesmo. Um ser humano, independente de quem seja, leva dois tiros à queima-roupa, por motivos fúteis, e você diz que ela merece. Sai da minh
Eu ainda estava indo em direção à pista de decolagem. Liguei para ele e pude também me desculpar.— Jack, me desculpe. Desde ontem Lily não reage. E enquanto falava com você a notícia chegou. Venha em paz. Tenho certeza de que ela ficará bem, até você chegar. Sou um entusiasta da esperança.— Não se desculpe. O senhor fez a melhor coisa. Acordei para a realidade da perda. Só torço agora, para que caso aconteça o pior, eu consiga chegar antes.— Se fixe na esperança. Não tenha nenhum outro tipo de pensamento, a não ser esse. Tenha fé.— Obrigado, senhor.*****Antes de embarcar, mandei uma mensagem para Dr. Wallace e Carly, perguntando como Lily estava. Os dois responderam que já haviam entrado na UTI para vê-la, e que ela estava em estado muito grave. A torcida agora era para que eu chegasse a tempo, de pedir perdão a ela em vida.*****Mesmo em um voo tão longo não conseguia dormir. E eu estava proibido de beber, por causa de algumas fortes medicações que ainda tomava. Descumpri orde
A experiência de quase morte que vivi trouxe um conjunto de visões inacreditáveis, além de sonhos de uma vida feliz e plena com o homem que amo. Não sei por quanto tempo permaneci vendo meu corpo. Foram alguns dias, e eu, sendo médica, sentia o físico se esvaindo e a alma presa nesse mundo de ilusões, mas sem querer ir embora.Quando Jack entrou no quarto, todo paramentado, bem abatido, com olhos inchados de tanto chorar e olheiras de noites de insônia, meu coração acelerou. Percebi que o corpo físico reagiu; os braços ficaram mais tensos, a pressão arterial caiu drasticamente. Eu mesma dizia para meu corpo inerte: 'Não morra, agora não. Já fiquei até agora aqui, não morra, por favor'. O problema foi o desabafo dele, quase acabou comigo; eu precisava reagir e voltar para ele urgentemente, foi quando dei uma parada cardiorrespiratória.Os médicos me estabilizaram, mas não deixaram mais ninguém entrar naquele dia para me ver. Só no outro dia, pude vê-lo. Eu queria tocá-lo, falar com ele
Eu já gravava com uma intensidade frenética. O corpo ainda se adaptava. Foram vários meses, e agora vivia ansioso por notícias de Sara/Lily. O medo maior era que o telefone tocasse e trouxesse a notícia devastadora. Contava os dias da semana. Para o diretor e produtor do filme, expus toda a verdade e firmei um acordo contratual. Gravaria até a sexta pela manhã, retornando para as filmagens na segunda à tarde. Era a forma que encontrei para estar perto dela, mesmo que fosse por breves instantes.Carly pediu para permanecer em Lugano e concordei. Sua sobrinha ajudava em casa, junto com outros parentes confiáveis, como o jardineiro e o piscineiro. Todos colaboravam. Não tinham conhecimento da minha rotina como Carly, mas estavam se saindo bem. Em troca, minha mãe adotiva mandava mensagens de manhã, à tarde e à noite, informando o boletim médico. Infelizmente, era sempre a mesma frase: 'A paciente está estável, sem pioras no quadro clínico'.Após o susto da parada cardíaca de Lily enquant