Início / Romance / Solidão / Capítulo 2 - Depressão
Capítulo 2 - Depressão

Mas, que se danem todos esses fanáticos idiotas, quem manda não buscar conhecer melhor o Deus que dizem servir? Preciso mesmo é pensar nessa situação caótica na qual me encontro, sozinho neste quarto escuro. Não suporto a luz nos meus olhos cansados de tanto olhar para o nada que insiste em permanecer parado diante de mim como uma falsa miragem. Não sei se mereço ou não passar por toda esta depressão.  Diante disso só entendo que nasci para sofrer a rejeição de todos que amo.

 O pior é que amei tantas vezes e pouco fui amado, terrível tem sido o resultado de meus esforços em tentar me realizar no amor. Quantos casais não estão juntinhos em suas camas neste momento, curtindo um ao outro, sentindo o calor de seus corpos que se aquecem mutuamente, aumentando o fogo da paixão que lhes une? Nesta madrugada gelada sou forçado a suportar como posso a ideia de que não tenho sorte, minha sina é mesmo o total isolamento.

Estou deprimido, amargurado ao extremo, meu coração está esmagado pela dor e o sofrimento. Minha autoestima deixou de existir faz tempo.    É irônico um homem na minha idade viver sem qualquer opção de lazer. Sim, isso mesmo, paro e penso em sair daqui para curtir alguma coisa, afim de distrair e me libertar do tédio que me consome aos poucos. Mas fazer o quê se nada mais me chama a atenção?

Tudo perdeu a graça: Andar por aí, ir ao shopping, fazer compras ou simplesmente existir. Procurar novos amigos é um sacrifício. Aliás, para quê ter novos amigos? Não quero ninguém abelhudando minha vida e, na minha opinião, é só para isso que eles servem. Por não serem capazes de compreender a dor daqueles que pretendem ajudar com seus chatos conselhos acabam piorando as coisas.

 Terminam por julgá-los ao invés de lhes oferecer uma saída complicam ainda mais seus dilemas. Amigos de verdade, daqueles em quem podemos confiar cegamente, está difícil achar num mundo egoísta, onde cada pessoa pensa apenas em si mesmo.

A verdade é que todas as formas de amores existentes no mundo estão corrompidas. E os seres humanos deixaram de dar valor aos seus semelhantes, cada um olha simplesmente para seu próprio umbigo, cuida apenas de seu quadrado e danem-se os outros. Essa, infelizmente, é a realidade em que nos encontramos e nada podemos fazer ao contrário. Parece que não sou o único a estar perdido dentro de mim mesmo, toda a humanidade aparenta ter caído num labirinto de conceitos errôneos sem fim.

 De onde bem poucos conseguem voltar a valorizar pequenas coisas, como saber amar quem está ao seu lado, ajudando-os sem qualquer interesse, servindo como luz nesta densa escuridão. De onde bem poucos conseguem voltar a valorizar pequenas coisas, como por exemplo saber amar quem está ao seu lado. Ajudando-os sem qualquer interesse, servindo como luz nesta densa escuridão. Eu, como muitos dos que ainda permanecem perdidos nos estreitos corredores deste labirinto sentimental.

 Me tornei incapaz de pensar numa forma de encontrar vestígios de amor verdadeiro. Estou mais para uma lâmpada queimada, uma vela sem chama, um sol sem brilho. Semelhante a um monte de entulho humano que ocupa espaço desmerecido neste mundo. Pessoas como eu não mereciam ter nascido, são insignificantes. Mas o que posso fazer se nasci fraco demais para encarar minhas adversidades?

Se por ter uma personalidade fraca, incapaz de reagir e vencer os obstáculos que surgem a cada nova manhã no meu caminho considero maldito o útero em que me formei. Antes tivesse me tornado um aborto, assim jamais teria nascido e me transformado nessa imagem destorcida de homem — Maldição! A madrugada se vai lentamente, as horas passam numa velocidade tão pequena que dá a impressão dos ponteiros estarem congelados.

Enquanto isso os despertadores naturais começam a soar seus alarmes. São tantos galos que entoam cânticos nos vários quintais da redondeza. Coisas de bairro pobre, formado por trabalhadores cujos salários dão apenas para manter o básico.

De seus sustentos. Alguns moram em apodrecidos barracos de madeira como o meu. Outros, com um pouco mais de sorte, constroem de tijolos baratos que derretem com as chuvas. É tanta pobreza em redor que fico atordoado, mas a verdade é que existe dentro de mim uma miséria bem pior do que aquela vista lá fora.

  Apesar de tantas necessidades as pessoas continuam levando suas vidas numa boa, nem parecem sentir de fato as muitas dificuldades que elas enfrentam diariamente. Enquanto eu, diferente deles, passo por essa agonia, causada pela desilusão das tantas vezes em que fui abandonado, como um covarde fico só lamentando cada adeus que ouvi de quem amava. Portanto, meu estado interior é bem pior do que a situação em que elas se encontram. Fortes palpitações sacodem meu peito na ânsia louca de querer sorrir, ser feliz.

 Foi tudo em vão. Mas ao perceber o abismo de desprezo no qual me encontro meus pensamentos são de morte, de desistir da vida desgraçada que herdei sabe-se lá de quem ou de onde — Finalmente amanheceu! — já vejo os raios do sol que vem nascendo pelas brechas das tábuas do barraco. Sua luz vai logo invadindo o pequeno e apertado local onde me encontro há várias noites sem dormir, devido essa maldita insônia.

Essa falta de sono me atormenta madrugada à fora. Meus olhos ardem, parecem apimentados, queimam como fogo. Meu cérebro confuso se perde nas lamúrias da minha alma acorrentada, no meu orgulho ferido de macho rejeitado. Encontro-me sentado neste piso pouco confortável, esmurrando a parede em pensamento.

 Como se fosse as faces de todas aquelas vagabundas por quem ousei me apaixonar. Quando iniciei essa rotina de torturas mentais pesava setenta quilos, hoje, emagreci o bastante para parecer um portador de HIV, secando minuto após minuto.

 Olho para trás e me pergunto o que represento neste universo de contradições, nesse mundo de incertezas. Talvez um desafortunado que ocupa um lugar imerecido meio a meros mortais — Um diabo qualquer! — Nessa existência desfavorável, onde nunca ganho, tudo que faço parece ser inútil, vazio e sem sentido.

 Sigo nessa busca constante por algo que finalmente possa me trazer razão para existir. E isso acabou por me fazer entender que nada disso adiantou até agora e jamais adiantará. Estou predestinado a jamais acertar nas minhas escolhas e por essa razão esse infortúnio no amor. Tenho trilhado por uma estrada sem fim, que acabou por me levar a lugar nenhum, ou quem sabe tenha me conduzido, sim, a uma realidade inversa daquela que desejei encontrar.

 Sombras e escuridões permeiam minha mente, como sempre confusa e inconstante. Pareço está enlouquecido, mas não é de admirar que eu perca a razão depois de tanto tempo isolado. Vivo preso dentro de mim mesmo e nesse monturo de revoltas intransponíveis. Mais uma semana chega ao fim. E, como de costume, nada de interessante eu fiz ou aconteceu a meu favor. Tudo continua na mesma, o mesmo marasmo que me segue desde antes. Quando ainda sonhava com a possibilidade de encontrar o pote de ouro no final do arco íris.

Vou abrir um pouco a janela para permitir que a luz do dia clareie o velho barraco. Quem sabe assim mude um pouco essa negatividade que parece enraizada dentro do meu ser conturbado. Olho para a rua e a vejo nua, sem ninguém a circular por ela, está deserta, vazia, estranho para um sábado. Apesar que para mim não passa de um dia sem lá estas importâncias, é comum como qualquer outro. Será que estou desinformado ao ponto de nem saber o que está acontecendo por aí? Será dia de finados ou está acontecendo algum velório?

Mas que silencio mais horrendo pode ser este? Está pior do que a solidão do meu quarto, onde nem o vento consegue soprar e fico diariamente vagando por tantas recordações. Todos os meus vizinhos parecem ter sumido — mas que maravilha! Sim, tenho motivos para comemorar, pois conviver ao lado desses bagunceiros é um inferno. Músicas, festanças, bebedeiras e um quebra pau de vez em quando. As coisas por aqui não são fáceis para quem vive em busca de sossego.

Fecharei a janela para me aquietar novamente, deixar minha mente flutuar nas imaginações repetitivas das derrotas que sofri, dos amores que perdi, das vergonhas que passei. Sentarei outra vez neste assoalho de madeira, duro e sujo. Vou abrir mais uma garrafa de vinho fuleira, comprado na taberna da esquina por um preço irrisório.

Azedo como limão e ao mesmo tempo amargo feito fel. Irei delirar tantas vezes eu for capaz, tantas vezes for necessário. Farei isso continuadamente até que mais uma noite se passe. Até que outra madrugada chegue ao fim com o nascer do sol.

Até que isso sirva para aliviar minha árdua permanência sobre esse trilho de contínuos desenganos. Bebo mais um gole da amaldiçoada bebida, quero voltar aos devaneios de antes. Vou tentar entender o que se tornou incompreensível, esclarecer as dúvidas que parecem mistérios e por fim saber porque tudo em redor de mim é nebuloso.

 Estarei sendo infantil demais ao extremo de murmurar sobre os fins e os meios que me trouxeram a essa situação? Serei, afinal de contas, merecedor dessas coisas e ainda me dou ao luxo de reclamar? Se assim for, então que eu seja totalmente cremado no fogo do inferno! Seja eu torturado até a morte, arrastado pelas ondas do mar, pisoteado pelos pés dos mais dignos e cuspido pela boca dos justos. Mas, se de alguma maneira sou imerecido de tantas desilusões que os dominadores do universo se compadeçam e me libertem dessa condenação.

 Bebi feito um condenado que nem percebi o chegar da noite ou o raiar deste novo dia.  E, para completar, depois de amanhecer embriagado sem ter dormido e descansado meu corpo desfalecido pela tristeza que consome minha alma. Minha porta está sendo esmurrada outra vez. Há alguém do lado de fora determinado a me incomodar quando o dia mal começou. Daqui não é possível identificar, preciso me deslocar uns quatro metros para e conferir:

 — Bom dia, vizinho, mamãe mandou isso para o senhor

 — Ah, muito obrigado, minha querida!

 — Tudo bem, vou para o colégio e pegarei as vasilhas, quando voltar

 — Combinado, tenha uma boa aula! — Era a gostosa da filha da Dona Bia, que mora aqui perto. Égua da moleca gostosa, só de olhar fiquei excitado.

 Minha nossa, que capacidade enorme ela tem de despertar em mim tamanho desejo! Ou será que isso só aconteceu porque estou na pedra a muito tempo? Afinal, já nem lembro mais quanto tempo faz que fui para cama com uma mulher.

Desde a época em que vendi meu apartamento e vim morar nesse fim de mundo que zerei completamente.  A viúva já se tocou que não ando me alimentando bem, apesar de que faço isso por pura preguiça de cozinhar ou de limpar a bagunça que fica depois sobre a pia. Mantenho sempre uma garrafa térmica cheinha do líquido preto, talvez por causa disso esteja com insônia e permaneço acordado pelo resto da madrugada. Aliás, acho que me resta apenas a masturbação para escapar da constante excitação que mantém meu sexo sempre ereto.

 Ela vai voltar daqui a algumas horas e preciso está mais elegante para ver se consigo impressioná-la.  Observei o par de pernas daquela morena de cabelos longos. As nádegas dela balançavam para cima e para baixo a cada movimento.

 A elegância no seu caminhar é inexplicável, só de imaginar o que faria em cima daquele monumento fico com os cabelos ouriçados. Mas qual mulher não me desperta tais desejos? Sempre fui fraco diante de seus encantos e por esse motivo elas me dominaram ao ponto de rastejar aos seus pés, ficar cego de amor e não conter meus impulsos. 

Chegando ao cúmulo de me entregar cegamente, tropeçando em meus próprios sentimentos como um cego. Um imbecil e iludido. Como aquele personagem citado numa das histórias bíblicas, o tal Sansão, sou constantemente traído por elas, tomam toda a minha força. O pior é que essas danadas são deliciosas demais e é impossível viver sem elas, costumo pensar que são a mais poderosa arma usada pelo diabo para destruir a nós, os homens.

Não consigo controlar esta minha fome por sexo, a tara horrível que arde nas minhas entranhas e me deixa frágil diante delas. Estou sempre com uma vontade enorme de possuí-las a cada instante. Bem, vou cuidar em melhorar o visual agorinha mesmo. Droga, agora que percebo a quantidade de dias que permaneci isolado nesse lugar sem sequer tomar banho e fazer a barba, estou ridículo! Ela deve ter tomado o maior susto ao me ver assim, todo desfigurado.

Me sinto atordoado por causa do vinho infame que bebi a noite toda. É como se minha a cabeça estivesse presa numa masmorra, esperando o último golpe do destino. Que certamente irá me silenciar em definitivo, me tirando de cena.  E esse maldito banheiro, feito de tábuas podres com brechas enormes que permitem aos que passam na rua me ver pelado. É o cúmulo da pobreza — Diacho! 

Prontinho, tomado banho e de roupa trocada, agora é só aguardar a gostosa voltar da escola para flertar e vê se rola alguma coisa. Deixarei a janela aberta para o caso dela chegar de repente, sem que eu perceba. Já passou das sete e nada.

 Coloquei as vasilhas da vizinha numa sacola e já estou de prontidão. Isso para não vacilar e perder a gostosa de vista. E se der certo, se ela topar uns amasso? Do jeito que ando seco vou querer partir logo para o final das contas. Caramba, estão batendo na porta, deve ser ela.

 — Oi, estava te aguardando!

 — Sério? Que legal

 — Quer entrar um pouco?

 — Por acaso está querendo chegar junto comigo, vizinho? Porque se sua intenção for me paquerar pode ir logo esquecendo, você não faz o meu tipo! Mas olhem só que atrevida, isso é coisa que se faça?

 — Safada, filha de uma égua! Quem essa puta pensa que é para falar comigo desse jeito?

 — Tá vendo só o que dá valorizar demais essas vagabundas? Levei na cara de graça só para me mancar. É melhor eu voltar para dentro e me manter ocupado com a minha solidão.

Olhem só para mim, todo arrumadinho, até vesti a bermuda nova com essa camiseta vermelha, de marca barata, mas novinha em folha.  Tudo apenas para tentar impressionar a vagabunda e de que adiantou se a desgraçada sequer reconheceu meus esforços?

 Praga de má sorte é essa que me acompanha, nunca dou uma dentro com essas vadias, elas sempre me sacaneiam. É sério mesmo, que ela falou na minha cara que não sou o tipo dela? Mas que vadia infeliz!  

Meu lugar é mesmo sentado aqui neste chão frio, lamentando minha desilusão nas muitas vezes que me dei mal.  Eu mereço continuar com essa ferida que aos poucos vai se expandindo até chegar ao cúmulo de me sufocar completamente. Num momento tomando um gole de vinho, noutro de café morno por estar guardado dentro da garrafa por tanto tempo. Estou de volta ao meu restrito mundo de martírio mental, onde mais penso do que falo.

 O pior é que dificilmente há alguém por perto para dá ouvidos ao que diz a minha voz interior. A não ser a solidão que conhece meus pensamentos.  Ela, sim, que nunca se afasta de mim. Somente um vazio enorme me faz companhia nessa cansativa rotina. E nesse marasmo costumo vomitar meus constantes delírios sobre os próprios pés em gotas de lágrimas que caem de meu olhar triste.

E por repetir isso inúmeras vezes meus olhos já se encontram secos e sem condições de sofrer comigo a mesma dor. Como e porque nasce um cara tão azarado nos relacionamentos como eu? — Será que joguei pedra na cruz ou espezinhei o diabo? — Não vou mentir nem negar que já fui amado e desejado por algumas mulheres com quem me envolvi no passado. Porém eram todas terrivelmente feias e sem graça.

 É aquele antigo papo, que diz: “não temos quem amamos e rejeitamos quem nos quer”. São as contradições da vida humana, um tipo de brincadeira do vadio destino. Que se dane, se minha sina é essa então que permaneça assim até o fim. Admito ser fissurado na beleza feminina, prefiro morrer só que agarrado a uma mulher com aparência bizarra.

Sim, tudo bem, admito que possa ser mesmo orgulho ou preconceito. Mas o que posso fazer se sou fã da beleza e da estética.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo