Oliver Smith

Encarei meu irmão no fundo dos olhos. Liam tem um jeitinho único, algo que me deixa profundamente irritado. Talvez seja por esse motivo que somos tão afastados um do outro. É insuportável esse sorriso sacana e debochado que ele me presenteia as vezes.

_ O que você pensa que está fazendo? Ela é minha secretária, não pode tentar transar com a minha secretária!

Liam fez um bico de criança birrenta, me deixando com vontade de socá-lo.

_ Não diga besteiras, óbvio que não tenho interesse na garota!

_ Ah é?

_ É!

Liam cruzou os braços e seguiu para a cozinha. Algo me diz que ele não vai sossegar enquanto eu não cometer uma loucura.

Segui meu irmão, torcendo para que ele enfiasse uma carne na boca e engasgasse. Deixaria que ele ficasse sufocado até desmaiar, e só então resolveria seu problema.

_ Emma, o que achou da fazenda?

Perguntou Liam. Coloquei um punhado de batatas na boca e mastiguei como se estivesse mordendo meu irmão.

_ Achei linda. E estou muito surpresa senhor Oliver, o senhor é muito bem falado por aqui.

Disse Emma enquanto sorria pra mim.

O sorriso da garota me pegou desprevenido. Senti meu coração acelerar de uma forma que nunca senti, nem mesmo nos rodeios. Uma adrenalina estranha atingiu meu corto fazendo-me tensionar. Emma não sorri somente com os lábios, ela consegue fazer isso com os olhos.

O brilho em seu olhar poderia fazer até a maior das geleiras derreter pois além de iluminar ele aquece também. Foi assim que me senti, aquecido, aconchegado...

Respirei fundo, pronto para responde-la de um jeito idiota, como qualquer adolescente solteirão de quase quarenta anos faria, mas algo muito inesperado aconteceu.

A batata, a maldita batata ficou presa na minha garganta. Emma virou o rosto para encarar Liam que disse alguma palhaçada que eu não consegui entender pois me senti até surdo na hora, talvez a batata saia pelos ouvidos.

_ Ahm...

Tentei falar algo, mas o que eu mais desejei para o meu irmão estava acontecendo comigo.

_ Ei... você está vermelho...

Disse Emma enquanto me encarava com uma fisionomia preocupada. Ela pulou da cadeira e correu para me acudir, batendo com força das minhas costas. Liam não parecia preocupado, muito pelo contrário. Eu poderia até mesmo jurar que essa seria a oportunidade perfeita para que ele herdasse toda a fortuna dos Smith.

_ Caramba, você está quase idoso irmão, daqui a pouco vamos ter que te alimentar com sopinhas e papinhas.

Disse ele enquanto vinha em minha direção. Senti vontade de dar um soco em Liam por ser tão debochado, mas minha vingança ainda vai chegar.

Ele me agarrou por trás pressionando meu estomago, e realizando a manobra de desengasgo perfeitamente.

Comecei a tossir e olhei para Emma que estava com os olhos arregalados. Ela me serviu um copo de água e me ajudou a sentar. Liam estava vermelho também, mas era de dar risada. Acho que meu irmão pensa que sou um palhaço.

_ Liam... seu filho da puta...

Tossi mais um pouco. Percebi que Emma estava esfregando as mãos nas minhas costas, tentando me acalmar.

_ Senhor Oliver, você está bem?

Perguntou ela docemente. Ela agarrou meu rosto e me obrigou a olha-la. Sentir o calor e o perfume de Emma dessa forma trouxe um formigamento desconhecido no meu peito. Será que agora estou tendo um infarto? Não é possível!

_ S-sim.

Respondi enquanto encarava a mulher. Ela se afastou, fazendo com que o formigamento parasse.

_ Senhor Liam, pare de rir! Seu irmão podia ter morrido!

Repreendeu Emma. Sorri vitorioso enquanto encarava o homem que mais parecia um verdadeiro moleque.

_ Emma, para o almoço de amanhã vamos mandar preparar sopa para ele, Oliver vai tomar de canudinho.

Meu irmão continuava fazendo piadas e rindo da minha situação precária. Comecei a me sentir envergonhado, e a muito tempo não me sentia assim. Será que é por causa da presença de Emma?

_ Liam, você e seu irmão não tem muita diferença de idade e são muito parecidos. Pode-se dizer então que os dois são vovôs!

Emma cruzou os braços e o sorriso de Liam morreu. Meu irmão é vaidoso demais e ser comparado com um homem do campo que mal corta o cabelo e a barba.

_ Perdi a fome.

Disse ele enquanto levantava da cadeira. Liam nos deu as costas e saiu da cozinha. Emma sentou e voltou a comer.

_ Obrigado...

_ Pelo o que? Quem desengasgou o senhor foi seu irmão. Eu só fiquei nervosa.

Disse ela timidamente.

_ Não, obrigado por me defender. Liam é muito debochado e sem limites.  

_ Eu sei, mas ele tem um bom coração, só é meio moleque as vezes.

Disse ela enquanto bebericava um suco.

Respirei fundo e voltei a comer, dessa vez com muito cuidado. Quando terminei Emma estava pensativa observando o copo com suco.

_ Você trabalhou muito hoje?

Perguntei tentando puxar assunto.

_ Sim, mas poderia ter sido mais complicado se não fosse o Jericó. Ele é um querido.

Disse ela com carinho. Algo nisso me incomodou, mas disfarcei com maestria.

_ Ele é um dos meus homens mais confiável. Ele e a família residem aqui a muito tempo.

_ Sim, Mattew e a mãe deles. Ele me contou que o senhor o ensinou a ler e a escrever.

_ Somente o básico...

_ Mas ainda sim ensinou.

Os olhos dela brilhavam enquanto me olhava. Eu sempre tive olhos de admiração ou de luxuria em cima de mim, mas os de Emma pareciam carregar muito além do que eu podia pensar.

Ela abriu novamente a boca para dizer algo, mas seu celular começou a vibrar.

_ Licença.

Disse ela. Emma se afastou e observei ela sumir para a sala. Um calafrio percorreu meu corpo, e não era a brisa fria da noite e nem o famoso “frio na barriga”.

Olhei em direção a cozinha e Nathaly estava me encarando. Ela soltou um sorriso e logo me deu as costas.