Quando Tamí viu o grande número de pessoas em volta do corpo ficou trêmula e com um pouco de medo. Parou por alguns segundos e seguiu em frente. Quando olhou teve a certeza de que não era Albert. Mas sim, era um menino quase do mesmo tamanho, um pouco menor.
- Não é meu filho. – afirmou ela.
- Tamí, procuramos por todos os lugares da ilha e não o encontramos. Este corpo foi trazido pelo mar e achado perto das rochas do penhasco. – explicou um dos garimpeiros.
Ela ficou pensativa olhando para ele.
- Pensamos que talvez os meninos estivessem brincando nas rochas ou mesmo no penhasco... E podem ter caído e não conseguido nadar. Creio que se este não é Albert, ele também possa estar... No mar.
- Vocês procuraram também nos rochedos? – perguntou ela.
- Sim... Creio que Albert está... Morto.
Ela ficou calada.
E como Tamí planejou foi feito. Viveram uma semana árdua de trabalho, procurando ouro sem resultado e plantando nas terras áridas sem perspectiva de crescimento das sementes. Tentavam reconstruir a ilha, mesmo sabendo que nada daquilo era deles e que um dia, mais cedo ou mais tarde, teriam que sair dali. Várias embarcações tentaram se aproximar da ilha, mas tiveram que voltar, pois não havia como atracar. Eles não sabiam de onde vinham, nem o que queriam. Estavam incomunicáveis, como sempre foram. Todo o dia Tamí ia ao cemitério e rezava por seus pais, Albert e Pérola.Procuravam ouro do amanhecer ao anoitecer, mas já estavam descrentes de que realmente pudesse haver pepitas naquele lugar.Vendo aquelas pessoas tão desiludidas e cansadas, naquele dia Tamí estava preste a desistir.- Tamí, pode vir aqui um pouco? – pediu uma garimpeira.Ela
Tamí estava tão eufórica com Albert em seus braços que nem deu atenção a Hirst e os dois homens que estavam com ele. Eles a acompanharam, mesmo sem serem convidados. Quando ela entrou em casa com o filho no colo, João e Albertina ficaram tão atônitos e incrédulos quanto ela ficara quando o vira na praia. Ela foi explicando o que havia acontecido e eles conseguiram se mover e abraçar o neto carinhosamente. Esperança logo foi preparar o jantar para os convidados e o esfomeado menino enquanto ele, sentado no colo de João, contava tudo que havia visto fora da ilha, muito empolgado. Tamí chamou Hirst para conversarem na rua um pouco, pois tinham muito a falar.- Não tem medo de sair assim à noite pela ilha, Tamí? Estava sozinha na praia. – observou ele.Ela olhou para Hirst. Ele estava diferente, com a barba crescida, os cabelos também. Ainda er
Um mês se passou e um novo barco chegou à ilha. Tamí, Albert e Hirst foram esperá-lo próximo ao porto antigo, para ver se tentaria atracar. O casamento deles estava marcado para a próxima semana. Mais que isso ela não conseguiria adiar. Ela não sabia o que sentia com relação a Hirst, mas gostava dele e talvez isso bastasse. E ela tinha Albert consigo e isso era suficiente para entrar em qualquer batalha. Sempre que olhava para o filho lembrava que se não fosse por Hirst, ele estaria morto. Eles haviam decidido que não deixariam a ilha, lutariam até o fim, mesmo que nenhum advogado quisesse defendê-los do governo ou da Companhia dos Conquistadores. A luta deles era solitária. O povo contra todos. E lutariam juntos pelo que acreditavam que era deles por direito. Não importava o que acontecesse na ilha... Eles só queriam seu pedaço de terra, pelo qual haviam pagad
Aquela semana foi horrível para Tamí. Sentia uma tristeza sem fim. Já não tinha forças para comandar os trabalhos na ilha. Sentia-se na obrigação de casar com Hirst, mas não tinha nenhuma vontade de concretizar aquilo. Cumpriria com sua palavra, pois era muito grata a ele por ter protegido Albert. Mas ecoava em sua cabeça as palavras de Ben, de que se Hirst realmente a amasse, não aceitaria nada em troca do que havia feito.Naquela noite ela conseguiu escapar para o mar... Precisava ficar sozinha consigo mesma, o que não conseguia desde que Hirst chegara à ilha.- Tamí, preciso falar com você.Ela respirou fundo, enjoada de ouvir a voz dele.- Fale, Hirst.- Eu... Não quero casar com você. – disse ele.- Como?- Vou embora amanhã, Tamí.- Mas... Por que tomou esta decisão?- Você
Esta é uma obra fictícia, inspirada da música “Blue Sky Mine”, de autoria da Banda australiana MidnightOil.Quando Tamí percebeu que Todi estava junto dela, tentou fugir, mas já era tarde.Ele era muito ágil e foi mais rápido que ela. Jogou-a com força no chão, colocando seu vestido branco sobre seu rosto. Ela tentava se desvencilhar, mas o corpo pequeno e magro não tinha chance alguma de movimento. Todo esforço de luta era em vão... ela era uma pedrinha de ouro nas mãos de um garimpeiro ambicioso. Sob o tecido fino ela conseguia observar o azul do céu e ouvia somente o barulho do mar, as ondas batendo fortes sobre as rochas que formavam o penhasco atrás de si... Jamais alguém viria lhe ajudar naquele lugar. Pensou em seus pais e onde suas almas estariam naquele momento... e
- Tudo está ficando tão difícil, Júnior. Por vezes temo o que ainda está por vir para todos nós. – falou Tamí com voz cansada.- Você falando isso, Tamí? É a mulher mais otimista e lutadora que conheço.- Às vezes sinto como se tivesse uma barreira intransponível para nós...- Lembre-se que a esperança é tão necessária para nossa vida com o sol para sobrevivência das plantas.Ela sorriu:- Às vezes acho que você deve ter um poeta em outra vida... Fala palavras bonitas... sempre tenho conforto em suas palavras quando preciso. Eu gostaria de ser como você.Ela olhou para o rapaz magro, cabelos escuros encaracolados e desarrumados caindo sobre o pescoço e olhos castanhos claros. Júnior tinha um semblante sempre calmo, era muito tranquilo e doce.- Voc
Tamí sentia os últimos raios de sol daquele dia tocando sua pele e caminhava pela beira do mar, sentindo a água levemente fria brincando com seus pés descalços. Sabia que o caminho até a sua amiga era longo. Aquela sensação de liberdade, aquele lugar todo a encantava e era parte de si. Não havia um dia que ela não ia até o mar sentir a brisa, a areia e a água. O trabalho era árduo, mas ela sabia que ao final do dia estaria ali, vendo um espetáculo que poucos tinham interesse, mas que para ela era o mais lindo do mundo: o pôr do sol na ilha. Lembrou do quanto sua infância foi feliz antes de ser desgraçada por Todi. Sim, ela era uma menina feliz, uma menina do mar. Ela se perguntou se algum dia seria perdoada por Deus pelo que havia feito. Ela não ia à igreja como seus pais, todos os domingos, não importava como estivesse o tempo ou o que ocorresse.
Tamí levantou antes de o sol nascer. Saiu de casa sem fazer barulho. Não demorou a chegar até o alto do morro onde ficava o cemitério da ilha. Olhou atenta para a imagem em preto e branco dos dois nas velhas cruzes de madeira. Pensou no quanto gostaria que eles estivessem ali com ela. Não conseguiu segurar as lágrimas. Achava tão injusto não poder tê-los conhecido. Pensou nas palavras da Velha do Mar e na insistência dela para que perdoasse Todi. Mas ela achava que jamais conseguiria se livrar daquele sentimento de raiva que tinha em seu coração. A cena daquele dia a atormentava todos os momentos de sua vida. Fechou os olhos e conseguia ver nitidamente ele vindo em sua direção, a luta dela contra o impossível, a dor, sangue e as ondas engolindo seu corpo. Isso já fazia sete anos e ela lembrava como se estivesse acontecendo naquele momento. Todi havia acabado com sua inf&acir