Esta é uma obra fictícia, inspirada da música “Blue Sky Mine”, de autoria da Banda australiana MidnightOil.
Quando Tamí percebeu que Todi estava junto dela, tentou fugir, mas já era tarde.
Ele era muito ágil e foi mais rápido que ela. Jogou-a com força no chão, colocando seu vestido branco sobre seu rosto. Ela tentava se desvencilhar, mas o corpo pequeno e magro não tinha chance alguma de movimento. Todo esforço de luta era em vão... ela era uma pedrinha de ouro nas mãos de um garimpeiro ambicioso. Sob o tecido fino ela conseguia observar o azul do céu e ouvia somente o barulho do mar, as ondas batendo fortes sobre as rochas que formavam o penhasco atrás de si... Jamais alguém viria lhe ajudar naquele lugar. Pensou em seus pais e onde suas almas estariam naquele momento... e se de alguma forma estavam vendo o que acontecia e poderiam ajudá-la. As lágrimas grossas e silenciosas queimavam seu rosto.
Quando Todi saiu de cima dela tinha o olhar mais sombrio que ela já vira na vida. Ele abotoava a calça ainda olhando para ela, sem dizer uma palavra, somente com o rosto satisfeito de prazer. Ela colocou as mãos para o lado, tentando encontrar algo... sentiu uma pedra e viu o quanto era grande. Ele virou-se para seguir seu caminho, como se nada tivesse acontecido. Sem pensar duas vezes, Tamí pegou a enorme pedra e jogou sobre sua cabeça. Ele caiu desacordado no mesmo instante. Impulsionada pela raiva, ela continuou a bater a pedra sobre o rosto dele no chão. O pavor que sentia era enorme e seu ódio e raiva insuportáveis. Sabia que aquele dia jamais seria apagado de sua mente. Movida pelo desespero, puxou o corpo para beira do penhasco e sem pensar jogou-o lá do alto. As ondas bruscas logo puxaram o corpo para dentro do mar e em pouco tempo ela não via mais ele... Todi estava morto
- Tudo está ficando tão difícil, Júnior. Por vezes temo o que ainda está por vir para todos nós. – falou Tamí com voz cansada.- Você falando isso, Tamí? É a mulher mais otimista e lutadora que conheço.- Às vezes sinto como se tivesse uma barreira intransponível para nós...- Lembre-se que a esperança é tão necessária para nossa vida com o sol para sobrevivência das plantas.Ela sorriu:- Às vezes acho que você deve ter um poeta em outra vida... Fala palavras bonitas... sempre tenho conforto em suas palavras quando preciso. Eu gostaria de ser como você.Ela olhou para o rapaz magro, cabelos escuros encaracolados e desarrumados caindo sobre o pescoço e olhos castanhos claros. Júnior tinha um semblante sempre calmo, era muito tranquilo e doce.- Voc
Tamí sentia os últimos raios de sol daquele dia tocando sua pele e caminhava pela beira do mar, sentindo a água levemente fria brincando com seus pés descalços. Sabia que o caminho até a sua amiga era longo. Aquela sensação de liberdade, aquele lugar todo a encantava e era parte de si. Não havia um dia que ela não ia até o mar sentir a brisa, a areia e a água. O trabalho era árduo, mas ela sabia que ao final do dia estaria ali, vendo um espetáculo que poucos tinham interesse, mas que para ela era o mais lindo do mundo: o pôr do sol na ilha. Lembrou do quanto sua infância foi feliz antes de ser desgraçada por Todi. Sim, ela era uma menina feliz, uma menina do mar. Ela se perguntou se algum dia seria perdoada por Deus pelo que havia feito. Ela não ia à igreja como seus pais, todos os domingos, não importava como estivesse o tempo ou o que ocorresse.
Tamí levantou antes de o sol nascer. Saiu de casa sem fazer barulho. Não demorou a chegar até o alto do morro onde ficava o cemitério da ilha. Olhou atenta para a imagem em preto e branco dos dois nas velhas cruzes de madeira. Pensou no quanto gostaria que eles estivessem ali com ela. Não conseguiu segurar as lágrimas. Achava tão injusto não poder tê-los conhecido. Pensou nas palavras da Velha do Mar e na insistência dela para que perdoasse Todi. Mas ela achava que jamais conseguiria se livrar daquele sentimento de raiva que tinha em seu coração. A cena daquele dia a atormentava todos os momentos de sua vida. Fechou os olhos e conseguia ver nitidamente ele vindo em sua direção, a luta dela contra o impossível, a dor, sangue e as ondas engolindo seu corpo. Isso já fazia sete anos e ela lembrava como se estivesse acontecendo naquele momento. Todi havia acabado com sua inf&acir
Naquela manhã Tamí acordou antes de o sol nascer, como fazia regularmente. Agora tinha Ouro, que diminuiria suas jornadas em uns bons minutos. Selou o cavalo e foi em direção à moradia que sua Velha amiga do Mar. Esta estava levantada em frente à sua humilde casa e quanto viu Tamí foi em direção à ela sorrindo feliz:- Bom dia, menina Tamí. Que bom ver você.Ela ofereceu um gole de chá quente para Tamí, que com um gesto negou gentilmente. Tamí olhou-a na claridade do sol que mostrava seus primeiros raios... Como sua pele estava enrugada. Cabelos brancos e em desalinho contrastavam com outros escuros caindo até embaixo da cintura. Vestia sempre o mesmo vestido preto longo e pesado.- Admirando minha beleza? - perguntou ela tirando Tamí da observação.- Não... Eu... – Tamí ficou confusa com
Naquela noite haveria uma festa na ilha, para comemorar a chegada dos músicos. Tamí soube que eles haviam se instalado em barracas perto dos rochedos. Achou perigoso, pois sabia dos ventos fortes que havia lá, principalmente à noite. Mas se ninguém foi capaz de lhe dizer isso, não seria ela que diria.Cátia foi convidar Tamí para ir à festa. Mas ela recusou.- Mas, Tamí... Todo mundo vai estar lá. Só vai faltar vocês. – argumentou ela tentando convencer a amiga.- Sabe que não gosto de festas, Cátia. Além do mais tem Albert...- Todas as crianças estão indo para lá junto com os pais. Além do mais você sabe que Albert vai adorar... Será diferente para ele.- Acho que deveria sair um pouco para se divertir, filha. – observou Esperança.- Realmente prefiro ficar em casa.
Tamí acordou antes de o sol nascer e foi até a casa de Júnior, como fazia frequentemente.Ele ficou surpreso:- Fazia tempo que não vinha cedo, Tamí. Até achei que havia esquecido este velho amigo aqui.- Eu realmente estava sem tempo! Mas meu interesse em aprender coisas novas não diminuiu.- Que bom que ainda está interessada nas minhas aulas.- Nunca vou deixar em ter interesse no que você me ensina. Sabes o quanto é importante para mim. Os momentos em que estou lendo um livro me trazem uma imensa felicidade, acredite. Me sinto uma pessoa importante e privilegiada quando faço isso.- E eu fico muito feliz em poder ajuda-la e fazer parte destes seus momentos de felicidade.- E eu serei eternamente grata por tudo que você me ensinou Júnior. Se não fosse por você, eu não saberia nada. Há tantos anos que não h&aacu
Tamí seguiu correndo pela praia... Não queria pensar no que a Velha do Mar havia dito. Aquilo não era verdade. Não iria amar... Não queria. Nenhum homem poderia entrar em seu coração ou ocupar seus pensamentos. Ela odiava os homens... E odiava Todi. Ela olhou para o mar, convidando-a para entrar. Não pensou duas vezes e nadou muito, tentando esquecer seus pensamentos. Quando seus braços cansaram de ir contra as ondas, ela deixou seu corpo voltar até a areia, sem pressa. Depois ela sentou-se na areia úmida, deixando que o vento quente secasse seus cabelos e suas roupas, levando embora tudo que ela havia ouvido antes. Mas o vento não tinha este poder, infelizmente. Ela levantou-se e seguiu seu caminho de volta para casa. Percebeu Rotsey mais à frente, com uma rede de pesca no mar. Ela não tinha como desviar o caminho... Só havia a estreita faixa de areia e os dois, frente a frente.
Albert estava no quintal brincando com o cavalo. Como ele se entretinha com o animal.Quando viu Tamí ele correu alegre até ela, abraçando-a.- Por que veio tão cedo, mamãe?- Hoje eu não vou trabalhar.- Que bom.- Onde estão seus avós?- Foram até as minas do sul.- Então hoje eu vou fazer o nosso almoço.- Posso ficar aqui com Ouro?- Claro, meu amor.- Ah, mamãe, hoje esteve um homem aqui procurando por você.- Quem?- Não lembro o nome dele...- Ben? – perguntou ela.- Quem é Ben? – perguntou Albert confuso.Tami ficou confusa. Ben estava com ela, não poderia ter estado ali à sua procura.- Hirst? – perguntou ela.- Sim... Ele mesmo. – confirmou o menino.- O que ele queria? Deixou recado?- Disse que vem &a