Capítulo 5

Naquela manhã Tamí acordou antes de o sol nascer, como fazia regularmente. Agora tinha Ouro, que diminuiria suas jornadas em uns bons minutos. Selou o cavalo e foi em direção à moradia que sua Velha amiga do Mar. Esta estava levantada em frente à sua humilde casa e quanto viu Tamí foi em direção à ela sorrindo feliz:

- Bom dia, menina Tamí. Que bom ver você. 

Ela ofereceu um gole de chá quente para Tamí, que com um gesto negou gentilmente. Tamí olhou-a na claridade do sol que mostrava seus primeiros raios... Como sua pele estava enrugada. Cabelos brancos e em desalinho contrastavam com outros escuros caindo até embaixo da cintura. Vestia sempre o mesmo vestido preto longo e pesado. 

- Admirando minha beleza?  - perguntou ela tirando Tamí da observação.

- Não... Eu... – Tamí ficou confusa com o que dizer.

- Sei que estou bem velha e minha aparência em nada lembra o que eu fui um dia. Mas sim... Eu já fui tão bela e jovem quanto você.

- Eu acredito. – disse Tamí.

A Velha foi indo em direção ao mar com sua velha xícara de metal e Tamí acompanhou-a. Ambas ficaram admirando os raios de sol nas lindas ondas do mar. Cada uma com seus próprios pensamentos.

- Veio saber o que eu vejo para você? – perguntou ela para Tamí.

- Sim. – respondeu a menina.

- Não vejo nada além do ódio e da tristeza em seu caminho. Sabe como pode mudar isso, não é mesmo?

Tamí fez um gesto afirmativo. Não gostaria de continuar a discussão sobre Todi e o perdão que ela jamais poderia dar.

- Vejo um homem.

Tamí olhou para ela surpresa e confusa. Enfim algo que não fosse dor e sofrimento, que era o habitual e o que ela já estava acostumada.

- Ele vem para mudar sua vida... E vai ajudar muito você.

- Quem é ele? De onde vem?

- Não é da ilha. Mas o vejo perto. O homem de olhos negros. Você pode confiar nele. 

Tamí ficou confusa. Seria muito difícil ela confiar num homem. Já começava a pensar que o mar não estava trazendo notícias verdadeiras.

- Olhos negros e fortes... Cor da noite. Mas ainda assim a felicidade está longe. Vejo mais figuras masculinas em torno de você... Mas ainda não consigo enxergar muito bem. O mar está confuso... Ou não quer me dizer.

- Pode ser... As ondas não parecem muito tranquilas hoje. – observou Tamí.

- Grandes armadilhas tramadas para você em seu destino. Não há como fugir.

- Eu ainda acredito que eu posso mudar meu destino, Velha. A senhora sabe disso.

- Vejo muita riqueza... Mas longe de seu filho.

Tamí não queria ouvir mais. Uma sensação ruim tomou conta de seu corpo e ela sabia que precisava sair dali. As previsões da Velha do Mar por vezes a atormentavam, mas especialmente naquele momento estavam deixando-a incomodada por demais. 

- De que me adiantaria tanta riqueza sem meu filho? Isso jamais vai acontecer. Nunca vou ficar longe de Albert.

- Seu destino está traçado e não pode ser mudado.

Tamí saiu sem se despedir. Não queria ouvir mais sobre seu triste futuro. Será que seria assim para sempre? Tristeza e mais tristeza? Quando seria feliz? Não queria acreditar no que a Velha dizia, mas ao mesmo tempo se sentia incomodada. Ela foi para a sua mina. Naquele dia o céu estava especialmente azul e sem nuvens e o sol parecia brilhar mais forte que. Seria mais um dia daqueles, de suor e muito calor. Muito pó nas proximidades encobria a visão além do horizonte. Ela trabalhou tanto que no fim da tarde estava exausta. Mas havia valido a pena, pois havia encontrado bastante ouro. Enquanto trocava suas pedras por vales viu que havia uma pequena confusão e empurra há alguns quilômetros dali, próximo do velho porto. Todos que saíam das minas iam pra lá, alguns até correndo. Ela não pôde evitar a curiosidade e perguntou o que estava acontecendo.

- Os cantores que vão escrever sobre a ilha estão chegando. – falou a mulher indo rapidamente para lá também. 

Alguns garimpeiros saindo das minas, sem entender o que estava acontecendo acabaram ficando preocupados e tentando fugir sem saber o motivo. Os fiscais, achando que estavam tentando roubar as pedras, começaram a agredir sem dó. A confusão estava instalada na mina. Tamí ficou ali, parada, tentando ajudar, mas não sabendo como fazer. Ninguém tinha culpa... Era só um mal entendido. Ela se sentiu aliviada por Albert não ter ido com ela. Depois de um tempo chegaram mais e mais fiscais e então a confusão começou a acalmar, embora muitos garimpeiros houvessem sido agredidos. No fim, todos, sem exceção, iam curiosos em direção ao mar. Ela nem sabia por que, mas estava indo junto da multidão. 

- Mamãe...

Ela viu Albert montado em Ouro.

- Monte comigo, mamãe. Vamos até lá.

Tamí foi com o filho, deixando-o conduzir. Segurava-o firme em seus braços. O bote laranja já passava da rebentação. Em pouco tempo, cinco homens completamente diferentes desembarcavam na ilha da mineração. Traziam muitas malas e mochilas. Ela ainda tinha curiosidade sobre onde ficariam. Eles sorriam e conversavam simpaticamente com todos, respondendo perguntas, cumprimentando, passando as mãos nas cabeças das crianças. Espalhavam carisma. Mas ela ainda tinha dúvidas das reais intenções deles. O que estavam fazendo naquela ilha perdida no meio do Atlântico? A história por trás de uma música sobre aquele lugar e o modo de vida daquelas pessoas não convencia Tamí. Eles iam devagar abrindo caminho em meio à multidão, um atrás do outro. Eram todos bem altos. Tamí e Albert ficaram ali, parados, em meio à multidão. Mas chamavam a atenção por serem os únicos montados num lindo cavalo branco. Conforme iam passando sorriam, inclusive para ela. O último deles não sorria tanto quanto os demais... Vinha mais devagar, com dificuldade em caminhar sobre a areia pesada. Os olhos dele cruzaram com os de Tamí... Olhos negros, profundos... Da cor da noite. Ela se lembrou da Velha do Mar e do que esta havia dito. Sentiu uma sensação estranha tomando conta de seu corpo, como nunca em sua havia sentido. Foram poucos segundos que os olhares deles ficaram um sobre o outro, mas nenhum conseguia desviar, tamanha intensidade e magnetismo que pairava em seus corpos. Ela não sabia se ele continuava caminhando ou se estava parado em sua frente olhando para ela. Albert virou para a mãe, confuso, observando a cena. Isso fez com que Tamí saísse do transe e desviasse rapidamente seu olhar, pegando as rédeas e saindo daquele lugar rapidamente. Seria ele o homem que poderia de alguma forma lhe ajudar? Mas não havia muito que fazer... Se fosse ele o homem que o mar havia visto, o resto aconteceria naturalmente, pois segundo a Velha sábia, o destino estava escrito e não podia ser mudado. 

Quando voltaram para casa, eles deixaram o cavalo perto do córrego e entraram. Aquele final de dia e noite que vinha pela frente prometia... As pessoas estavam muito ansiosas.

- Mamãe, vamos tomar banho de mar?

- Boa ideia. Está tão quente e eu amo o mar.

- Ótimo. – vibrou Albert.

- Mas não nesta praia. – disse ela.

- Tudo bem. – falou ele sem se importar.

Tamí tirou sua roupa de trabalho, colocou um short curto e uma blusa e saiu com o filho e Ouro pela praia. O lugar onde ela pretendia ir com o filho tinha como passagem o povoado. Os dois iam caminhando e levavam o cavalo puxado pela sela. 

- Ei, vocês!

Era um dos recém-chegados. Ela fingiu não ouvir e continuou.

- Mamãe, acho que aquele homem está chamando a gente. – observou Albert.

- Vamos seguir nosso caminho, está bem?

- Está bem. – disse Albert rindo, provavelmente achando engraçada a atitude da mãe.

Mas o homem foi insistente e começou a ir atrás dos dois. Tamí sabia que se não parasse ele ia continuar seguindo-os. 

- O que quer? – perguntou ela rispidamente.

- Você sabe se existe alguma pousada por aqui... Ou lugar para ficarmos?

Tamí olhou para o homem parado à sua frente. Também tinha olhos negros. Ficou na dúvida sobre qual dos homens a Velha do Mar teria visto em seu destino. Era um homem alto, magro, braços fortes e musculosos visivelmente à mostra sob uma regata bem cavada branca. Usava jeans desbotado e rasgado e tênis branco. Tinha barba bem feita, lábios finos, dentes brancos e alinhados e cabelos curtos, com a parte da frente mais alta bem alinhados com gel. Ela olhou para o lugar de onde ele vinha, numa roda de conversa com garimpeiros e os demais homens que haviam chegado com ele antes. Seus olhos se cruzaram novamente com o homem que havia visto anteriormente. Ela desviou rapidamente o olhar. Por que se sentia estranha com o olhar daquele homem e a presença dele ali? Era um olhar que parecia penetrar no fundo de sua alma, como nunca vira em sua vida. 

Ela percebeu os olhares atentos de Albert e o homem que estava à sua frente, esperando uma resposta. Ela saiu de seus pensamentos:

- Não... Não há pousadas por aqui não senhor.

- Permita-me apresentar-me: sou Hirst.

Ela não falou nada. Permaneceu onde estava observando-o desconfiada.

- Tudo bem com você, garotão? – perguntou ele colocando a mão na cabeça de Albert.

- Eu não posso falar com vocês. – disse o menino.

- Sério? Por que não? – perguntou ele com um sorriso surpreso.

- Minha mãe disse que vocês não são do bem... 

- Sério? Sua mãe nos conhece?

- Conhece, mamãe? – perguntou Albert olhando para Tamí.

Tamí ficou ali, torcendo para que o filho não tivesse dito o que disse pois não estava com vontade de dar maiores explicações àquele homem desconhecido. 

- Seu filho? – perguntou ele surpreso para Tamí. – Poderia jurar que eram irmãos.

- Meu filho. – falou ela com cara de poucos amigos.

- Por que falou estas coisas pra ele? Não somos pessoas do mal... Eu garanto. Não precisam temer nossa presença aqui.

- Não preciso lhe dar satisfações sobre o que digo para meu filho ou sobre o que penso. Pensar neste lugar ainda é permitido. E não quero meu filho perto de vocês. Não os conheço. São estranhos neste lugar.

- Não entendo o porquê de tanto desdém de você contra mim e meu pessoal. Estamos aqui para ajudar.

- Nós não precisamos de ajuda. – afirmou ela.

Ela deu as costas pra ele e continuou seu trajeto. O homem não se deu por vencido e continuou, a passos largos para acompanha-los. 

- Será que alguém poderia nos oferecer hospedagem?

Tamí parou. Ele conseguiu se aproximar novamente.

- Meu senhor...

- Hirst. – lembrou ele.

- Senhor... – insistiu ela visivelmente irritada. – Duvido que não tenha percebido que neste lugar não há pousadas, hotéis ou qualquer lugar deste tipo para receber visitantes como vocês.

- Haviam falado que não teria nada para hospedagem, mas sinceramente eu não acreditei. 

- Pois bem... Acredite. E eu não posso lhe oferecer minha casa, pois é singela e pequena demais para receber todos vocês. Creio que seja a situação de todos os demais garimpeiros. Deveriam ser se preocupado com isso antes de terem vindo para a ilha.

- Já sabíamos e sim, viemos prevenidos. No entanto pensamos que se pagássemos bem, alguém nos receberia. Mas pelo visto você tem razão...

- Sinto muito. Eu realmente não tenho como ajuda-lo. –falou Tamí.

- De qualquer maneira, obrigada pela atenção. – falou ele gentilmente.

- Pelo visto teremos que nos acomodarmos em nossas barracas mesmo. – disse ele. – E você, garotão, não precisa ter medo de nós. Somos do bem, acredite. Viemos para ajudar vocês. 

Albert riu. Tamí colocou o filho em cima do cavalo e montou depois. Já havia perdido muito tempo ali e queria chegar à outra praia. Talvez Hirst não fosse um homem ruim, mas o fato de ele ser homem já fazia com que ela desconfiasse dele. Não acreditava que pudesse haver homens bons ou com boas intenções com relação à mulheres. Todos eles tinham seus próprios interesses escondidos. Ela gostaria que seu filho fosse um bom homem e que tivesse o exemplo de João e Júnior. Estes sim eram homens dignos e do bem. Tratavam bem as mulheres sem segundas intenções. 

Ela levaria Albert para conhecer a Velha do Mar. Embora ela tivesse dito que o destino não queria que os dois se conhecessem, ela iria arriscar. Desta forma também saberia se o que a mulher dizia era verdade ou não. 

Quando chegaram ela percebeu que a maré estava muito alta. Haviam perdido muito tempo no caminho com aquela conversa. Ela tentou seguir com o cavalo, mas percebeu que o animal não conseguiria. E tinha a volta, que seria mais perigosa para o menino. Ela era uma boa nadadora, mas não arriscaria a vida do filho. 

- Aonde vamos, mamãe? – perguntou Albert quando desceram do cavalo.

Tamí levou o animal para perto de verdes que pudesse se alimentar e o deixou solto. 

- Vamos ficar por aqui, Albert. Esta praia é bem segura e tranquila.

Os dois entraram na água que já estava fria, mas ainda assim puderam brincar nas ondas e conversarem sobre várias coisas. Divertiram-se bastante. 

Ela olhou para a maré que não havia subido muito desde que chegaram. Estava tão próxima da Velha do Mar... Pediu para Albert ficar ali e esperar por ela que já voltaria. E com grandes braçadas nas ondas conseguiu chegar até o local onde ela morava, circundando as rochas.

- Por que quis se arriscar tanto, Tamí? – perguntou a Velha.

- Realmente nadei muito. Mas estava tão perto. Precisava vê-la.

- Você acredita no que eu vejo, menina?

- Desculpe por aquele dia... Eu fiquei nervosa.

- Claro que aceito suas desculpas. Mas por que era tão importante vir aqui com a maré alta?

- Chegaram estranhos na ilha... Irão fazer uma música ou algo assim sobre a mineração na ilha. 

- Dois deles têm os olhos negros, como você descreveu. Eu sei que são eles... Um dos dois. – disse Tamí.

A Velha olhou para a imensidão do mar, submersa em seus próprios pensamentos por um tempo. 

- Sim... Eu vejo outro homem de olhos escuros. – disse ela.

- Então são dois? O que eles têm a ver com minha vida? Consegue ser mais clara?

- Não posso... Só falo o que vejo. Você terá que descobrir o resto por você mesma, menina. 

Tamí ficou ali, olhando para o mar tentando descobrir uma resposta.

- Vejo ajuda... Um estranho vai ajudar você quando mais precisar... Mas ainda há sofrimento e dor no seu caminho. E o que eu achei impossível vai acontecer...

- O quê? – perguntou Tamí confusa e curiosa.

- Amor...

Tamí sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Não... Isso ela sabia que não era verdade. O mar estava enganado. Ela não amaria nenhum homem. Jamais isso aconteceria com ela. Ela não podia amar... E não conseguia.

- Albert... – falou a Velha com o olhar de pavor.

Tamí olhou para ela confusa.

- Vá... Ele está em perigo. – disse ela olhando para Tamí.

Tamí conseguiu ver a desgraça nos olhos da Velha do Mar... Saiu correndo e nadou o mais rápido que pôde de volta para a praia onde deixara o filho. Não sabia o que poderia estar acontecendo, afinal a praia onde havia deixado o filho era a mais segura de todas, pois ninguém exceto ela ia naquele lugar, devido à proximidade da Velha do Mar. Todos tinham medo dali. Ela conseguia observar o filho enquanto nadava de volta. As ondas a ajudavam a chegar mais rápido. Mas percebia um vulto junto dele. Albert não estava sozinho. Quem oferecia perigo a seu filho? Ela ia cada vez mais rápido e logo conseguiu perceber Rotsey. Logo seus pés alcançaram o chão e ela começou a correr dentro da água. Ela percebeu que ele colocou a mão no rosto do garoto e começou a gritar desesperadamente. Sabia que o motivo que o levava até ali não era bom. Rotsey só queria vingança... E certamente usaria o filho dela para isso.

- Solte meu filho agora. – gritou ela puxando o garoto para trás de si mesma.

Rotsey ficou um pouco surpreso com a presença dela ali. Sem dizer nenhuma palavra ele saiu dali. Entre ir atrás dele e ver como o filho estava ela decidiu pelo filho. 

 - Albert, o que ele fez?

Albert não falava nada... Apenas deixava lágrimas correrem pelo rostinho queimado de sol. 

- Meu filho, por favor... Diga-me o que houve.

- Ele... Disse que vai matar você.

Ela abraçou o filho com força:

- Não se preocupe. Ele não vai fazer isso. Não tenha medo, meu amor.

- Mas se ele conseguir?

- Eu prometo que ele não fará nada comigo... Nem com você.

- Mamãe, por que você cortou o pé dele?

- Ele lhe disse isso?

- Sim... – falou ele já mais calmo.

- Sente-se aqui comigo. Eu vou lhe contar.

Ela abraçou ele junto a seu corpo enquanto procurava palavras para explicar ao filho o que havia acontecido. Albert já tinha 7 anos e algumas coisas já estava na hora de ele saber. E era melhor saber por ela do que por outras pessoas. Começaria contando sobre Rotsey, mas sabia que ainda havia muita coisa que ele precisava saber sobre ela... Mas isso só o tempo faria com que ela tivesse coragem para contar um dia. Quando ela terminou, ele disse:

- Pobre Rotsey.

- Eu juro que eu me arrependo, meu filho. Mas na hora eu não pensei... Era o que eu tinha nas mãos naquele momento. Era a minha forma de proteção. Eu não sou a única culpada pelo que aconteceu, acredite. Ele também não agiu de forma correta.

- Eu sei disto, mamãe.

- Você pode me perdoar então?

- Acho que você não precisa pedir perdão a mim, mamãe... E sim ao Rotsey. Você fez o que fez com ele, não comigo.

- Mas eu não quis... Não foi só culpa minha...

Ela percebeu que não havia muito o que conversar com o menino sobre aquilo. E lhe chateou o fato de ele parecer entender o que houve, mas ainda achar que ela estava errada pelo que havia feito. Ele parecia pensar como todos na ilha, que ela era a culpada nesta história e não a vítima. Devia desculpas a ele? Talvez... Mas ele lhe devia desculpas também. Tentou agarrar ela a força. E se tivesse conseguido? Se tivesse ele também abusado dela? Ninguém via a situação daquela forma... E isso a entristecia muito porque ela não conseguia se achar tão culpada pelo que havia feito. E ela percebeu que Rotsey era uma ameaça para ela e seu filho. Eram claras suas intenções de vingança depois de tantos anos. Parecia até que esperou para isso... Mas Tamí jamais permitiria que ele fizesse qualquer coisa contra seu filho. E ela teria que tomar atitudes drásticas se ele continuasse sua perseguição ao menino. Seria ela capaz de matar novamente? Ela olhou para o menino e um arrepio percorreu seu corpo quando percebeu que sim... Seria capaz de matar por seu filho. Ela acariciou o menino junto de si e olhou para o alto do penhasco, ao longe, onde um dia jogara Todi. O pôr do sol dourado iluminava o local... O local onde um dia ela foi a mulher mais infeliz do mundo, o local onde haviam tirado sua inocência e sim... Sua vida e todos os seus sonhos. O lugar onde ela havia aos 13 anos matado um homem. O lugar onde havia sido gerado o maior amor que ela sentia: seu filho. Naquele dia Todi morreu e levou com ele o coração de Tamí. Ela achava que jamais poderia gostar de um homem. E ela imaginou o que o filho pensaria quando soubesse toda verdade. O que ele sentiria ao olhar aquele lugar e sempre lembrar que um dia sua mãe jogou o próprio pai lá de cima? Poderia Todi ser chamado de pai algum dia? Na opinião dela, não. Albert talvez tenha sido a única coisa boa que Todi tenha feito em toda sua vida. E ele nem sabia disso, pois fizera com toda maldade possível. Ela esperava que o espírito dele jamais encontrasse paz e vagasse pra sempre perdido na ilha da mineração.

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