Ela ficou ali desencorajada a dar mais um passo sequer. Ben estava lá embaixo, sentado confortavelmente no sofá mais próximo da parede. Ele vestia calça social de linho cinza e camisa branca com as mangas dobradas até os cotovelos. Depois de mais de um ano sem vê-lo ele estava ali, há alguns metros dela, lindo como nunca. Ela conseguia sentir o cheiro dele no ar. Ela desceu vagarosamente o lance de escadas para não cair, pois não estava confortável nem com o vestido muito menos com o sapato. Ben a olhou de uma forma que ela não conseguiu identificar o que ele sentia ou pensava. E ele não falou nada. Mariana e Lucas também estavam na sala e uma moça que ela não conhecia, vestida elegantemente com um vestido vermelho justo com todo corpo à mostra e sapatos altíssimos da mesma cor. Lucas usava terno sem gravata e Mariana um vestido alegre e jovial em tons azuis. Quando
Tamí não desceu para o café da manhã. Nem para o almoço. Ficou o dia todo em seu quarto. Lucas pelo visto não estava na casa, pois não havia vindo ameaçá-la. Então ela estava feliz por poder estar sozinha.À noitinha, Mariana foi conversar com ela.- O que houve com você? – perguntou a garota. – Se não comer nada vai morrer de fome.- Obrigada, mas não tenho fome. Estou bem.- Tamí, sabemos que você só quer o dinheiro do meu pai. Não vai conseguir nada com este casamento. Por que não vai embora daqui?- O que eu mais quero na minha vida é deixar esta casa, acredite. Mas seu pai não me deixa partir.- Que feitiço você jogou sobre ele?- Me ajude a ir embora daqui e eu deixo sua família em paz.- Ajuda? Está tentando fazer com que eu acredite que me
Todos já estavam novamente na sala de estar bebendo cafés e drinques. Alguns convidados já haviam ido embora. Tamí movimentou-se e sentiu o papel entre o sutiã e seu seio. Ela precisava enviar aquela carta. E somente Ben poderia lhe ajudar. Ela olhou para ele e esperou por pouco tempo até os olhos dele cruzarem com os dela. Fez um leve sinal com a cabeça para que ele observasse que precisava conversar com ele. Cuidou para que ninguém visse e foi até o toalete. Antes que ela chegasse à porta, Ben já estava atrás dela.- Ben, preciso de um favor seu.- Tamí, eu preciso entender o que está acontecendo... Precisamos conversar.- Não quero conversar com você, Ben... Só preciso de um grande favor.- Só pedir, Tamí... Eu faço qualquer coisa.Ela retirou a carta amassada de dentro do vestido e entregou-lhe:- Pre
Enquanto estava à mesa no café da manhã, Tamí foi surpreendida por Ben:- Tamí, o que vai fazer hoje pela manhã?- Eu? – perguntou ela surpresa. – Nada... Como sempre.- Você já conhece a cidade?- Não... Só quando fui ao salão...- Quer me acompanhar num passeio para conhecer? – convidou ele.- Não sei se devo. – falou ela.- Seu pai não quer que ela saia. – lembrou Tiffany.- Não me importo com o que ele disse... Ela fica trancada nesta casa como uma prisioneira... E ela não é, estou certo?- Ben, eu vou junto. – avisou Tiffany.- Não convidei você, Tiffany. Convidei Tamí. Você conhece a cidade muito bem, não é mesmo?Tiffany levantou-se bruscamente, jogou seu guardanapo na mesa e disse:- Você é um gr
Quando Tamí levantou da cama viu um bilhete próximo da porta, provavelmente colocado embaixo dela. Ela abriu e estava escrito:“ Seu prazo termina hoje, meu amor.”Não precisava de assinatura, pois ela sabia de quem era aquela letra. Nem acreditava que já havia se passado um mês. E tantas coisas haviam acontecido naquele tempo. E a saudade de seu filho apertava seu coração. No início imaginou que não conseguiria ficar tanto tempo longe de Albert. Mas depois havia se convencido de que precisava ser forte por ele... Pois um dia aquele sofrimento iria acabar. Ela tinha certeza de que não ficaria presa na casa de Lucas Lowe para sempre. Lucas havia prometido liberdade se ela não se apaixonasse por ele. E como ela havia dito a ele naquele dia, apaixonar-se por ele era impossível. Pelo contrário, conseguia sentir mais ódio ainda. Embora ela soubesse que não ser
Quando Tamí abriu os olhos, estava deitada na calçada. Sua cabeça doía. Olhou para sua roupa suja e suada e seus pés descalços. Na ilha ninguém a perceberia como uma estranha se estivesse daquele jeito... Mas ali quem passava a olhava estranhamente. Ela precisava fazer algo para se proteger e sair daquele lugar. Escolheu uma casa e bateu na porta. Foi atendida por uma senhora aparentando uns 60 anos ou mais. Tamí pediu ajuda e felizmente foi ouvida. Ela deixou que ela entrasse e logo Tamí estava lhe contando tudo sobre sua vida e explicando que precisava de dinheiro para ir embora dali e voltar para sua ilha, prometendo depois pagar. A simpática mulher ouviu tudo atentamente e prometeu ajudá-la. Logo veio com alguns biscoitos e chá e disse:- Deve estar com fome. Coma uma pouco... Eu já volto. Vou ver o que posso fazer por você.Tamí nem sabia, mas realmente estava c
As próximas duas semanas que passaram foram suficientes para curar as feridas no rosto de Tamí, mas as que abriram em seu coração ela sabia que jamais curariam.Neste tempo ela conseguiu evitar Lucas em todos os momentos. Passou a ficar a maior parte do tempo dentro de seu quarto, mas sabia que estava também se fechando dentro de si mesma. Também evitava Ben, pois não queria criar ainda mais animosidade com Tiffany. Ainda tinha medo de Lucas e o que ele poderia fazer contra Albert para feri-la.Naquela noite o jantar estava tranquilo. Como de costume, ninguém conversava, cada um absorvido em seus próprios pensamentos. Tamí sentia cada vez mais a falta do filho e já não tinha certeza se alguma coisa em sua vida importava mais. Tiffany exalava felicidade com sua gravidez e também se aproveitava da situação chamando toda a atenção para ela.
Antes de Júnior ir embora Tamí lhe agradeceu por ter se preocupado em procurá-la para contar o que houve com Albert. Aproveitou e se desculpou pelas coisas que havia falado para ele quando brigaram. Ela estava sem saber o que fazer. Queria ter esperanças de encontrar seu filho com vida, mas não sabia que ainda havia isso dentro de si. Estava tão cansada de tudo. Os momentos de felicidade que tinha na vida era ao lado de Albert e se ele não estava mais vivo nada mais fazia sentido. Ela segurou o colar que carregava o líquido escuro dado pela Velha do Mar: “Isto é a morte; sem dor, sem causa, sem vestígios. Rápida e eficaz.” Aquilo era tudo que ela precisava naquele momento. A Velha havia dito que ela saberia a hora de usar. Aquela era a hora.Enquanto Tamí decidia quando partiria, Lucas mudou bastante sua atitude com relação a ela. Parecia sempre preocupado e tentando
Na manhã seguinte, Tamí voltou ao local da minha implodida. Começou a mover as pedras gigantescas do lugar. Ela sabia que enquanto não encontrasse o corpo do filho, não aceitaria que ele estava morto. Ainda tinha esperanças que ele poderia estar em algum outro lugar da ilha, mas só poderia procurar em outro lugar depois que tivesse a certeza de que ele não estava ali. Força não lhe faltava... Ela era uma garimpeira. Naquele dia ela moveu muitas pedras. Mas ainda faltava muito mais a fazer. Ela não sabia por quantos dias conseguiria suportar a ansiedade, mas não desistiria. No dia seguinte, João e Esperança começaram a ajudar. Nem tentaram convencê-la a desistir, pois sabiam que ela não faria. E mesmo com a força limitada deles, haviam ajudado bastante. No outro dia um garoto começou a ajudar. Devia ter a idade de Albert aproximadamente.- N&atild