Quando Tamí abriu os olhos, estava deitada na calçada. Sua cabeça doía. Olhou para sua roupa suja e suada e seus pés descalços. Na ilha ninguém a perceberia como uma estranha se estivesse daquele jeito... Mas ali quem passava a olhava estranhamente. Ela precisava fazer algo para se proteger e sair daquele lugar. Escolheu uma casa e bateu na porta. Foi atendida por uma senhora aparentando uns 60 anos ou mais. Tamí pediu ajuda e felizmente foi ouvida. Ela deixou que ela entrasse e logo Tamí estava lhe contando tudo sobre sua vida e explicando que precisava de dinheiro para ir embora dali e voltar para sua ilha, prometendo depois pagar. A simpática mulher ouviu tudo atentamente e prometeu ajudá-la. Logo veio com alguns biscoitos e chá e disse:
- Deve estar com fome. Coma uma pouco... Eu já volto. Vou ver o que posso fazer por você.
Tamí nem sabia, mas realmente estava c
As próximas duas semanas que passaram foram suficientes para curar as feridas no rosto de Tamí, mas as que abriram em seu coração ela sabia que jamais curariam.Neste tempo ela conseguiu evitar Lucas em todos os momentos. Passou a ficar a maior parte do tempo dentro de seu quarto, mas sabia que estava também se fechando dentro de si mesma. Também evitava Ben, pois não queria criar ainda mais animosidade com Tiffany. Ainda tinha medo de Lucas e o que ele poderia fazer contra Albert para feri-la.Naquela noite o jantar estava tranquilo. Como de costume, ninguém conversava, cada um absorvido em seus próprios pensamentos. Tamí sentia cada vez mais a falta do filho e já não tinha certeza se alguma coisa em sua vida importava mais. Tiffany exalava felicidade com sua gravidez e também se aproveitava da situação chamando toda a atenção para ela.
Antes de Júnior ir embora Tamí lhe agradeceu por ter se preocupado em procurá-la para contar o que houve com Albert. Aproveitou e se desculpou pelas coisas que havia falado para ele quando brigaram. Ela estava sem saber o que fazer. Queria ter esperanças de encontrar seu filho com vida, mas não sabia que ainda havia isso dentro de si. Estava tão cansada de tudo. Os momentos de felicidade que tinha na vida era ao lado de Albert e se ele não estava mais vivo nada mais fazia sentido. Ela segurou o colar que carregava o líquido escuro dado pela Velha do Mar: “Isto é a morte; sem dor, sem causa, sem vestígios. Rápida e eficaz.” Aquilo era tudo que ela precisava naquele momento. A Velha havia dito que ela saberia a hora de usar. Aquela era a hora.Enquanto Tamí decidia quando partiria, Lucas mudou bastante sua atitude com relação a ela. Parecia sempre preocupado e tentando
Na manhã seguinte, Tamí voltou ao local da minha implodida. Começou a mover as pedras gigantescas do lugar. Ela sabia que enquanto não encontrasse o corpo do filho, não aceitaria que ele estava morto. Ainda tinha esperanças que ele poderia estar em algum outro lugar da ilha, mas só poderia procurar em outro lugar depois que tivesse a certeza de que ele não estava ali. Força não lhe faltava... Ela era uma garimpeira. Naquele dia ela moveu muitas pedras. Mas ainda faltava muito mais a fazer. Ela não sabia por quantos dias conseguiria suportar a ansiedade, mas não desistiria. No dia seguinte, João e Esperança começaram a ajudar. Nem tentaram convencê-la a desistir, pois sabiam que ela não faria. E mesmo com a força limitada deles, haviam ajudado bastante. No outro dia um garoto começou a ajudar. Devia ter a idade de Albert aproximadamente.- N&atild
Tamí retornou para a mina. Naquela noite trabalhou sozinha. Enquanto todos na mina dormiam, ela continuava firme retirando cada pedra. Precisava encontrar Albert. Antes que o dia clareasse e o sol nascesse, já havia muitas pessoas a ajudando novamente. Não demorou muito para o sol brilhar no céu azul da mineração. Tamí estava tão cansada que nem sentia seus braços e suas pernas. Mas já dava para verem o chão. E seu coração estava apertado, pois ficava cada vez mais claro que não havia mais nenhum corpo soterrado ali. Aos poucos os garimpeiros foram desistindo de tirar as últimas pedras, pois sabiam que Albert não estava ali. Tamí, continuou, sendo observada por todos, até retirar a última pedra. Todas as pedras da mina, uma a uma, foram removidas braçalmente... Não havia uma sequer no mesmo lugar. E acharam alguns corpos que nem esperavam
Quando Tamí viu o grande número de pessoas em volta do corpo ficou trêmula e com um pouco de medo. Parou por alguns segundos e seguiu em frente. Quando olhou teve a certeza de que não era Albert. Mas sim, era um menino quase do mesmo tamanho, um pouco menor.- Não é meu filho. – afirmou ela.- Tamí, procuramos por todos os lugares da ilha e não o encontramos. Este corpo foi trazido pelo mar e achado perto das rochas do penhasco. – explicou um dos garimpeiros.Ela ficou pensativa olhando para ele.- Pensamos que talvez os meninos estivessem brincando nas rochas ou mesmo no penhasco... E podem ter caído e não conseguido nadar. Creio que se este não é Albert, ele também possa estar... No mar.- Vocês procuraram também nos rochedos? – perguntou ela.- Sim... Creio que Albert está... Morto.Ela ficou calada.
E como Tamí planejou foi feito. Viveram uma semana árdua de trabalho, procurando ouro sem resultado e plantando nas terras áridas sem perspectiva de crescimento das sementes. Tentavam reconstruir a ilha, mesmo sabendo que nada daquilo era deles e que um dia, mais cedo ou mais tarde, teriam que sair dali. Várias embarcações tentaram se aproximar da ilha, mas tiveram que voltar, pois não havia como atracar. Eles não sabiam de onde vinham, nem o que queriam. Estavam incomunicáveis, como sempre foram. Todo o dia Tamí ia ao cemitério e rezava por seus pais, Albert e Pérola.Procuravam ouro do amanhecer ao anoitecer, mas já estavam descrentes de que realmente pudesse haver pepitas naquele lugar.Vendo aquelas pessoas tão desiludidas e cansadas, naquele dia Tamí estava preste a desistir.- Tamí, pode vir aqui um pouco? – pediu uma garimpeira.Ela
Tamí estava tão eufórica com Albert em seus braços que nem deu atenção a Hirst e os dois homens que estavam com ele. Eles a acompanharam, mesmo sem serem convidados. Quando ela entrou em casa com o filho no colo, João e Albertina ficaram tão atônitos e incrédulos quanto ela ficara quando o vira na praia. Ela foi explicando o que havia acontecido e eles conseguiram se mover e abraçar o neto carinhosamente. Esperança logo foi preparar o jantar para os convidados e o esfomeado menino enquanto ele, sentado no colo de João, contava tudo que havia visto fora da ilha, muito empolgado. Tamí chamou Hirst para conversarem na rua um pouco, pois tinham muito a falar.- Não tem medo de sair assim à noite pela ilha, Tamí? Estava sozinha na praia. – observou ele.Ela olhou para Hirst. Ele estava diferente, com a barba crescida, os cabelos também. Ainda er
Um mês se passou e um novo barco chegou à ilha. Tamí, Albert e Hirst foram esperá-lo próximo ao porto antigo, para ver se tentaria atracar. O casamento deles estava marcado para a próxima semana. Mais que isso ela não conseguiria adiar. Ela não sabia o que sentia com relação a Hirst, mas gostava dele e talvez isso bastasse. E ela tinha Albert consigo e isso era suficiente para entrar em qualquer batalha. Sempre que olhava para o filho lembrava que se não fosse por Hirst, ele estaria morto. Eles haviam decidido que não deixariam a ilha, lutariam até o fim, mesmo que nenhum advogado quisesse defendê-los do governo ou da Companhia dos Conquistadores. A luta deles era solitária. O povo contra todos. E lutariam juntos pelo que acreditavam que era deles por direito. Não importava o que acontecesse na ilha... Eles só queriam seu pedaço de terra, pelo qual haviam pagad