Os próximos dias foram ficando cada vez mais tristes para Tamí. Os dias se arrastavam e os meses pareciam anos. O trabalho permanecia igual. Na verdade tudo estava exatamente como sempre fora antes da chegada da banda à ilha. A saudade de Benjamim parecia crescer cada vez mais e seu coração doía sempre que pensava nele. Ela continuava a visitar sua amiga Velha do Mar sempre que podia, mas não nem o mar tinha mais visões sobre seu futuro. Todo final de tarde ela sentava na beira da praia e via o sol se pôr, sempre olhando para o horizonte, na esperança de que um barco o trouxesse de volta. Mas ela sabia que isso provavelmente nunca aconteceria.
Enquanto olhava o mar naquele final de tarde, Tamí sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Uma sensação diferente, que ela nunca havia sentido... A imagem da Velha do Mar veio à sua mente. Ela não pensou duas vezes e saiu em dire&ccedi
Numa tarde quente de julho chegaram vários barcos ao porto. Todas as embarcações traziam muita gente, em sua grande maioria homens. Não demorou até a notícia se espalhar. Seria construído um grande e moderno porto na ilha. Parece que a civilização estava chegando aquele lugar perdido e remoto do oceano. E o local de construção do porto era no penhasco de onde um dia Tamí jogou Todi. Teve medo de que pudessem encontrar algum vestígio dele. Já fazia oito anos... Ainda assim ela tinha medo de que alguém pudesse descobrir a verdade. Embora ela tivesse uma ponta de esperança, Ben não havia vindo nas embarcações. Tudo estava sendo monitorado e organizado por Lucas Lowe, o dono da Companhia dos Conquistadores. Havia comentários de que assim que tudo estivesse pronto, talvez ele fosse visitar a ilha.À noite, sob a luz do lampião, d
Tamí chegou em casa muito cansada, como de costume. Durante o dia pensou muito em Pérola, sua amiga Velha do Mar. Lembrava-se das visões que ela tinha sobre seu futuro... Tudo estava normal em sua vida... Teria ela visto errado sobre seu destino?Tamí não encontrou Albert quando chegou. Ele sempre costumava esperá-la.- Albert saiu, minha filha. – falou Esperança.- Mas ele sempre costuma me esperar... Onde pode ter ido?- Deve estar aqui perto na praia. Mas é melhor procurá-lo, minha filha, e certificar-se de que está tudo bem. Afinal tem muita gente estranha nesta ilha que não conhecemos.- Estou indo... Fiquei ainda mais preocupada agora.Tamí procurou nas proximidades, nos lugares onde ele costumava ir e não o encontrou. Albert sabia que não podia ir longe e sempre obedecia esta regra. Ela começou a ficar preocupada e saiu dos l
Dois dias haviam se passado e ninguém comentara nada sobre Rotsey. Tamí estava muito abalada, principalmente por não terem encontrado o corpo, o que era impossível.Naquela noite, durante o jantar, Esperança comentou:- Filha, você soube o que houve com Rotsey?Tamí olhou imediatamente para Albert, sentindo seu coração bater mais forte. Havia chegado a hora e ela não sabia como contar a verdade...- O que houve? – perguntou ela, fingindo-se de desentendida.- Parece que ele perdeu a memória.- Como assim? – perguntou Tamí confusa.- Não sei ao certo. Mas ouvi boatos de que foi encontrado desacordado e acham que bateu a cabeça numa pedra. Não se lembra de mais nada do que houve com ele... Nem mesmo como perdeu o pé. Os garimpeiros decidiram não contar que foi você que fez aquilo com o pé dele...
Tamí estava simplesmente furiosa com a forma como foi tratada por aquele homem. Ele era muito mais repugnante do que ela imaginava antes de conhecê-lo. Não comentou com os pais sobre o ocorrido, pois sabia que poderia gerar mais confusão ainda. Agora estava ainda mais decidida sobre deixar a ilha o mais rápido possível e queria deixar Esperança e João tranquilos. Ela colocou Albert sobre a cama e disse:- Albert, por que você fez isso?- Mamãe, meu pai está demorando demais.- Ele nunca vai vir. – ela gritou.- Você me mentiu...- Sim, eu menti. – confessou ela rispidamente.- Por que você fez isso, mamãe? Por que mentiu para mim? – perguntou ele com lágrimas nos olhos.- Albert, quero que você entenda uma coisa... Seu pai não era um bom homem...- Mas você disse...- Menti també
Tamí deitou-se e não conseguia parar de pensar naquele jantar e nas palavras horríveis daquele homem. Havia também a dúvida sobre o relacionamento de Ben com Francis e ela já não tinha mais certeza de quem falava a verdade. Não havia motivos para acreditar em Lucas Lowe, mas de tudo que ele dissera apenas aquele assunto pareceu ser sincero da parte dele, sem ironias. Uma vez ela já havia sido injusta por não acreditar em Ben e não queria de forma alguma cometer novamente este erro. Mas já não tinha tanta certeza de que partir da ilha e ir ao encontro dele era a melhor coisa a fazer. Mas ao mesmo tempo se não o visse jamais tiraria esta dúvida.Foi uma noite difícil, com muitos pensamentos confusos e indecisões. Conseguiu dormir por apenas uns poucos minutos e pesadelos horríveis a acordaram novamente. Ela segurou seu colar dado por Pérola, sua a
Tamí foi avisada por um dos empregados que acompanhavam Lucas Lowe que partiriam naquela tarde. Ela tentou argumentar, mas ouviu do homem que ele não poderia fazer nada, só cumpria sua tarefa de trazer o recado de seu futuro marido. Sua vida a partir daquele momento seria esta: seguir as ordens daquele homem que ela tanto odiava e que a levaria embora de sua vida, para longe de seu filho.Agora ela precisava ir para a parte mais difícil de todas: falar à sua família. Ela optou por contar parte da verdade a João e Esperança. Apenas omitiu a verdade sobre a chantagem na parte sobre a morte de Todi e sua prisão caso não aceitasse. Somente contou que Lucas Lowe acabaria com o garimpo e mandaria todos embora da ilha. Eles choraram com ela, mas também sabiam que não havia o que fazer. João tentou convencê-la de que não precisaria se sacrificar por todos da ilha, mas ela tinha cer
Ela ficou ali desencorajada a dar mais um passo sequer. Ben estava lá embaixo, sentado confortavelmente no sofá mais próximo da parede. Ele vestia calça social de linho cinza e camisa branca com as mangas dobradas até os cotovelos. Depois de mais de um ano sem vê-lo ele estava ali, há alguns metros dela, lindo como nunca. Ela conseguia sentir o cheiro dele no ar. Ela desceu vagarosamente o lance de escadas para não cair, pois não estava confortável nem com o vestido muito menos com o sapato. Ben a olhou de uma forma que ela não conseguiu identificar o que ele sentia ou pensava. E ele não falou nada. Mariana e Lucas também estavam na sala e uma moça que ela não conhecia, vestida elegantemente com um vestido vermelho justo com todo corpo à mostra e sapatos altíssimos da mesma cor. Lucas usava terno sem gravata e Mariana um vestido alegre e jovial em tons azuis. Quando
Tamí não desceu para o café da manhã. Nem para o almoço. Ficou o dia todo em seu quarto. Lucas pelo visto não estava na casa, pois não havia vindo ameaçá-la. Então ela estava feliz por poder estar sozinha.À noitinha, Mariana foi conversar com ela.- O que houve com você? – perguntou a garota. – Se não comer nada vai morrer de fome.- Obrigada, mas não tenho fome. Estou bem.- Tamí, sabemos que você só quer o dinheiro do meu pai. Não vai conseguir nada com este casamento. Por que não vai embora daqui?- O que eu mais quero na minha vida é deixar esta casa, acredite. Mas seu pai não me deixa partir.- Que feitiço você jogou sobre ele?- Me ajude a ir embora daqui e eu deixo sua família em paz.- Ajuda? Está tentando fazer com que eu acredite que me