Quando Tamí chegou em casa Albert lhe deu a pequena caixa preta de papelão brilhoso, deixada por Hirst. Dentro havia um pequeno papel com o endereço dele no continente e um bilhete escrito com uma bonita letra de fôrma bem desenhada:
“Tamí, parti sem me despedir porque não achei justo fazer isso comigo mesmo. Você pediu para eu não me apaixonar, deixou bem claro que entre nós nunca haveria nada mais que uma amizade, mas eu não lhe dei ouvidos. Foi mais forte que eu. Apaixonei-me perdidamente. E isso fez de mim um nada perante você. Obrigada por existir. Graças a você eu conheci o amor. Eu lhe desejo toda felicidade no mundo neste lugar que escolheu para viver, junto de seu filho. Mando abaixo a letra da música que compus para você. Se não gostar, entenderei, mas quer que saiba que por mais dias e noites que passasse escrevendo, jamais conseguiria colocar num peda&c
- Eu me sinto um lixo, Tamí.- Mas por que, Cátia?- Por causa do meu músico...- Por que você não foi com ele?- Porque ele não deixou, amiga. Agora percebo que só brincou comigo.- Não fique triste, Cátia.- No início eu acreditei que era verdade o que estava acontecendo entre nós. Ele me disse que viria me buscar mais tarde. Despedi-me com esta certeza. Mas assim que o barco partiu eu vi o quanto fui idiota.- Homens são todos iguais.- Ele só queria alguém para se divertir enquanto estivesse aqui, Tamí. Usou-me. Quando eu falei em casamento ele perguntou se eu estava louca.- Ele disse isso?- Sim... Um canalha.- Eu acho que foi melhor assim, Cátia. Ele não merecia você.- Eu não signifiquei nada para ele...- E ele significou algo para você, Cáti
Benjamim abraçou Tamí carinhosamente:- Fiquei tanto tempo sem ver você. Não conseguia nem lembrar direito do seu rosto, sua voz, seu cheiro... Isso me atormentou por todos este tempo.- Ben me desculpe por tudo que houve, por tudo que eu lhe disse, por eu não ter acreditado em você. Eu o culpei injustamente. Sei que o magoei...- Dissemos muitas coisas ruins, nós dois, naquele dia. Realmente fiquei magoado, mas logo passou. Por fim acabei entendendo seus motivos. E a saudade e o amor eram muito maiores que qualquer sentimento de mágoa que eu pudesse ter.- Você não era culpado. Eu errei...- Vamos esquecer o passado, Tamí. Isso não importa mais. O importante agora é que estamos aqui, juntos...- Ben, eu acho que o amei desde o primeiro momento que meus olhos cruzaram com os seus... Mas eu lutei muito contra este sentimento...- Eu sabia que voc&ec
Na manhã seguinte, ela acordou cedo para trabalhar, como de costume.- Eu já disse que você não vai. – insistiu Benjamim.- Eu preciso ir. Não posso me dar ao luxo de não ir porque você está aqui... Eu sei que você é o dono de tudo, mas eu preciso ir da mesma forma.- Tamí, não seja teimosa.- Não posso me aproveitar, muito menos da sua situação enquanto dono... Um dia você irá embora e eu e meu trabalho teremos que continuar...- Isto quer dizer que você não vai embora comigo?- Eu... Eu ainda não sei, Ben. Preciso pensar melhor sobre isso... É uma decisão muito importante.- Tamí, você havia concordado que seria minha esposa... Por que pensar mais?- Eu quero, Ben... Deus sabe o quanto eu quero ser sua esposa e ficar com você para sempre. Mas
Tamí, inconsolável, caminhou sem pressa pela praia escura, iluminada apenas pela luz tímida da lua. Foi até o cemitério onde estavam enterrados Albert e Albertina. Pela primeira vez ela rezou. Embora relutasse em acreditar em Deus depois de tudo que sofreu, naquele momento precisava Dele. Por que não conseguira coragem suficiente para partir? Não era só uma questão de abandonar tudo que sempre acreditou e o lugar que tanto amava... Teria também que deixar João e Esperança, que ela sabia que jamais deixariam a ilha. E ela não tinha como deixar os dois, velhos como estavam, sozinhos ali. Ela não tinha dúvidas quanto ao amor que sentia por Benjamim, mas não tivera força para deixar a ilha e ir com ele. Sua única certeza era de que tudo mudaria para sempre na sua vida. Benjamim era parte de sua felicidade e ela o deixara partir. Sabia que nunca mais voltaria a am
Os próximos dias foram ficando cada vez mais tristes para Tamí. Os dias se arrastavam e os meses pareciam anos. O trabalho permanecia igual. Na verdade tudo estava exatamente como sempre fora antes da chegada da banda à ilha. A saudade de Benjamim parecia crescer cada vez mais e seu coração doía sempre que pensava nele. Ela continuava a visitar sua amiga Velha do Mar sempre que podia, mas não nem o mar tinha mais visões sobre seu futuro. Todo final de tarde ela sentava na beira da praia e via o sol se pôr, sempre olhando para o horizonte, na esperança de que um barco o trouxesse de volta. Mas ela sabia que isso provavelmente nunca aconteceria.Enquanto olhava o mar naquele final de tarde, Tamí sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Uma sensação diferente, que ela nunca havia sentido... A imagem da Velha do Mar veio à sua mente. Ela não pensou duas vezes e saiu em dire&ccedi
Numa tarde quente de julho chegaram vários barcos ao porto. Todas as embarcações traziam muita gente, em sua grande maioria homens. Não demorou até a notícia se espalhar. Seria construído um grande e moderno porto na ilha. Parece que a civilização estava chegando aquele lugar perdido e remoto do oceano. E o local de construção do porto era no penhasco de onde um dia Tamí jogou Todi. Teve medo de que pudessem encontrar algum vestígio dele. Já fazia oito anos... Ainda assim ela tinha medo de que alguém pudesse descobrir a verdade. Embora ela tivesse uma ponta de esperança, Ben não havia vindo nas embarcações. Tudo estava sendo monitorado e organizado por Lucas Lowe, o dono da Companhia dos Conquistadores. Havia comentários de que assim que tudo estivesse pronto, talvez ele fosse visitar a ilha.À noite, sob a luz do lampião, d
Tamí chegou em casa muito cansada, como de costume. Durante o dia pensou muito em Pérola, sua amiga Velha do Mar. Lembrava-se das visões que ela tinha sobre seu futuro... Tudo estava normal em sua vida... Teria ela visto errado sobre seu destino?Tamí não encontrou Albert quando chegou. Ele sempre costumava esperá-la.- Albert saiu, minha filha. – falou Esperança.- Mas ele sempre costuma me esperar... Onde pode ter ido?- Deve estar aqui perto na praia. Mas é melhor procurá-lo, minha filha, e certificar-se de que está tudo bem. Afinal tem muita gente estranha nesta ilha que não conhecemos.- Estou indo... Fiquei ainda mais preocupada agora.Tamí procurou nas proximidades, nos lugares onde ele costumava ir e não o encontrou. Albert sabia que não podia ir longe e sempre obedecia esta regra. Ela começou a ficar preocupada e saiu dos l
Dois dias haviam se passado e ninguém comentara nada sobre Rotsey. Tamí estava muito abalada, principalmente por não terem encontrado o corpo, o que era impossível.Naquela noite, durante o jantar, Esperança comentou:- Filha, você soube o que houve com Rotsey?Tamí olhou imediatamente para Albert, sentindo seu coração bater mais forte. Havia chegado a hora e ela não sabia como contar a verdade...- O que houve? – perguntou ela, fingindo-se de desentendida.- Parece que ele perdeu a memória.- Como assim? – perguntou Tamí confusa.- Não sei ao certo. Mas ouvi boatos de que foi encontrado desacordado e acham que bateu a cabeça numa pedra. Não se lembra de mais nada do que houve com ele... Nem mesmo como perdeu o pé. Os garimpeiros decidiram não contar que foi você que fez aquilo com o pé dele...