DavidO destino tem um jeito cruel de nos fazer encarar os nossos piores erros. De rei intocável da minha própria bolha, tornei-me um homem que mal consegue respirar. Estou parado no centro do escritório da mansão Lambertini, os olhos fixos no celular sobre a mesa, como se aquela tela pudesse me engolir. Meu peito sobe e desce em um ritmo descompassado, e tudo ao meu redor parece distante, abafado pelo rugido da verdade que descobri."Lizandra, confirma amanhã às 14h o seu pré-natal?"A mensagem brilhou como um soco no meu estômago. Agora ainda sinto o gosto amargo da culpa subindo pela garganta. Lizandra. Grávida. De mim. Eu engravidei a mulher que amo e joguei fora da forma mais cruel possível.Minha mente gira. Como vou contar isso ao meu pai? O patriarca dos Lambertini sempre deixou claro que nossa linhagem é um privilégio para poucos. Lizandra, com sua inocência e força, não pertence ao nosso mundo. E ele não vai aceitá-la. Não enquanto houver sangue estranho carregando nosso sob
NinaO frio de Bariloche deveria gelar meus ossos, mas ao lado de Santiago, tudo parece absurdamente quente. Passamos o dia explorando a cidade, entre risadas e olhares roubados, como se o tempo tivesse desacelerado só para nós. Quando ele segura minha mão no caminho de volta para sua cobertura, um arrepio percorre minha espinha. Não é só pelo vento cortante. É por ele.Assim que entramos, ele me puxa para perto, os olhos queimando com um desejo que não precisa ser dito. O beijo que troca comigo é lento, profundo, como se quisesse gravar cada sensação na pele. Suas mãos deslizam com delicadeza pelo meu corpo, como se cada toque fosse uma promessa. Nos movemos juntos, entre carícias e suspiros, explorando um ao outro com um cuidado que me faz querer derreter em seus braços. Não há pressa, não há urgência. Só nós dois, entregues a algo que parece maior do que apenas um momento.Depois, deitada ao lado dele, envolvida pelo calor do seu corpo, deveria me sentir leve. Mas a tensão que se i
Don VittorioChego em casa e sinto o vazio no ar. Um silêncio que não combina com meu lar. Meu coração aperta imediatamente.— Liana? — chamo, percorrendo os cômodos. Nada. Nenhum sinal da minha mulher. A sensação de ausência dela me devora.Subo para o quarto, puxo o celular e começo a rastreá-la. Sei que exagero, mas não consigo evitar. Ela é meu norte, minha âncora, e quando não está aqui, algo dentro de mim se descontrola.A porta do quarto se abre com força, e Darlan entra como um furacão, se jogando na minha cama como se fosse dele.— Cai fora da minha cama, Darlan, deixa de ser folgado! — rosno, sem paciência para as palhaçadas dele.— Vamos! — ele responde rindo, mas não se mexe.— Por que tenho que sair, papai? Mamãe não chegou, deve estar voando por aí. O senhor sabe o quanto ela é rigorosa com as questões de segurança. O helicóptero dela não sai do lugar sem autorização, e o senhor sabe que não adianta esbravejar.Esse moleque tem um dom para me irritar. Respiro fundo e enc
Liana O céu escurece de repente, como um prenúncio do caos. Estou no comando do helicóptero, os controles firmes sob minhas mãos, enquanto as gêmeas, Alice e Alícia, seguem atentas às instruções de Camila, a instrutora especializada em armas e estratégias. O som dos disparos ecoa pelos fones de ouvido, competindo com o zunido das hélices. Hoje, o treino é de tiro de precisão, e elas não decepcionam.— Ajuste o foco, Alice. Respire fundo e... atire — orienta Camila.Alice segura o fuzil CZ 750 TSR, ajusta a luneta e dispara. O alvo móvel, a 500 metros de distância, é perfurado exatamente no centro.— Boa, garota! — celebra a instrutora.— Sua vez, Alícia — Camila continua, a voz firme. — Alvo à direita, 600 metros, movimento em zigue-zague. Respire, alinhe a mira, e quando sentir o momento... dispare.Alícia ajusta a postura, os olhos brilhando com a adrenalina. Ela prende a respiração, pressiona o gatilho e o projétil corta o ar com precisão cirúrgica. O alvo metálico gira com o impa
Darlan Eu entro na La Russa Logística, aqui, tudo é fachada. Uma empresa de transportes comum para quem olha de fora, mas, na verdade, a verdadeira sede da nossa máfia. Escritórios, almoxarifados e caminhões servem de camuflagem para algo muito maior. Nada acontece aqui sem que eu e David saibamos. Nada.Caminho pelos corredores, meu destino claro, a ala feminina. Silvia Caruso está aqui. Ela ainda se sente um peixe fora d'água, e eu entendo. A filha de um dos nossos, porém traidor, mas a família não podemos deixar desamparada, e agora ela faz parte disso, mas, diferente dos outros, não foi treinada para esse mundo. Ainda.Quando a encontro, ela está sentada, folheando alguns documentos. Sei o momento exato em que me vê, porque seu corpo endurece, mas logo ela se recompõe e sorri. Uma tentativa fraca de disfarçar o nervosismo.— Darlan.— Silvia. — Dou um meio sorriso. — Espero que esteja se acostumando.Ela assente com a cabeça.— Faz parte da minha nova realidade, não?Cruzo os br
DanielO cheiro amargo do café recém passado preenche o ar, mas não é isso que me desperta. Há algo no ambiente, uma tensão invisível que antecede uma tempestade. Meu instinto grita antes mesmo de eu virar o rosto e ver Derick se aproximando. Nunca é boa coisa quando ele aparece assim, impaciente, o olhar cortante varrendo a lanchonete como se estivesse pronto para matar alguém.Finjo desinteresse, pegando meu café enquanto converso com alguns colegas. Mas ele não desvia, não hesita. Quando para ao meu lado, já sei que vem problema.— Precisamos conversar, Malta. Agora. — A voz dele está carregada de urgência, mas diferente de outras vezes, não há ameaça, nem sarcasmo.A surpresa se espalha pelo meu rosto antes que eu consiga mascará-la. Não é normal Derick me chamar para um papo assim, ainda mais sem arrodeios. Meus olhos deslizam para Lizandra, que está sentada à mesa, distraída com o celular. Derick também a olha e, num gesto inesperado, se aproxima dela e beija o topo de sua cabeç
SilviaO escritório da presidência do Grupo Lambertini é imponente. O luxo discreto, a sofisticação nos detalhes... Mas nada me desconcerta mais do que os dois homens que estão diante de mim. Darlan, que me trouxe até aqui, e David Lambertini, o próprio presidente do império. A simples presença deles carrega um peso que poucos suportariam.— Sente-se, Silvia — David aponta para a cadeira à minha frente.Faço o que ele manda, tentando ignorar o nó no meu estômago. Sei que não estou aqui para qualquer coisa. Meu sobrenome pode ser forte na máfia, mas nesse escritório, tudo o que importa é minha competência.— Vamos direto ao ponto. — David entrelaça os dedos sobre a mesa. — Você vai entrar como coordenadora de operações. No início, seu trabalho será mais de observação. Preciso que identifique falhas, entenda o caos e descubra onde está o problema.— E, principalmente — Darlan se inclina, o olhar fixo em mim. — Descobrir quem está roubando.Minha respiração vacila por um segundo. Não so
Silvia CarusoEntrei no prédio imponente do Grupo Lambertini com a cabeça erguida, mas por dentro, um furacão de pensamentos se agita. Estou prestes a assumir um cargo de extrema responsabilidade em um ambiente que, à primeira vista, parece caótico. A máfia não me preparou tão bem assim para lidar com pressão, confesso que o meu pai me poupou de muita coisa, mas será que estou pronta para isso? Respiro fundo, ajusto a postura e sigo até o elevador. Meu destino é a presidência.As portas metálicas se abrem e acompanho os irmãos exalam poder e domínio sobre tudo ao redor. David inclina levemente a cabeça, avaliando-me com aqueles olhos afiados, enquanto Darlan sorri de canto, sempre carregado de um charme perigoso.— Pronta para o caos? — Darlan brinca, mas sua pergunta carrega um peso real.— Se não estivesse, não estaria aqui — respondo firme, sem desviar o olhar.David assente em aprovação e faz um gesto para que eu o siga. Caminhamos pelos corredores amplos e sofisticados até chegar