DavidFingir que não estou aqui? Nem pensar. Lizandra pode tentar me ignorar, mas sabe que não sou do tipo que se deixa de lado tão facilmente.— Lizandra.Nada. Nem um olhar.— Me acompanhe.Ela revira os olhos, pegando os livros como se eu fosse um incômodo passageiro.— David, me deixa em paz.Me inclino ligeiramente, deixando minha voz baixa, mas firme.— Não quer mesmo discutir aqui. Sabe que precisa de silêncio na biblioteca.Vejo a fúria crescer nos olhos dela. O ódio. E, ainda assim, aquele arrepio involuntário que denuncia o que ela não quer admitir. Ela segura os livros com força, os dedos apertados nas capas, e me encara. Sei que venci essa.— Pisa leve. — Provoco, deixando um sorriso sarcástico escapar.Ela anda na minha frente, pisando firme, contrariada, enquanto a sigo até uma das salas reservadas. Assim que a porta se fecha, ela se vira, a raiva brilhando em seus olhos.— O que você quer, David? Não é o bastante ter me feito de idi0ta? Agora quer brincar mais um pouco?
David O cheiro de metal e desinfetante toma conta do ambiente assim que atravesso a porta reforçada do subsolo 2 do Sexy Night Club. Não importa quantas vezes eu venha aqui, o contraste entre o caos do club e a precisão cirúrgica do laboratório sempre me pega de surpresa. Tudo brilha em ordem impecável, bancadas limpas, instrumentos organizados com a meticulosidade de um relojoeiro e uma temperatura rigidamente controlada. Os bips constantes das balanças de precisão se misturam ao leve zumbido dos ventiladores industriais.O subsolo 1, logo acima de mim, é o verdadeiro arsenal da organização, um estoque meticulosamente guardado de armas e drogas. Aquela parte é um inferno de munições e pacotes selados, o tipo de lugar onde qualquer passo em falso pode custar caro.Coloco uma cápsula na cafeteira da copa, observando o líquido negro e fumegante preencher meu copo. Estou concentrado no aroma amargo quando escuto o som da porta se abrindo. Helena entra sem perceber a minha presença, a te
LizandraMeu peito aperta de um jeito que nunca senti antes. Meus dedos tremem levemente enquanto ajusto a blusa, tentando manter a respiração sob controle. Eu nem sei por que estou tão nervosa. Talvez seja o peso da incerteza, do desconhecido. Ou talvez seja o medo de que essa tontura constante seja algo muito maior do que estou preparada para lidar.Chego ao hospital e respiro fundo antes de entrar. O cheiro característico do local me atinge, e um calafrio percorre a minha espinha. Não gosto de hospitais de humanos, prefiro um hospital veterinário. Mas ali, entre aqueles corredores brancos, está a minha mãe. Elaine me vê de longe e sorri calorosamente.— Minha filha! Que bom que veio. A doutora Selma é maravilhosa, você vai estar em ótimas mãos.Sorrio de leve, tentando me acalmar. Minha mãe sempre foi o meu porto seguro, e vê-la ali, tão acolhedora, me conforta um pouco. Conversamos um pouco enquanto espero ser chamada. Ela parece animada, mais do que o normal, como se soubesse de
NinaO barulho dos talheres ecoa pelo restaurante sofisticado, misturando-se ao burburinho das conversas discretas ao redor. Mas nada disso importa tanto quanto o homem à minha frente.Angel Santiago.Seu olhar afiado me estuda como se tentasse decifrar cada expressão minha. Eu tento não transparecer, mas estou tensa. Sei que ele percebe.— Gostou do lugar? — sua voz grave me traz de volta ao momento.— Sim, é muito bonito. Ele desliza os dedos suavemente pelo meu braço. Meu corpo reage antes da minha mente. Me arrepio e odeio como ele nota isso. O sorriso satisfeito que surge em seus lábios me deixa inquieta.— Está tímida hoje? — ele provoca.Engulo em seco. Não sei se gosto do jogo que ele parece estar jogando. Ou talvez goste mais do que deveria.O garçom se aproxima, e Angel mantém a expressão serena, como se nada tivesse acontecido.— Pode trazer uma cerveja bem gelada para mim e uma Coca-Cola com bastante limão e pouco gelo para ela. — Ele nem me pergunta o que quero, mas, ace
LizandraO cheiro do café fresco se mistura ao som das vozes na mesa, mas minha mente está longe dali. Meus dedos deslizam preguiçosamente sobre a borda da xícara, enquanto minha cabeça lateja com a confusão que me assombra nos últimos dias. Não sei se é o cansaço da gravidez ou o peso de tudo o que tenho vivido, mas sinto como se estivesse caminhando em uma corda bamba prestes a arrebentar. E então, a porta se abre com um estrondo, arrancando-me dos meus devaneios.— Que absurdo! — resmunga Daniel, jogando a mochila sobre uma cadeira. — Como é que eu esqueço que dei folga para a cozinheira? Não tem nada pronto para o café na minha casa!Meu pai solta uma gargalhada, batendo na mesa.— Então senta aí, rapaz. Se serve! Ou acha que vamos te deixar morrer de fome?Daniel revira os olhos, mas logo se senta, servindo-se de café e algumas torradas. Minha mãe, sempre preocupada, passa manteiga em um pão e empurra o prato para ele. Conversamos trivialidades, o que é um alívio. Nada sobre Davi
DarlanMeu mundo não é feito de surpresas. É feito de estratégias, poder e controle. Mas hoje, pela primeira vez em muito tempo, sinto o chão fugir dos meus pés. A verdade pesa sobre mim como chumbo quente, e sei que não posso segurar isso por muito tempo. David precisa saber. Eu sei que eles estão sofrendo, mas depois do momento na faculdade, ficou claro para mim que Lizandra ainda não está pensando em falar nada.Estaciono o carro na entrada da mansão no exato momento em que vejo David sair de seu carro. Ele está tenso, o olhar perdido, os ombros rígidos. Algo nele me diz que não será uma conversa fácil, não imagino como ele reagirá a isso.— Precisamos conversar. — Minha voz sai firme, sem espaço para rodeios.David me encara por um instante, depois assente com a cabeça e segue para dentro. Subimos juntos até seu quarto, o silêncio carregado de uma tensão sufocante. Ele fecha a porta atrás de nós e se joga na poltrona ao lado da cama, esfregando o rosto com as mãos.— Eu já sei. —
DavidConteódo sensívelMeu humor hoje beira o inominável. Estou à beira de explodir e, sinceramente, se alguém ousar cruzar meu caminho da forma errada, será um convite direto para o inferno. Sento-me na cadeira de couro da minha sala na presidência do Grupo Lambertini, tentando revisar um contrato, mas as letras dançam diante dos meus olhos. Não é o trabalho que me irrita, é a sensação de impotência. Lizandra... sempre ela, e agora meu filho, sempre a confusão na minha mente, a dor, o desejo. Ela está ali, latejando no fundo da minha mente, e isso me corrói.O celular vibra na mesa. Pego o aparelho e vejo o nome de Darlan na tela. Meu dedo desliza pelo vidro e a notificação se abre. Uma mensagem curta, mas o suficiente para fazer um sorriso sombrio surgir no meu rosto.Darlan: Pegamos o traidor. O infeliz que estava trocando os whiskys importados por falsificados na Gemini. Recebeu as boas-vindas e te aguarda no galpão.Eu me recosto na cadeira, girando o celular entre os dedos. Fi
DerickRaíssa... bem, minha irmãzinha não tem ideia do quanto sou capaz de protegê-la. Ou melhor, do que sou capaz de fazer para mantê-la longe de mãos erradas.Estou observando. Sempre estou.Quando a vejo se arrumando para sair, caprichando no visual com um brilho diferente nos olhos, já sei, tem alguém por trás disso. E não demoro para descobrir quem. Daniel Malta. Filho da putta.Raíssa manda uma mensagem para ele, e o desgraçado responde rápido demais. Interesse demais. Se arruma demais. Tudo grita perigo.Ela sai de casa radiante, se despede da nossa mãe como se fosse um dia qualquer, mas eu sei que não é. Eu conheço minha irmã. Sei quando está tramando alguma coisa. E se tem um nome que não quero ligado ao dela, é o de Daniel Malta.Dirijo até o shopping sem ser notado por ela. Eu sou bom nisso.Ela caminha entre as vitrines, até que ele aparece. E pelo jeito que sorri para ela, sei que esse desgraçado já imagina como minha irmã ficaria debaixo dele. Engulo a vontade de quebr