DarlanMeu instinto me diz que algo está errado. O silêncio de David é mais ensurdecedor do que qualquer briga entre nós, e o fato de ele ter desaparecido ontem sem aviso me deixa antenado. Meu irmão pode ser ranzinza, mas não irresponsável. Ele sempre aparece, sempre está no controle. Hoje, não. E isso me deixa inquieto.Pego meu celular e abro o aplicativo de rastreamento que mantemos, sim, somos paranoicos, e com razão. Vejo o ponto piscando na cobertura. Estranho. David nunca passa tanto tempo lá sozinho, especialmente sem me avisar. Desconfio. Decido verificar o que está acontecendo e, com um toque, ativo remotamente a câmera frontal do celular dele. A imagem que surge me mostra a sala da cobertura, o teto. Sem pensar duas vezes, pego as minhas duas pistolas no cofre do quarto. Algo não está certo, e vou descobrir o que é.Ao chegar à cobertura, destranco a porta com minha chave e entro com a minha arma em punho, atento a cada detalhe. O cheiro de álcool é forte, e a cena à min
LizandraNão posso apagar as memórias. Mas posso guardá-las em um canto seguro, onde não doam tanto. Essa é a primeira coisa que penso ao acordar. Meu corpo está mais leve hoje, mas minha mente ainda carrega o peso das últimas horas. Pego o meu celular sem pensar e, como um reflexo inevitável, abro a galeria. Lá estão as fotos dele, nossas. Do sorriso torto e provocante que sempre fazia meu coração bater mais forte. Do jeito como ele me olhava, como se o mundo inteiro parasse e só existíssemos nós dois.Meus dedos deslizam pela tela, parando em uma foto específica. Ele está rindo, segurando meu rosto com as mãos grandes e firmes. Acaricio a imagem, meus dedos traçando os contornos do rosto dele. Uma lágrima ameaça escorrer, mas eu a seguro. Não vou chorar. Não mais.— Foi bom enquanto durou — murmuro, a minha voz soando mais forte do que eu esperava.Apagar essas fotos? Nem pensar. Não ainda. Não estou pronta para apagar as provas de que, por um momento, ele foi meu. Em vez disso, dec
LizandraO peso do olhar do meu pai é mais forte do que qualquer lembrança que tenho do David Lambertini. Quando abro a porta de casa e me deparo com Dante Hurst, é como se ele fosse capaz de enxergar através de mim. Minha alma treme. Tento disfarçar, mas falho miseravelmente, e ele percebe. Sempre percebe.— O que está acontecendo, Lizandra? — ele pergunta com a voz firme, mas carregada de preocupação. — Você não está mais com aquele rapaz, está?Eu congelo. Tento segurar as lágrimas, mas meus olhos já estão marejados. Não quero que ele saiba, não quero que ninguém saiba. Mas é inútil mentir para Dante. Ele apenas me encara, a cabeça levemente inclinada, como se estivesse esperando que eu desmoronasse.— Me desculpe, filha — ele diz, suavizando o tom ao notar meu estado. — Não quis ser tão direto. Venha aqui.É o suficiente para quebrar minhas defesas. Corro para os braços dele como uma criança, e então tudo desaba. Choro de soluçar, as palavras presas na garganta, enquanto ele me en
Dante HurstNinguém me avisou que hoje seria o dia em que eu quase perderia o controle. Mas quando vi Lizandra ontem à noite, com os olhos inchados de tanto chorar, a voz trêmula e um sorriso frágil tentando disfarçar a dor, algo dentro de mim se quebrou. Minha filha, a minha menina, estava destruída. E agora estou aqui, no estacionamento do Grupo Lambertini, com o sangue fervendo, os punhos cerrados e a certeza de que vou arrancar explicações de David Lambertini, nem que eu tenha que enterrá-lo para isso.Ele sai do prédio ao lado de Darlan, os dois andando com aquela postura arrogante, como se o mundo lhes pertencesse. Meu olhar está fixo em David, meu alvo. Quando ele me vê, a expressão de confiança vacila por um segundo, mas é tarde demais. Meu punho já está se chocando contra o rosto dele.David tropeça, cambaleia e cai no chão. O impacto é satisfatório, mas não o suficiente para apagar a raiva que queima em mim. Os guarda costas de ambos avançam rapidamente, Lucca, de David, e
DavidMinha cabeça é um turbilhão enquanto Darlan me arrasta pela gravata até a cobertura. Não digo nada, não protesto. Estou exausto. O gosto metálico de sangue na boca é o menor dos incômodos comparado ao peso esmagador das palavras de Dante, que ecoam na minha mente sem descanso. Cada palavra foi um golpe que me atingiu mais forte do que qualquer soco, um lembrete cruel do que eu fiz, do que eu destruí.Quando a porta da cobertura se fecha com um estrondo, Darlan gira nos calcanhares e me encara. Seu olhar é como uma lâmina. Ele está pronto para me esfolar vivo, e, honestamente, não sei se consigo enfrentá-lo agora.— Fala, David. O que tá acontecendo? — exige, a voz cheia de fúria e frustração.Eu tento respirar fundo, tento encontrar as palavras, mas é inútil. Há um nó na minha garganta tão apertado que parece que estou sufocando.— Porrah, Darlan, eu... eu não sei lidar com isso! — explodo finalmente, minha voz falhando.— Então começa falando! Você tá se destruindo e acha que v
LizandraMinha cabeça está tão cheia que mal ouço o que Maia está dizendo, mas continuo balançando a cabeça como se estivesse prestando atenção. A verdade é que, desde aquele dia, minha mente tem sido um campo de batalha. E cada vez que penso que finalmente consegui enterrar o que aconteceu com David Lambertini, a memória dele volta para me atormentar como um fantasma teimoso.Estamos na biblioteca, rodeadas por pilhas de livros, estudando terapêutica. Maia é o completo oposto de mim, a garota é barulhenta, impaciente, cheia de energia. Ela se jogga para trás na cadeira com um suspiro exagerado.— Chega! Eu não aguento mais olhar para esses livros. Vamos falar de coisa boa, tipo... você! — ela diz, cruzando os braços e me olhando com aquele brilho curioso nos olhos.— Eu? O que tem eu? — pergunto, erguendo uma sobrancelha.— Ah, não se faz de desentendida. Quero saber do David. Vocês ainda tão nessa ou colocou o Lambertini no passado?Eu suspiro, largando a caneta na mesa e esfregando
DavidO som do último aviso do professor passa despercebido enquanto fecho o livro e guardo meu material. Meus pensamentos não estão na aula, tampouco na prova que tenho daqui a alguns dias. Estão nela. Lizandra. Desde o dia em que tudo implodiu entre nós, ela tem sido a constante na minha mente. Algo entre arrependimento e frustração me consome, uma sensação que nunca experimentei antes.Pego o celular no bolso e abro o aplicativo espião. Sei que deveria deletar isso, talvez seja doentio, mas não consigo. Não com Lizandra. Meu peito aperta ao ver a localização, na biblioteca. Claro que está lá, com aquele jeito certinho de sempre.Não penso muito antes de pegar minhas coisas e ir direto para lá. Decido que vou fingir que é coincidência. O que mais poderia fazer? Ela mal olha na minha cara desde que terminamos, e eu odeio isso. Sou David Lambertini. O homem mais disputado da faculdade, o que todas querem... menos ela.Quando chego, paro próximo à entrada e respiro fundo. E então a vej
LizandraEu nunca imaginei que contar tudo a alguém pudesse ser tão difícil. Não é como se eu não confiasse em Daniel, pelo contrário, ele é a pessoa mais leal e verdadeira que conheço. Mas colocar em palavras o que vivi com David Lambertini é reviver cada toque, cada palavra cruel, cada gesto que me deixou sem chão. Ainda assim, aqui estou eu, sentada diante de Daniel, prestes a expor o que talvez tenha sido a experiência mais confusa e dolorosa da minha vida.— Aconteceu Dan— começo, com a voz baixa, encarando as minhas mãos trêmulas. — E ele foi... gentil, carinhoso. Me fez sentir coisas que eu nem sabia que existiam.Daniel apenas me observa, os olhos fixos nos meus, mas não diz nada. Sua expressão é um misto de paciência e tensão, como se ele já esperasse que a história não tivesse um final feliz.— A primeira vez foi... especial, sabe? — continuo, sentindo meu rosto queimar. — Mas então, aconteceu de novo, e... quando acabou, ele só disse: “Já tive o que queria, Lizandra, pode i