AliceO cheiro de ferrugem e sangue velho impregna o ar úmido do porão. A adrenalina percorre minhas veias como um veneno viciante, é assim que o poder deve ser, ardente e intoxicante. O som metálico dos nossos passos ecoa nas paredes de concreto, um aviso silencioso de que as gêmeas Lambertini estão no comando. Somos uma tempestade que ninguém viu chegando.— Pronta, Alicia? — sussurro, um meio sorriso dançando em meus lábios.Minha irmã apenas acena, os olhos tão afiados quanto as lâminas presas às nossas botas. Somos duas figuras de puro controle, usando uma maquiagem sutil que realça nossa beleza feroz. Até nossa vaidade é uma arma.— Irmã, posiciona a câmera, verifica se está na posição correta.Em seguida, me aproximo das câmeras instaladas para gravar nossa estreia no submundo mafioso. — Derick, se quiser pode vir, diga ao papai e aos nossos irmãos que podem assistir, mas sem interferir. Essa é a nossa condição!Não demora para ouvirmos passos. A cavalaria chega, papai, David
AliceO ambiente continua frio, mas uma fina camada de suor escorre pela minha nuca. O homem diante de nós, o tal Frederico, ainda respira com dificuldade. Eu seguro a minha faca como se fosse uma extensão do meu braço, elegante, precisa, mortal.— Frederico, querido — sorrio suavemente, sabe o que acontece quando um pássaro canta errado?Alicia, ao meu lado, ri baixinho.— A gente arranca as asas dele! — completa, passando a lâmina com delicadeza pelo rosto dele, sem pressa.David está ali, encostado na parede, observando como um mestre que avalia suas aprendizes. Ao seu lado, Don Vittorio, Derick e Darlan mantêm uma expressão impassível, mas sei que estão analisando cada movimento nosso. Querem saber até onde podemos ir.David dá um passo à frente, a voz firme.— Alice, Alicía, vamos começar. Vou guiá-las, prestem atenção.O coração martela em meu peito, não de medo, mas de excitação. Alicía me olha com um brilho no olhar que só nós duas entendemos. Estamos prontas.— Cada articulaç
DarlanO telefone vibra no meu bolso e o nome de Silvia aparece na tela. Meu estômago se contrai por um segundo, mas disfarço. David está ao meu lado e, pelo jeito que ele me encara, já sabe exatamente quem está me ligando. Filho da mãe tem faro para essas coisas.— Atende logo, Darlan. — ele diz, arqueando a sobrancelha. — E depois resolve logo essa bagunça, seu bastardo.Reviro os olhos e atendo. A voz vem urgente do outro lado da linha.— Preciso de uma reunião com você e David. É sério.— Sobre o quê?— Prefiro falar pessoalmente. Encontrem-me na nossa sede em trinta minutos.O barulho da chamada encerrada me deixa com um gosto amargo na boca. David se recosta no carro e cruza os braços, enquanto acendo um cigarro e dou um longo trago.— Você vai. Eu quero apenas a atualização, depois que vocês aplacarem os instintos.O desgraçado sabe que eu iria de qualquer forma, mas faz questão de reforçar. Pior que ele tem razão sobre uma coisa, preciso resolver essa situação com Silvia, não
DavidA noite cai sobre a mansão Lambertini como um véu de seda, macio e insinuante, mas nada é mais envolvente do que a presença dela. Lizandra. A mulher que carrega não só os meus filhos em seu ventre, mas também cada batida do meu coração. E, ainda assim, toda vez que a olho, uma faísca percorre meu corpo como se fosse a primeira vez, como se a minha alma reconhecesse a dela antes mesmo de nossos olhos se encontrarem.Estamos à mesa, todos reunidos, meu irmão Darlan, as gêmeas Alice e Alicia, a minha mãe e o meu pai. A conversa flui em meio a risadas ocasionais, o tilintar de talheres contra porcelana fina preenchendo os breves silêncios. E Lizandra… ah, Lizandra, ela brilha. Não só pela beleza serena, mas pela forma como se insere na dinâmica da família Lambertini.Quando terminamos o jantar, Liana se levanta para recolher a louça. Ninguém pede, ninguém espera… mas Lizandra, sem hesitar, a acompanha. Ela se levanta com aquela graciosidade natural, a barriga levemente saliente denu
DarlanO barulho dos motores das retroescavadeiras ao longe é como um zumbido constante, um lembrete do império que administramos com punho de ferro. O cheiro de concreto fresco se mistura ao aroma do tabaco que queimo entre os dedos. Estou encostado no capô do meu carro, olhando o movimento dos funcionários no canteiro de obras, mas minha mente está a quilômetros daqui.David me pediu há para resolver uma situação que está corroendo nossos lucros. Dois engenheiros, Aníbal e José, e dois encarregados, Enrico e Delfin, têm desviado material e até alugado maquinário da construtora para meter o dinheiro no bolso. O problema? O mestre de obras. Um homem inocente, sempre colado nos quatro como uma sombra, sem saber que trabalha lado a lado com os ratos. Não posso simplesmente eliminá-los na frente dele, e também não sou um monstro ao ponto de matar quem não deve. E torturar alguém enquanto ele assiste? Não. Ainda temos um código, por mais sujo que nosso mundo seja.— Darlan, quer que eu ch
DerickHoje é dia de festa!O sangue lateja nas minhas têmporas, como um tambor surdo anunciando o que está por vir. O cheiro de graxa e óleo diesel do pátio das máquinas é quase doce pra mim, cheiro de poder, de controle absoluto. Finalmente, depois de semanas farejando esses ratos, chegou a hora. Aníbal, José, Enrico e Delfin... quatro homens que tiveram a ousadia de roubar dos Lambertini e ainda tentaram ameaçar a estagiária. Ah, mas eles não sabiam quem ela era. Não imaginavam que a doce e inocente Sílvia é o amorzinho do Darlan. Ou melhor... a mulher que povoa os pensamentos ocultos dele.Já conferi tudo no Delírius Insanus, o local está preparado. O plano é simples, dois caras com vontade de bater e quatro idiotas sem noção do que está prestes a acontecer. Vou direto para a sede do grupo Lambertini. Darlan já está lá, provavelmente no departamento de operações, impaciente, esperando o momento de começar a nossa festa.Saio devagar, aproveitando cada segundo da expectativa. Por u
DarlanA betoneira parada no pátio me faz pensar e uma ideia sórdida cruza a minha mente, mas engulo o pensamento por enquanto, há tempo para tudo. Primeiro, vamos nos divertir.Os quatro frouxos estão diante de mim, suando, tremendo, e tentando manter uma pose que já desmoronou há tempos. Aníbal, José, Enrico e Delfin, todos ladrões, traidores que tiveram a audácia de roubar da máfia, os Lambertini. E ainda tiveram o desplante de tentar envolver a Sílvia, achando que ela era só uma estagiária inocente, sem saber que era a minha mulher.Meu sangue ainda ferve ao lembrar das palavras nojentas de Aníbal sobre ela. O cheiro de medo deles me excita mais do que qualquer coisa.— Derick, resolve isso — digo, a voz mais controlada do que sinto. — Se alguém falar de Sílvia de novo, eu dou um tiro na cabeça!Saio da sala, deixando a raiva borbulhando dentro de mim. Encontro Sílvia encostada na parede do corredor, pálida e tensa. Seus olhos estão arregalados, ela ouviu tudo.— Você nunca fez n
DarlanO som das máquinas ao fundo parece distante, abafado pela expectativa do que está prestes a acontecer. Hoje, não há negócios, não há reuniões, não há contratos a serem assinados. Hoje é um dia de acerto de contas. Um dia de vingança.Os quatro miseráveis estão diante de mim, nus, tremendo, suas peles já marcadas pelas primeiras doses de dor. O medo é quase palpável, exala deles como um perfume amargo. Enrico, Delfin, José e Aníbal — quatro miseraveis, quatro traidores, quatro cadáveres ambulantes.— Sentem-se — ordeno, apontando a chapa de ferro em cima do ralo. — Unidos. Agora.Eles obedecem, sem discutir. Aço frio contra pele quente, e eu já imagino a cena que está por vir. Encaixo as algemas, unindo os quatro como um amontoado de carne apavorada. O silêncio deles é uma súplica muda, mas não estou interessado em piedade hoje.Jogo a água, lenta, implacável, cada gota escorrendo pela chapa, preparando o terreno para o espetáculo. Com um movimento calculado, ligo o fio elétrico