Quanto mais Teófilo queria que o tempo não passasse rapidamente, mais rápido ele parecia fluir.Na noite do sexto dia, Teófilo abraçou Patrícia e demorou para adormecer.Patrícia sabia o que ele estava pensando, mas permaneceu em silêncio.A vida é um ciclo constante de reencontros, despedidas, quedas e recuperações, um processo de crescimento contínuo.Ninguém permanece parado para sempre.Ao amanhecer, após Patrícia preparar o café da manhã, Lucas e Gabriel, que não eram vistos há dias, apareceram silenciosamente à porta.Ambos estavam visivelmente mais magros e com olheiras profundas, sinais de dias intensos.— Sra. Patrícia.Curiosa, Patrícia perguntou:— Não era para saírem amanhã?— Foi o chefe quem nos mandou vir. Ele está se recuperando bem dos ferimentos e vai receber alta antes do previsto. Já organizamos tudo para a alta.Patrícia olhou para trás, para Teófilo, que estava de terno, como sempre, sem mostrar sinais de ter sido ferido.As feridas mais superficiais em seu corpo
Assim que essas palavras foram ditas, as lágrimas de Patrícia também começaram a cair. Até hoje, ela se lembra de quando entregou seu pedido de desistência da escola, e o professor, que acabara de sair da sala de cirurgia ainda vestindo a roupa cirúrgica e segurando um bisturi, correu para a escola. Inicialmente, ele pensou que algo sério tivesse acontecido. Os negócios da família de Patrícia estavam em declínio? Ou alguém a ameaçava? Ele sugeriu que, se fosse uma questão de dinheiro, poderia solicitar uma bolsa de estudos integral para ela e até levá-la para o centro cirúrgico. Se fosse uma questão de sua família querer que ela mudasse de carreira para assumir os negócios da família, ele negociaria com João. Naquele dia, ele chegou suando e ofegante, dizendo:— Patrícia, não seja boba, você tem um futuro brilhante pela frente. Se tiver algum problema, conte para o professor, farei o possível para te ajudar, tudo bem? — Quando Patrícia disse a Teófilo que estava desistindo apenas p
Vítor sempre foi duro nas palavras, mas gentil no coração. — Você sabe quanto tempo fui acusado por Michel? Ele me perseguiu com uma faca de matar galinhas por três quilômetros antes de parar. Se não fosse por eu ter dito que você planejava devolver Patrícia a ele, eu teria morrido ali mesmo.— Obrigado pela ajuda, Vítor.Vítor acenou com a mão:— Não diga isso. Eu só concordei em ajudá-lo porque Patrícia tem habilidade. Se fosse inútil, não perderia meu tempo. Mas você realmente está disposto a deixá-la ir? Não jogue esse jogo de arrependimento em poucos dias. Sou velho demais e não tenho tempo para brincadeiras com jovens.— Fique tranquilo, Vítor. Eu era imaturo naquela época, pensava que agindo assim estava fazendo o bem para ela. Agora entendi que amar alguém não é impedir seu crescimento, mas sim ajudá-la a crescer.— Você já deveria ter percebido isso antes, não estaria nesta situação agora. Mas ainda não é tarde, jovem. Admitir um erro é um passo para o futuro, que ainda é lo
Ela rapidamente abriu a porta do carro, pronta para descer, mas Teófilo segurou sua mão:— Paty, uma vez que entregamos ele ao instrutor, não devemos interferir no processo de treinamento. Aqui, as regras são fundamentais. Você pode vê-lo, mas apenas após ele completar todos os exercícios com sucesso.Patrícia encostou no vidro, observando enquanto um homem alto se aproximava de Diego e estendia a mão, como se perguntasse como ele estava ou se precisava descansar. Devido à identidade especial de Diego, o instrutor oferecia a ele um tratamento diferenciado. Diego recusou a ajuda do instrutor:— Eu... Eu consigo sozinho. Suas pequenas mãos se apoiaram na neve, e ele se levantou lentamente, pouco a pouco. Tão pequeno, mas exibindo uma força imensa. Ele se levantou e começou a correr em direção ao grupo, se esforçando para alcançar a maioria. Patrícia não sabia o que ele estava pensando naquele momento, mas sua pequena figura era persistente, se levantando imediatamente após cai
Para Diego, isso representava um desafio colossal. Ele ainda era muito jovem e enfrentava golpes devastadores tanto físicos quanto psicológicos. Um menino alto e magro estava de pé ao lado de alguns outros, aparentando ser o líder do grupo. Sua estrutura esquelética era evidente, e suas clavículas salientes indicavam dias de desnutrição, mas ele não possuía a inocência típica de alguém de sua idade. Seus olhos faziam Patrícia pensar no líder de uma alcateia de lobos, repletos de ferocidade e autoridade. — Este garoto se chama Carlos. Apesar de jovem, ele é um órfão recolhido do campo de batalha do norte. Quando o encontraram, ele sobrevivia se alimentando de cadáveres, disputando comida até com os urubus. Patrícia sentiu náuseas ao ouvir isso: — Ele... Comia carne humana! — Para ser exato, ele consumia carne em decomposição. Se uma pessoa precisa sobreviver, ela comerá qualquer coisa, e Carlos é um nome que ele escolheu para si mesmo. Ele nunca teve pais e, quando foi encont
Carlos estava furioso, mas, na verdade, ele não pretendia se rebaixar ao nível de uma criança. Chamava Diego de "filho de nobre", enquanto a maioria das crianças ali eram órfãs e pobres. Carlos costumava provocar Diego intencionalmente, simplesmente porque o menino era desobediente e, ao contrário dos outros, se recusava a obedecer a ela mesmo depois de tantos dias. Carlos sempre buscava oportunidades para repreender Diego e, assim, estabelecer sua autoridade diante das outras crianças. Para sua surpresa, Diego era mais teimoso e persistente do que ele imaginava. O menino não apenas se recusava a desistir, mas também lutava com ainda mais fervor, seus olhos brilhando com um espírito indomável. Que tipo de criança era essa? Era tão difícil de lidar!— Pequeno, você está acabado.Carlos disse, erguendo a mão para socar a cabeça de Diego.— Pare!Diego, em desespero, fechou os olhos. Seu corpo frágil era incapaz de resistir.Mas então, uma mão agarrou o pulso de Carlos.Todos olharam
Patrícia não conseguiu ignorar o nervosismo e o pavor em seus olhos. O que ela teria feito para que seu próprio filho sentisse tais emoções por ela?— Desculpe, desculpe. — Patrícia o abraçou e continuou a pedir desculpas incessantemente.Diego não sabia o que fazer:— Como... Você veio até aqui?— Filho, desculpe, mamãe chegou muito tarde.— Mamãe? — Diego parecia sempre duvidar do que ouvia. Patrícia realmente o havia reconhecido?— Filho, antes mamãe não sabia, entendeu errado algumas coisas, mas agora que te encontrei, tudo foi culpa minha.Patrícia abraçou o filho firmemente, as lágrimas desciam loucamente por seu queixo até o pescoço de Diego.Naquele momento, o abraço era o melhor conforto. Teófilo trouxe o remédio:— Paty, aplique a medicação no filho primeiro.Só então Patrícia soltou o filho, com dor ao observar as feridas em seu rosto.— Deve doer muito, né?— Não dói. — Diego a olhava fascinado, como se ela fosse desaparecer num piscar de olhos.Enquanto Patrícia desinfetav
Patrícia percebeu que Diego era extremamente sensível, sempre preocupado com muitas coisas, e, embora difícil de admitir, tinha ainda mais medo de perder. Ela acalmava pacientemente as emoções do filho, repetindo várias vezes o quanto o amava. Também preparou uma refeição deliciosa para ele, e Diego comeu tanto que ficou estufado, mas não queria parar até que Teófilo lhe tirasse os talheres das mãos. Ele sabia que não poderia comer a comida feita pela mãe todos os dias.— Diego, vem aqui. — Patrícia estava sentada ao lado de uma janela de vidro e o chamou.Diego rapidamente se aproximou e foi acolhido em seus braços. Dali, ele podia ver a bela paisagem lá fora e percebeu que observar o campo de treinamento habitual de um ângulo diferente parecia completamente novo, provavelmente porque sua mãe estava com ele. Patrícia sorriu levemente:— Seu nome foi escolhido por mim, é uma combinação dos nomes dos seus pais, você nasceu cercado pelo meu amor.— Mamãe devia amar muito o papai, né