Vítor sempre foi duro nas palavras, mas gentil no coração. — Você sabe quanto tempo fui acusado por Michel? Ele me perseguiu com uma faca de matar galinhas por três quilômetros antes de parar. Se não fosse por eu ter dito que você planejava devolver Patrícia a ele, eu teria morrido ali mesmo.— Obrigado pela ajuda, Vítor.Vítor acenou com a mão:— Não diga isso. Eu só concordei em ajudá-lo porque Patrícia tem habilidade. Se fosse inútil, não perderia meu tempo. Mas você realmente está disposto a deixá-la ir? Não jogue esse jogo de arrependimento em poucos dias. Sou velho demais e não tenho tempo para brincadeiras com jovens.— Fique tranquilo, Vítor. Eu era imaturo naquela época, pensava que agindo assim estava fazendo o bem para ela. Agora entendi que amar alguém não é impedir seu crescimento, mas sim ajudá-la a crescer.— Você já deveria ter percebido isso antes, não estaria nesta situação agora. Mas ainda não é tarde, jovem. Admitir um erro é um passo para o futuro, que ainda é lo
Ela rapidamente abriu a porta do carro, pronta para descer, mas Teófilo segurou sua mão:— Paty, uma vez que entregamos ele ao instrutor, não devemos interferir no processo de treinamento. Aqui, as regras são fundamentais. Você pode vê-lo, mas apenas após ele completar todos os exercícios com sucesso.Patrícia encostou no vidro, observando enquanto um homem alto se aproximava de Diego e estendia a mão, como se perguntasse como ele estava ou se precisava descansar. Devido à identidade especial de Diego, o instrutor oferecia a ele um tratamento diferenciado. Diego recusou a ajuda do instrutor:— Eu... Eu consigo sozinho. Suas pequenas mãos se apoiaram na neve, e ele se levantou lentamente, pouco a pouco. Tão pequeno, mas exibindo uma força imensa. Ele se levantou e começou a correr em direção ao grupo, se esforçando para alcançar a maioria. Patrícia não sabia o que ele estava pensando naquele momento, mas sua pequena figura era persistente, se levantando imediatamente após cai
Para Diego, isso representava um desafio colossal. Ele ainda era muito jovem e enfrentava golpes devastadores tanto físicos quanto psicológicos. Um menino alto e magro estava de pé ao lado de alguns outros, aparentando ser o líder do grupo. Sua estrutura esquelética era evidente, e suas clavículas salientes indicavam dias de desnutrição, mas ele não possuía a inocência típica de alguém de sua idade. Seus olhos faziam Patrícia pensar no líder de uma alcateia de lobos, repletos de ferocidade e autoridade. — Este garoto se chama Carlos. Apesar de jovem, ele é um órfão recolhido do campo de batalha do norte. Quando o encontraram, ele sobrevivia se alimentando de cadáveres, disputando comida até com os urubus. Patrícia sentiu náuseas ao ouvir isso: — Ele... Comia carne humana! — Para ser exato, ele consumia carne em decomposição. Se uma pessoa precisa sobreviver, ela comerá qualquer coisa, e Carlos é um nome que ele escolheu para si mesmo. Ele nunca teve pais e, quando foi encont
Carlos estava furioso, mas, na verdade, ele não pretendia se rebaixar ao nível de uma criança. Chamava Diego de "filho de nobre", enquanto a maioria das crianças ali eram órfãs e pobres. Carlos costumava provocar Diego intencionalmente, simplesmente porque o menino era desobediente e, ao contrário dos outros, se recusava a obedecer a ela mesmo depois de tantos dias. Carlos sempre buscava oportunidades para repreender Diego e, assim, estabelecer sua autoridade diante das outras crianças. Para sua surpresa, Diego era mais teimoso e persistente do que ele imaginava. O menino não apenas se recusava a desistir, mas também lutava com ainda mais fervor, seus olhos brilhando com um espírito indomável. Que tipo de criança era essa? Era tão difícil de lidar!— Pequeno, você está acabado.Carlos disse, erguendo a mão para socar a cabeça de Diego.— Pare!Diego, em desespero, fechou os olhos. Seu corpo frágil era incapaz de resistir.Mas então, uma mão agarrou o pulso de Carlos.Todos olharam
Patrícia não conseguiu ignorar o nervosismo e o pavor em seus olhos. O que ela teria feito para que seu próprio filho sentisse tais emoções por ela?— Desculpe, desculpe. — Patrícia o abraçou e continuou a pedir desculpas incessantemente.Diego não sabia o que fazer:— Como... Você veio até aqui?— Filho, desculpe, mamãe chegou muito tarde.— Mamãe? — Diego parecia sempre duvidar do que ouvia. Patrícia realmente o havia reconhecido?— Filho, antes mamãe não sabia, entendeu errado algumas coisas, mas agora que te encontrei, tudo foi culpa minha.Patrícia abraçou o filho firmemente, as lágrimas desciam loucamente por seu queixo até o pescoço de Diego.Naquele momento, o abraço era o melhor conforto. Teófilo trouxe o remédio:— Paty, aplique a medicação no filho primeiro.Só então Patrícia soltou o filho, com dor ao observar as feridas em seu rosto.— Deve doer muito, né?— Não dói. — Diego a olhava fascinado, como se ela fosse desaparecer num piscar de olhos.Enquanto Patrícia desinfetav
Patrícia percebeu que Diego era extremamente sensível, sempre preocupado com muitas coisas, e, embora difícil de admitir, tinha ainda mais medo de perder. Ela acalmava pacientemente as emoções do filho, repetindo várias vezes o quanto o amava. Também preparou uma refeição deliciosa para ele, e Diego comeu tanto que ficou estufado, mas não queria parar até que Teófilo lhe tirasse os talheres das mãos. Ele sabia que não poderia comer a comida feita pela mãe todos os dias.— Diego, vem aqui. — Patrícia estava sentada ao lado de uma janela de vidro e o chamou.Diego rapidamente se aproximou e foi acolhido em seus braços. Dali, ele podia ver a bela paisagem lá fora e percebeu que observar o campo de treinamento habitual de um ângulo diferente parecia completamente novo, provavelmente porque sua mãe estava com ele. Patrícia sorriu levemente:— Seu nome foi escolhido por mim, é uma combinação dos nomes dos seus pais, você nasceu cercado pelo meu amor.— Mamãe devia amar muito o papai, né
Diego gostava muito de ouvir Patrícia reclamar sobre Teófilo, ela realmente era quem mais o entendia neste mundo. Ao contrário de quando estava com Mariana, onde ele mais falava era sobre como agradar Teófilo para que ele ficasse mais tempo.— Mas se papai é tão ruim, como mamãe poderia gostar dele?Patrícia respondeu rispidamente:— Eu não enxergava quem ele era, filho. Você sabe quantos homens cortejavam sua mãe naquela época? Eram tantos quanto os peixes num grande rio, e sua mãe foi enganada por aquele rosto do seu pai.— Se mamãe tivesse casado com outro, então eu não existiria, nem meus irmãos. — Disse a criança, desapontada.Patrícia rapidamente mudou de tom:— Seu pai era bom no passado, ele também tratava bem a mamãe. Antes de você nascer, mamãe era muito feliz todos os dias, felizmente aguardando sua chegada.— E agora? Papai ainda trata bem a mamãe, eu sei que ele faz muitas coisas para proteger mamãe.— O passado é passado, e o presente é agora. O que posso prometer, não i
— Mamãe, eu vou obedecer, não vou mais te deixar zangada, por favor, não vá embora. Você pode ficar aqui comigo?Juliana a empurrou e, com isso, ela caiu no chão com força. Mesmo assim, mancando, ela seguiu Juliana, implorando incessantemente atrás do carro para que Juliana voltasse. Naquela hora, tinha apenas um pensamento: embora Juliana fosse geralmente distante, ela era sua mãe, e se Juliana fosse embora, nunca mais teria uma mãe. Mesmo que Juliana continuasse distante como antes, desde que ficasse, desde que pudesse vê-la todos os dias, isso seria suficiente.Depois que Juliana foi embora, ela pensava em Juliana voltando dia e noite. Todos os dias, depois da escola, via mães esperando para buscar seus filhos, mães entregando refeições aos filhos, pais participando de atividades de pais e filhos, pais segurando as mãos dos filhos nos parques de diversões, mães consolando os filhos que caíam em seus braços. Ela tinha vivenciado todos esses sentimentos e, por isso, havia jurado