Para Diego, isso representava um desafio colossal. Ele ainda era muito jovem e enfrentava golpes devastadores tanto físicos quanto psicológicos. Um menino alto e magro estava de pé ao lado de alguns outros, aparentando ser o líder do grupo. Sua estrutura esquelética era evidente, e suas clavículas salientes indicavam dias de desnutrição, mas ele não possuía a inocência típica de alguém de sua idade. Seus olhos faziam Patrícia pensar no líder de uma alcateia de lobos, repletos de ferocidade e autoridade. — Este garoto se chama Carlos. Apesar de jovem, ele é um órfão recolhido do campo de batalha do norte. Quando o encontraram, ele sobrevivia se alimentando de cadáveres, disputando comida até com os urubus. Patrícia sentiu náuseas ao ouvir isso: — Ele... Comia carne humana! — Para ser exato, ele consumia carne em decomposição. Se uma pessoa precisa sobreviver, ela comerá qualquer coisa, e Carlos é um nome que ele escolheu para si mesmo. Ele nunca teve pais e, quando foi encont
Carlos estava furioso, mas, na verdade, ele não pretendia se rebaixar ao nível de uma criança. Chamava Diego de "filho de nobre", enquanto a maioria das crianças ali eram órfãs e pobres. Carlos costumava provocar Diego intencionalmente, simplesmente porque o menino era desobediente e, ao contrário dos outros, se recusava a obedecer a ela mesmo depois de tantos dias. Carlos sempre buscava oportunidades para repreender Diego e, assim, estabelecer sua autoridade diante das outras crianças. Para sua surpresa, Diego era mais teimoso e persistente do que ele imaginava. O menino não apenas se recusava a desistir, mas também lutava com ainda mais fervor, seus olhos brilhando com um espírito indomável. Que tipo de criança era essa? Era tão difícil de lidar!— Pequeno, você está acabado.Carlos disse, erguendo a mão para socar a cabeça de Diego.— Pare!Diego, em desespero, fechou os olhos. Seu corpo frágil era incapaz de resistir.Mas então, uma mão agarrou o pulso de Carlos.Todos olharam
Patrícia não conseguiu ignorar o nervosismo e o pavor em seus olhos. O que ela teria feito para que seu próprio filho sentisse tais emoções por ela?— Desculpe, desculpe. — Patrícia o abraçou e continuou a pedir desculpas incessantemente.Diego não sabia o que fazer:— Como... Você veio até aqui?— Filho, desculpe, mamãe chegou muito tarde.— Mamãe? — Diego parecia sempre duvidar do que ouvia. Patrícia realmente o havia reconhecido?— Filho, antes mamãe não sabia, entendeu errado algumas coisas, mas agora que te encontrei, tudo foi culpa minha.Patrícia abraçou o filho firmemente, as lágrimas desciam loucamente por seu queixo até o pescoço de Diego.Naquele momento, o abraço era o melhor conforto. Teófilo trouxe o remédio:— Paty, aplique a medicação no filho primeiro.Só então Patrícia soltou o filho, com dor ao observar as feridas em seu rosto.— Deve doer muito, né?— Não dói. — Diego a olhava fascinado, como se ela fosse desaparecer num piscar de olhos.Enquanto Patrícia desinfetav
Patrícia percebeu que Diego era extremamente sensível, sempre preocupado com muitas coisas, e, embora difícil de admitir, tinha ainda mais medo de perder. Ela acalmava pacientemente as emoções do filho, repetindo várias vezes o quanto o amava. Também preparou uma refeição deliciosa para ele, e Diego comeu tanto que ficou estufado, mas não queria parar até que Teófilo lhe tirasse os talheres das mãos. Ele sabia que não poderia comer a comida feita pela mãe todos os dias.— Diego, vem aqui. — Patrícia estava sentada ao lado de uma janela de vidro e o chamou.Diego rapidamente se aproximou e foi acolhido em seus braços. Dali, ele podia ver a bela paisagem lá fora e percebeu que observar o campo de treinamento habitual de um ângulo diferente parecia completamente novo, provavelmente porque sua mãe estava com ele. Patrícia sorriu levemente:— Seu nome foi escolhido por mim, é uma combinação dos nomes dos seus pais, você nasceu cercado pelo meu amor.— Mamãe devia amar muito o papai, né
Diego gostava muito de ouvir Patrícia reclamar sobre Teófilo, ela realmente era quem mais o entendia neste mundo. Ao contrário de quando estava com Mariana, onde ele mais falava era sobre como agradar Teófilo para que ele ficasse mais tempo.— Mas se papai é tão ruim, como mamãe poderia gostar dele?Patrícia respondeu rispidamente:— Eu não enxergava quem ele era, filho. Você sabe quantos homens cortejavam sua mãe naquela época? Eram tantos quanto os peixes num grande rio, e sua mãe foi enganada por aquele rosto do seu pai.— Se mamãe tivesse casado com outro, então eu não existiria, nem meus irmãos. — Disse a criança, desapontada.Patrícia rapidamente mudou de tom:— Seu pai era bom no passado, ele também tratava bem a mamãe. Antes de você nascer, mamãe era muito feliz todos os dias, felizmente aguardando sua chegada.— E agora? Papai ainda trata bem a mamãe, eu sei que ele faz muitas coisas para proteger mamãe.— O passado é passado, e o presente é agora. O que posso prometer, não i
— Mamãe, eu vou obedecer, não vou mais te deixar zangada, por favor, não vá embora. Você pode ficar aqui comigo?Juliana a empurrou e, com isso, ela caiu no chão com força. Mesmo assim, mancando, ela seguiu Juliana, implorando incessantemente atrás do carro para que Juliana voltasse. Naquela hora, tinha apenas um pensamento: embora Juliana fosse geralmente distante, ela era sua mãe, e se Juliana fosse embora, nunca mais teria uma mãe. Mesmo que Juliana continuasse distante como antes, desde que ficasse, desde que pudesse vê-la todos os dias, isso seria suficiente.Depois que Juliana foi embora, ela pensava em Juliana voltando dia e noite. Todos os dias, depois da escola, via mães esperando para buscar seus filhos, mães entregando refeições aos filhos, pais participando de atividades de pais e filhos, pais segurando as mãos dos filhos nos parques de diversões, mães consolando os filhos que caíam em seus braços. Ela tinha vivenciado todos esses sentimentos e, por isso, havia jurado
Patrícia acariciou amorosamente a cabeça de Diego:— Filho, mamãe entende o que você pensa, mas às vezes na vida não conseguimos tudo o que queremos. Não é errado desejar que a família fique unida, mas já parou para pensar que mamãe e papai juntos não seriam felizes?Diego olhou para ela com lágrimas nos olhos, claramente sem ter pensado nisso antes.Patrícia explicou pacientemente:— Quando eu era pequena, pensava como você, queria que nossa família estivesse sempre junta. Naquela época, sua avó realmente não gostava do seu avô e era muito indiferente conosco todos os dias. Se alguém está infeliz constantemente, o que acontecerá a longo prazo? Ela se tornaria deprimida, irritada e espalharia suas emoções negativas para todos ao seu redor. Você já cuidou de um pássaro?— Eu tenho um gatinho que papai me deu, ele disse que você iria gostar.— Pássaros e gatos são diferentes. Gatos podem correr livremente pela casa, mas o mundo de um pássaro se resume àquela pequena gaiola. Ele passa a v
Patrícia conseguiu convencer a criança. Diego, apesar de jovem, não tinha a mesma teimosia de Teófilo. Todas as suas ações eram centradas em Patrícia. Embora se parecesse muito com Teófilo, seu temperamento era mais semelhante ao de Patrícia, sempre pensativo em relação aos outros. Pessoas assim geralmente se desgastam muito, o que é ainda mais doloroso porque priorizam sempre os outros, nunca a si mesmas. Naquela noite, a criança se aconchegou em seu colo, segurando ansiosamente a ponta do pijama de Patrícia. Observando as cicatrizes no rosto dele, Patrícia sentiu uma dor aguda no coração. Ela sabia que essas feridas não representavam o fim, mas sim o início de um caminho difícil e perigoso que Diego teria que percorrer. A ideia de ter que deixá-lo sozinho trouxe a ela uma tristeza profunda. Porém, ela estava ciente de um problema, tanto agora quanto no futuro, se não mudasse, nem Teófilo nem Diego poderiam protegê-la sempre. Se alguém encontrasse uma brecha, ela poderia acab