Patrícia acreditava que Raul traria o gatinho de volta, mas esperou até escurecer e nada aconteceu.Deixe estar.Ela já planejava confiar o gatinho a Nanda antes de partir, consciente de que ele estava destinado a uma vida de incertezas e não poderia ser mantido indefinidamente.Além disso, Patrícia sentia que sua própria infelicidade sempre acabava por afetar aqueles ao seu redor, sendo melhor que não ficassem tão próximos.Essa era também a razão pela qual ela desejava se afastar rapidamente de Roberto, não queria trazer seu azar para eles.João, Suzana e Branquinha eram exemplos claros dessa influência.Não queria ver mais ninguém se machucar.Raul, contudo, era gentil com o gato, e confiá-lo a ele talvez fosse a melhor decisão.Raquel teve que sair mais cedo devido a problemas familiares.Agora, Patrícia se encontrava sozinha no amplo quintal.As luzes solares do lugar acenderam automaticamente, iluminando seu rosto.Dentro de casa, não havia luzes acesas, e ela estava sentada na f
Nanda estava apoiada no ombro de Roberto, observando Patrícia embarcar no navio, com os olhos vermelhos de emoção.— Não sei por que, mas sinto uma enorme vontade de chorar. Parece que Patrícia sofreu tanto e, justo quando as coisas começam a melhorar um pouco, ela precisa partir novamente para navegar pelos mares por tanto tempo. E se... Quero dizer, e se algo acontecer a ela no mar?Roberto, abraçando seus ombros, a consolou com suavidade:— Não se preocupe, George navega há mais de vinte anos sem incidentes. Patrícia, apesar de todos os sofrimentos, tem sua sorte. Trabalho nisso há muitos anos e sobreviver até aqui, depois de tudo que ela passou, é realmente uma bênção dos céus. Ela sofreu muito, mas certamente as coisas vão melhorar para ela, não é verdade que a sorte e o azar se alternam?— Espero que sim. — Suspirou Nanda levemente. — Não entendo por que ela correria o risco de ser descoberta para fugir de volta para a Cidade A. Seria muito melhor ficar longe deles aqui.Roberto
Ao se reencontrar, Patrícia fez imediatamente a primeira pergunta:— Como está o gatinho?— Está muito bem. Deixei ele com um amigo que confio que certamente cuidará dele com atenção. O Sr. Roberto temia que outros não cuidassem bem de você, por isso me enviou especialmente para zelar por sua segurança.— Agradeço pelo esforço.Após falar, Patrícia se virou e voltou ao seu quarto. Seria aquilo uma ilusão? Reencontrar alguém de quem deveria se despedir não trazia alegria a ela, pelo contrário, havia um estranho sentimento. Parecia que essa pessoa não deveria estar ali, mas sua presença tinha uma justificativa lógica. A intuição de Patrícia dizia que ela podia se afastar dele agora.Evitar passar muito tempo com alguém cujo passado você desconhece era, subconscientemente, o que ela desejava fazer com Raul. Nos dias seguintes, ela raramente saía, até mesmo para as refeições. Raul levava a comida até ela e, antes de Patrícia fechar a porta, eles mal trocavam algumas palavras. Ele man
O jantar consistia principalmente de ingredientes bastante ácidos, e por mais que Patrícia não gostasse deles, ela experimentou um pouco de cada prato. Nos dias seguintes, os ingredientes ácidos continuaram predominando, levando Patrícia a quase vomitar várias vezes, até que ela chamou Raul:— Cof, cof, ultimamente as comidas ácidas estão um pouco demais para mim, estou ficando enjoada.— Claro, Srta. Patrícia, me diga o que você gostaria de comer e eu providenciarei para que a cozinha prepare especialmente para você.Patrícia observava atentamente cada uma das expressões de Raul, fosse em suas ações ou gestos, percebendo que nenhum se assemelhava ao de Teófilo.Mesmo conhecendo ela bem, Teófilo jamais teria deixado tudo para ficar ao seu lado.E o seu altivo presidente, quando teria ele feito algo para servir a alguém?Após observar por alguns dias sem encontrar qualquer indício, Patrícia finalmente se tranquilizou, e sua distância inicial de Raul diminuiu.Os dias no mar realmente
Raul falava com seriedade:— Este lugar é como o quintal do demônio. Cometeram todo tipo de atrocidades neste mar, desde roubos até assassinatos, e embora tenham se contido nos últimos anos, não podemos descartar a possibilidade de problemas. Você precisa estar mentalmente preparada.Patrícia, com uma expressão confusa, questionou:— Se há perigo, por que devemos passar por aqui?— Todos têm um lado aventureiro, especialmente os comerciantes. Se evitarmos o estreito, teremos que fazer um desvio que adicionará meio mês à nossa jornada, além de enfrentarmos outros perigos marítimos como colisões com recifes e o aumento dos custos. Nos últimos anos, com a diminuição das atividades piratas, todos se sentem mais seguros para passar por aqui.Raul explicava minuciosamente, mas Patrícia sentia que as coisas não eram tão simples.— Você tem uma opinião diferente?— Eu apenas acho que devemos estar preparados para o pior, especialmente quando lidamos com um grupo de criminosos extremamente peri
Patrícia balançou a cabeça e disse:— É melhor evitar problemas, prefiro ficar no navio.Raul hesitou por um instante antes de perguntar:— Srta. Patrícia, posso me atrever a perguntar por que você está arriscando voltar ao país ilegalmente? Sua saúde já é frágil e, pelo que sei, você não tem parentes no país. Por que está voltando?— É... Há algo que preciso resolver.Patrícia mantinha seus segredos bem guardados, sem revelar qualquer indício.Raul, percebendo que deveria parar, disse:— Então, descanse cedo.O cargueiro atracou, e as atividades de reabastecimento e manutenção do navio ocupavam boa parte do dia. Patrícia não saiu do seu quarto em nenhum momento.Ela passou delicadamente um lápis vermelho sobre o calendário, observando os dias se aproximarem da Cidade A.Em breve, ela reencontraria seus dois filhos.Pouco depois, um tripulante foi relatar:— Srta. Patrícia, desculpe, nosso navio teve um pequeno problema e os técnicos estão trabalhando no conserto. Receio que não possam
O menino sentiu o medo da menina e rapidamente abriu os braços para abraçá-la, sussurrando:— Não tenha medo, irmãzinha.Ele cobriu os ouvidos da menina com as mãos, tentando acalmar seu medo tanto quanto possível, já que ela não possuía a mesma coragem que ele.A simples ideia de que seu pai poderia morrer diante de seus olhos, como aquele gato, fazia as lágrimas correrem sem parar.Ela estava verdadeiramente aterrorizada.Neste mundo, restavam-lhes apenas o pai e o irmão, o que fariam se o pai morresse?O vento marinho dançava selvagemente sobre o mar, e o som das ondas batendo nas rochas parecia ecoar em seus ouvidos.Por alguma razão, os irmãos sempre tiveram um medo instintivo do mar desde pequenos.Ouvindo cada vez mais pessoas correndo em sua direção, a menina apertou os lábios firmemente, sem ousar emitir qualquer ruído.Não muito longe, um grande navio de carga estava ancorado, o som dos tiros, se misturando ao das ondas, chegava até eles, e as pessoas que estavam deitadas no
Patrícia abriu os olhos repentinamente e se sentou, justo no momento em que havia acabado de adormecer, sem entender o que a havia despertado de repente. Instintivamente, desceu da cama para verificar os arredores, nem as águas do mar estavam agitadas, nem ruídos eram audíveis. O que teria causado seu despertar?Era tarde da noite quando Patrícia abriu a porta do quarto e viu, não muito distante, um homem fumando. Durante o tempo que estiveram juntos, ela nunca tinha visto Raul fumar, mas ali estava ele, encostado casualmente no corrimão. A iluminação do corredor era fraca, tornando quase impossível ver claramente seu rosto, e seu corpo estava envolto em sombras. Apenas as pontas de seus dedos brilhavam em escarlate, e seus dedos esguios eram visíveis. Sua aura era completamente diferente do usual, como uma lua fria envolta em névoa negra, exalando um ar misterioso e sinistro.No momento em que viu Patrícia, Raul rapidamente jogou o cigarro fora, descrevendo uma parábola vermelha