Patrícia refletia sobre como poderia associar alguém tão genuíno e honesto a Teófilo.— Você gosta de gatos? — Sim, eu tinha um quando era criança na minha cidade natal. Lá, porém, não os alimentávamos tão bem quanto aqui, ele comia apenas restos de comida.Nos últimos dias, Patrícia manteve uma expressão fria, mas agora, um leve sorriso surgia em seus lábios.— Se você gostar, pode passar mais tempo com ele. O gatinho tem muita energia, e eu não estou bem de saúde para acompanhá-lo por muito tempo.Ela ainda enfrentava dificuldades para se mover, não conseguia se agachar, e qualquer movimento mais brusco a deixava tonta. Felizmente, o gatinho ficava tranquilo ao seu lado, se aconchegando em suas pernas.Raul coçava a cabeça:— Se a Srta. Patrícia não se importar, eu posso cuidar do gatinho.— Seria ótimo, obrigada.— Não é incômodo nenhum. Você vai ficar sentada por muito tempo? – Perguntou Raul.— Sim.— Só um momento. — Raul entrou na sala de estar e trouxe um cobertor para Patríc
— Você já viu uma caverna cheia de vaga-lumes? É lindíssimo lá dentro, os vaga-lumes parecem estrelas cintilantes no céu. Há também um lugar chamado "O Olho da Terra", um lago enorme e colorido que, visto do céu, se assemelha a um olho, e o Vale da Morte, já ouviu falar? No extremo sul do planeta, montanhas com geleiras descem para o vale, formando cachoeiras de gelo que, ao chegarem aos lados do vale, desaparecem numa visão espetacular.Patrícia ouvia com os olhos cheios de desejo:— Realmente gostaria de ver isso com meus próprios olhos. Não ria de mim, mas visitei muito poucos lugares em minha vida.— Não tem problema, Srta. Patrícia, você certamente estará segura, e eu já vi muitos pacientes com doenças terminais sobreviverem milagrosamente. Quando você melhorar, se você me pagar um salário, eu a levarei para ver esses lugares, que tal?O vento da noite soprou, trazendo um frio cortante. Patrícia se enrolou mais no cobertor e pegou uma flor que caía. O gatinho, como se estivesse e
Patrícia acariciava o copo de limonada com as pontas dos dedos, estava tão gelada que pequenas gotas se formavam na embalagem, esfriando a palma de sua mão. Ela não respondeu diretamente à pergunta, em vez disso, rebateu:— E você? Não é mais tão jovem, deve ter alguém de quem goste, não é?Raul sorriu ingenuamente e não escondeu:— Sim, muitos anos atrás conheci uma garota. Naquela época, eu era pobre e estava machucado, mas mesmo assim ela não me desprezou e me salvou. Bastou um olhar para eu gostar muito dela.— E depois?A história dos outros sempre parece bela e nunca triste.— O que mais poderia acontecer? Ela era filha de uma boa família, e eu, um pobre disposto a fazer qualquer coisa por dinheiro. Como eu poderia merecê-la? Ela é como a luz da lua, melhor permanecer no meu coração.— Você não contou a ela o que sentia?Raul olhava para o céu, onde a lua começava a aparecer, mas Patrícia não podia ver sua expressão. Depois de alguns segundos, ele respondeu:— Não, ela é tão ma
Raul respondeu prontamente:— Dia 22, por quê?Patrícia quase havia se esquecido de que, em alguns dias, seria o aniversário de morte de João.O clima invertido no hemisfério sul a fazia perder a noção do tempo.— Você pode preparar algumas oferendas para mim?— Claro, Srta. Patrícia.Ela não podia voltar ao País da Serenidade Azul, e este era o primeiro ano após a morte de João, Patrícia também queria homenageá-lo.Raul, além de obediente, se mostrava muito ágil em suas tarefas, além das oferendas, ele até comprou um gorro de lã em forma de gato.Patrícia percebeu que ele sempre trazia um pequeno presente para ela cada vez que saía, às vezes era um copo de limonada, outras vezes, um doce, e desta vez, um gorro.Patrícia não aceitou de imediato, e Raul explicou por conta própria:— Não me interprete mal, Srta. Patrícia. O Sr. Roberto me deu uma boa gorjeta, e como vi que você estava doente e sem energia, quis comprar algo fresco para você, nada disso é muito caro, espero que não se imp
Os estrondos contínuos ecoavam!À medida que os fogos de artifício explodiam um após o outro no céu, Patrícia se lembrava da última vez que testemunhara um espetáculo tão belo. Foi no aniversário de Diego, quando Mariana gastou uma fortuna para contratar uma equipe profissional para a apresentação. Infelizmente, naquela ocasião, Patrícia não estava no clima para apreciar, os fogos de artifício mais marcantes que ela já vira foram aos quinze anos, quando João organizou especialmente para ela um jantar sob fogos de artifício.Aos quinze anos, uma idade livre de preocupações ou responsabilidades, ela ainda era muito mimada, não havia sofrido nem um pouco e estava cheia de sonhos para o futuro. Naquela época, João era gentil e elegante, o pai que mais a amava. Ela se lembra de que, naquele dia, a família Bastos compareceu em peso, todos lá para celebrar com ela. Branquinha estava preguiçosamente deitada sob uma cerejeira, observando os fogos de artifício acima.João disse gentilmente:
Patrícia olhou apressadamente para a porta:— Aconteceu alguma coisa?Raul sempre foi muito disciplinado, por que a incomodaria durante seu descanso?— Er... Srta. Patrícia, a senhora já dormiu? Sinto muito por incomodá-la.Patrícia, percebendo que também não estava dormindo, se levantou, se vestiu e desceu as escadas. Ao abrir a porta, começou a falar:— Eu...Sua voz de repente parou quando viu Raul segurando um bolo com velas acesas. A luz das velas iluminava seu rosto sincero, e as chamas dançavam em seus olhos.— Srta. Patrícia, pode ser um pouco tarde, mas aniversários são momentos especiais que não devem ser esquecidos.Eram exatamente onze horas e cinquenta e nove minutos.O bolo provavelmente tinha sido feito por ele mesmo, ainda havia manchas de farinha e creme em seu rosto e roupas.— Obrigada. — Um toque de emoção surgiu no coração de Patrícia.— Já vai dar meia-noite, Srta. Patrícia. Faça um pedido e sopre as velas.Patrícia não hesitou, fechou os olhos e fez um pedido. E
Patrícia olhou para ele, confusa:— Há mais alguma coisa?Raul retirou um presente do bolso da calça, com uma expressão um tanto envergonhada, e disse:— Como pode um aniversário passar sem um presente? Este é um amuleto que pedi na igreja quando trabalhava fora, e é muito eficaz. Sobrevivi a várias situações em que quase morri, sempre consegui me salvar no último momento. Por isso, queria dar à Srta. Patrícia.Na palma da mão escura, ele segurava um pingente em forma de lua crescente, vazado, contendo uma pequena imagem sagrada para proteção.— Não posso aceitar, se é seu amuleto de proteção, como posso pegá-lo?Ele insistiu, empurrando o objeto para as mãos dela:— Fique com ele, não faço mais aquele tipo de trabalho perigoso. Espero que lhe traga sorte. Não é nada valioso, espero que não se importe.Vendo que ele estava determinado a dar a ela o presente, e era claramente bem-intencionado, Patrícia aceitou.— Obrigada, então eu aceitarei.Após fechar a porta, ela examinou atentament
Roberto atendeu ao pedido dela, prometendo arranjar tudo para Patrícia.Ela estava sinceramente grata a Roberto.Naquele dia, pediu a Raquel para preparar uma mesa farta e, pela primeira vez, convidou Raul.Raul permaneceu de lado, com uma expressão reservada, percebendo claramente algo.— Venha, se sente e coma conosco.— Mas as regras da Srta. Patrícia...— Se sente.Raul não insistiu mais, se sentou ereto, sem tocar nos utensílios. Tomou a iniciativa de perguntar:— A Srta. Patrícia não precisa mais de mim?Nas últimas semanas, Patrícia já não usava mais a cadeira de rodas. Quando saía, ele apenas a seguia a uma distância moderada, sua única função restante era carregar coisas.Patrícia havia percebido que, apesar de sua aparência desajeitada, ele era muito atencioso.— Agora que consigo cuidar de mim mesma no dia a dia, sua presença ao meu lado se tornou desnecessária. Não se preocupe, eu já pedi ao Sr. Roberto para encontrar um bom emprego para você.Embora inicialmente Patrícia n