Patrícia olhou para os rostos sinceros e bondosos dos dois, sentindo uma onda de calor no coração.Embora tivesse enfrentado muitos contratempos em sua vida e encontrado muitas pessoas ruins, parecia que o destino também colocava pessoas amáveis em seu caminho, e ela não era tão azarada assim.Pelo menos desta vez, a deusa da sorte ainda estava ao seu lado.— Bem, mas eu já estou muito melhor agora, Nanda pode voltar ao trabalho e não precisa mais cuidar de mim.— Mas...— Está decidido, não quero mais tomar o tempo de vocês, e além disso, este é o apartamento de vocês como casal, como eu poderia ficar aqui por muito tempo? Eu posso encontrar um apartamento menor para mim, só preciso de um cozinheiro, e ainda poderei sair para passear.Roberto não queria que ela se preocupasse com essas pequenas coisas e concordou imediatamente.— Está bem então, vou mandar alguém organizar isso para você.Roberto era muito eficiente e rapidamente encontrou um novo lugar para Patrícia, um térreo espaço
Patrícia, com uma expressão calma, perguntou:— Você está precisando muito de dinheiro? Ainda tem alguém na sua família?Raul passou a mão na nuca:— Sim, na minha terra natal ainda tenho minha mãe e algumas vacas.— Não é casado?— Quem trabalha no nosso ramo tem tempo para namorar? Se eu casasse, teria que deixar a esposa em casa sozinha, melhor não atrapalhar a vida de ninguém.Patrícia continuou:— Onde você trabalhou antes?— Minha vida sempre foi dura. Quando era pequeno, minha família era pobre, depois me tornei soldado. Quando deixei o exército, trabalhei em diversos lugares, como cassinos, clubes noturnos, segurança particular, fazendo cobranças para terceiros. Já fiz qualquer trabalho que pagasse.— Quem era seu último empregador?Patrícia já não era mais a mulher jovial, amável e extrovertida de antes. Ela estava com uma expressão calma, sentada com uma expressão fria, mas exalando uma aura que intimidava os outros.Ela havia amadurecido bastante e não confiava mais facilmen
Os dias passaram de forma monótona por duas semanas, e ela estava bastante satisfeita com Raul, que praticamente não tinha presença. Durante o dia, enquanto ela ficava dentro de casa, ele permanecia no jardim, sem sequer entrar na sala de estar, muito menos no quarto principal. Somente quando ela ia dormir à noite é que ele voltava para seu quarto, e pela manhã, quando Patrícia acordava, ele já estava fazendo exercícios no jardim. Se ela quisesse sair, chamava-o, e ele empurrava sua cadeira de rodas, às vezes para fazer compras no supermercado, outras vezes para passear pela comunidade. Ele falava o mínimo necessário, e muitas vezes era fácil esquecer que ele estava lá. Até que um dia, ele bateu de leve na porta de vidro da sala. Patrícia abriu a porta, olhando para ele com uma expressão serena:— O que foi?A face apática do homem mostrou um vislumbre de constrangimento:— Srta. Patrícia, eu encontrei um gatinho lá fora e ele parece muito triste. Devemos levá-lo para casa?Patrí
Após Raul dizer essas palavras, o primeiro pensamento de Patrícia não foi Branquinha, mas sim o rosto de Teófilo que surgiu em sua mente. Ela estremeceu de medo, e Raul, calmamente, acrescentou:— Talvez esse gato tenha voltado para te encontrar. Os animais deste mundo possuem espíritos, talvez ele tenha encontrado uma nova maneira de reaparecer em seu mundo.Foi então que as sobrancelhas de Patrícia se suavizaram, e pensando dessa forma, seu humor melhorou um pouco. Todos renascem de uma nova maneira. Branquinha foi assim, e ela também.Ao chegar na clínica veterinária, o médico examinou o gatinho cuidadosamente, percebendo que Patrícia estava muito tensa. Ela temia que o gatinho tivesse baixa resistência e que pudesse ter contraído alguma doença como a panleucopenia felina enquanto vagava pelas ruas, o que seria difícil de tratar. Felizmente, o médico tirou as luvas e disse:— Não se preocupe, o gatinho está muito saudável, só um pouco sujo. Ele nem tem ácaros nos ouvidos, só pr
Patrícia refletia sobre como poderia associar alguém tão genuíno e honesto a Teófilo.— Você gosta de gatos? — Sim, eu tinha um quando era criança na minha cidade natal. Lá, porém, não os alimentávamos tão bem quanto aqui, ele comia apenas restos de comida.Nos últimos dias, Patrícia manteve uma expressão fria, mas agora, um leve sorriso surgia em seus lábios.— Se você gostar, pode passar mais tempo com ele. O gatinho tem muita energia, e eu não estou bem de saúde para acompanhá-lo por muito tempo.Ela ainda enfrentava dificuldades para se mover, não conseguia se agachar, e qualquer movimento mais brusco a deixava tonta. Felizmente, o gatinho ficava tranquilo ao seu lado, se aconchegando em suas pernas.Raul coçava a cabeça:— Se a Srta. Patrícia não se importar, eu posso cuidar do gatinho.— Seria ótimo, obrigada.— Não é incômodo nenhum. Você vai ficar sentada por muito tempo? – Perguntou Raul.— Sim.— Só um momento. — Raul entrou na sala de estar e trouxe um cobertor para Patríc
— Você já viu uma caverna cheia de vaga-lumes? É lindíssimo lá dentro, os vaga-lumes parecem estrelas cintilantes no céu. Há também um lugar chamado "O Olho da Terra", um lago enorme e colorido que, visto do céu, se assemelha a um olho, e o Vale da Morte, já ouviu falar? No extremo sul do planeta, montanhas com geleiras descem para o vale, formando cachoeiras de gelo que, ao chegarem aos lados do vale, desaparecem numa visão espetacular.Patrícia ouvia com os olhos cheios de desejo:— Realmente gostaria de ver isso com meus próprios olhos. Não ria de mim, mas visitei muito poucos lugares em minha vida.— Não tem problema, Srta. Patrícia, você certamente estará segura, e eu já vi muitos pacientes com doenças terminais sobreviverem milagrosamente. Quando você melhorar, se você me pagar um salário, eu a levarei para ver esses lugares, que tal?O vento da noite soprou, trazendo um frio cortante. Patrícia se enrolou mais no cobertor e pegou uma flor que caía. O gatinho, como se estivesse e
Patrícia acariciava o copo de limonada com as pontas dos dedos, estava tão gelada que pequenas gotas se formavam na embalagem, esfriando a palma de sua mão. Ela não respondeu diretamente à pergunta, em vez disso, rebateu:— E você? Não é mais tão jovem, deve ter alguém de quem goste, não é?Raul sorriu ingenuamente e não escondeu:— Sim, muitos anos atrás conheci uma garota. Naquela época, eu era pobre e estava machucado, mas mesmo assim ela não me desprezou e me salvou. Bastou um olhar para eu gostar muito dela.— E depois?A história dos outros sempre parece bela e nunca triste.— O que mais poderia acontecer? Ela era filha de uma boa família, e eu, um pobre disposto a fazer qualquer coisa por dinheiro. Como eu poderia merecê-la? Ela é como a luz da lua, melhor permanecer no meu coração.— Você não contou a ela o que sentia?Raul olhava para o céu, onde a lua começava a aparecer, mas Patrícia não podia ver sua expressão. Depois de alguns segundos, ele respondeu:— Não, ela é tão ma
Raul respondeu prontamente:— Dia 22, por quê?Patrícia quase havia se esquecido de que, em alguns dias, seria o aniversário de morte de João.O clima invertido no hemisfério sul a fazia perder a noção do tempo.— Você pode preparar algumas oferendas para mim?— Claro, Srta. Patrícia.Ela não podia voltar ao País da Serenidade Azul, e este era o primeiro ano após a morte de João, Patrícia também queria homenageá-lo.Raul, além de obediente, se mostrava muito ágil em suas tarefas, além das oferendas, ele até comprou um gorro de lã em forma de gato.Patrícia percebeu que ele sempre trazia um pequeno presente para ela cada vez que saía, às vezes era um copo de limonada, outras vezes, um doce, e desta vez, um gorro.Patrícia não aceitou de imediato, e Raul explicou por conta própria:— Não me interprete mal, Srta. Patrícia. O Sr. Roberto me deu uma boa gorjeta, e como vi que você estava doente e sem energia, quis comprar algo fresco para você, nada disso é muito caro, espero que não se imp