No seu subconsciente, Patrícia sentia que não deveria entrar. Seus dedos, posicionados na maçaneta, ficaram rígidos, e a mão gentil de Teófilo cobriu o dorso de sua mão, sussurrando em seu ouvido: - Não tenha medo, eu estou aqui com você.A porta se abriu. Não havia monstros selados ou cenas sangrentas lá dentro, apenas um quarto delicadamente rosa, agora vazio, com apenas o tapete restante e o espaço vazio onde antes havia móveis. Na parede, ainda pendiam alguns enfeites de brinquedos de bebê que não foram removidos a tempo. Era evidente que aquilo era um quarto de bebê. Ao entrar, Patrícia sentiu um peso no coração e seus olhos arderam. Ela caminhou pelo quarto vazio e parou onde antes ficava o berço. Ela se agachou lentamente, como se fosse um reflexo corporal, apesar de não se lembrar de nada.- O que havia aqui antes?Teófilo, surpreso com o comportamento de Patrícia, se sentou ao seu lado e disse: - Um berço.Patrícia olhou ao redor do quarto vazio, uma ideia surgindo em
Teófilo continuava a relembrar o encontro, o conhecimento mútuo e o amor que surgiu entre eles, enquanto Patrícia, com lembranças não tão claras, ainda encontrava algumas pistas em suas palavras.- Eu devia te amar muito no passado, não é verdade?Teófilo olhou para ela com ternura.- Sim. Você se lembrou de algo?Patrícia balançou a cabeça.- Só acho que, sendo eu tão excelente como você descreve, mas tendo abandonado meus estudos por causa da família, se não fosse por um grande amor, quem faria tal sacrifício pelos seus sonhos?A expressão de Teófilo se complicou, se tornando indecifrável para Patrícia, enquanto ele olhava distraidamente para a neve que caía ao longe e murmurava: - É, quem faria tal sacrifício se não fosse por muito amor? Paty, eu vou te amar bem, juro por minha vida.Patrícia estava sendo abraçada tão firmemente por ele que quase não conseguia respirar, ela teve que empurrá-lo com força.Ela percebeu que seu pulso direito não estava tão flexível e, olhando mais de
Teófilo saiu rapidamente pela porta, abaixando a voz propositalmente:- Alô?- Presidente Teófilo, sua esposa despertou? Como ela está? - Perguntou Fábio, ansioso.Patrícia havia ficado inconsciente por três dias após receber o medicamento, e se esperava que ela despertasse hoje.Teófilo explicou brevemente o estado de Patrícia, fazendo Fábio suspirar aliviado.- Que bom, eu estava preocupado...Nos últimos dias, Fábio se sentira nervoso, se recordando de um ano atrás quando Patrícia teve uma febre alta e seus glóbulos brancos e vermelhos estavam anormalmente baixos.Geralmente, isso poderia ser um sinal de quimioterapia, mas os exames médicos subsequentes de Patrícia não revelaram problemas, então Fábio não comentou mais sobre isso.O medicamento em questão era bastante específico, afetando gestantes, idosos, crianças ou aqueles com baixa imunidade, como pacientes com câncer.De vez em quando, Fábio se recordava do rosto pálido de Patrícia, tão branco como papel, há um ano.- Você est
Já era bastante tarde, Maria havia partido, restava somente Patrícia e Teófilo na mansão, eles se encaravam.- Está cansada? Patrícia, de forma apressada, balançou a cabeça negativamente e disse:- Não, não estou cansada. Simplesmente não consigo dormir. Acho que vou assistir um pouco de televisão.Ela ainda não tinaha se acostumado com a situação. Apesar de estarem casados há algum tempo, Teófilo ainda lhe parecia um estranho. A ideia de um contato mais íntimo com ele causava a ela tanto constrangimento quanto encontrar alguém pela internet pela primeira vez para ir a um encontro.Percebendo seu desconforto, Teófilo falou calmamente:- Tudo bem, posso te fazer companhia.Patrícia se distraía com uma série de televisão, enquanto Teófilo, ao seu lado, digitava algo freneticamente no notebook. De vez em quando, ela lançava a ela olhares furtivos. Seu rosto, iluminado pela luz amarela do teto e enquadrado pelo óculos de armação dourada, adquiria contornos suavizados por uma ternura in
Patrícia corou e desviou o olhar:- Esses camarões parecem ótimos, vou provar um.Antes que ela pudesse pegar um, Teófilo rapidamente colocou um camarão descascado em sua boca.- É bom?Após saborear, Patrícia sentiu o sabor picante e fresco exalar por suas papilas gustativas. Era um gosto familiar que há muito não sentia, fazendo ela arfar e beber apressadamente a água com limão, tentando amenizar a intensidade do tempero.- Está muito picante? - Indagou Teófilo, preocupado.- Um pouco, mas está delicioso. - Patrícia era do tipo que, mesmo que a comida estivesse ardendo, não pararia de comer. Apesar de suas orelhas terem ficado vermelhas de tanto ardor, ela não resistia a mais uma mordida.Teófilo continuava a descascar os camarões com agilidade, embora não acompanhasse o ritmo voraz de Patrícia.- Vá devagar - Você deveria vender esses camarões no mercado, seria um desperdício não fazê-lo. - Comentou ela entre goles de água, ainda elogiando as habilidades dele.Teófilo sorriu indul
O estado de Patrícia parecia o mesmo de antes de qualquer desentendimento com ele, ela era ingênua e vivaz, repleta de esperança a cada novo dia. Mesmo quando envolvido em assuntos triviais, ver o sorriso dela sempre o revitalizava.Um comentário casual dele imediatamente lançou Patrícia em um turbilhão de emoções. Tão próxima e diante de tal beleza, ela mal conseguia se conter!Patrícia rapidamente desviou o olhar:- As cerejas estão tão grandes e doces.- Que bom que você gostou.Ele parecia ocupado, preparando tantas comidas e mal comendo ele mesmo. Após descascar os camarões para Patrícia, ele imediatamente pegou seu laptop para lidar com trabalho. Curiosa, ela não resistiu:- Aliás, eu ainda não sei o que você faz. Qual é o seu trabalho?- Gerência. - Respondeu Teófilo sucintamente.- Não é à toa que você está sempre tão ocupado.Ela não sabia que Teófilo usava o trabalho como uma forma de desviar sua própria atenção, pois Patrícia era tão encantadora e ele sempre temia perder o
Aquele comentário trouxe Patrícia de volta à realidade. De fato, desde que despertara, tudo parecia indicar o quanto ela e Teófilo se amavam, o quanto ele a amava. Tudo se apresentava como uma caixa de presentes perfeita, sem qualquer defeito, lindamente adornada por fora. Mas, se a perda do filho tinha sido um acidente, quem teria machucado a sua mão?Durante o banho, ela notou muitas cicatrizes e marcas de feridas pelo corpo, mais parecidas com abrasões ou cortes de plantas, talvez decorrentes de quedas, do que com lesões graves. As palmas das suas mãos estavam calejadas, seu corpo era belo, mas não de uma forma delicada e frágil, e sim com uma certa robustez.As cicatrizes eram recentes, sugerindo que ela provavelmente passava muito tempo na academia para manter essa forma física. Isso contradizia a descrição dele de que ela era uma dona de casa.O mais preocupante era que seu celular continha apenas alguns contatos, além dele, somente alguns seguranças. E o dispositivo era cl
Patrícia despertou cedo sob a intensa luz do sol.Ela abriu os olhos lentamente, com uma inocência infantil e um olhar límpido.Inicialmente, houve um instante de desorientação, com seus grandes olhos piscando encantadoramente.- Dormiu bem ontem à noite?Patrícia avistou o rosto do homem ao seu lado, adornado por um suave sorriso, enquanto uma frase lhe ocorria."De uma elegância inigualável".Embora recorrente em livros, ela ainda considerava que Teófilo fazia jus à descrição. De tão perto, ele era de fato deslumbrante, seu rosto parecia perfeito sob qualquer ângulo.Quando sério, transmitia uma aura de distância, mas seu sorriso suavizava toda a sua expressão. Patrícia, boquiaberta, murmurou:- Sim, foi tranquilo.Antes, ela enfrentava dificuldades para dormir, atormentada por várias preocupações, sofrendo de insônia em oito de cada dez noites, e mesmo adormecida, sonhava sem cessar.Contudo, aquela noite tinha sido de paz plena até o amanhecer.- Que bom, bom dia, querida.Ele incl