Apesar de quase esquecer até quem ela mesma era, essas memórias pareciam estar gravadas nos ossos de Hanna.- Hanna, considere este lugar como sua casa. Entre primeiro e vamos conversar depois. - Disse Patrícia, enquanto também observava o grande apartamento pela primeira vez, olhando ao redor com curiosidade.Teófilo apontou para um quarto de hóspedes próximo.- Maria preparou temporariamente para você, Hanna. Você ficará aqui por enquanto. Estar todos os dias conosco pode te ajudar a se lembrar de mais coisas mais rapidamente.- Certo.- Vou deixar que ela se adapte por alguns dias e depois arranjarei um exame físico completo para ela.- Obrigada.Patrícia sempre mantinha uma atitude neutra em relação a Teófilo, como se ele fosse um vizinho qualquer.Teófilo suspirou, conformado, sabendo que a relação entre eles não mudaria tão cedo:- Patrícia, você também precisa descansar bem. Seu corpo ainda não se recuperou. A partir de hoje, vou mandar alguém vir tratar da sua mão e não se preo
Teófilo franziu a testa.- Em qual cidade?- Hanna não se lembra mais. Ela disse que naquela época fugia de uma cidade pequena para outra sem destino definido, apenas seguindo o fluxo com outras pessoas, e mencionou que sua cidade ficava perto do mar.- Naquela época, há mais de sessenta anos, o país estava em desordem interna, com senhores da guerra dominando territórios e inúmeros bandidos e ladrões, além de vários grupos de resistência civil. Essa parte da história é caótica, até os nomes dos lugares foram mudados repetidamente, então com apenas essas pistas será difícil localizar com precisão.- Não tem problema, vamos procurar aos poucos. Estou feliz só por ter encontrado Hanna, o destino nos deu uma direção, quem sabe um dia ela se lembre de mais alguma coisa.- Patrícia, embora tenhamos pistas, você precisa estar psicologicamente preparada para a possibilidade de que a Srta. Gisele, para quem Hanna trabalhava, ser parecida com você seja apenas uma coincidência. Não é incomum pes
Teófilo se recostava em um sofá de couro, com a cabeça levemente inclinada para trás, o rosto bonito mostrando sinais de cansaço, seus olhos estavam fechados, provavelmente adormecido.Patrícia lançou a ela um olhar, mas optou por não acordá-lo, se sentando silenciosamente em frente a ele e pegando um livro de programação.Uma brisa fria soprou pela janela, despertando Teófilo suavemente.Olhando para o cenário desolado lá fora, parecia que a neve não iria demorar a cair.A sala estava bem iluminada, contrastando fortemente com o céu sombrio lá fora.Na mesa, havia flores frescas que haviam sido enviadas por avião naquela manhã, cortadas com elegância e exalando um leve aroma pelo ar.O apartamento tinha realmente uma sensação de lar.Mas, por mais aconchegante que fosse a decoração, isso não mudava a natureza do relacionamento entre ele e Patrícia.O frio que antes estava lá fora, agora estava entre eles.Antigamente, ao vê-lo dormindo, ela certamente o cobriria com um cobertor, não c
No dia em que a primeira neve caiu, Patrícia saiu para dar uma volta.Ela pensava que seu excesso de treinamento poderia agravar sua condição, mas estranhamente, desde antes de sua gravidez, seu estômago quase não a incomodava mais.Embora ela não soubesse o estado do tumor, estava claro que a doença havia se estabilizado, sem se espalhar mais.Para ela, esse era o melhor desfecho possível.Já fazia quase um ano que não passeava pelas ruas para realmente sentir a vida.Em pé no centro comercial mais popular do momento, Patrícia viu de longe uma mulher em trajes de trabalho e saltos altos, apressada sob um grande casaco de lã.Ela olhava ao redor sob o outdoor quando ouviu uma voz familiar: - Luh.Luciana se virou rapidamente ao ouvir a chamada e viu Patrícia, não muito longe, vestindo um grande casaco de lã preto.Seus cabelos, agora mais longos, estavam presos atrás da cabeça, e ela usava um par simples de brincos.Como diziam, ela ainda estava bonita.A antiga Patrícia era como um g
Luciana agarrou a mão de Patrícia com emoção. - Despedida? Para onde você vai?- Não se preocupe, eu só quero encontrar um lugar para descansar um pouco.Vendo Patrícia vestida toda de preto, sem um traço de vitalidade e fria como o gelo, Luciana adivinhou que ela provavelmente queria espairecer.- Vai demorar muito?- Sim, provavelmente.- Deixar este lugar triste também é bom.A sempre animada e alegre Luciana nem sabia como consolar Patrícia, cujas feridas não poderiam ser curadas com poucas palavras.Então, transformando tristeza em apetite, Luciana pediu vários pratos caros.- Coma, hoje você pode se deliciar com caviar, estou com dinheiro agora, então não seja tímida comigo.Patrícia sorriu. - Fale mais baixo, as pessoas vão pensar que você é uma nova-rica.- O que tem? Eu conquistei isso com meu próprio esforço, Paty, e não vou te enganar, você me ajudou muito na época do ensino médio, e eu sempre pensei que um dia eu precisaria me destacar e ser alguém em quem você pudesse se
Na manhã seguinte, Patrícia entrou pela última vez no quarto de João, observando a figura esquelética que jazia na cama.Os músculos de João haviam atrofiado de forma alarmante, e seu rosto estava envelhecido e magro.O quarto estava permeado com um forte cheiro de medicamentos misturados.Fazia muitos dias que Patrícia não tinha coragem de entrar ali.Ela sabia que o dia em que tomasse sua decisão seria o dia da despedida.Uma noite de neve pesada havia coberto o jardim com uma camada espessa.Patrícia puxou as pesadas cortinas blackout e abriu a janela.Deixou que a luz do sol e o vento nevado entrassem no quarto.- Pai, deve fazer muito tempo que você não respira o ar fresco lá fora, não é? É inverno de novo, e está nevando.Embora a mão direita de Patrícia não fosse tão ágil quanto a esquerda, ela ainda conseguia realizar movimentos normais sem problemas.Ela pegou um punhado de neve e seus dedos se moveram rapidamente.Então, calmamente, ela moldou um coelhinho de neve.- Eu me le
Mariana observava de sua cadeira de rodas, à distância, Teófilo segurando o guarda-chuva sobre Patrícia, que se ajoelhava enquanto ele permanecia de pé, atrás deles, a neve caía densamente, criando uma cena de harmonia inusitada.Durante esse período, ela havia perguntado repetidamente a Teófilo sobre o paradeiro de João, mas ele não revelou nada.Somente naquela manhã, ela recebeu a notícia de que João havia falecido.Ela nem sequer teve a oportunidade de ver João uma última vez ou de acompanhá-lo em sua última jornada, João morreu sem saber que sua filha biológica era Mariana.Teófilo foi realmente implacável.Ele afirmava que era o castigo que ela merecia.Mas, afinal, o que ela havia feito de errado?Ela foi enganada por tantos anos e, ao final, seus pais morreram por suas mãos, deixando ela atormentada pela culpa.Ao retornar ao país, Mariana acreditava ser a pessoa mais afortunada do mundo, com uma família harmoniosa, uma mãe amorosa e Teófilo, que sempre a protegia.Porém, em me
Ao ouvir a voz desesperada de Mariana, Patrícia parou e, por um instante, olhou para trás.Mariana, dispensando a ajuda dos empregados, insistia em rastejar até Teófilo.Sua aparência desamparada e triste fez Patrícia se recordar de si mesma, um ano atrás, quando se ajoelhou no chão implorando a Teófilo para que não se divorciasse dela.Ela percebeu quão patética tinha sido naquele momento.- Vamos apenas deixar ela assim? - Patrícia cruzou os braços, parecendo questionar se Teófilo estava preocupado com seus sentimentos ao não ajudar Mariana - Você não precisa se preocupar com o que eu sinto, não me importo.Teófilo parecia magoado, e segurou a mão de Patrícia. - Patrícia, nunca existiu amor entre mim e Mariana. Quando disse que me casaria com ela, foi apenas para saldar uma dívida.Patrícia soltou uma risada fria. - Uma dívida que te levou à cama dela, interessante.- Patrícia, na verdade, Diego, ele... - Teófilo quase revelou algo, mas fechou os olhos, se lembrando da noite em que