O céu, agora escurecido, deixou começar a cair uma chuva fina. O vento frio fazia as luzes das velas oscilarem de maneira inconstante, enquanto as oferendas de papel rodopiavam pelo ar.Patrícia enxugou as gotas de chuva de seu rosto e murmurou suavemente: - Suzana, é você que voltou? Duas gotas de chuva caíram bem abaixo dos olhos de Suzana na fotografia, fazendo parecer que a pessoa na foto sorria enquanto derramava lágrimas silenciosas, transbordando uma tristeza indizível.Acariciando a lápide, Patrícia falou: - Suzana, fique tranquila, vou cuidar bem da sua família. A partir de agora, sua família será minha família também. Pode partir em paz, e na próxima vida... Na próxima vida, que você encontre uma boa família.Após o funeral, o vilarejo ficou envolto em uma densa garoa.Patrícia não partiu imediatamente, mas se dirigiu à antiga casa de Suzana, onde sua família vivia antes de se mudar para a cidade grande há muitos anos. Exceto nos grandes feriados de Ano Novo e em outras
Patrícia olhou para Hanna com uma expressão confusa. Seu rosto estava marcado por rugas, e seus olhos, turvos e pouco claros, refletiam uma agitação particular naquele momento, enquanto sua boca enrugada murmurava incessantemente.- Senhora, está falando comigo?- É você! Sim, é você! - Hanna exclamou, agarrando as mãos de Patrícia com suas mãos que lembravam a casca seca de uma árvore, esfregando o dorso das mãos de Patrícia de forma dolorosa.Patrícia estava surpresa por ela se dirigir a ela, especialmente dada a diferença de idade e o fato de que não se conheciam. Por que ela estava tão agitada?- Senhora, está me confundindo com alguém?- Como poderia confundir? Senhorita, eu realmente não esperava te ver novamente. Você está igual, não mudou nada. - Hanna a examinava cuidadosamente - Não, você parece um pouco mais magra, seu rosto também está um pouco diferente.Cecília interveio rapidamente: - Senhora, deve estar a confundindo. Patrícia nunca veio a esta vila antes, esta é a pr
Apesar de quase esquecer até quem ela mesma era, essas memórias pareciam estar gravadas nos ossos de Hanna.- Hanna, considere este lugar como sua casa. Entre primeiro e vamos conversar depois. - Disse Patrícia, enquanto também observava o grande apartamento pela primeira vez, olhando ao redor com curiosidade.Teófilo apontou para um quarto de hóspedes próximo.- Maria preparou temporariamente para você, Hanna. Você ficará aqui por enquanto. Estar todos os dias conosco pode te ajudar a se lembrar de mais coisas mais rapidamente.- Certo.- Vou deixar que ela se adapte por alguns dias e depois arranjarei um exame físico completo para ela.- Obrigada.Patrícia sempre mantinha uma atitude neutra em relação a Teófilo, como se ele fosse um vizinho qualquer.Teófilo suspirou, conformado, sabendo que a relação entre eles não mudaria tão cedo:- Patrícia, você também precisa descansar bem. Seu corpo ainda não se recuperou. A partir de hoje, vou mandar alguém vir tratar da sua mão e não se preo
Teófilo franziu a testa.- Em qual cidade?- Hanna não se lembra mais. Ela disse que naquela época fugia de uma cidade pequena para outra sem destino definido, apenas seguindo o fluxo com outras pessoas, e mencionou que sua cidade ficava perto do mar.- Naquela época, há mais de sessenta anos, o país estava em desordem interna, com senhores da guerra dominando territórios e inúmeros bandidos e ladrões, além de vários grupos de resistência civil. Essa parte da história é caótica, até os nomes dos lugares foram mudados repetidamente, então com apenas essas pistas será difícil localizar com precisão.- Não tem problema, vamos procurar aos poucos. Estou feliz só por ter encontrado Hanna, o destino nos deu uma direção, quem sabe um dia ela se lembre de mais alguma coisa.- Patrícia, embora tenhamos pistas, você precisa estar psicologicamente preparada para a possibilidade de que a Srta. Gisele, para quem Hanna trabalhava, ser parecida com você seja apenas uma coincidência. Não é incomum pes
Teófilo se recostava em um sofá de couro, com a cabeça levemente inclinada para trás, o rosto bonito mostrando sinais de cansaço, seus olhos estavam fechados, provavelmente adormecido.Patrícia lançou a ela um olhar, mas optou por não acordá-lo, se sentando silenciosamente em frente a ele e pegando um livro de programação.Uma brisa fria soprou pela janela, despertando Teófilo suavemente.Olhando para o cenário desolado lá fora, parecia que a neve não iria demorar a cair.A sala estava bem iluminada, contrastando fortemente com o céu sombrio lá fora.Na mesa, havia flores frescas que haviam sido enviadas por avião naquela manhã, cortadas com elegância e exalando um leve aroma pelo ar.O apartamento tinha realmente uma sensação de lar.Mas, por mais aconchegante que fosse a decoração, isso não mudava a natureza do relacionamento entre ele e Patrícia.O frio que antes estava lá fora, agora estava entre eles.Antigamente, ao vê-lo dormindo, ela certamente o cobriria com um cobertor, não c
No dia em que a primeira neve caiu, Patrícia saiu para dar uma volta.Ela pensava que seu excesso de treinamento poderia agravar sua condição, mas estranhamente, desde antes de sua gravidez, seu estômago quase não a incomodava mais.Embora ela não soubesse o estado do tumor, estava claro que a doença havia se estabilizado, sem se espalhar mais.Para ela, esse era o melhor desfecho possível.Já fazia quase um ano que não passeava pelas ruas para realmente sentir a vida.Em pé no centro comercial mais popular do momento, Patrícia viu de longe uma mulher em trajes de trabalho e saltos altos, apressada sob um grande casaco de lã.Ela olhava ao redor sob o outdoor quando ouviu uma voz familiar: - Luh.Luciana se virou rapidamente ao ouvir a chamada e viu Patrícia, não muito longe, vestindo um grande casaco de lã preto.Seus cabelos, agora mais longos, estavam presos atrás da cabeça, e ela usava um par simples de brincos.Como diziam, ela ainda estava bonita.A antiga Patrícia era como um g
Luciana agarrou a mão de Patrícia com emoção. - Despedida? Para onde você vai?- Não se preocupe, eu só quero encontrar um lugar para descansar um pouco.Vendo Patrícia vestida toda de preto, sem um traço de vitalidade e fria como o gelo, Luciana adivinhou que ela provavelmente queria espairecer.- Vai demorar muito?- Sim, provavelmente.- Deixar este lugar triste também é bom.A sempre animada e alegre Luciana nem sabia como consolar Patrícia, cujas feridas não poderiam ser curadas com poucas palavras.Então, transformando tristeza em apetite, Luciana pediu vários pratos caros.- Coma, hoje você pode se deliciar com caviar, estou com dinheiro agora, então não seja tímida comigo.Patrícia sorriu. - Fale mais baixo, as pessoas vão pensar que você é uma nova-rica.- O que tem? Eu conquistei isso com meu próprio esforço, Paty, e não vou te enganar, você me ajudou muito na época do ensino médio, e eu sempre pensei que um dia eu precisaria me destacar e ser alguém em quem você pudesse se
Na manhã seguinte, Patrícia entrou pela última vez no quarto de João, observando a figura esquelética que jazia na cama.Os músculos de João haviam atrofiado de forma alarmante, e seu rosto estava envelhecido e magro.O quarto estava permeado com um forte cheiro de medicamentos misturados.Fazia muitos dias que Patrícia não tinha coragem de entrar ali.Ela sabia que o dia em que tomasse sua decisão seria o dia da despedida.Uma noite de neve pesada havia coberto o jardim com uma camada espessa.Patrícia puxou as pesadas cortinas blackout e abriu a janela.Deixou que a luz do sol e o vento nevado entrassem no quarto.- Pai, deve fazer muito tempo que você não respira o ar fresco lá fora, não é? É inverno de novo, e está nevando.Embora a mão direita de Patrícia não fosse tão ágil quanto a esquerda, ela ainda conseguia realizar movimentos normais sem problemas.Ela pegou um punhado de neve e seus dedos se moveram rapidamente.Então, calmamente, ela moldou um coelhinho de neve.- Eu me le