Capítulo 3

THALÍA

Mais uma manhã na minha vida, mas agora eu teria a companhia de um homem em casa, mesmo que eu tenha pagado para isso. Fez-me pensar no filme “Uma linda Mulher”, aquilo me fez sorrir, já que no caso dele seria... Ah, era melhor pensar em assuntos realmente importantes. Já passava das sete da manhã e era para eu já estar no meio do caminho para a reunião, que iria se prolongar pelo resto da manhã. Meu pai “O Grande poderoso Chefão” não tolerava atrasos, ainda mais no dia da grande votação. Os nomes iriam ser anunciados e votados pelos acionistas minoritários e majoritários, para a sucessão da cadeira da presidência.

Na concorrência estaria o babaca do Eliot James (que sempre estava dando em cima de mim), a benfeitora e vadia da Catharine Deveraux (que só estava na briga por poder e por ser amante de Fred) e o Senhor Sorriso: Fred Matthews. E por último, e não menos importante candidata a presidência: A filha do Dono.  Mas, como sempre, meu pai, Sr. Gerald Bartinelle, não permitiria a minha candidatura. Não que eu quisesse isso para minha vida, mas queria mostrar para ele que eu, mesmo sendo uma mulher, conseguiria administrar uma empresa daquele porte.

Ao entrar na empresa, se podiam ouvir os burburinhos dos funcionários enquanto eu passava com meu terninho preto, salto alto, cabelos presos em um rabo de cavalo e segurando minha pasta executiva com segurança. Havia comentários de que “Clifford” teria transado com todas as secretárias do prédio.

Eu disse todas! Não sei como não adquiri nenhum tipo de doença... Ah! Lembrei... Camisinha sempre. Foi por isso que ele insistia tanto em usar? Só poderia ser por isso. Safado.

— Bom dia Dara... — falei com a loira e elegante secretária de olhos azuis.

— Bom dia Sra. Johnson... — falou ela e rapidamente se levantou para abrir a porta.

— Dara... Agora é Srta. Bartinelle... Não se esqueça disso. — falei com arrogância e a olhei de um modo que deu para que ela entendesse minha mensagem. Senti-me culpada logo em seguida por falar com ela daquela maneira, mas não pedi desculpas. Não queria ser chamada de Sra. Johnson. Nunca mais.

— Me desculpe Srta. Bartinelle... Vou me lembrar. — respondeu Dara sem jeito.

Na sala de reunião não pude deixar de notar que meu pai ainda estava abatido pela morte de Clifford, mesmo ele sabendo de tudo que aconteceu.

Meu pai ainda ficava do lado de Clifford, mesmo após sua morte.

Meu pai, com seu terno cinza bem alinhado e caro, estava sentado verificando uns papéis quando eu cheguei. Com seu jeito autocrático e inquisitivo, sempre era impassível com relação a nós dois.

Nosso relacionamento “Pai e Filha” nunca tinha sido dos melhores. Sempre fui carente de sua atenção, mas nunca dei o braço a torcer. Suas linhas de expressão estavam mais evidentes. A luz que passava pela janela de vidro enorme refletia no seu semblante e deixava mais nítido seus cabelos mesclados de fios cinza e branco. Ele, ao perceber minha presença, levantou-se e em um gesto formal apertou minha mão. Parecíamos dois estranhos naquela sala. Por um momento percebi um alívio em seu rosto, mas acho que foi minha simples e criativa mente me pregando peças.

— Lía... — cumprimentou ele mais carinhoso que o normal. Estranho... Muito estranho aquele comportamento. — que bom que veio. Achei que ficaria em casa.

— A vida continua pai... — eu não estava nem um pouco a fim de ter um momento melancólico ou de ternura naquele momento. Não quando Cliff está envolvido naquele sentimento.

— Entendo... — falou ele sem jeito.

— Já éramos para ter começado a reunião. O que foi que aconteceu? — sentei na cadeira ao seu lado, a cadeira que Clifford usava antes de ter a presidência. Encarei minhas mãos e seguimos em silêncio por longos cinco minutos, até que a porta abriu e Catharine entrou com seu olhar prepotente e sem nenhum resquício de elegância em seu andar. — Já entendi... — falei olhando para ele, que a olhava com perplexidade por sua vulgaridade.

— Bom dia Gerald... — falou ela com um sorriso largo demais para meu pai, que por sinal, não estava nem um pouco à vontade com a presença daquela mulher — Ah... Você veio Thalía? Que bom... Ai! Fiquei tão triste com tudo que aconteceu com você... — fez uma cara de tristeza, que de tão falsa, superava o silicone que tinha no par de peitos — Oh... Cliff era um homem adorável... — disse ela levando a mão ao peito.

— Tenho certeza que você sentiu muito... — enfatizei com bastante ironia. — A falta do Clifford... Não imaginaria menos que isso de você Catharine... — aquela puta de escritório não me enganava mais. Sempre dando uma de amiga, mas no final das contas estava transando com ele também. Ele beijava aquela boca.. Transava com ela... e ainda tinha coragem de fazer o mesmo comigo. Se bem que ele nunca demonstrou amor por mim mesmo.

Mas que merda... Ele transava com tudo mundo, menos comigo?

Vi que seu rosto empalideceu ao perceber que as notícias corriam soltas.

Tomara que enfartasse.

— Senhoras... Peço um pouco mais de compostura no ambiente de trabalho. — meu pai chamou a nossa atenção com o tom de voz mais sério. — Nada de brigas. — fechei a cara, mas não dei o gostinho dela perceber que eu estava ressentida com o ocorrido.

Ela por sua vez, se sentou uma cadeira ao lado da minha, cruzando suas pernas grossas. Ela deveria saber que em um ambiente de trabalho, não se deveria usar uma saia tão curta.

Meu Deus! E aquele decote? Sem noção alguma do que é ser profissional.

Fred e Eliot entraram logo em seguida, o clima estava meio que nublado. Ao se sentarem, meu pai já deu início à reunião.

— Bom dia aos presentes... Sem mais delongas, faremos a votação para a presidência. Aqui em minhas mãos tenho as assinaturas de todos acionistas minoritários — mostrou a pasta com as folhas assinadas — E pela primeira vez, admito que achei justa a decisão deles... — falou olhando para mim — Como o último voto é o meu... Escolho — fez um suspense — Thalía. Você é a nova Presidente. Nada mais justo.

— Você não pode estar falando sério Gerald? — indagou Catharine, olhando friamente para meu pai.

— Estou sim... E acho que você me ouviu muito bem.  Ela detém boa parte das ações da empresa. Agora só depende dela. — minha respiração ficou entrecortada quando ele falou. Em choque seria a palavra certa para mim naquele momento — a votação foi quase unânime. Contra os fatos, não há como contestar.

— Ah... Isso só pode ser brincadeira... — Catharine estava praticamente histérica.

— Não só falei como estou enfatizando o que disse. Ela é a nova Presidente da empresa. E muito cuidado como fala dela na minha frente — advertiu meu pai severamente — Antes de tudo, ela é minha filha — agora o negócio tinha ficado sério.

Meu pai me defendendo? Chupa vadia!

— Olha a baixaria Catharine... — aconselhou Fred, repreendendo-a.

— Bom... Já que eu tenho meu destino em minhas mãos, nada mais justo que eu aceite a presidência... — o atrevimento em minha voz era evidente — vai que um dia... Eu tenha a sorte de tirar você desta empresa Catharine.

— Você pode ir sonhando com isso, querida. Posso não ter a mesma porcentagem de ações que você, mas nunca darei esse gostinho de sair da empresa — ela virou a cabeça para olhar para Eliot, que estava sentado bem à sua frente. — Eliot... Você não vai falar nada? — perguntou Catharine encarando-o.

— Meu voto sempre foi dela — o cara era um banana, mas sempre me apoiou — Sr. Bartinelle... Com sua licença... Vou me retirar da sala — falou ele ao se levantar, fechando o botão do seu terno. Ele estava bastante decidido. Ela ficou estatelada na cadeira. Acho que tentou usar o sexo como moeda de troca... Se isso fosse verdade, ela não tinha feito direito.

Estava me divertindo, achando graça no que acontecia.

— Senhores... Eu preciso ir embora... Já estamos nessa discussão sem nexo e que não tem a menor necessidade. Eu tenho orgulho de assumir a presidência da empresa que meu pai, com mãos firmes, construiu. Espero que me tratem com o mesmo respeito com o qual o trataram — anunciei olhando para Catharine que, tenho certeza, estava furiosa por dentro.

— Tenho certeza que todos irão te tratar muito bem — disse Eliot, com um sorriso leve no canto da boca.

Já era quase meio dia e eu tinha que ir para casa. O meu novo “convidado” com certeza já havia chegado. Minhas mãos estavam suando.

Por que eu estava suando?

Por que estava nervosa?

Não fazia o menor sentido eu estar daquele jeito.

Eram apenas negócios.

Voltando para casa, coloquei a minha cantora favorita para tocar.

Adele.

Suas músicas eram perfeitas para o momento no qual eu estava. “If It Hadn't Been For Love” estava tocando no som do carro. Com certeza, aquela voz me deixava mais relaxada. Minha playlist estava recheada com suas músicas e pretendia escutá-las até não aguentar mais ouvir a voz dela.

Ao estacionar na garagem fiquei parada dentro do carro, com as mãos ainda no volante. Por que eu ainda estava nervosa? Minhas mãos estavam derretendo em suor. Um frio na barriga. Sem ar. Passei a manhã toda tentado me concentrar na reunião, mas flashes dele na sala do meu apartamento passavam em minha cabeça. Aquelas mãos grandes. Braços fortes. Seu jeito rústico e ombros largos. Agora que parei para pensar direito no que fiz, me senti sem chão. Era tudo uma loucura completa. Andava assistindo muito meu filme preferido.

Thalía você é uma mulher madura e racional. Pelo amor de Deus, saia desse carro e encare a besteira que você fez. Pensei.

Eu estava ansiosa. Contando os segundos. Eu estava parecendo uma colegial boba. Não tinha como não ficar me sentindo uma. Cliff não me tocava com frequência, e o belo pedaço de homem que eu tinha contratado estava no meu apartamento, me esperando apenas para satisfazer os meus desejos mais íntimos. Respirei fundo e saí do carro com passos decididos, mantendo um único pensamento: Eram apenas negócios.

A partir do momento em que entrei no apartamento, Maria já estava me olhando de esguelha. Foi assim que eu soube que ele havia chegado. Ela não gostou muito da minha atitude, mas sabia que ela queria apenas a minha felicidade. Por isso, ela apenas me apoiava, do seu jeito.

— Que bom que você chegou Menina Lía... — falou ela indicando com os dedos da mão na direção do quarto — Ele já está instalado nas acomodações. Um rapaz muito interessante o Sr. Sebess — acho que ela já havia percebido o meu nervosismo assim que entrei. Eu estava pálida. Assenti com a cabeça e entreguei minha bolsa a ela, indo em direção à escada.

— Vou falar com ele agora — disse atravessando a sala — Maria, temos um convidado por um longo tempo nesta casa.

— Pode deixar comigo — me deu uma piscadela e seguiu na direção da cozinha.

Ao chegar à porta do quarto, percebi que a porta entrava entreaberta. Aproximei-me devagar e olhei pela fresta da porta, e o vi só de toalha e de cabelo molhado. A sua pele morena me deixou de boca seca. Seu abdômen perfeito era um convite para que eu entrasse e tirasse aquela toalha e me entregasse ao meu súbito desejo. Minha respiração já estava começando a ficar forte e acelerada. Não dava para ficar ali o olhando. Não daquele jeito sorrateiro. Bati à porta antes de entrar e percebi que algo havia caído. Teria sido ele? Ou tropeçara em algo?

— Ai merda... — resmungou ele, balbuciando algo mais que não deu para escutar — Espere Sra. John... Bartinelle... — barulhos se seguiram enquanto eu esperava parada, tentando não olhar novamente pela fresta da porta.

— Você está bem David...? — perguntei preocupada, já segurando na maçaneta.

— Ótimo... — respondeu ele suspirando um pouco irritado — Pronto. Agora pode entrar — se na minha boca ainda tinha uma última gota de saliva, ela evaporou como se estivesse no Saara.

Que homem mais perfeito era aquele? Mas, eu não poderia deixar transparecer meu súbito desejo por ele. Falhei.

O desejo de passar a mão em seu peito liso e definido era ardente. Meu rosto estava em brasas. De calça jeans abaixo da linha do quadril e ainda com o zíper aberto e descalço, ele era um banquete para os meus olhos.

— David... — falei com a respiração entrecortada — Pode me chamar de Lía... — olhei bem no fundo de seus olhos, e que por um momento achei que ele ficou sem jeito. — Eu só preciso de um banho e vamos almoçar. Tudo bem?

— Tudo. — respondeu ele terminando de se arrumar e se dando conta que seu zíper estava aberto. — Desculpe-me... — Por que estávamos sem jeito um com outro? Íamos fazer sexo... Deixe de besteira Lía. Seja profissional.

— Vou descer... — pegou uma camisa vermelha de mangas e vestiu, seguindo em direção à porta — Espero você lá em baixo.

Desabei na cama quando ele fechou a porta e nem olhou para trás. O que tinha sido aquilo? Minha cabeça estava dando voltas. Não seria possível me apaixonar apenas o olhando. Era incabível. No máximo, eu estava tão carente que já achava que tinha me apaixonado. Quem, em sã consciência, se apaixona na velocidade da luz? Ridículo pensar que poderia acontecer algo parecido comigo. Ainda mais com um garoto de programa... Profissional do sexo, para ficar mais profissional. Fui até o closet e separei minha roupa, colocando-a em cima da cama, e logo seguindo para o banheiro.

No banho com a água quentinha, imaginei a hora em que ele me tocasse. Imaginei que a água descendo pelo meu corpo eram suas mãos passeando em cada parte. De imediato, voltei ao mundo real. Aquilo estava ficando ridículo.

Passando a mão no espelho, depois do banho, observei a mim mesma. Respire fundo, você já transou com outros caras, pensei. Enrubesci ao imaginar suas mãos fortes e dedos compridos desenhando traços no meu corpo. Passei a mão no meu pescoço em busca da sensação de tê-lo me tocando... Acariciando minha pele... Beijando o meu corpo... Me possuindo por completo. Volte, volte para o mundo real, Lía! Balancei a cabeça, peguei a toalha para enxugar meu rosto e tornei a me olhar no espelho. Seja profissional. Mas como eu seria profissional, se nunca tinha feito uma negociação desse nível? Merda! Agora já era tarde, e que se danasse o luto.

Eu iria ter o serviço pelo qual paguei: Sexo com um homem muito... muito gostoso.

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