Sex Digitī À Beira do Abismo: Um Conto Olímpico Fantástico

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R. C. Borges  concluído
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Resumo
Índice

Esta ficção fala sobre a inspiração das musas em um jovem e cosmopolita pianista negro com 6 dedos em cada mão. Ela se passa nas olimpíadas de um Rio de Janeiro bem diferente daquele que foi mostrado ao mundo na época em que foi realizada. Esta é uma saga de amadurecimento pessoal que envolve romance para falar dos invisíveis da sociedade, dentro de uma crônica urbana moderna. E para os leitores que gostam de se divertir procurando "easter egg", bem como por referências sobre o universo da música, da mitologia, da filosofia, da poesia e do teatro, esta leitura oferece um prato cheio. Enfim, há varias diferentes camadas de leitura acessíveis aos diferentes tipos de públicos leitores para garantir que todos se entretenham dentro de uma proposta edificante de acordo com seus interesses e de suas capacidades.

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Sex Digitī À Beira do Abismo: Um Conto Olímpico Fantástico
 Polidactilia é o nome da minha maldição, ou do meu dom. Para muitos isso não é nada além da anomalia causada pela manifestação de um alelo autossômico variável dominante que se expressa na alteração quantitativa anormal dos dedos. Mas para mim, essa alteração também é qualitativa. Afinal, cada um dos meus doze dedos das mãos são perfeitamente funcionais, e é por causa do que eles podiam fazer em harmonia que eu tenho uma história ímpar para contar. Minha trajetória de vida não foi linear nem um pouco, por isso não sei nem ao menos contar como fui acabar tocando, por tanto tempo, jazz universitário, que é uma categoria divertida usada para tratar aquilo que faço, somente por uns poucos além de mim mesmo, neste caso, num sobrado condenado pela prefeitura, no bairro da Lapa,
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 De repente, não mais que isso, Calíope ainda me sorrindo, quase flanando, levanta-se como um suspiro, num pé de pensamento, quase uma brisa, e pôs-se a caminho da saída, por entre toda a gente, até desvanecer em meio a esfumaçada e colorida atmosfera densa deixando muito mais do que só o aroma de seu perfume para trás. Ela realmente havia me inspirado. Não saberia explicar o que ela me inspirou, mas me fez pensar nisso tudo que disse sobre frases musicais, acordes como versos, a música como um poema, não como metáfora de um poema, mas literalmente um poema de frases simplesmente sonoras, sentimentos sem palavras, algo abstrato, só que arranjado na forma de hexâmetro dactílico. Tudo isso ficou ressoando na minha mente obsessivamente desde então; crescendo como uma vida dentro da minha cabeça e se espalhando pelo meu corpo todo. Mas faltava um
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   Eu entreabri com dificuldade os meus olhos e não vi nada mais que claridade cegante.Estava deitado.Uma mulher passou a mão no meu antebraço de forma gentil e maternal.Eu estava me sentindo grogue, tonto, enjoado, mas, mesmo assim, ouvi bem o que ela me falou ao pé do ouvido.“Meu nome é Clio, e você se saiu muito bem, Jacinto. Você já encontrou o seu tema, não foi? Então não vou me demorar mais. Os médicos já diminuíram sua sedação e em breve o Dr. Eugene virá te ver e lhe explicará tudo com calma. Agora fique bastante calmo e seja forte. Confie nele.” Tentei segurar sua mão, mas não estava mais lá.Alguém me deu bom dia e disse que chamaria o médico de plantão pra vir me ver. Ouvia a movimentação
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 Cheguei no meu ponto, levantei, fiz sinal para o motorista do ônibus para parar, e o agradeci com muita reverência, afinal ele me deixou dar um calote na passagem. Copacabana estava completamente maquiada e disfarçada para receber as olimpíadas. Muito pouco tempo antes da preparação do evento, isso tudo era um Haiti, ou uma Bangladesh, agora quem via nem dizia nada. Quem poderia dizer? Eu me perguntava até quando... Se bem que os fundos do Hotel Pestana, que dão para a rua Domingos Ferreira, onde minha mãe estava morando com uma tia viúva da idade dela, ainda são o mundo tártaro. Quem passa pela frente do Hotel nem imagina que atrás dele, numa rua onde a maioria dos moradores é velhinho, que aquilo que se via era só esgoto a céu aberto, buracos e crateras enormes na calçada, e aquela fachada toda descuidada, nojenta, portas amassadas, c
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 Ao esfregar meus olhos com força diante da pirâmide monumental no centro da avenida, minha mente parou de me pregar peças. Mas isso era sério. Eu estaria ficando louco ou o quê?Bem, não há outra forma de encarar essa situação. Eu tinha que encarar a realidade conforme ela estava se apresentando para mim em toda a sua completude. Estava eu tentando me dizer algo para mim mesmo de uma forma não linear, direto do meu subconsciente ou de um modo alterado de consciência causado por esse estado em que me encontrava agora, de subnutrição e principalmente de desidratação? Comecei a pensar que sim.Talvez meu corpo estivesse consumindo suas reservas de combustível. Estava muito provavelmente me alimentando de mim mesmo, literalmente me canibalizando. Estava parando de funcionar. E assim alguma forma de um eu meu, profundo, calado
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