Rosa
Eu não tenho muitas lembranças dele, e isso talvez seja o que mais dói. Tadeu me deu amor, lealdade e companheirismo quando ninguém mais podia. Seguro um desenho antigo feito por mim em uma das muitas noites em que ele vinha me visitar no bordel.Ele não gostava do lugar e dizia que eu merecia mais, mas eu não demonstrava afeição ou esperava algo dele. Afinal, Tadeu era um marinheiro, um homem livre, sem desejo de se prender a ninguém, muito menos a mim, uma prostituta suja.Com o tempo, suas visitas se tornaram frequentes. Pagava a mais para que nos deitássemos na praia, dizendo que ali estávamos perto da natureza e longe da maldade humana. Achava bonito e poético, mas sempre mantinha os pés no chão.Eu, no entanto, sabia que podia ser fingimento para não pagar. Nunca fui uma boba apaixonada por palavras bonitas. Os homens me ensinaram que a maioria não é confiável.Fui a primeira a notar a ferida. Ele não tinha percebido, nem sentiMariaParei em um posto apenas para tomar um café. Saí sem comer nada, só para não ter que encarar a cara daquela velha infeliz. Tento não sentir ódio, mas é impossível. Poderia muito bem pensar que ela estava apenas cumprindo ordens e esquecer, mas sei a verdade: Anastácia tinha prazer em humilhar e ofender Imaculada. — Devia ter esperado para tomar café. Mas você estava muito ansiosa para chegar. Pedro se sentou na mesma mesa que eu, apenas para me atormentar. Respirei fundo, resistindo à tentação de jogar o café quente na cara dele. — Parabéns por dizer o óbvio. Mas como chegou aqui tão rápido? — Meu carro tem uma boa velocidade. Sua HB20 não seria problema para mim. Torta de frango e bolo de chocolate... Parece que seu apetite mudou. Será que o meu bebê já está crescendo dentro de você? Não sei como funciona essa coisa de transformação, muito menos como seria uma gestação de um bebê lobo, mas tomei minhas precauções
Pedro— Cadê a minha calcinha, Pedro?— Digamos que eu rasguei ela.Maria, brava e praguejando, é com certeza uma cena engraçada de se ver. Ela bate no meu ombro com força, e não consigo conter o riso.— Como vou sair desse carro com porra escorrendo da minha vagina? Que droga, Pedro!Seus olhos mudam de cor toda vez que fica nervosa ou quando está na posição de Luna, como mais cedo, ao pedir para marcar a festa de posse depois do nascimento do bebê de Gabriel e Sabina.— Você acha isso engraçado? Sabe qual é a pior parte disso tudo? É que não consigo pensar em outra pessoa para transar além de você. É como se houvesse uma fidelidade vitalícia.— Mas há, querida! Você me pertence, e eu pertenço a você. Ainda não exploramos todo o nosso potencial sexual, mas quando isso acontecer, não vai conseguir resistir como tem feito.Ela abre a porta do carro, pronta para sair. Queria pedir para ficar, transar mais uma vez,
Maria Eduardo tentou disfarçar o quanto a presença de Pedro o incomodava, mas eu conheço meu irmão. Ele está visivelmente desconfortável, mesmo que tente esconder. Já Carina pareceu gostar da presença dele, sem demonstrar nenhum tipo de rejeição ou aversão. — Onde estão mamãe e papai? — Foram visitar a tia Silene. Ela não está muito bem, mas devem estar chegando logo. Tia Silene é tia-avó do meu pai, uma senhorinha muito querida por toda a família. — Não sabia que estava doente. Antes de voltar, quero visitá-la. Mudando de assunto, como estão os preparativos para o casamento? Carina abriu um sorriso largo, animada, e começou a descrever os detalhes. Falou do vestido, do local da festa, dos convidados. Quando mencionou os padrinhos e madrinhas, notei que Eduardo ficou desconfortável. — Cunhada, conversei com seu irmão e, como não sabíamos se poderia vir ao casamento por conta da o
PedroMaria ficou em silêncio por muito tempo. De repente, meus olhos começaram a lacrimejar. Ela está chorando. E, novamente, sou eu o causador de sua tristeza e dor. Não deveria ter dito as três palavras mais poderosas e, ao mesmo tempo, destrutivas do mundo.Não deveria ter falado nada. Foi a emoção do momento, a sensação incrível de que só de estar com ela traz. Bati na porta novamente, esperando que ela desse um sinal de que estava disposta a conversar comigo, sem que isso virasse uma briga interminável sobre o nosso passado desgraçado.— Maria, me perdoe! Não foi minha intenção magoar você.Ela abriu a porta, limpando o rosto e respirando fundo. Não quero brigar, mas não sei o que esperar dela.— Pedro, você não precisa mentir na hora em que estamos juntos na cama. Eu não sou essa mulher romântica que espera declarações de amor e devoção. Sei que você não sente amor por mim, assim como eu não tenho nenhum sentimento por você nesse s
No passado Pedro O corpo dela foi enterrado longe do cemitério, em minha fazenda, na mata que ela tanto amava. Rosa adornou seu túmulo com flores rosadas e lírios, rezou junto com o padre e se retirou logo depois, restando apenas eu e minha m*****a dor. Gabriel chegou algum tempo depois, dizendo que já estava ficando tarde, mas eu não queria sair dali. Queria ficar com o meu amor. — Senhor, está na hora de ir, descansar um pouco e comer alguma coisa. Sua esposa o espera. Esposa? O que Cândida é além de um meio para um fim? Um fim que agora não faz sentido algum sem minha Imaculada. O lobo dentro de mim chora e range, implorando para sair e se jogar no rio, o mesmo onde Imaculada pôs fim à sua vida. Nossa vida. Nada neste mundo vai trazê-la de volta. — Eu vou ficar aqui até definhar e, por fim, morrer para me juntar ao meu amor. — Não pode. Tem que seguir em frente. A vida continua, Barão. Vá até sua esposa, dê alguma satisfação a ela. Gabriel insistiu tanto que acabei cede
MariaDirigi por toda a cidade até que a exaustão me levou à porta da mansão de Pedro. Ou talvez tenha sido a loba dentro de mim que guiou meus passos até aqui. Fiquei encarando a porta de entrada por tanto tempo que, no fim, decidi descer do carro e ir até lá. Não tenho para onde ir. Desde o momento em que peguei o carro e saí sem rumo, só conseguia pensar que este era o único lugar que fazia sentido: ao lado de Pedro. Não deveria, mas, ao apertar a campainha e vê-lo atender, um alívio imediato tomou conta de mim. Sem dizer nada, o abracei. Apertei seu corpo como se isso pudesse tirar toda a angústia do meu peito. Ele correspondeu, deixando a garrafa de bebida que segurava cair ao chão. Nem o som do vidro se quebrando me fez soltar Pedro. — Você está tão quentinho… e cheirando a vinho. — O que foi, minha? O que está angustiando o seu coração? Conta pra mim. Fiquei calada por um bom tempo, apenas aproveitando aquele abr
Pedro Pela primeira vez em séculos, dormi com minha Luna ao meu lado. Maria se aconchegou em mim, e, depois de anos, tive a melhor noite da minha vida. Sentir seu corpo junto ao meu, respirar seu perfume enquanto dormíamos, foi simplesmente maravilhoso. Acordei cedo, decidido a surpreendê-la. Preparei um café da manhã digno de uma rainha e levei até ela em uma bandeja. Quando abriu os olhos e viu o que eu tinha feito, sorriu, surpresa. — Olha que posso ficar mal-acostumada, Pedro. — Você precisa estar bem alimentada para receber nossos filhos em seu ventre. E, claro, para estar forte e lúcida ao conversar com sua família. Ela ainda estava abalada quando chegou aqui. Apesar de nossos desencontros, o elo que compartilhamos é tão profundo que a trouxe até mim, buscando o conforto que só eu poderia oferecer. — Aquela história que contei sobre a laqueadura foi implicância minha. Jamais faria i
Maria Encontrei meus pais junto com Eduardo na sala. Quando me viram, ficaram surpresos. Eles tentaram se aproximar, mas neguei com a cabeça. Se Pedro não estivesse ao meu lado, eu certamente não teria coragem de estar ali. — Minha, vou deixá-la com sua família. Estarei no jardim; se precisar de mim, é só chamar. Pedro beijou minha testa, cumprimentou meus pais com um aceno e, como imaginei, ignorou totalmente Eduardo. Sentei-me a uma certa distância, esperando ouvir toda a verdade. — Conheci sua mãe em uma despedida de solteiro. Ela era uma das garotas que trabalhavam como prostituta na festa. Foi uma noite que se tornou meses, até que ficamos juntos por quase um ano. Eu já era casado com Rita, mas fui imaturo ao manter duas relações, não sendo fiel à minha esposa e deixando cada vez mais claro para Clara que nunca a deixaria. Clara. Esse era o nome da minha mãe biológica. Uma prostituta que provavelmente não me quis, já que fui entregue para adoção. — Clara me contou sobr