A imagem que se refletia no espelho era de dor, desesperança. Com pouco mais de 20 anos de idade, ela em nada se parecia à mulher forte e determinada de outrora.
O que havia acontecido para que houvesse uma mudança tão radical? Onde estaria a mulher corajosa de antigamente?
Refugiara-se atrás do medo, pensou com amargura, enquanto fazia esforço para não perder o controle.
Mas a verdade era que havia muito tempo ela não tinha mais o controle da própria situação. Por isso, deixou as lágrimas correrem livremente. Em seguida, abriu o chuveiro e ensaboou-se com força, para lavar as marcas que seu marido deixara em seu corpo... as marcas de um amor doentio.
Segunda-feira, 7 de fevereiro – 6 horasAdriana ainda tinha o rosto riscado pelas lágrimas quando retornou aos seus aposentos e começou a vestir-se, a se arrumar. Mas ao entrar no quarto da filha, de apenas 5 anos de idade, um pouco de sua amargura se dissolveu.Sua pequena Letícia dormia profunda e tranquilamente, de lado, a face direita no travesseiro e o dedinho polegar na boca. Adriana se ajoelhou ao lado da cama e passou a mão por seus cabelos:− Bom dia, minha querida.− Bom dia, mamãe.− Como dormiu esta noite?− Dormi bem &ndash
Adriana tinha certeza de que o marido faria questão de levá-la à faculdade, e tinha certeza também que ele ficaria muito irritado caso ela não o aguardasse, mas já era quase sete horas da noite e Roberto não havia retornado de uma obra que fora visitar no início da tarde.Durante mais de meia hora, ela tentara falar com ele pelo celular, porém apenas a voz fria e indiferente da secretária eletrônica a atendia.Não posso aguardar mais, pensou, depois de pegar o telefone e fazer mais três tentativas frustradas de conversar com o marido.Seja o que Deus quiser!, disse baixinho.Faltavam apenas alguns minutos para o início da aula quando Daniel Diniz Pacheco entrou na sala
A imagem que agora se refletia no espelho mostrava um homem altivo, determinado, viril. Roberto Aguiar, com seus 30 anos de idade, não era propriamente bonito, no sentido literal da palavra, contudo os bíceps e o peito bem delineados pela musculação constante, combinados a um rosto atraente e de traços largos, causavam inveja a muitos homens e a cobiça de muitas mulheres.Conferindo a barba recém-feita, ele contemplava com orgulho a própria imagem, enquanto sentia o corpo ainda vibrar, por uma vontade sexual quase insaciável.Voltou ao quarto e conferiu as horas no relógio sob a mesinha-de-cabeceira: quase duas horas da manhã. Estava sem sono e um tanto quanto nervoso. Ainda precisava descobrir por que a esposa demorara tanto para sair da faculdade e por que me
Da sacada do 12º. andar, Felipe avistou quando um Corolla cinza estacionou em frente ao prédio.Papai!O dia de sábado era sempre um dia especial para Felipe, pois era o dia que seu pai ia buscá-lo para passear.Instantes depois, a campainha tocou e o menino abriu a porta e pulou nos braços de Daniel.− Papai!− E aí, garotão, como estão as coisas por aqui?− Joia, papai!− E na escola?
O sol ainda emitia seus primeiros raios solares quando Roberto abriu o portão de sua casa. Sentia-se um tanto quanto cansado, pois havia viajado quase a noite inteira, mas, ao mesmo tempo, tranquilo. Não queria mesmo ficar nem mais um dia longe de sua casa, de sua esposa. Tinha tanto medo que Adriana pudesse escapar-lhe do controle, conhecer outras pessoas, outros homens, que até mesmo a simples hipótese de que isso realmente pudesse acontecer causava-lhe aflição.Estacionou o carro da empresa ao lado do próprio carro e não gostou de ver um suporte para bicicleta pendurado atrás. Onde será que Adriana foi?, questionou a si mesmo, antes de entrar no quarto e encontrá-la dormindo, completamente à vontade.Aproximou-se devagar e acariciou-lhe os cabelos. E
O sol ainda emitia seus primeiros raios solares quando Roberto abriu o portão de sua casa. Sentia-se um tanto quanto cansado, pois havia viajado quase a noite inteira, mas, ao mesmo tempo, tranquilo. Não queria mesmo ficar nem mais um dia longe de sua casa, de sua esposa. Tinha tanto medo que Adriana pudesse escapar-lhe do controle, conhecer outras pessoas, outros homens, que até mesmo a simples hipótese de que isso realmente pudesse acontecer causava-lhe aflição.Estacionou o carro da empresa ao lado do próprio carro e não gostou de ver um suporte para bicicleta pendurado atrás. Onde será que Adriana foi?, questionou a si mesmo, antes de entrar no quarto e encontrá-la dormindo, completamente à vontade.Aproximou-se devagar e acariciou-lhe os cabelos. E
Segunda-feira...Adriana nem precisava se olhar no espelho para perceber que seus lábios ainda estavam inchados, mas a realidade no espelho era ainda mais cruel. Parte do rosto parecia mais inchada que no dia anterior.Não poderia trabalhar daquele jeito, mas não tinha como escapar da faculdade. Tinha um trabalho valendo nota e não podia faltar. O que iria dizer às pessoas?Muito pior do que o próprio sofrimento era ter de enfrentar os olhares perscrutadores das pessoas, ter de inventar mentiras.Mas não era a primeira vez que aquilo acontecia, que recebia socos ou tapas de Roberto, embora tivesse de admitir que os golpes estavam cada vez mais violentos e frequentes. D
Daniel fazia um grande esforço para concentrar-se na aula, manter-se discreto. Adriana estava bem ali, à sua frente, e, apesar de parecer bem, ele queria ter certeza. Havia mais de duas semanas tentava conversar com ela, saber como estava, mas ela saía mais cedo da faculdade. Por que estaria fugindo dele?O sinal bateu e Daniel chamou Adriana para fora da sala.− Precisamos conversar, Dri. E ainda hoje.− Hoje não posso – ela alegou.− Por que está fugindo de mim?Ela alteou uma sobrancelha.− Quem disse que estou fugindo de você?