Festas. Natal. Sentimentos múltiplos se passavam pelo coração de Adriana nessa época do ano. Era-lhe impossível não lembrar que a data de seu aniversário, dia 25 de dezembro, era também uma data fictícia. Assim como era impossível não lembrar que precisamente no Natal fora abandonada pela mãe, pela própria mãe, em um cesto.
Como uma mãe tem coragem de fazer isso com uma filha?, perguntava a si mesma, enquanto olhava pela varanda a cidade toda enfeitada, colorida e iluminada por pequenas luzinhas que se destacavam em cada porta, em cada janela, e até mesmo nas árvores e edifícios. A cidade estava linda, e poucos lugares no mundo podiam transmitir tanta alegria e tanta prosperidade. Apesar disso, Adriana estava lutando para não mergulhar na tristeza.
− Chegamos... - alertou Daniel, após estacionar o carro em frente ao enorme prédio de aspecto sombrio, localizado na zona oeste de São Paulo. - Ainda pode mudar de ideia... Dar mais algum tempo.A boca ressequida de tanto nervoso, Adriana disfarçou com um sorriso, antes de falar:− Não, não posso. E obrigada por compreender.− Pra ser sincero, eu não compreendo, Dri. - Ele deixou escapar um suspiro, também estava com os nervos à flor da pele. - Mas aceito sua decisão.Num gesto tranquilizador, para ambos, Adriana pegou a mão de Daniel e entrelaçou seus dedos aos dele, apertando-os com força. Era um gesto, um pequeno gesto. Mas
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO, NO ENTANTO...- De acordo com o Conselho da Europa (integrante do sistema europeu de proteção aos direitos humanos), a violência doméstica é a principal causa de morte e deficiência entre mulheres de 16 a 44 anos de idade e mata mais do que câncer e acidentes de trânsito.- Mais de 40% das violências resultam em lesões corporais graves decorrentes de socos, tapas, chutes, amarramentos, queimaduras, espancamentos e estrangulamentos.- Um levantamento da OMS (Organização Mundial da Sa&uacu
A imagem que se refletia no espelho era de dor, desesperança. Com pouco mais de 20 anos de idade, ela em nada se parecia à mulher forte e determinada de outrora.O que havia acontecido para que houvesse uma mudança tão radical? Onde estaria a mulher corajosa de antigamente?Refugiara-se atrás do medo, pensou com amargura, enquanto fazia esforço para não perder o controle.Mas a verdade era que havia muito tempo ela não tinha mais o controle da própria situação. Por isso, deixou as lágrimas correrem livremente. Em seguida, abriu o chuveiro e ensaboou-se com força, para lavar as marcas que seu marido deixara em seu corpo... as marcas de um amor doentio.
Segunda-feira, 7 de fevereiro – 6 horasAdriana ainda tinha o rosto riscado pelas lágrimas quando retornou aos seus aposentos e começou a vestir-se, a se arrumar. Mas ao entrar no quarto da filha, de apenas 5 anos de idade, um pouco de sua amargura se dissolveu.Sua pequena Letícia dormia profunda e tranquilamente, de lado, a face direita no travesseiro e o dedinho polegar na boca. Adriana se ajoelhou ao lado da cama e passou a mão por seus cabelos:− Bom dia, minha querida.− Bom dia, mamãe.− Como dormiu esta noite?− Dormi bem &ndash
Adriana tinha certeza de que o marido faria questão de levá-la à faculdade, e tinha certeza também que ele ficaria muito irritado caso ela não o aguardasse, mas já era quase sete horas da noite e Roberto não havia retornado de uma obra que fora visitar no início da tarde.Durante mais de meia hora, ela tentara falar com ele pelo celular, porém apenas a voz fria e indiferente da secretária eletrônica a atendia.Não posso aguardar mais, pensou, depois de pegar o telefone e fazer mais três tentativas frustradas de conversar com o marido.Seja o que Deus quiser!, disse baixinho.Faltavam apenas alguns minutos para o início da aula quando Daniel Diniz Pacheco entrou na sala
A imagem que agora se refletia no espelho mostrava um homem altivo, determinado, viril. Roberto Aguiar, com seus 30 anos de idade, não era propriamente bonito, no sentido literal da palavra, contudo os bíceps e o peito bem delineados pela musculação constante, combinados a um rosto atraente e de traços largos, causavam inveja a muitos homens e a cobiça de muitas mulheres.Conferindo a barba recém-feita, ele contemplava com orgulho a própria imagem, enquanto sentia o corpo ainda vibrar, por uma vontade sexual quase insaciável.Voltou ao quarto e conferiu as horas no relógio sob a mesinha-de-cabeceira: quase duas horas da manhã. Estava sem sono e um tanto quanto nervoso. Ainda precisava descobrir por que a esposa demorara tanto para sair da faculdade e por que me
Da sacada do 12º. andar, Felipe avistou quando um Corolla cinza estacionou em frente ao prédio.Papai!O dia de sábado era sempre um dia especial para Felipe, pois era o dia que seu pai ia buscá-lo para passear.Instantes depois, a campainha tocou e o menino abriu a porta e pulou nos braços de Daniel.− Papai!− E aí, garotão, como estão as coisas por aqui?− Joia, papai!− E na escola?
O sol ainda emitia seus primeiros raios solares quando Roberto abriu o portão de sua casa. Sentia-se um tanto quanto cansado, pois havia viajado quase a noite inteira, mas, ao mesmo tempo, tranquilo. Não queria mesmo ficar nem mais um dia longe de sua casa, de sua esposa. Tinha tanto medo que Adriana pudesse escapar-lhe do controle, conhecer outras pessoas, outros homens, que até mesmo a simples hipótese de que isso realmente pudesse acontecer causava-lhe aflição.Estacionou o carro da empresa ao lado do próprio carro e não gostou de ver um suporte para bicicleta pendurado atrás. Onde será que Adriana foi?, questionou a si mesmo, antes de entrar no quarto e encontrá-la dormindo, completamente à vontade.Aproximou-se devagar e acariciou-lhe os cabelos. E