O sol ainda emitia seus primeiros raios solares quando Roberto abriu o portão de sua casa. Sentia-se um tanto quanto cansado, pois havia viajado quase a noite inteira, mas, ao mesmo tempo, tranquilo. Não queria mesmo ficar nem mais um dia longe de sua casa, de sua esposa. Tinha tanto medo que Adriana pudesse escapar-lhe do controle, conhecer outras pessoas, outros homens, que até mesmo a simples hipótese de que isso realmente pudesse acontecer causava-lhe aflição.
Estacionou o carro da empresa ao lado do próprio carro e não gostou de ver um suporte para bicicleta pendurado atrás. Onde será que Adriana foi?, questionou a si mesmo, antes de entrar no quarto e encontrá-la dormindo, completamente à vontade.
Aproximou-se devagar e acariciou-lhe os cabelos. E
Segunda-feira...Adriana nem precisava se olhar no espelho para perceber que seus lábios ainda estavam inchados, mas a realidade no espelho era ainda mais cruel. Parte do rosto parecia mais inchada que no dia anterior.Não poderia trabalhar daquele jeito, mas não tinha como escapar da faculdade. Tinha um trabalho valendo nota e não podia faltar. O que iria dizer às pessoas?Muito pior do que o próprio sofrimento era ter de enfrentar os olhares perscrutadores das pessoas, ter de inventar mentiras.Mas não era a primeira vez que aquilo acontecia, que recebia socos ou tapas de Roberto, embora tivesse de admitir que os golpes estavam cada vez mais violentos e frequentes. D
Daniel fazia um grande esforço para concentrar-se na aula, manter-se discreto. Adriana estava bem ali, à sua frente, e, apesar de parecer bem, ele queria ter certeza. Havia mais de duas semanas tentava conversar com ela, saber como estava, mas ela saía mais cedo da faculdade. Por que estaria fugindo dele?O sinal bateu e Daniel chamou Adriana para fora da sala.− Precisamos conversar, Dri. E ainda hoje.− Hoje não posso – ela alegou.− Por que está fugindo de mim?Ela alteou uma sobrancelha.− Quem disse que estou fugindo de você?
Os nervos de Adriana estavam à flor da pele quando ela se encontrou com Daniel no estacionamento. Mal havia conseguido trabalhar o dia inteiro pensando nisso.− Olá, Dani.Ele sentiu uma onda de alívio ao vê-la. Pensara o dia inteiro que ela não iria ao seu encontro.− Olá, Dri.− Desculpe o atraso. Eu estava terminando de copiar a matéria – explicou com um sorriso tenso, após se acomodar no confortável banco do passageiro.Ele tomou a mão dela por um momento e segurou entre as suas.− Sua mão está
Após inúmeros convites de seu pai para que conhecesse a sua nova casa e a esposa, Daniel, finalmente, decidiu ir visitá-lo. Na verdade, estava com muita saudade de “seu velho” e tinha certeza que ele também sentia saudade, principalmente do neto. Por isso, logo cedo, pegou Felipe e se dirigiu para lá.Parou o carro na portaria de um condomínio luxuoso na região de Alphaville e, enquanto aguardava a liberação para entrar, tentava reprimir a sensação estranha de estar traindo sua mãe. Já fazia mais de um mês que o velho havia saído de casa e a mãe ainda não se conformara.Independentemente disso,o pai sempre fora um grande amigo, pensou Daniel. E ele não estava disposto a abdicar dessa ami
Depois do que uma colega de faculdade lhe dissera sobre a capoeira, Adriana ficou curiosa por conhecer aquela modalidade de luta. Por isso, naquele sábado, decidiu ir logo cedo até uma academia não muito longe de sua casa para assistir uma aula.Chegando lá, foi conduzida a uma sala grande com um círculo ao meio, onde já se encontravam vários jovens de camiseta e calça brancas, sentados à borda. Adriana sentou-se num canto da sala com mais duas moças e um rapaz, que também estavam ali para assistir à aula, e logo alguns daqueles jovens de branco começaram a tocar uma música de ritmo gostoso, descontraído, contagiante. Os instrumentos musicais utilizados eram diferentes e nem um pouco familiares: berimbau, atabaque, pandeiro, agogô, reco-reco, mas emitiam um som bem conhecido que
Ela pensou nele o dia inteiro, em tudo o que havia acontecido. Quase não conseguiu trabalhar direito. Por isso resolveu, após muita hesitação, ligar para ele, no final da tarde. Mas não havia ninguém em casa e a voz fria do celular pedia para deixar recado.Ela não queria deixar recado, queria conversar com ele, tentar se explicar; assim, no horário do intervalo, arrumou rapidamente suas coisas e saiu correndo. Quase tropeçou na escada e já estava com o coração acelerado quando chegou ao estacionamento. E não lhe ocorreu, até chegar ali, que era possível que ele já tivesse ido embora, afinal ela havia dito que não iria àquele encontro. Mas ele estava lá. Ele estava lá!− Dani...
Imóvel, sob o corpo satisfeito de Daniel, Adriana de repente parecia confusa, angustiada. Tentou entender por que se sentia assim, e concluiu que não deveria ter feito o que fez, afinal, apesar dos pesares, ainda era uma mulher casada. Sabia que era no mínimo ridículo dedicar fidelidade a um marido que não a valorizava nem um pouco. Porém, ainda assim, seu coração continuava pesado. Muito pesado.Imaginando que Daniel fosse simplesmente tombar para o lado, como Roberto costumava fazer depois que se satisfazia, ela aguardou por um momento. Mas ele continuou ali, a beijar seu rosto sem nenhuma pressa. Parecia que nunca mais ia parar de acariciá-la.− Preciso ir, Dani.− Por quê? – perguntou
... e o amanhecer chegou, rosado e ledo;sequei o pranto, e fiz uma armadura,dando escudos e lanças ao meu medo...–William Blake–CAPÍTULO 14Quando despertou, quase 24 horas depois de internada, Adriana não estava completamente consciente de seu estado, por isso levou alguns segundos para entender o que se passava à sua volta, para reconhecer as vozes que ecoavam em seu ouvido.− ... Ela vai ficar boa, doutor?− ... o anteb