Ela pensou nele o dia inteiro, em tudo o que havia acontecido. Quase não conseguiu trabalhar direito. Por isso resolveu, após muita hesitação, ligar para ele, no final da tarde. Mas não havia ninguém em casa e a voz fria do celular pedia para deixar recado.
Ela não queria deixar recado, queria conversar com ele, tentar se explicar; assim, no horário do intervalo, arrumou rapidamente suas coisas e saiu correndo. Quase tropeçou na escada e já estava com o coração acelerado quando chegou ao estacionamento. E não lhe ocorreu, até chegar ali, que era possível que ele já tivesse ido embora, afinal ela havia dito que não iria àquele encontro. Mas ele estava lá. Ele estava lá!
− Dani...
Imóvel, sob o corpo satisfeito de Daniel, Adriana de repente parecia confusa, angustiada. Tentou entender por que se sentia assim, e concluiu que não deveria ter feito o que fez, afinal, apesar dos pesares, ainda era uma mulher casada. Sabia que era no mínimo ridículo dedicar fidelidade a um marido que não a valorizava nem um pouco. Porém, ainda assim, seu coração continuava pesado. Muito pesado.Imaginando que Daniel fosse simplesmente tombar para o lado, como Roberto costumava fazer depois que se satisfazia, ela aguardou por um momento. Mas ele continuou ali, a beijar seu rosto sem nenhuma pressa. Parecia que nunca mais ia parar de acariciá-la.− Preciso ir, Dani.− Por quê? – perguntou
... e o amanhecer chegou, rosado e ledo;sequei o pranto, e fiz uma armadura,dando escudos e lanças ao meu medo...–William Blake–CAPÍTULO 14Quando despertou, quase 24 horas depois de internada, Adriana não estava completamente consciente de seu estado, por isso levou alguns segundos para entender o que se passava à sua volta, para reconhecer as vozes que ecoavam em seu ouvido.− ... Ela vai ficar boa, doutor?− ... o anteb
Meia hora depois, Olívia chegou ao hospital, e ficou chocada ao entrar no quarto da amiga de faculdade.− O que aconteceu com você? Foi atropelada por um trem? – perguntou, com um sorriso complacente que iluminou seu rosto sério.Apesar da profunda vergonha por sua situação, Adriana procurou forçar um sorriso. Depois, ajeitou-se como pôde à cabeceira da cama estreita e desconfortável.− Antes fosse.Olívia sentou-se aos pés da cama. Com alguma frequência, atendia a casos semelhantes ao de Adriana ou até mesmo piores, mas nunca se acostumava.− Ele pegou pe
Roberto estava a caminho do hospital quando seu celular tocou.− Alô.− Sr. Roberto, aqui é a Marisa.− Só um momento. – Ele parou um pouco mais à frente, quando o semáforo fechou. – Fala, Marisa. O que houve? Parece nervosa.− E estou mesmo. Na verdade, estou desesperada...− Desesperada?! Por quê? Aconteceu alguma coisa?− A Letícia, senhor... ela... ela...Rapidamente, os nervos de Roberto se agitaram.
Semanas depois...Quando Daniel levantou, ela já estava na cozinha, embrulhada num roupão felpudo e preparando o café-da-manhã.− Acordou cedo hoje. O que houve?Num esforço para parecer descontraída, ela virou-se e o beijou na face antes de responder:− Nada. Eu apenas... apenas estava sem sono.Ele a conhecia bem demais para se deixar enganar.− Não é o que parece ao olhar para essas duas ruguinhas no meio da sua testa.&m
Naquela sexta-feira, quando Roberto chegou ao escritório do seu amigo Waldo, os nervos agitavam-se sob sua pele como se fossem vespas atiçadas. Já fazia quase dois meses que ele esperava por notícias da esposa e da filha,e nada. Mas ele não ia se conformar enquanto não as encontrasse, enquanto não as trouxesse de volta para casa. Faria qualquer coisa para tê-las de volta ao seu lado. Qualquer coisa mesmo.− Assim não tem condições, cara! Estou com os nervos à flor da pele. – Ele chegou gritando. – Não aguento mais esperar.Waldo Prates, um homem de estatura mediana, expressão suave e sorriso fácil, fitou-o por detrás de sua escrivaninha e dos óculos redondos, antes de dizer com voz
Seu nome soava baixinho na escuridão da noite:Daniel... Daniel...Enquanto ele corria com dificuldade por uma estrada escura, deserta, sem fim.Talvez fosse um pedido de socorro. No entanto, para todos os lugares que ele olhava, não via nada, não via ninguém.− Onde você está? O que está acontecendo?De repente, a voz soou mais alta. Cada vez mais alta.− Daniel... Daniel...Com o coração disparado, ele sentou-se subitamente na cama e piscou várias vezes até as imagens entrarem em foco. O pesadelo acabou.Ou come&c
Uma campainha metálica tocou insistentemente antes que Daniel despertasse. Lentamente, ele estendeu a mão, tateou sobre a mesinha de cabeceira e atendeu ao telefone.− Alô.A voz sonolenta e um tanto quanto mal-humorada fez Adriana sorrir.− Oi, Dani, é a Dri. Acordei você?− Para falar a verdade, sim.− Desculpe... E aí, está tudo bem? Nunca vi você dormindo até essa hora.Daniel semicerrou os olhos e conferiu as horas no relógio sobre o criado-mudo: 10 horas da manhã. Realmente, não costumava dormir até tão tarde,