Uma campainha metálica tocou insistentemente antes que Daniel despertasse. Lentamente, ele estendeu a mão, tateou sobre a mesinha de cabeceira e atendeu ao telefone.
− Alô.
A voz sonolenta e um tanto quanto mal-humorada fez Adriana sorrir.
− Oi, Dani, é a Dri. Acordei você?
− Para falar a verdade, sim.
− Desculpe... E aí, está tudo bem? Nunca vi você dormindo até essa hora.
Daniel semicerrou os olhos e conferiu as horas no relógio sobre o criado-mudo: 10 horas da manhã. Realmente, não costumava dormir até tão tarde,
Eram cinco horas da manhã quando Adriana despertou, aconchegada nos braços de Daniel. Ele estava acordado.− Você não dormiu? – Perguntou, após estender a mão para acender a luz do abajur e conferir as horas no radiorrelógio.− Estou sem sono.Com a cabeça levemente inclinada, Adriana deixou-se ficar absorvida pelos olhos de Daniel, enquanto uma sensação suave e agradável que sucede ao sexo ainda persistia em seu corpo.− O que foi? – indagou ele com um leve sorriso.− Nada. Quero apenas olhá-lo. Não posso?
Bêbado, Roberto chegou de Ourinhos e pegou outra garrafa de vodca, antes de se jogar no sofá. Já fazia muito tempo que não bebia tanto, desde a adolescência, desde o falecimento do pai. Mas agora ele precisava da bebida para esquecer. Esquecer que estava sozinho. Esquecer que tinha sido abandonado. Assim como seu pai...Após o enterro de Augusto Aguiar, Roberto ficara desnorteado, completamente perdido. A mãe saíra de casa quando ele tinha apenas 10 anos de idade, e nunca mais voltou, nem mesmo depois da morte de Augusto. O pai era, portanto, tudo o que tinha, era seu único companheiro e amigo, mas morrera na solidão por causa de uma mulher, por causa de sua mãe.Roberto nunca perdoaria sua mãe por isso. Nunca. E apesar de guardar no fundo de seu cora&cced
Sol, mar, dunas branquíssimas, piscinas naturais de água morna, tartarugas marinhas e até mesmo golfinhos. A praia de Pipa, um santuário ecológico localizado no município de Tibau do Sul, a 80 km de Natal/RN, é sem dúvida um pedacinho do céu, um verdadeiro paraíso, pensou Adriana, enquanto curtia o sol de antes das dez da manhã e observava a filha se divertir com suas mais novas amiguinhas.Entretanto, apesar da beleza estonteante do local, Adriana não suportava mais ficar ali. Quase seis meses se passaram desde que Letícia e ela desembarcaram em Pipa e a saudade que sentia de Daniel era gigantesca. Precisava de qualquer jeito revê-lo, tocá-lo,ser tocada. A última noite em que estivera com ele não saía de sua cabeça. E mesmo de olhos abertos,
Ainda era cedo, nem dez horas da manhã, quando Roberto abriu bruscamente a porta do escritório de Waldo Prates. E já estava completamente embriagado, além de drogado.− Quero saber notícias da minha mulher – disse, aos berros.Foi impossível para Waldo não levar um susto diante da cena que viu. Roberto estava em péssimo estado. Os olhos vermelhos, injetados, e as roupas sujas. Parecia que não dormia havia dias.− Meu Deus, cara, o que aconteceu com você?!− Nada! – respondeu ele com um bafo horrível.− Está bêbado a esta hora da manh&ati
Embora o sol potiguar já entrasse com vigor pela treliça da janela do quarto, ainda era cedo quando Adriana despertou, assustada, coração disparado, suando em bicas. Não conseguiu dormir direito quase a noite inteira, pensando, refletindo quanto à decisão que havia tomado, e, quando finalmente conseguiu pegar no sono, teve um terrível pesadelo. Esporadicamente, tinha o mesmo sonho: Beto entrava em seu quarto e a espancava violentamente, depois de estuprá-la.Acordou com o rosto molhado pelas lágrimas, sufocando os soluços para não despertar a filha que dormia tranquila ao seu lado.Já fazia algum tempo que não sonhava com Beto, mas talvez a decisão que havia tomado tivesse mexido com sua cabeça, com seus sentimentos, pensou Ad
Férias. Até que enfim!, pensou Daniel, enquanto ajeitava algumas peças de roupas em uma mala.Nunca ansiara tanto por suas férias. Estava de viagem marcada para o Rio Grande do Norte para o dia seguinte, dia 23, antevéspera do Natal, e faria uma surpresa para Adriana e Letícia. Não via a hora de vê-las, pois a saudade que sentia parecia destroçar seu coração a cada momento.Por diversas vezes, durante aqueles seis meses, sentiu vontade de ir vê-las, mas toda vez que ligava para Adriana, do orelhão da faculdade, ela alegava que ainda não era hora, que era perigoso e que ainda não estava preparada.Mas preparada para quê, meu Deus?!,perguntou-se Daniel, men
Festas. Natal. Sentimentos múltiplos se passavam pelo coração de Adriana nessa época do ano. Era-lhe impossível não lembrar que a data de seu aniversário, dia 25 de dezembro, era também uma data fictícia. Assim como era impossível não lembrar que precisamente no Natal fora abandonada pela mãe, pela própria mãe, em um cesto.Como uma mãe tem coragem de fazer isso com uma filha?, perguntava a si mesma, enquanto olhava pela varanda a cidade toda enfeitada, colorida e iluminada por pequenas luzinhas que se destacavam em cada porta, em cada janela, e até mesmo nas árvores e edifícios. A cidade estava linda, e poucos lugares no mundo podiam transmitir tanta alegria e tanta prosperidade. Apesar disso, Adriana estava lutando para não mergulhar na tristeza.
− Chegamos... - alertou Daniel, após estacionar o carro em frente ao enorme prédio de aspecto sombrio, localizado na zona oeste de São Paulo. - Ainda pode mudar de ideia... Dar mais algum tempo.A boca ressequida de tanto nervoso, Adriana disfarçou com um sorriso, antes de falar:− Não, não posso. E obrigada por compreender.− Pra ser sincero, eu não compreendo, Dri. - Ele deixou escapar um suspiro, também estava com os nervos à flor da pele. - Mas aceito sua decisão.Num gesto tranquilizador, para ambos, Adriana pegou a mão de Daniel e entrelaçou seus dedos aos dele, apertando-os com força. Era um gesto, um pequeno gesto. Mas