Depois de dizer tudo isso, Miguel olhou para Felipinho, acariciou sua cabeça e disse: — Felipinho, eu sei que, na primeira vez que enfrentamos o perigo, podemos ficar muito assustados e confusos. Mas pessoas como nós, que possuem riquezas que os outros jamais alcançarão, estão destinadas a enfrentar muitos perigos... Ele não escondeu a verdade do menino, mas explicou que o mundo sempre foi perigoso. Do lado de fora, Luiza ouvia e, no fundo, concordava com o método de educação dele. Ela e Miguel cresceram sob métodos de criação completamente diferentes. Miguel, sob a orientação do Sr. Souza, entendeu desde cedo a natureza humana e a lei da selva. Já Luiza foi criada sob proteção. Bryan nunca lhe contou sobre as crueldades do mundo, na esperança de que ela permanecesse uma criança inocente. Embora fosse alegre e ingênua, seu amadurecimento foi lento. Levou muitos anos para que ela compreendesse a realidade do mundo. Mas agora, ela esperava que Felipinho fosse educado como
— Eu amo a mamãe. — Felipinho já estava muito cansado, e a voz se tornou confusa. Antes de adormecer, acrescentou. — E também amo o papai... O coração de Luiza deu um salto. Quando olhou novamente para Felipinho, ele já estava profundamente adormecido. "Crianças adormecem tão rápido", pensou ela. Luiza suspirou suavemente e o carregou de volta ao quarto do hospital. Melissa chegou novamente, desta vez trazendo o almoço. Sem perceber, já haviam se passado algumas horas. Ao ver Felipinho nos braços de Luiza, Melissa perguntou: — O Felipinho já dormiu? — Sim. — Luiza respondeu, colocando Felipinho na cama e o cobrindo com cuidado. Maria já havia recebido alta. Não era nada grave e, após 24 horas de observação, ela foi para casa descansar. Agora, só restavam Luiza e Melissa no quarto do hospital. Melissa colocou uma marmita térmica sobre o criado-mudo ao lado da cama de Felipinho e entregou outra para Luiza: — Esse é o almoço. O chef de casa preparou. Leve para o Migu
— Parece que a avó também se preocupa comigo. — Miguel sorriu. Luiza o ignorou e se virou para pegar o almoço na marmita. Era composto por alguns ingredientes leves e uma sopa. Ela abriu os recipientes um por um, organizou os talheres e colocou uma colher na sopa. Depois de arrumar tudo, ela se virou para olhá-lo e percebeu que o olhar de Miguel estava fixo nela. Não sabia há quanto tempo ele estava assim. Luiza se sentiu um pouco desconfortável, sem motivo aparente, e disse: — Vamos comer. — Você já comeu? — Miguel perguntou. Luiza balançou a cabeça. — Vou comer quando você terminar. Ao ouvir que ela pretendia ir embora depois, Miguel franziu levemente as sobrancelhas. — Fique aqui e coma comigo. Tem muita comida, não vou conseguir comer tudo. Seus olhos mostravam um pedido sincero. Luiza não sabia o por quê, mas não conseguia recusá-lo. Olhou para a comida e viu que realmente era muita. Acabou aceitando. — Tá bom. Se sentaram e começaram a comer frente a f
Os cílios de Luiza tremularam levemente enquanto ela o olhava, sem saber exatamente o que dizer. Ela apenas murmurou: — De novo esse assunto? — Se eu não falar, como você vai entender o que eu penso? — Miguel respondeu com um sorriso tranquilo, mantendo os olhos fixos nela. Luiza suspirou, um tanto desconcertada. Estava prestes a encerrar a conversa, mas, de repente, uma cena invadiu sua mente. Ele estava coberto de sangue, segurando Felipinho nos braços. Com o rosto pálido e um olhar exausto, ele parou diante dela e disse, com uma voz fraca: — Eu trouxe o Felipinho de volta para você. Seu coração deu um salto, e ela imediatamente virou o rosto para olhá-lo. Miguel a observava com um olhar profundo e intenso. Luiza ficou sem palavras. Antes que pudesse raciocinar, as palavras simplesmente escaparam de sua boca: — Você está falando sério? Assim que terminou de falar, se arrependeu imediatamente. Queria se culpar por ter sido tão impulsiva. Enquanto ainda estava pre
Ao ver o jeito encantadoramente teimoso dela, Miguel fixou seu olhar profundo e, com a voz rouca, disse: — Então me dá um beijo. — Nem pensar. — Eu não consigo ficar longe de você. Luiza sentiu que ele estava provocando ela. Seu rosto ficou quente de repente, e ela respondeu com uma leve birra: — Você não para de ser tão grudento. — Namorar é assim, sempre grudado. — Mas nós nem estamos namorando. Já nos conhecemos há tanto tempo... Somos praticamente um casal de velhos. — Recomeçar significa namorar de novo. — A voz rouca de Miguel sussurrou em seu ouvido enquanto ele apertava suavemente o lóbulo da orelha dela. Esse gesto era íntimo demais, e Luiza sentiu como se uma corrente elétrica tivesse passado por todo o seu corpo. Ela se enrijeceu e disse: — Quem disse que eu quero namorar você? — Você acabou de aceitar. — Miguel respondeu. Mas Luiza já não queria mais ouvir. Se virou e saiu do quarto. Se continuasse o ouvindo, não conseguiria ir embora. Ao sair, toc
Um grupo de pessoas caminhava em direção ao elevador. Eduardo, sempre ágil, imediatamente pegou Felipinho no colo, apanhou a bagagem das mãos de Melissa e disse: — Sra. Melissa, vou levá-los até o elevador. — Está bem. — Melissa entendeu o gesto e apressou o passo, deixando espaço para eles. Luiza e Miguel ficaram para trás. Luiza empurrava a cadeira de rodas dele quando Miguel, de repente, levantou a mão e tocou delicadamente na mão dela. Luiza sentiu um calor súbito no dorso da mão, quase a retirando instintivamente. — Quando vocês voltarem, se sentir saudades de mim, pode me ligar. — Miguel sorriu. Luiza se sentiu um pouco desconfortável, acenando levemente com a cabeça. "Como explicar isso? Era como aquela timidez de um primeiro namoro. Talvez pelo fato de estarmos tanto tempo afastados, agora, ao começarmos a conviver, tudo parecia um tanto desajeitado." — Venha cá. — Miguel, de repente, fez um gesto com o dedo para ela. — O que foi? — Luiza abaixou a cabeça,
— Sim! — Respondeu Eduardo, antes de perguntar. — Sr. Miguel, o que o senhor gostaria de jantar? Miguel se virou, pensou por um instante e perguntou: — A Luiza não veio me procurar? — Não. — Eduardo balançou a cabeça. Miguel olhou o relógio. Já passava das sete. O celular estava em completo silêncio, sem nenhuma mensagem. Ele perguntou: — Ela pediu para alguém me trazer o jantar? — Também não. — Eduardo respondeu com honestidade. O bom humor de Miguel foi desaparecendo aos poucos, até ser substituído por um leve aborrecimento. Percebendo isso, Eduardo saiu discretamente e ligou para Luiza. Luiza estava em casa, acompanhando Felipinho enquanto ele desenhava. Ao atender a ligação de Eduardo, ela disse: — Felipinho, continue desenhando. A mamãe vai atender o tio Eduardo rapidinho. Ela largou o pincel e atendeu: — Alô, Eduardo. — Sra. Souza, a senhora não vai ver o Sr. Miguel hoje à noite? — Perguntou Eduardo. — Não, estou em casa com o Felipinho. Por quê? E
Luiza não conseguiu conter o riso: — Cheguei em casa e já fiquei ocupada. O Francisco veio falar sobre o Theo, e nós passamos duas horas conversando no escritório. Ela não precisou dizer mais nada sobre o Theo, pois Miguel já estava ciente da situação. Ele apenas continuou a perguntar: — E depois? — Depois o mordomo nos chamou para jantar. E o Felipinho ficou insistindo que eu o ajudasse a desenhar. Você sabe como é, né? Aquele tempo de qualidade em que não se pode nem mexer no celular. As desculpas dela eram muitas. Miguel ouviu tudo com uma mistura de irritação e frustração. Ele queria ficar bravo, mas não conseguia. Mesmo assim, se sentia desconfortável com a situação. Luiza percebeu que, de fato, havia deixado ele de lado. Desde que chegou em casa, nem sequer mandou uma mensagem para avisar que estava bem. Era natural que ele estivesse aborrecido. Por outro lado, ela ainda não estava acostumada com a dinâmica de um relacionamento. Se nunca enviava mensagens, mandar