— Por que você acordou? — Luiza ficou um pouco chocada. — Você não estava sob efeito de anestesia? — Foi anestesia local no braço. Luiza arregalou os olhos, surpresa. — Então, quer dizer que você estava acordado o tempo todo? — Sim. Ele sabia que ela tinha chorado e segurado a mão dele? A mente de Luiza ficou confusa. — E por que você não disse nada? — Quando saí da sala de cirurgia, eu estava exausto, então fechei os olhos, mas, de alguma forma, percebia que alguém estava segurando minha mão. Era você, né... — Miguel abriu os olhos e, ao ver que era ela, ficou visivelmente feliz. Isso mostrava que ela se importava com ele. Luiza, no entanto, parecia desconfortável. Respondeu, um pouco emburrada: — Você deveria ter dito alguma coisa. — Eu já disse, eu não tinha forças. — Ao salvar Felipinho, ele havia usado toda a energia que tinha e agora estava completamente esgotado. Luiza percebeu a exaustão dele e decidiu não insistir. Com os olhos vermelhos, disse suavemente
Ao voltar para o quarto, Melissa perguntou a ela: — Luiza, o que o médico disse? — O médico disse que amanhã vai chamar um psicólogo para uma consulta. — Luiza respondeu enquanto ajudava Melissa a se acomodar. Melissa assentiu com a cabeça. — E o Miguel? — A cirurgia já terminou. O médico disse que foi um sucesso. Provavelmente, quando ele acordar, estará bem. — Você precisa ir até lá para ficar de olho nele? Luiza pensou por um momento antes de responder: — Sim, preciso. O Eduardo foi descansar e não tem ninguém com ele agora. Vovó, vou deixar o Felipinho aos seus cuidados. — Eu sou a bisavó dele. É minha obrigação cuidar dele. — Depois de levar Melissa de volta ao quarto, Luiza chamou Francisco para o corredor e perguntou. — Foi o Theo que fez isso dessa vez? Francisco assentiu. — Estragamos o projeto de aquisição do ponto turístico dele. Agora ele está como um cachorro acuado. Já começou a se vingar. Agora, Theo nem sequer se importava mais com a segurança do
O médico e os enfermeiros chegaram rapidamente. O médico levantou a gaze do ombro de Miguel, revelando um ferimento de bala. A carne necrosada já havia sido removida, deixando um buraco vazio e ensanguentado. Luiza deu uma olhada e imediatamente desviou o olhar. Era uma cena horrível demais para encarar. — Ficou assustada? — Miguel notou a reação dela e não conseguiu evitar um sorriso de canto. "Ainda consegue achar graça?" Pensou Luiza. Ela disse: — Esse ferimento parece muito grave. — Isso não é nada. — Respondeu Miguel, em um tom despreocupado. — Já tive ferimentos muito piores do que esse. De fato, ele tinha várias cicatrizes espalhadas pelo corpo, evidências das situações extremamente cruéis que já enfrentou no passado. Luiza suspirou. — Sr. Miguel, agora vou aplicar um analgésico no ferimento. Vai doer um pouco, mas logo a dor vai diminuir. — Avisou o médico, enquanto preparava o medicamento. Miguel assentiu com a cabeça. — Certo. — Quando virou o rosto, v
— Apenas dando água? — Ele não pôde evitar rir, um riso astuto. — Dando água a ponto de quase se beijarem? O rosto dela ficou ainda mais vermelho. — Não a provoque. — Miguel não gostava de ver Francisco zombar de Luiza e lançou a ele um olhar frio. — Você é um completo insensível e ainda tem coragem de tirar sarro dos outros? Francisco olhou para ele e não resistiu à provocação: — Não consigo abaixar a cabeça para agradar aos outros.— Por isso está destinado a ficar solteiro. — Miguel o ironizou. Os dois mal se encontravam e já começavam a discutir. Luiza rapidamente tentou interrompê-los: — Pronto, parem com isso vocês dois. Me dê o pote, que eu mesma vou alimentá-lo. Ao ouvir Luiza dizer isso, Francisco finalmente ficou sério. — Ah, agora que estou aqui, também vim falar sobre Theo. — Sobre o que? — Luiza perguntou. Francisco lançou um olhar para Miguel. Luiza respondeu: — Não tem problema, ele também tem desavenças com o Theo, pode falar na frente dele.
Os dois conversaram frente a frente por um tempo, e logo a tensão que existia antes foi deixada de lado. No geral, a conversa acabou sendo até agradável. Luiza estava sentada ao lado e, ao ver Francisco assentir, ele sorriu para Miguel e disse: — Não achei que, com essa cara de cafajeste, você fosse tão inteligente. — Não tão cafajeste quanto você. — Miguel lançou a ele um olhar sutil. Os dois pareciam estar prestes a começarem outra discussão, e Luiza rapidamente interveio: — Chega, chega, parem com isso. O Miguel está cansado. Francisco, é melhor você voltar para casa e deixá-lo descansar. Francisco olhou para Miguel, que estava com o ombro enfaixado, visivelmente muito fraco. Ele não era alguém que gostava de discutir sem motivo e, com um aceno, disse: — Tá bom, eu vou indo. Assim que Francisco saiu, o clima entre os dois ficou um pouco constrangedor. Sem saber o que fazer, Luiza se virou, abriu o recipiente de comida e revelou que havia um pouco de canja dentro.
Ao ouvir essas palavras, Luiza ficou um pouco preocupada e ergueu a mão para abrir a porta do quarto, querendo verificar como estava Felipinho. Mas Felipinho parecia perfeitamente normal, sentado na cama, montando um modelo de iate, com a mesma postura calma e centrada de sempre. "Será que o Felipinho está escondendo os sentimentos no fundo do coração? Por que nunca percebi que ele era assim? Essa genética é mesmo muito forte... Desde pequeno, ele tem uma personalidade tão parecida com a do Miguel. Não fala sobre o que sente, guarda tudo dentro de si?" Ela, de repente, sentiu uma certa tristeza e o chamou: — Felipinho. — Então, tentou se aproximar para abraçá-lo. — Mamãe! — Felipinho, ao ouvir a voz da mãe, largou o modelo que tinha nas mãos e se virou para abraçá-la. O coração inquieto de Luiza foi instantaneamente preenchido por aquele abraço caloroso, e ela sentiu seus olhos ficarem levemente marejados. Com um tom abafado, Felipinho perguntou: — Mamãe, como está o
— Já passei por isso. Fui sequestrado pela primeira vez quando tinha cinco anos, mais ou menos quando tinha sua idade. Os sequestradores me trancaram em um porão e me espancavam todos os dias. Depois, tiravam fotos do meu corpo cheio de hematomas e mandavam para o meu avô, exigindo um resgate de trezentos milhões. Enquanto Miguel contava, Felipinho conseguia imaginar a cena sufocante: "Uma criança de cinco anos presa em um porão, sofrendo agressões diariamente." — E depois, como você conseguiu escapar? — Felipinho perguntou. — Os sequestradores te soltaram? — Não. — Miguel balançou a cabeça. — Na verdade, os sequestradores não tinham intenção de me libertar. — Por quê? — Porque eu tinha visto o rosto deles. Eles disseram que, depois de receberem o resgate, me matariam e jogariam meu corpo no lago perto da porta da minha casa. Eles falaram isso na minha frente, achando que eu era pequeno demais para entender. — Miguel relembrou a cena, com um olhar profundo. — Foi aí que eu en
Depois de dizer tudo isso, Miguel olhou para Felipinho, acariciou sua cabeça e disse: — Felipinho, eu sei que, na primeira vez que enfrentamos o perigo, podemos ficar muito assustados e confusos. Mas pessoas como nós, que possuem riquezas que os outros jamais alcançarão, estão destinadas a enfrentar muitos perigos... Ele não escondeu a verdade do menino, mas explicou que o mundo sempre foi perigoso. Do lado de fora, Luiza ouvia e, no fundo, concordava com o método de educação dele. Ela e Miguel cresceram sob métodos de criação completamente diferentes. Miguel, sob a orientação do Sr. Souza, entendeu desde cedo a natureza humana e a lei da selva. Já Luiza foi criada sob proteção. Bryan nunca lhe contou sobre as crueldades do mundo, na esperança de que ela permanecesse uma criança inocente. Embora fosse alegre e ingênua, seu amadurecimento foi lento. Levou muitos anos para que ela compreendesse a realidade do mundo. Mas agora, ela esperava que Felipinho fosse educado como