— Apenas dando água? — Ele não pôde evitar rir, um riso astuto. — Dando água a ponto de quase se beijarem? O rosto dela ficou ainda mais vermelho. — Não a provoque. — Miguel não gostava de ver Francisco zombar de Luiza e lançou a ele um olhar frio. — Você é um completo insensível e ainda tem coragem de tirar sarro dos outros? Francisco olhou para ele e não resistiu à provocação: — Não consigo abaixar a cabeça para agradar aos outros.— Por isso está destinado a ficar solteiro. — Miguel o ironizou. Os dois mal se encontravam e já começavam a discutir. Luiza rapidamente tentou interrompê-los: — Pronto, parem com isso vocês dois. Me dê o pote, que eu mesma vou alimentá-lo. Ao ouvir Luiza dizer isso, Francisco finalmente ficou sério. — Ah, agora que estou aqui, também vim falar sobre Theo. — Sobre o que? — Luiza perguntou. Francisco lançou um olhar para Miguel. Luiza respondeu: — Não tem problema, ele também tem desavenças com o Theo, pode falar na frente dele.
Os dois conversaram frente a frente por um tempo, e logo a tensão que existia antes foi deixada de lado. No geral, a conversa acabou sendo até agradável. Luiza estava sentada ao lado e, ao ver Francisco assentir, ele sorriu para Miguel e disse: — Não achei que, com essa cara de cafajeste, você fosse tão inteligente. — Não tão cafajeste quanto você. — Miguel lançou a ele um olhar sutil. Os dois pareciam estar prestes a começarem outra discussão, e Luiza rapidamente interveio: — Chega, chega, parem com isso. O Miguel está cansado. Francisco, é melhor você voltar para casa e deixá-lo descansar. Francisco olhou para Miguel, que estava com o ombro enfaixado, visivelmente muito fraco. Ele não era alguém que gostava de discutir sem motivo e, com um aceno, disse: — Tá bom, eu vou indo. Assim que Francisco saiu, o clima entre os dois ficou um pouco constrangedor. Sem saber o que fazer, Luiza se virou, abriu o recipiente de comida e revelou que havia um pouco de canja dentro.
Ao ouvir essas palavras, Luiza ficou um pouco preocupada e ergueu a mão para abrir a porta do quarto, querendo verificar como estava Felipinho. Mas Felipinho parecia perfeitamente normal, sentado na cama, montando um modelo de iate, com a mesma postura calma e centrada de sempre. "Será que o Felipinho está escondendo os sentimentos no fundo do coração? Por que nunca percebi que ele era assim? Essa genética é mesmo muito forte... Desde pequeno, ele tem uma personalidade tão parecida com a do Miguel. Não fala sobre o que sente, guarda tudo dentro de si?" Ela, de repente, sentiu uma certa tristeza e o chamou: — Felipinho. — Então, tentou se aproximar para abraçá-lo. — Mamãe! — Felipinho, ao ouvir a voz da mãe, largou o modelo que tinha nas mãos e se virou para abraçá-la. O coração inquieto de Luiza foi instantaneamente preenchido por aquele abraço caloroso, e ela sentiu seus olhos ficarem levemente marejados. Com um tom abafado, Felipinho perguntou: — Mamãe, como está o
— Já passei por isso. Fui sequestrado pela primeira vez quando tinha cinco anos, mais ou menos quando tinha sua idade. Os sequestradores me trancaram em um porão e me espancavam todos os dias. Depois, tiravam fotos do meu corpo cheio de hematomas e mandavam para o meu avô, exigindo um resgate de trezentos milhões. Enquanto Miguel contava, Felipinho conseguia imaginar a cena sufocante: "Uma criança de cinco anos presa em um porão, sofrendo agressões diariamente." — E depois, como você conseguiu escapar? — Felipinho perguntou. — Os sequestradores te soltaram? — Não. — Miguel balançou a cabeça. — Na verdade, os sequestradores não tinham intenção de me libertar. — Por quê? — Porque eu tinha visto o rosto deles. Eles disseram que, depois de receberem o resgate, me matariam e jogariam meu corpo no lago perto da porta da minha casa. Eles falaram isso na minha frente, achando que eu era pequeno demais para entender. — Miguel relembrou a cena, com um olhar profundo. — Foi aí que eu en
Depois de dizer tudo isso, Miguel olhou para Felipinho, acariciou sua cabeça e disse: — Felipinho, eu sei que, na primeira vez que enfrentamos o perigo, podemos ficar muito assustados e confusos. Mas pessoas como nós, que possuem riquezas que os outros jamais alcançarão, estão destinadas a enfrentar muitos perigos... Ele não escondeu a verdade do menino, mas explicou que o mundo sempre foi perigoso. Do lado de fora, Luiza ouvia e, no fundo, concordava com o método de educação dele. Ela e Miguel cresceram sob métodos de criação completamente diferentes. Miguel, sob a orientação do Sr. Souza, entendeu desde cedo a natureza humana e a lei da selva. Já Luiza foi criada sob proteção. Bryan nunca lhe contou sobre as crueldades do mundo, na esperança de que ela permanecesse uma criança inocente. Embora fosse alegre e ingênua, seu amadurecimento foi lento. Levou muitos anos para que ela compreendesse a realidade do mundo. Mas agora, ela esperava que Felipinho fosse educado como
— Eu amo a mamãe. — Felipinho já estava muito cansado, e a voz se tornou confusa. Antes de adormecer, acrescentou. — E também amo o papai... O coração de Luiza deu um salto. Quando olhou novamente para Felipinho, ele já estava profundamente adormecido. "Crianças adormecem tão rápido", pensou ela. Luiza suspirou suavemente e o carregou de volta ao quarto do hospital. Melissa chegou novamente, desta vez trazendo o almoço. Sem perceber, já haviam se passado algumas horas. Ao ver Felipinho nos braços de Luiza, Melissa perguntou: — O Felipinho já dormiu? — Sim. — Luiza respondeu, colocando Felipinho na cama e o cobrindo com cuidado. Maria já havia recebido alta. Não era nada grave e, após 24 horas de observação, ela foi para casa descansar. Agora, só restavam Luiza e Melissa no quarto do hospital. Melissa colocou uma marmita térmica sobre o criado-mudo ao lado da cama de Felipinho e entregou outra para Luiza: — Esse é o almoço. O chef de casa preparou. Leve para o Migu
— Parece que a avó também se preocupa comigo. — Miguel sorriu. Luiza o ignorou e se virou para pegar o almoço na marmita. Era composto por alguns ingredientes leves e uma sopa. Ela abriu os recipientes um por um, organizou os talheres e colocou uma colher na sopa. Depois de arrumar tudo, ela se virou para olhá-lo e percebeu que o olhar de Miguel estava fixo nela. Não sabia há quanto tempo ele estava assim. Luiza se sentiu um pouco desconfortável, sem motivo aparente, e disse: — Vamos comer. — Você já comeu? — Miguel perguntou. Luiza balançou a cabeça. — Vou comer quando você terminar. Ao ouvir que ela pretendia ir embora depois, Miguel franziu levemente as sobrancelhas. — Fique aqui e coma comigo. Tem muita comida, não vou conseguir comer tudo. Seus olhos mostravam um pedido sincero. Luiza não sabia o por quê, mas não conseguia recusá-lo. Olhou para a comida e viu que realmente era muita. Acabou aceitando. — Tá bom. Se sentaram e começaram a comer frente a f
Os cílios de Luiza tremularam levemente enquanto ela o olhava, sem saber exatamente o que dizer. Ela apenas murmurou: — De novo esse assunto? — Se eu não falar, como você vai entender o que eu penso? — Miguel respondeu com um sorriso tranquilo, mantendo os olhos fixos nela. Luiza suspirou, um tanto desconcertada. Estava prestes a encerrar a conversa, mas, de repente, uma cena invadiu sua mente. Ele estava coberto de sangue, segurando Felipinho nos braços. Com o rosto pálido e um olhar exausto, ele parou diante dela e disse, com uma voz fraca: — Eu trouxe o Felipinho de volta para você. Seu coração deu um salto, e ela imediatamente virou o rosto para olhá-lo. Miguel a observava com um olhar profundo e intenso. Luiza ficou sem palavras. Antes que pudesse raciocinar, as palavras simplesmente escaparam de sua boca: — Você está falando sério? Assim que terminou de falar, se arrependeu imediatamente. Queria se culpar por ter sido tão impulsiva. Enquanto ainda estava pre