Amélie Farley Não sei por quanto tempo permanecemos ali, em silêncio, eu olhando para o nada e meu pai soluçando de tanto chorar nos meus cabelos.Tenho a impressão de que horas se passam, talvez mais. Perdi por completo o senso de tempo e realidade.Alguém bate à porta.- O que é? - A voz dele está baixa e falhada, e ele soluça mais algumas vezes.A porta se abre, mas eu não sei quem é. Meus olhos fitaram o nada por tanto tempo que acho que não saem mais de lá. Ouço movimentos por perto e algo sendo colocado sobre o criado-mudo.- Você precisa ir vê a Eleanor, ela está descontrolada quebrando tudo que tem no quarto. - Eu reconheço essa voz, é Antonella.- Não vou deixar minha filha. - Ele beija minha cabeça, e tento me mover mas tudo doi.- Eu sei meu amor, mas você é o único que consegue controlá-la. - Sua voz é baixa e calma.- Eu e Olivia ficamos aqui, e cuidamos dela.O quarto fica em silêncio, então meu pai se mexe com cuidado embaixo de mim, e eu respiro fundo e rápido, com uma
Jamie Farley Observo às árvores chacoalhar com o vento e sinto um aperto no peito. Eu só quero cuidar da minha filha, e mantê-la segura e longe da Eleanor. Sinto que hoje não cumpri meu papel de pai e não á protegi.Escuto os gritos de Eleanor no andar de cima, e me lembro que ainda tenho que lidar com ela. Solto um suspiro alto e faço uma ligeira massagem em minhas têmporas. Terei uma noite longa, muito longa. Me recordo que quando namorávamos, ela nunca demonstrou nenhum tipo de desequilíbrio mental ou emocional. Os surtos só começaram depois que Amélie nasceu. Ela não suportava ouvir o choro da filha, e queria punir o bebê por isso. Então, comecei a observar seu comportamento dentro de casa. Ela se recusava a amamentar nossa filha ou dá qualquer tipo de afeto para ela. Tinha planos de me separar assim que Amélie nascesse, mas conforme o tempo ia passando ela ia ficando cada vez mais agressiva, e só se acalmava quando eu estava por perto. Então percebi que não podia deixar min
Jamie Farley Eleanor tem razão, eu nunca vou saber como é passar por isso. Não faço a mínima ideia de como consolá-la, então apenas me deito ao seu lado e puxo seu corpo para junto do meu. Seus ombros tremem, e suas lagrimas molham minha camisa. Faço carinho em seus cabelos e espero sua crise de choro passar. - Eu machuquei nossa filha, de novo. Não foi por que eu quis, me perdoa por favor, eu não consigo controlar. - Ela aperta os dedos em minha camisa, e se encolhe ao meu lado.- Shhhhhh, vai ficar tudo bem.- Abraço seu corpo magro, e espero, até ouvir seu choro cessar e sua respiração acalmar. O sedativo fez efeito, e ela adormeceuMe levanto com cuidado, e ajeito a coberta em seu corpo antes de sair. Gerald me espera do lado de fora. - Senhor, o doutor Sanders está à sua espera.- Obrigado, Gerald. Pode olhar Eleanor enquanto converso com ele? - Sim, senhor. - Ele faz um pequeno aceno com a cabeça e entra no quarto. Desço até a sala e encontro o doutor Sanders me esperando.
Jamie Farley Chego em casa por volta das 06h30AM. Depois do que tinha acontecido à noite, a única coisa que esperava é encontrar minha mulher na nossa cama. Estava prestes a subir as escadas, quando alguém me chama. - Jamie. - Olivia aparece na soleira da cozinha. - Podemos conversar? Ela parece exausta e bastante abalada. - Claro.- Por mais cansado que eu estive, o assunto parecia ser sério. Sigo ela até a cozinha e me sirvo com uma caneca de café. - Então, o que quer falar comigo?- Me apoio no balcão e ela se senta na cadeira á minha frente. - É sobre a Amélie. - Ela aparece apreensiva.- Nós estamos juntas. Seus olhos estão em mim, captando cada reação.Franzo o cenho.- Juntas? Eu sei que vocês moram juntas.- Não estava entendo nada.- Não, Jamie… - Ela respira fundo e passa as mãos no cabelo. - Juntas, tipo namorando. Namorando? Ela namora minha filha? Minha filha é namorada dela? Não consigo responder, sinto meu raciocínio lento. Tudo faz sentido, por isso me chamou de s
Jamie Farley Ficamos em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamento. - Eu amo uma garota. - Fala baixinho.- Eu sou uma garota que gosta de garotas. - Sim, você é.- Ela sai dos meus braços e me encara. - Eu sou lésbica.- Dessa vez ela grita. - Pai, eu sou lésbica. Só consigo sorrir, sei que é seu grito de libertação. Ela guardou por tanto tempo, agora precisa colocar pra fora. - Simples assim. - Limpo suas lágrimas.- É tão libertador poder finalmente ser eu mesma, sem medo, sem amarras.- Vejo alívio em seu rosto. - Agora vem se deitar, você precisa se recuperar. Nunca vi esse sorriso no rosto dela, tão verdadeiro, tão alegre. Parece que os acontecimentos da noite passada não existe mais. Ajudo ela a se ajeitar na cama, e dou um beijo em sua cabeça. - Descansa, mais tarde venho vê como você está. - Ela segura meu pulso antes de eu levantar. - Estou feliz pelo senhor, Antonella é uma boa mulher. Me desculpe por aquele dia, eu estava com raiva e falei as coisas sem pe
Jamie Farley Eu estava com um dos braços em volta da Antonella, na outra mão segurava o café que ela havia acabado de me entregar. Para cumprimentá-lo, teria que soltá-la. O detestei, de terno chique e profissional, arrumado. Tirei a mão da cintura dela e o cumprimentei. Apertei firme e tentei não pensar em como eu estava horroroso, como se tivesse caído da cama.- Pensei que fosse seu pai, querida.- Falou Davies, sem ter amor a vida.Definitivamente, vou matar esse desgraçado.Ele chamou minha mulher de querida?- Não, eu sou o cara que dorme com ela todas as noites.- Escuto Antonella se engasgar com o café. - Você está bem, querida? - Devolvi o apelido. Foi o melhor que pude fazer e, para falar a verdade, não dava a mínima se estava sendo rude ou não. Ele era um cara no lugar errado na hora errada e jamais seria um amigo meu. Odiei-o à primeira vista.Os olhos dele me estudaram. Decidi que seria eu quem terminaria aquela disputa de território, porque era isso o que fazíamos ali.
Londres, InglaterraAntonella BelliniMeu expediente havia terminado a alguns minutos e eu caminhava tranquilamente por uma calçada no centro de Londres. Estava bastante pensativa nesta noite. De vez em quando, meu olhar vagava desavisadamente á procura de nada. De repente... Amélie!Me lembrei que hoje seria uma grande noite para uma querida amiga, e por mais cansada que eu estivesse, eu prometi que comparecia para prestigia-lá nesse momento tão especial de sua vida. Amélie me acolheu em seus braços e em sua vida sem ao menos me conhecer direito, sou grata a ela por está sendo minha única família aqui em Londres.Nos conhecemos na minha primeira semana na cidade, recém chegada da Itália, eu me encontrava completamente perdida em meio aos ingleses. Amélie me ensinou tudo que sei hoje, me orientou em como a andar de metrô e até como devo caminhar para não ser arrastada pela multidão em horário de pico no piccadilly. Antes de nos conhecermos eu não tinha ninguém, e com ela foi diferen
Antonella BelliniJamie conduziu-me até o carro com as mãos nas minhas costas. Me ajudou a entrar e deu a volta, entrando no banco do motorista. Olhou-me e inclinou a cabeça.- Onde a bela moça mora?- Nelson Square, em Southwark.Virou o rosto para o trânsito antes de entrar com o carro na pista.- Você é italiana.Ele não gosta de italianos? Não fala mal do meu país senão desço desse carro.- Sim, eu sou. Algum problema? - Ele soltou uma risada.- Nenhum, esquentadinha. Só comentei por achar o seu sotaque… atraente.O comentário incomodou-me. O jeito que ele disse "atraente" fez o meu sangue ferver e ativou todas as minhas fantasias. Eu posso não ter um monte de experiência na cama, mas minha imaginação não sofre nem um pouco com isso.- Conhece Amélie a quanto tempo? - Diminuímos a velocidade para passar num cruzamento e ele olhou-me, os olhos passeando do meu colo para meu rosto.- Faz alguns meses, mas parece anos. Ela me acolheu como família. - Levei a mão á cabeça e massageei a