Capítulo 2

Antonella Bellini

Jamie conduziu-me até o carro com as mãos nas minhas costas. Me ajudou a entrar e deu a volta, entrando no banco do motorista. Olhou-me e inclinou a cabeça.

- Onde a bela moça mora?

- Nelson Square, em Southwark.

Virou o rosto para o trânsito antes de entrar com o carro na pista.

- Você é italiana.

Ele não gosta de italianos? Não fala mal do meu país senão desço desse carro.

- Sim, eu sou. Algum problema? - Ele soltou uma risada.

- Nenhum, esquentadinha. Só comentei por achar o seu sotaque… atraente.

O comentário incomodou-me. O jeito que ele disse "atraente" fez o meu sangue ferver e ativou todas as minhas fantasias. Eu posso não ter um monte de experiência na cama, mas minha imaginação não sofre nem um pouco com isso.

- Conhece Amélie a quanto tempo? - Diminuímos a velocidade para passar num cruzamento e ele olhou-me, os olhos passeando do meu colo para meu rosto.

- Faz alguns meses, mas parece anos. Ela me acolheu como família. - Levei a mão á cabeça e massageei a testa.

- Dor de cabeça?

- É, deve ser efeito do champanhe.

- E como ja está tarde, o seu corpo começa a protestar. - Levantou a sobrancelha. - Acertei?

- Só preciso de duas aspirinas e água. Vou ficar bem. - Jamie balançou a cabeça em reprovação.

- Se sabe que não te faz bem, não deveria beber.- Ele me olhou de um jeito que tive certeza de que estava bravo comigo.

Olhei pela janela. O sinal deve ter aberto, porque voltamos a nos mover. Agindo como se eu não estivesse sentada ali a meio metro, Jamie seguiu dirigindo. Ele parecia conhecer bem a cidade, porque não me perguntou o caminho sequer uma vez. Continuava a sentir aquele perfume e o cheiro estava me deixando tonta. Precisava sair do carro.

- Qual é o seu endereço? - perguntou.

- Franklin Crossing, 49.

A cada giro dos pneus, eu ficava mais perto do meu apartamento. Recostei-me no banco de couro macio e fechei os olhos. O meu telefone vibrou dentro da bolsa. Pesquei-o lá de dentro e vi a mensagem da Amélie:

"já está em casa? Queria te apresentar uma pessoa, café da manhã? "

Respondi rapidamente e fechei os olhos de novo. A dor de cabeça estava começando a passar e era a primeira vez em horas que eu conseguia relaxar. Acho que a exaustão tomou conta, porque peguei no sono no carro de Jamie Farley.

《•••》

Acordei com o toque de alguém que cheirava muito bem. Podia sentir o perfume no ar e o peso daquela mão no meu ombro.

- Acorda, Antonella.

Aquela voz. Abri os olhos e dei de cara com toda a intensidade dos olhos azuis de Jamie, não mais do que um palmo de distância. Me encolhi no banco, tentando abrir mais espaço entre o meu corpo e aquele rosto lindo com olhos tão familiares.

- Droga, desculpa.- Procurei a maçaneta, mas não conhecia direito aquele carro. Tateei às cegas para tentar fugir dali.

Jamie pôs a mão em cima da minha, com firmeza.

- Calma! Você cochilou, só isso.

- Ok, desculpa. - Olhei para fora do automóvel e depois de volta para ele, que observava cada movimento meu.

- Você está bem? - Ele sorriu devagar, com a cabeça inclinada para o lado.

Podia jurar que ele tinha percebido claramente o efeito que causava em mim. Precisava sair logo dali, antes que concordasse com qualquer coisa. Algo mais ou menos parecido com “tira a roupa e deita aí no banco de trás do meu carro, Antonella”.

- Obrigada pela carona.

- Se cuida, Antonella Bellini. - Ele apertou um botão e a trava abriu. - Você já pegou a chave? Vou esperar você entrar. Qual é o seu andar?

Peguei a minha chave de dentro da bolsa e aproveitei para guardar o celular, que ainda estava no meu colo.

- Moro no último andar.

- Divide com alguma amiga?

- Sozinha.- De novo, me perguntava o que tinha dado na minha língua para sair dividindo informações pessoais com alguém que mal conhecia.

- Vou esperar você acender as luzes então. - O rosto dele era impassível. Não tinha ideia do que passava pela cabeça dele.

- Boa noite, Jamie. - Abri a porta do carro e fui em direção à entrada do prédio, sentindo o olhar dele me acompanhar enquanto andava.

Enquanto destrancava o portão, olhei por cima do ombro para o jaguar. As janelas eram escuras e não dava para enxergar por dentro, mas ele estava lá, me esperando entrar.

No hall, cinco lances de escada me aguardavam. Tirei os sapatos e subi descalça. Entrei no apartamento, acendi a luz e tranquei a porta. Foi o que consegui fazer, porque em seguida despenquei, me apoiando na porta de madeira. Os meus sapatos caíram no chão com um baque e dei um longo suspiro.

O que diabos aconteceu comigo?

Demorei um tempinho para me desencostar da porta e chegar até a janela. Afastei a cortina com um dedo, mas o carro já não estava mais lá.

《•••》

Despertei no outro dia com 3 mensagens de Amélie no celular.

" Bom dia Sunshine, não se esqueça do nosso café."

" Te encontro às 07:30 na coffe, cake & kisses."

" Não se atrase por favor, quero muito que conheça uma pessoa. Mal posso esperar."

Olhei para o relógio e eram 06:45. Depois da noite de ontem, um banho é exatamente o que eu preciso para esfriar a cabeça. Eu sentia-me estranha, como se já conhecesse Jamie de algum lugar. Céus, será que tinha alguma droga no champanhe? A julgar pelo meu comportamento, diria que sim. Entrar no carro com um desconhecido, deixá-lo me levar até em casa. A minha mãe me mataria se soubesse. Bom, foi uma burrice, reconheço, mas o melhor a fazer era esquecer essa história toda e ele também. A vida já era complicada o bastante para eu arrumar ainda mais confusão.

Levantei e comecei a me arrumar, não podia ficar perdendo tempo pensando numa pessoa que provavelmente não irei ver nunca mais.

Estava saindo do banho quando o celular tocou. “Chamada não identificada?” Desconfiei. Quase ninguém tem o meu número. Só falta ser cobrança, mas não me lembro de deixar a fatura atrasar esse mês.

- Alô?

- Antonella Bellini. - A sexy voz britânica me pegou de surpresa.

Era ele. Jamie Farley. Como? Eu não fazia ideia ou por quê. Mas era ele, com aquele sotaque sedutor do outro lado da linha. Eu reconheceria aquela voz mandona onde quer que fosse.

- Como você conseguiu o meu número?

- Você me deu ontem à noite. - Mentiroso de uma figa.

- Não - falei, bem devagar, tentando frear as batidas do coração, que eram cada vez mais rápidas. - Tenho certeza de que não te dei o telefone.

Por que ele estava ligando?

- Talvez tenha pegado o seu celular sem querer enquanto você dormia... E liguei dele para o meu.- Ouvi vozes abafadas ao fundo. - É muito fácil pegar o celular errado, quando todos eles se parecem.

- Então você mexeu no meu telefone e ligou para você mesmo, só para gravar o número na memória? Isso é meio-assustador, senhor Farley. - A falta de limites dele começava a me irritar.

- Por favor, me chama de Jamie, Ella. Eu quero que você me chame de Jamie.

Só Amélie me chama de "Ella".

- E eu quero que você respeite a minha privacidade, Jamie. - Grifei bem o nome dele ao falar.

- Quer mesmo, Ella? Já eu, acho que você está muito grata pela carona de ontem. - Disse ele, numa voz mais suave. - Você me agradeceu. Naquelas condições e com aqueles sapatos, acho que nunca teria conseguido chegar em casa sozinha.

- Ok Jamie, te devo uma pela carona de ontem. Foi uma boa decisão da sua parte ter insistido e realmente agradeço a ajuda, mas...

- Então jante comigo.

- Não. Sinto muito, mas não acho que seja uma boa ideia.

-Você mesma acabou de dizer ‘Jamie, te devo uma pela carona’, e o que eu quero em troca é isso, que você venha jantar comigo. Hoje.

O meu coração disparou. Não posso fazer isso. Ele mexia demais comigo, era estranho. Não era difícil perceber que Jamie era território perigoso para uma garota como eu.

- Tenho um compromisso à noite - respondi abruptamente. Era uma mentira deslavada.

- Amanhã, então.

- Na-não posso. Tenho que trabalhar.

- Te pego depois do trabalho, nós comemos e te levo para casa a tempo de deitar cedo.

- Você me interrompe toda vez que eu falo! Não consigo pensar direito quando me dá ordens, Jamie. Você é assim com todo mundo ou eu sou especial? - Não gostei nada de como a conversa mudou de rumo em favor dele. Era de enlouquecer. E o que quer que ele quis dizer com “deitar cedo” me deixou pensando em todo tipo de safadeza.

- Sim. Sim, Ella. Você é especial. - Podia sentir a energia sexual na voz dele através do meu telefone e me apavorei. Sou uma idiota por fazer essa pergunta desse jeito. Muito bem, Antonella, Jamie disse que você é especial.

- Tenho um compromisso agora - A minha voz soou fraca, com certeza. Ele tinha acabado de me desarmar com tanta facilidade. Tentei de novo: - Obrigada pelo convite, Jamie, mas não posso...

- Dizer não para mim - ele me interrompeu. - Por isso, vou buscá-la amanhã para jantarmos. Você já reconheceu que me deve um favor e estou cobrando agora. É o que eu quero, Ella.

O filho da mãe conseguiu outra vez! Suspirei alto e o deixei em silêncio por um momento. Eu não ia ceder assim tão facilmente.

- Ainda aí, Antonella?

- Agora quer falar comigo? Você muda de ideia com facilidade. Toda vez que eu digo alguma coisa, você me interrompe. A sua mãe não te deu bons modos?

- Ela não pôde. Morreu quando eu era pequeno.

Puta merda.

- Ah, isso explica tudo. Sinto muito. Olha, Jamie, preciso mesmo desligar. Você se cuida. - Fiz a covarde e desliguei o telefone.

Me joguei na cama e descansei por um minuto, ou cinco. Jamie me deixava exausta. Não sei como conseguia, mas não falhava.

Levantei e coloquei uma roupa e sai praticamente correndo para encontrar Amélie.

Assim que entrei na coffe, cake & kisses, o cheiro delicioso de café invadiu o meu nariz. Avistei Amélie sentada numa mesa mais afastada distraída com o cardápio.

- Olá. - Falei no seu ouvido, a pegando desprevenida.

- Que susto, Ella. - Dei risada e me sentei na cadeira a sua frente.

- Pensando na vida? - Chamei a garçonete e pedi a maior caneca de café que havia no cardápio, com uma quantidade insana de leite e açúcar. Talvez uma injeção de cafeína e carboidratos me ajudasse ou, pelo menos, me colocasse em coma.

- Pensando nos boletos que tenho que pagar. - Dei risada da sua piadinha, e voltei a encarar os seus olhos azuis.

- Então, onde está a pessoa que quer me apresentar? - Perguntei curiosa olhando ao redor.

- Olá, Antonella. - Essa voz, não pode ser. Sinto o meu corpo gelar na hora, e o meu estômago imediatamente dá um nó.

 

Amélie levantou e abraçou o homem alto, moreno de olhos azuis tão familiar.

- Ella, quero que conheça Jamie Farley… meu pai.

Pai?

Não pode ser.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo