Capítulo 1

Aurora

Meus olhos estão fechados, mas posso escutar tudo ao meu redor, cada pequeno barulho, um animal correndo a centenas de metros longe de mim, ou o passarinho cantando, pois já está amanhecendo o novo dia. As folhas das árvores estão balançando por causa do vento do início da manhã.

Um. Dois. Três. Quatro... Conto enquanto seguro e solto a respiração.

Tudo está tão calmo e isso me acalma e me faz relaxar. É bom estar assim, em paz. Mas sei que isso vai acabar em poucos segundos.

Abro meus olhos quando sinto o ar mudar, tem outro lobo perto de mim, mas isso não me preocupa, sei que é meu irmão, ele é único que gosta de irritar, acho que faz parte de ser irmão mais novo.

– Você sabe que as pessoas normais dormem esse horário. Nem amanheceu Aurora. – Ele falou se sentando ao meu lado no chão.

– É o melhor horário para meditar. Posso escutar a floresta sem interferência humana. – Digo fechando os olhos. E seguro um rosnado, minha loba gosta dessa paz.

– Você é estranha – ele provoca e isso me tira um sorriso.

– Papai sabe que saiu todos os dias. Estou segura. – Falo tentando tirar sua preocupação.

– É bom alguém está de olho em você. Não sabemos quem pode está do lado da CPEO. – Diz, e eu posso sentir sua raiva, mas todos nós estamos com esse sentimento, afinal alguém quer nos destruir ou nos usar como bichinhos de experimentos.

– Eu sei me cuidar. Ganhei de todos vocês em jogos de combate, sou o melhor da família – o lembro, e ele geme porque sua derrota foi em questão de minutos.

– Cara! Tenho que prestar mais atenção nos treinos. – ele diz ao passar a mão na cabeça.

– Tem mesmo – concordo.

– Trent, Derek, Brian, você, Maria, Ella, Jasmine, Bela, Ariel e eu. Uma vergonha. Estou em último! – ele diz e fingi estar indignado.

– Malcolm ganhou de você – provoquei, e ele rosna.

– Ele é um sentinela, você sabe. Mas falando sério, eu tenho orgulho de você e das nossas irmãs.

– Obrigada – falo sorrindo, e o abraço.

– Animada para amanhã... Que dizer para mais tarde – ele fala confuso.

– Não muito, odeio escola. – falo. E sim eu odeio aquele lugar, mas não posso ficar longe, ele me acalma como se estivesse aqui na floresta. Foco para não pensar mais nisso.

– Eu também. Mas fizemos uma aposta – ele me lembra, e eu gemo, e depois o empurro.

– Odeio essa aposta – gritei.

– Falando em aposta, você é a mais votada para encontrar seu companheiro. – ele fala, e tento não demonstrar nada no meu rosto, e me forço a sorrir.

– Tomaram que estejam certos. – digo com animação de fato.

– Também desejo que estejam, sinto que você precisa disso. Não sei dizer, mas você está estranha.

– Você já disse isso! Corrida de volta para casa? – falei dando um salto para ficar de pé. Nem espero sua resposta e já estou na minha forma loba, correndo em disparada pela floresta.

Eu fico feliz quando sei que ele está atrás de mim, mas pretendo deixá-lo bem atrás. Odeio perder e em toda a minha vida, só perdi uma vez e foi a pior derrota que podia sofrer. Mexo a cabeça e tiro os maus pensamentos e foco na corrida.

Salto por cima de uma árvore e volto a correr, e giro em direção do atalho, e sei que Eric não virá por esse caminho. E salto sobre o pequeno rio, e uivo quando percebo que subestimei meu irmão, então me forço a correr mais rápido e vou direto para pista e essa hora é ótima, não tem movimento e não podemos causar um acidente.

Deixo o meu irmão passar por mim, e antes que ele possa comemorar, passo por ele e riu em minha mente. E ele rosna e se joga na minha direção, mas eu salto e corro mais rápido e logo avisto nossa casa, mamãe e papai estão na varanda no segundo andar. E Bela estar na janela do seu quarto, eu aposto que ela estava lendo.

Volto para minha forma humana e visto minhas roupas que deixei em cima da cadeira e Eric faz o mesmo ele está mexendo a cabeça para mim.

– Vocês são impossíveis. – mamãe fala rindo, e logo ela está na nossa frente, ela saltou da varanda e não demora muito para papai está ao seu lado.

– E de quem puxamos esse ar de impossíveis, Eric? – perguntei, sorrindo.

– Quem pode ser? A nossos pais! Não existem pessoas mais impossíveis que esses dois – Eric diz fugindo do alcance da nossa mãe.

– Voltem a dormir, amanhã tem aula. – mamãe fala tentando ser séria, mas ela nunca foi, esse lugar é do papai.

– Ok. Bom dia mamãe. Estou com fome. Tem como ter café adiantado? – falou Eric sorrindo, e aquele sorriso desarma mamãe, por que o infeliz tem o sorriso do papai, e por causa disso ele escapou de várias encrencas.

– Claro, meu príncipe. Seu pai vai fazer o café para nós. Vamos arrumar a mesa. – mamãe fala entrando em casa com Eric. 

– Você está bem filha? – papai perguntou, me puxando para seus braços e me abraça. E eu concordo contra seu peito. 

Entramos juntos e seguimos para cozinha, e vejo minha mãe, Eric e Bela, sentados esperando papai fazer nosso café da manhã. Claro, que eu cozinho muito bem, como minhas irmãs, nós aprendemos com a tia Talita.

Eu coloco os cotovelos na mesa, e apoiei minhas mãos juntas, e olho para papai. Mas minha mente está longe, no dia que minha vida mudou para sempre. Tento muito não pensar nesse dia, e nos dias que seguiram mais é impossível! E quando mais tempo passa, mas essa memória ganha força e não consigo deixá-la trancada no fundo da minha mente.

Rosno e minha loba rosna dentro de mim querendo sair, se liberta, correr na floresta e caçar, mas não posso a deixar sair. Ainda não. Só a noite, a lembro e ela se acalma. Mas sei que não faz muito tempo assim que estávamos na floresta. Cada vez menos tempo, isso está começando a me preocupar. 

– Panquecas! Bacon! Pão! O suco está uma delícia! – papai falou, tirando da minha mente, e eu me forço a comer. Tudo deve está divino, eu aposto, mas não tem o mesmo gosto para mim. E tento não deixar transparecer. Ninguém pode descobrir... Ainda não.

Quando? Rosna minha loba. E eu ignoro, não tenho resposta para ela, e não sei se um dia vou ter.

– Cheguei em boa hora. – Jasmine fala entrando em casa. Ela se mudou quando se formou, mas sempre fazia questão de aparecer no café da manhã uma vez por semana. Todos nós não conseguimos viver longe.

– Aqui florzinha. – papai falou entregando um prato já pronto e ela sorri.

– Ainda no preto? – mamãe pergunta com o nariz enrugado.

– Nunca sai mamãe. – Ela falou divertida e isso tira uma risada minha. Desde que começou a escolher suas roupas, ela sempre escolheu preto, seja uma blusa ou calça ou até vestido. Preto sempre.

– Só queria saber o por quê? – Mamãe insiste. Ela faz isso uma vez por mês. Tudo tão calculado, para nós dá tempo de nos abrirmos se quisermos. A maioria das vezes dá certo. 

– Quem sabe no futuro – desconversa minha irmã e minha mãe resolver não continuar insistindo, e todos esquecer essa conversa.

– A festa ainda está marcada para domingo?  – perguntei depois que engoli um pedaço do pão. Vamos comemorar a volta do Trent, será uma ótima comemoração. Ele merece, fugiu e voltou para casa.

– Sim, Logan e Talita estão felizes e isso é bom. Não sei se suportaria tão bem como eles suportaram se fosse com um dos meus filhos. Quase morro quando a Ella foi sequestrada. – Mamãe fala, e posso ver seus olhos marejados. E papai a abraça. E eu amo ver o amor deles dois. Me faz desejar algo assim. 

– Não pensar coisas negativas mãe. Estamos bem. – falei pegando sua mão sobre a mesa.

– Eu sei. Mas me emociono muito quando estou nessa condição! – ela diz contra o peito do papai e eu olho para meus irmãos e sei que todos estão pensando a mesma coisa.

– Mais um príncipe ou princesa? – perguntamos juntos. E agora sinto a mudança do seu cheiro.

– Sim. Descobri hoje. – Ela fala abrindo um sorriso.

– Os príncipes vão povoar o mundo! – Eric fala sorrindo. 

– Essa é a ideia. – falou a mamãe abrindo um sorrindo. E eu só faço mexer a cabeça em concordância.  Eu amo minha família, e eu só não caio na tristeza por causa deles, sem eles não sei que conseguiram. 

Ficamos conversando por mais algum tempo, até o alarme despertou e isso nos alerta que precisamos nos arrumar. Vou para o quarto e me arrumo com pouca animação, não queria sair de casa, não, na verdade queria está na floresta relaxando ou sendo babá, mas sei que querer não é poder, por que se fosse faria com meu companheiro estivesse comigo sem está sofrendo.

Mas amor é dor. Não existe um sem o outro. Já sou adulta para saber que não existe conto de fadas, apesar do meu nome ser de uma princesa.

Nem todos são felizes, afinal, ter meu companheiro para mim é impossível. Eu o encontrei e ele se foi.

Sem feliz para sempre para mim.

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