Gabrielle
Depois de tantos meses, seu sotaque e sua voz carregada ainda me causavam uma onda de arrepios pelo corpo. Ele conseguia me excitar apenas dizendo qualquer palavra em meu ouvido. Tudo o que pudesse sair de sua boca seria interpretado de forma sensual pelos meus hormônios. E a proximidade não ajudava em nada. Eu sentia cada centímetro de sua presença contra mim. Sentia o calor crescente entre nós, sentia ele enrijecer sob meu corpo.
E eu não tinha forças para me afastar.
Porque sempre usava um vestido, todas as vezes que me sentava em seu colo dessa forma? A falta de um tecido mais grosso apenas aflorava ainda mais a excitação que crescia, tanto nele quanto em mim. Eu consegui senti-lo duro embaixo de mim e apenas me trazia lembranças e fazia crescer a ansiedade.
Enquanto depositava pequenos beijos em meu pescoço, minha pele queimava pelo seu rastro. Minha re
Gabrielle O filho da puta me deixou ali, deitada na mesa, com meu coração em frangalhos e meu corpo ainda tentando processar tudo o que ele fez e me disse. Palavras que nem mesmo consegui assimilar por completo. Palavras que, em outro momento, poderiam ter sido apenas uma provocação, mas que agora eram um peso esmagador. Senti meus olhos arderem enquanto eu levantava, tentando recompor minha postura. Uma parte de mim se recusava a aceitar o que estava acontecendo. Eu estava chorando? O choque de perceber aquilo me atravessou como uma flecha. Não foi como na noite anterior, quando senti as lágrimas caírem silenciosas. Dessa vez foi mais real. Eu senti como se minha alma estivesse chorando. Eu não chorava. Não mais. Não desde o funeral do meu pai. Ele me deixou ali, novament
Gabrielle À medida que eu corria, ao contrário do que esperava, a dor em meu peito só aumentava. Doía. Como se estivesse apertando meu coração e sugando todo o ar dos meus pulmões. Acho que só consegui sair tão rápido daquela casa porque ela ficava em uma colina. A descida era fácil, e o caminho à frente parecia livre. Olhei para trás. Mas não havia ninguém me seguindo. Nem meus seguranças particulares. Nem Jullian. Nem Lucas. Eu estava sozinha. Era só eu, tentando escapar daquilo que todos esperavam que eu fosse. Quando me aproximei da avenida, senti meus pés formigarem, me lembrando dos sapatos que deixei para trás. A dor começava a subir pelas pernas, mas não me permi
Gabrielle Ele me abraçava de volta, com a mesma intensidade, como se eu fosse a coisa mais importante que já segurara em suas mãos. E, mesmo assim, ele não exigiu uma explicação. Não perguntou por que eu estava noiva de outro homem, nem mencionou os meses que passaram desde que fomos forçados a nos separar. Esse silêncio, essa aceitação, me devastou mais do que qualquer palavra poderia ter feito. — O acordo terminou — rosnou Gadreel, sua voz grave como um trovão enquanto mirava Murilo. — Eu vou acabar com aquele filho da puta. — Tecnicamente, ele não quebrou as regras — respondeu Murilo, com sua serenidade desconcertante, sem sequer afrouxar o abraço ao meu redor. — Pro inferno com essas malditas regras! &mdash
Gabrielle Eu me senti... ridícula. Observada. Mas estava longe de ter condições para protestar. Descalça, com os pés machucados, parecia mais apropriado me encolher em silêncio e ignorar o olhar curioso dos poucos transeuntes que nos viam passar. Não demoramos muito para chegar ao carro dele, estacionado a poucos metros. Murilo me colocou no chão com cuidado e abriu a porta do passageiro, sem dizer uma palavra. Eu não estava acostumada a andar de carro com ele. Poderia contar nos dedos as vezes em que isso aconteceu. Murilo raramente saía de sua cobertura, e, quando o fazia, preferia chamar um táxi. Sempre discreto e prático, ele dirigia uma Mercedes SUV simples e segura, um contraste gritante com os carros esportivos extravagantes que seus "camaradas" costumavam exibir. Quando ele entr
Gabrielle O elevador do subsolo subiu direto até sua cobertura, graças a Deus. Fazia tanto tempo desde que estive ali que havia me esquecido de certos detalhes. Eu sempre gostei de como aquele prédio era incomum. Era o único prédio residencial daquela cidade que não pertencia à empresa de meu pai. Talvez tenha sido essa a razão de Murilo tê-lo escolhido. Tinha uma arquitetura rústica. Deixei meus olhos correrem pelo corredor enquanto ele me carregava do elevador até sua porta. O chão era revestido de madeira laminada, o que fazia seus passos ecoarem pelo espaço vazio. Lembrava-me bastante daqueles filmes antigos do velho oeste, em que, a qualquer momento, uma porta seria escancarada, revelando dois cowboys em um tiroteio. Quando ele me colocou delicadamente no chão e abriu a porta de seu apartamento, fui atingida pelo cheiro nostálgico daquele lugar. Era tão reconfortante voltar para onde passe
Gabrielle Antes mesmo de abrir os olhos, senti meu estômago se revirar. Foi isso que me despertou. Um cheiro delicioso tomou conta do ambiente, invadindo meus sentidos e me arrancando do sono. Quando abri os olhos, deparei-me com o céu me olhando. Era assim que sempre me senti ao olhar nos olhos dele: como se tivesse meu próprio céu particular para admirar. Por um segundo, esqueci onde estava. Apenas o cheiro, quente e acolhedor, e a visão dos olhos dele, profundos e sinceros, existiam. Foi um instante de paz antes que a realidade voltasse a me alcançar. Murilo sorriu para mim, aquele sorriso caloroso e silencioso que um dia eu amei. Estava sentado em uma cadeira ao lado da cama, com as pernas cruzadas e um ar leve. Há quanto tempo ele estava ali? — Estava dormindo tão profundament
GabrielleLembrei-me do dia em que passamos na frente da loja. Era época do Dia dos Namorados, e eu, que raramente me interessava por vitrines, fui atraída por uma delas. Dentro da loja refinada e peculiar, em uma vitrine interna, lá estava ele, exposto sozinho, irradiando um brilho delicado. Uma peça única e exclusiva. Um anel de casamento. Na época, era inacessível para mim, algo que eu jamais ousaria desejar abertamente.E agora ele estava ali, naquela caixa, em minhas mãos trêmulas.Eu estraguei tudo.Não queria nem imaginar como Murilo se sentiu ao retornar de sua viagem e descobriu, através de um site de fofocas, que eu estava com Lucas. Lembrava-me perfeitamente da foto que circulou na época: nós dois abraçados em um bar. Foi assim qu
Lucas Park Quando há ressentimento contra outra pessoa, existem duas opções: podemos ignorar ou tentar resolver. Ambas contêm variáveis. Ignorar significa que não é tão importante assim, que, seja lá o que aconteceu, não merece esforço para lidar. Mas, se decidirmos, enfrentaremos o risco de descobrir que o erro foi nosso. Ainda assim, precisamos contar com a reação da outra parte, e isso pode ser tão imprevisível quanto não fazer nada. Mas quando o ressentimento é contra nós mesmos? O que fazer quando a maior raiva e o maior desgosto vêm de dentro? O que fiz a Gabrielle cavou um buraco em meu peito e deixou uma marca na minha alma, uma ferida que eu não sabia se um dia poderia cicatrizar. Por mais que tentasse me convencer de que era necessário, nada