(16/03/2023)Pela primeira vez em muito tempo, Alexandria abandonara a scooter em casa e estava indo para o estádio de carona com Teddy. Não se sentia tão confortável em dividir um espaço tão pequeno com o pai, mas sentia uma estranha necessidade de aprovação dele sobre seu relacionamento com Lukas, talvez a garantia de que o belga não sofreria nenhuma retaliação.Ela nunca tivera a melhor relação do mundo com Teddy e, depois das suas conversas mais recentes, sentia que as coisas finalmente estavam se ajustando. Eles não eram família, pelo menos não de verdade, daquelas que se apoiam, mas poderiam ter uma relação funcional. O dia estava mais bonito que o normal, dava para ver o Sol brilhando sobre sua cabeça pelo teto solar do carro caro de Teddy, mas Alex não puxou a câmera uma vez sequer. Foi quando o pai entrou no estacionamento do Knight's Stadium que ela sentiu seu corpo inteiro tremer ao abrir a boca para informar ao pai.— Lembra que eu te contei de um cara que tinha conhecido?
— Nunca mais fala assim com ele. — Alexandria franziu o cenho, apertando os olhos tempestuosos e o encarou irritada.O restaurante inteiro estava em um silêncio sepulcral, dezenas de olhos voltados para eles e a cena constrangedora que Teddy havia começado. Dava para ver seus ombros subindo e descendo com a respiração acelerada e, no instante seguinte, quando percebeu ser o centro das atenções, deu um passo à frente e usou um tom baixo e ameaçador.— Eu não vou permitir esse relacionamento — Teddy falou entre dentes, praticamente ignorando a existência do rapaz, constrangido, ao lado da filha. — Você não tem que permitir nada, Teddy. — Os olhos de Alexandria tinham um brilho intenso e desafiador. Ela queria explodir e gritar com ele ali mesmo, manchar a maldita imagem de pai perfeito que ele se esforçara tanto para construir, mas aquilo respingaria sobre Lukas e essa era a última coisa que precisava, por isso, ela respirou fundo e falou com uma voz baixa, mas incisiva. — Você não cont
O som do toque do celular fez Alexandria estremecer. Estava decidida a não voltar para a casa do pai, afinal, não era a primeira vez que, de um jeito ou de outro, era expulsa do lugar que costumava chamar de casa, e se isso significava cortar todos os vínculos com Teddy Tapper, ela faria e estava mais do que disposta a bloquear o contato dele.Tinha achado um hotel aberto em uma avenida próximo ao centro e agora estava jogada na cama com a mochila ao lado, deixando todas as lágrimas que prendia por muito tempo escorrerem. Por Teddy, por Theo e por Christian Peña. Era doloroso, mas ela não podia fazer nada para controlar. Quando algo te magoa profundamente, parece que todas as outras mágoas vêm juntas para arrancar um pedaço da sua alma. Alex agarrou o celular com raiva, pronta para desligar a ligação do pai, mas deixou o ombro, que estava tenso, cair um pouco, quando o nome de Keegan Asper apareceu na tela junto ao ícone de um vídeo. Ela se olhou no espelho, ajeitando o cabelo e enc
— Keegan. — Ela falou seu nome com um tom severo e feroz e ele ergueu as mãos para o alto, deixando os músculos de ambos os braços despidos em evidência. Alexandria rolou os olhos quando Keegan sorriu e as covinhas fundas marcaram as bochechas do espanhol, o fazendo parecer bobo e inocente. Ele diminuiu o sorriso para algo mais contido e amistoso, olhando para ela com um olhar castanho energético antes de falar com a voz doce e o sotaque carregado.— Vem morar comigo. — Alex gargalhou, mas o semblante sério no rosto de Keegan a fez abrir a boca em choque. — Eu não estou brincando, Tap… — ele coçou a garganta — Alexandria. Você e eu somos melhores amigos, você é a pessoa que eu mais amo no mundo, tipo, é como se fosse mi hermanita, eu adoraria que você viesse morar comigo. Alex sentiu o coração apertar. Tinha um conforto estranho no fundo dos olhos do goleiro, como se ele quisesse, a qualquer custo, dizer que ela não estava sozinha, não importava o que acontecesse, Keegan Asper est
A fotógrafa estava sentada na cadeira em frente a Travis Trotwood, diretor do RH dos King’s Road Soldiers, sentindo suas mãos suarem e tremerem sob a mesa de vidro branco do escritório, tão azul quanto qualquer outro espaço ali.Agora que tudo parecia mais real do que algumas horas atrás, quando ela decidiu se demitir em um ato de bravura, mas agora, sentada diante do homem alto com um olhar totalmente focado em si, sentia o peso da decisão. Ela não estava reconsiderando, mas acabara de perceber que não tinha uma justificativa que não usasse o nome de Lukas ou que não fosse uma mentira. — A verdade é que eu sinto que tem muito mais pra mim do que só fazer fotos do mesmo time de futebol. Não é que eu não goste de futebol, porque eu adoro, na verdade, mas... Eu quero mais, Travis. — Ela optou por uma meia verdade.— Tudo bem — ele assentiu, um olhar pesaroso marcando a expressão, e Alex estranhou o quão bem o homem estava levando aquilo. — Mas é só por isso? Ou tem algo mais?Alexandri
Alexandria nunca tinha ousado pisar no gramado de treinamento dos KRS de salto alto antes, principalmente durante um treino. Ela costumava julgar aquilo como uma grande falta de respeito, mas ali, naquele momento, tinha que se sentir triunfante sobre Teddy e afundar um salto agulha no seu tão amado gramado enquanto caminhava como se estivesse em uma passarela, parecia um bom jeito de começar. Ela estava ainda mais determinada agora que Travis tinha dito tudo aquilo, não pensar nas palavras dele era o seu objetivo enquanto caminhava com passos firmes.O scarpin vermelho pareceu entender sua necessidade com perfeição. Ela deslizava com classe e elegância enquanto o salto abria pequenos buracos entre a grama e o solo, parando a centímetros do pai, que estava estático, olhando para ela com o apito a caminho da boca, mas nunca assoprado. Foi Tadeu Souza quem se aproximou primeiro, seguido por todos os KRS que formaram um meio círculo à sua frente, como se esperassem que ela falasse algo.
— Tá namorando o Lukas Haus? — Christian perguntou de vez e sem cerimônia quando seus olhos encontraram Alexandria parada na frente do CT. Ela não teve coragem de responder e assentiu a cabeça com firmeza — Foi a única coisa que eu te pedi, Alex. Não me afastar da sua vida.— Você não tem o direito de me pedir nada, Chris — ela juntou forças para falar, forçando a sua expressão mais dura — Eu me apaixonei por ele.— Se apaixonou por Lukas Haus em dois meses, mas demorou quase um ano para ter algum sentimento por mim? — O jeito com que ele perguntou foi quase magoado, a voz trêmula de uma criança ferida.Alex se esforçou para erguer os olhos e encarar o castanho tão reconfortante dos olhos de Christian, ele estava encarando de volta, com tanta vulnerabilidade que era doloroso estender aquela conversa. Como se estivessem arrancando um curativo longo aos poucos. — Você sabe que não é verdade, mas isso é irrelevante agora. Eu quero estar com alguém que acredite no nosso futuro, que poss
Alex teve que parar a Scooter antes mesmo de sair das dependências do Centro de Treinamento. As lágrimas jorrando dolorosamente pelos olhos estavam deixando sua visão turva e embaçada dentro do capacete apertado. Uma dor lancinante atravessava seu peito, impossível de ignorar, quando a imagem de Christian Peña com os olhos desesperados se materializou na sua cabeça.Por que ele ainda mexia tanto com ela? Por que ela se importava? Não conseguia parar de pensar nem por um segundo enquanto soluçava como uma criança. Era a terceira vez que estava chorando nos últimos anos e era a terceira vez que mantinha o rosto dele nos pensamentos enquanto chorava. Alexandria respirou fundo, tentando se recompor, mas a dor no peito ainda estava lá, um aperto sólido e cruel. Ela apertou o guidão com muita força, como se a dor ou a imagem do equatoriano pudessem ir embora assim. A lembrança do concurso da Apollus surgiu como uma pequena garoa no incêndio descontrolado que estava sua mente. Por que aind